informativos anteriores

observatório ecopolítica

Ano V, n. 102, dezembro de 2021.

 

ÔMICRON.

 

Ômicron (Ο), décima-quinta letra do alfabeto grego (numericamente tem o valor 70). Designa a atual metamorfose do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a variante B.1.1.529, que aciona a Covid-19. Sucede a mutação Delta. A letra grega que deveria designar esta variante seria NI (N), ou a seguinte, CSI (Ξ). A primeira, poderia induzir a new em inglês e vir a ser relacionada a novo vírus. A segunda, lembra o nome do chefe supremo da China, Xi. Para evitar o politicamente incorreto a OMS tem o direito de nomear, ao seu modo, com o alfabeto grego, evitando ferir suscetibilidades... Dizem que a metamorfose Ômicron procede da África, de Botsuana ou da África do Sul, segundo a OMS.

 

áfrica?!

 

De repente, o Ocidente lembra da África. Desde março de 2020, remotamente se escutou-viu-leu autoridades e mídias notificarem a situação da chamada pandemia neste continente. Bem como nos chamados países pobres do dito Oriente Médio, do Leste Europeu e da América Latina. Fora o eixo Europa-EUA-China, constatou-se, no máximo, exceções para os B.R.I.C.S (onde se encontra a Índia, onde foi identificada a variante Delta; Brasil, onde foi identificada a variante Gama; Rússia, de onde proveio a primeira vacina contra a Covid-19, chamada Sputnik e de onde pouco se sabe a respeito de sua elaboração bem como da aplicação da vacina para além dos grandes centros urbanos, Moscou e São Petersburgo).

 

Nos últimos meses, o alarde foi para a reduzida adesão à vacinação em países da Europa e nos Estados Unidos da América, e ao anúncio do aumento de casos de Covid-19 na Alemanha, Holanda e Áustria.

 

Cientistas e virologistas africanos alertaram, desde o início de 2021 e frente às campanhas amplamente divulgadas de vacinação nos chamados países ricos, que a África se tornaria "o continente da Covid-19". Perante o recrudescimento da crença na Ciência e na Medicina, os cientistas africanos não têm a mesma credibilidade dos nascidos e formados em países endinheirados ou de funcionários das gigantescas empresas farmacêuticas que produzem as variadas vacinas contra a doença (ainda que haja cota preenchida por africanos em cargos de alto-escalão da OMS).

 

Na última semana, cientistas sul-africanos divulgaram a detecção e o sequenciamento de nova mutação do SARS-Cov-2: a ômicron, variante B.1.1.529. Os especialistas não param de alertar para a "consequência mortífera da desigualdade vacinal", pois lugares de baixa ou nenhuma vacinação compõem o "ambiente ideal" para a gestação de mais variantes e mutações. O secretário da ONU, em 1º./12 declarou estar "profundamente preocupado com a situação da África", da África composta dos chamados países pobres e, por isso, o novo epicentro.

 

Sabe-se que pessoas ricas de países pobres se quiserem são vacinadas; sabe-se que vacinas pagas e destinadas a países africanos foram redirecionadas a Estados europeus; sabe-se que a China tem muitos interesses na África. Segundo o Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (International Institute for Democracy and Electoral Assistance International – IDEA), na África há "18 países como democracias, 19 como regimes autoritários e 13 como regimes híbridos." O fato de haver eleições, enfim, não leva à institucionalização da democracia liberal, tampouco a equacionamentos de saúde limitados ao esperado pela racionalidade neoliberal com a finalidade de ajustar o volume competitivo de capital humano planetário ...

 

Entretanto, com apenas 5 novos casos de infecção e nenhuma morte ou internação decorrente da variante, a União Europeia, imediatamente, fechou as fronteiras para pessoas vindas de Moçambique e demais países ao sul da África, onde declara ter sido encontrada a variante. Esta medida de governo foi rapidamente replicada por Estados Unidos da América, Reino Unido, Israel e Brasil, que proibiu a entrada de gente vinda da África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. Para estes Estados, acompanhando o presidente estadunidense Joe Biden, a preocupação não deve levar ao pânico. Os ministros da saúde do G7 prometem reforçar a vacinação nos chamados países pobres com mais de um bilhão de doses.

 

Pouco se sabe sobre a compra de vacinas e sua aplicação na África. Uma das raras notícias é que o governo de Botsuana comprou uma remessa de imunizantes que teria sido "extraviada" para os "países ricos". O tráfico de drogas também funciona assim. O tráfico é inerente ao capitalismo. Tal como a produção de miséria e de uma infinidade de doenças e diagnósticos. Nenhum outro ser vivo, além do domesticado humano, reconhece linhas imaginárias chamadas de fronteiras. O novo coronavírus também não, por isso não circula somente em pontes aéreas e através de pessoas.

 

De acordo com pesquisa realizada pela Oxford, 3 a cada 100 habitantes dos países mais pobres do planeta estão vacinados. Na África o percentual é de 7%. No Burundi, 0,0025%; na República Democrática do Congo, 0,06%; em Chade, 0,42%. As cifras dos contaminados são irrealizáveis, pois lá, como aqui e em tantos outros lugares, não se testa. Os países que atingiram 80%, ou mais, da população vacinada são: Emirados Árabes, 88,4%; Portugal, 87,8%; Chile, 83,3%; Islândia, 81,9%; Cuba, 80,5%; Espanha, 80,4%. Ao menos 2 bilhões de doses estão estocadas em países ricos. Benevolentes, EUA, União Europeia, Reino Unido e China prometeram doar algumas doses aos países pobres — 1,1 bilhão, 500 milhões e 100 milhões, respectivamente. Ainda não doaram... esperam a proximidade de vencimentos dos lotes? Entretanto, declarar que destinará uma cifra para doação é parte do negócio que envolve Estado, ciência, empresas, agências internacionais, políticos e a ONU.

 

Os fabricantes de insumos para a produção das vacinas ― empresas-laboratórios indianos, chineses, europeus e estadunidenses ― não se interessam em negociar com o consórcio lançado pela OMS em junho deste ano para tentar uma produção local de imunizantes. A empresa envolvida nesta negociação, a Afrigen Biologics, estima que, até o segundo semestre de 2022, não produzirá essas vacinas. As louvadas gigantescas da indústria farmacêutica, responsáveis pelas doses em circulação no mercado, não tem interesse em compartilhar sua tecnologia ou patente. Uma delas já anunciou o novo produto: alega ser capaz de, velozmente, produzir uma vacina supostamente eficaz também contra a ômicron. Largou na frente na nova disputa.

 

Há mercado consumidor à espera da nova dose. A disseminação desta e outras doenças está imbricada na atual forma de circulação, produção e reprodução (também de animais confinados para consumo humano). A continuidade deste modo de vida implica cada vez mais mortes, doenças, mortificações.

 

vacinação pelo planeta

 

De acordo com pesquisa recente realizada pelo PNUD e Banco Mundial, a partir de ligações a telefones fixos domiciliares de 24 países da América Latina e Caribe, constatou-se estar no Brasil o menor percentual de rejeição à vacina contra Covid-19 entre latinos. A taxa média de hesitação/rejeição na região beira os 8%, enquanto no país ela se aproxima de 3%, mesmo frente às declarações negacionistas do homem que senta no trono do palácio.

 

Na América Latina, de acordo com as instituições promotoras da pesquisa, verifica-se nas áreas rurais e entre pessoas com menor escolaridade a maior incidência de quem não quer ou teme se vacinar. O Caribe apresenta os índices mais altos de "hesitação vacinal". As populações da Jamaica (49%), de Santa Lúcia (43%) e Dominica (43%) são as que mais rejeitam a vacinação. Já no Haiti, alega-se que 60% da população não quer se vacinar e há menos de 1% de vacinados. Sublinham ser a menor taxa de vacinação na América Latina. Contudo, cabe perguntar: trata-se de rejeição à vacina nestes países ou da inexistência de doses disponíveis e gratuitas para toda a população?

 

O PNUD e o Banco Mundial, no relatório em língua inglesa dos resultados dessa pesquisa, induzem que "ainda há muito a ser feito para aumentar o conhecimento sobre os méritos de se vacinar." Reitera-se a responsabilidade de cada um em ser consciente, crer na ciência e na indústria farmacêutica, e se vacinar pelo bem de si mesmo e dos outros. Desde o início da chamada pandemia este discurso se espalha via imprensa, campanhas publicitárias e governamentais, e no boca a boca em certos setores da população.

 

Alardeia-se as altas taxas de "hesitação vacinal" em países classificados como ricos ou de primeiro mundo como Alemanha, Estados Unidos, Holanda, Áustria, França... e tende a se colocar no mesmo patamar os países classificados como pobres e nos quais a "hesitação vacinal" é muito mais decorrente da inacessibilidade às doses do que decorrente de um posicionamento de negação ou recusa a se vacinar, sob quaisquer justificativas. Do mesmo modo, procura-se generalizar as forças que, principalmente no continente europeu, se opõem à vacinação contra a Covid-19, enquadrando-as como extrema-direita antidemocrática.

 

Em geral, procura-se escamotear as diversas forças em luta que questionam o saber médico, as medidas de governo e a vacinação compulsória (na Europa acompanhada do "passaporte Covid" e indissociável da perseguição às pessoas classificadas como "sem papel"). Tenta-se maquiar a ausência de vacina em países que não tem como pagar por estes produtos e cujo interesse político-diplomático neles é baixo ou nulo.

 

De acordo com os dados desse levantamento do PNUD e do Banco Mundial, Chile e Brasil são os únicos países da região que apresentam mais de 80% da população vacinada com pelo menos uma dose. Seguidos por Uruguai e República Dominicana, ambos com menos de 80% e mais de 60% de vacinados. Todos os outros países da América Latina e do Caribe se localizam abaixo deste percentual. Haiti, Guatemala, Paraguai, Equador, Nicarágua, Jamaica, Honduras, Peru e Bolívia tem menos de 20% de suas populações vacinadas.

 

Os dados destoam do levantamento realizado pelo Our World in Data, projeto carro-chefe do Global Change Data Lab, organização sem fins lucrativos veiculada a universidades inglesas (Oxford, College London e University of Bristol) e que recebe fundos da Quadrature Climate Foudation e da Bill and Melinda Gates Foudation. Os dados de ambas as pesquisas remetem aos últimos dias de novembro de 2021.

 

Em relação à quantidade de doses aplicadas a grupos de 100 pessoas em todo o planeta, os números mais elevados, acima ou próximo de 200, encontram-se em: Cuba (250.91), Emirados Árabes (215.68), Chile (212.54), Uruguai (194.73), Islândia (185.63), Singapura (184.89), Malta (184.62) e Seychelles (180.06) ― nota-se que se localizam em cada um dos continentes, exceto América do Norte e Oceania.

 

Abaixo de vinte estão: Burundi (0.01), República Democrática do Congo (0.2), Chade (1.48), Haiti (1.6), Sudão do Sul (1.92), Madagascar (2.2), Iêmen (2.49), Benin (3.08), Burkina Faso (3.08), Camarão (3.39), Mali (3.52), Níger (3.83), Nigéria (4.66), Papua Nova Guiné (4.78), Zâmbia (5.68), Somália (5.9), Malavi (7.16), Etiópia (7.65), Síria (7.74), República da África Central (8.59), Serra Leoa (9.15), Uganda (10.08), Gana (11.01), Congo (11.06), Senegal (11.1), Libéria (11.38), Quênia (12.18), Gabão (12.2), Afeganistão (12.84), Costa do Marfim (14.22), Togo (17.78), Guiné-Bissau (18.11) e Guiné (18.22) ― praticamente todo o continente africano, parte do chamado Oriente Médio e o Haiti caribenho.

 

Abaixo de 40 estão: Essuatíni (25.02), Namíbia (25.12), Angola (26.6), Algéria (27.07), Ilhas de Salomão (27.52), Iraque (28.45), Lesoto (28.61), Moçambique (30.18), Quirguistão (30.35), Guiné Equatorial (30.69), Líbia (32.93), Egito (35.4), Mauritânia (36.31) e Jamaica (37.18) ― também distribuídos nos três continentes.

 

Não há dados sobre Porto Rico, Guiana Francesa, Saara Ocidental, Sudão, Tanzânia, Eritréia, Turcomenistão, Kuwait, Palau, Micronésia, Coreia do Norte e Palestina.

 

Entre os BRICS o percentual é: Brasil (143.24), Rússia (86.28), Índia (88.16), China (173.09) e África do Sul (42.38).

 

Até o fim de 2021, estima-se que não serão alcançadas 40% da população vacinada com ao menos uma dose: África do Sul, Lesoto e Essuatíni, Madagascar, Cômoros, Moçambique, Zimbábue, Malavi, Zâmbia, Angola, Namíbia, República Democrática do Congo, Congo, Gabão, São Thomé e Prince, Guiné Equatorial, Camarão, República da África Central, Sudão do Sul, Uganda, Quênia, Somália, Etiópia, Chade, Nigéria, Argélia, Mauritânia, Senegal, Guiné-Bissau, Guiné, Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin, Gambia, Djibuti, Iêmen, Egito, Líbia, Iraque, Síria, Albânia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Moldova, Ucrânia, Armênia, Geórgia, Nepal, Quirguistão, Tajiquistão, Afeganistão, Paquistão, Mianmar, Papua Nova Guiné, Vanuatu, Guatemala, Jamaica, Haiti, Santa Lucia, Granada, São Vicente e Grenadine.

 

Calcula-se que podem conseguir chegar aos 40% com ao menos uma dose: Bolívia, Honduras, Dominica, Bahamas, Botsuana, Jordânia, Romênia, Bielorrússia, Bangladesh e Filipinas. Ou seja, países localizados na África, no chamado Oriente Médio, no Leste Europeu, na Ásia e na América Latina e que somam ― se considerados todos os acima listados e os países que não forneceram seus dados ― 86 dentre os 193 países reconhecidos oficialmente como tal pelas Nações Unidas.

 

entre bichos, uma procedência que não deve ser descartada

 

Algumas pesquisas iniciais realizadas na China, que buscavam mapear como se deu a mutação do vírus SARS-CoV-2, indicaram possíveis hospedeiros que foram intermediários para que o microrganismo chegasse aos corpos de pessoas: morcegos e pangolins.

 

Desde quando ocorreu o primeiro surto de SARS (síndrome respiratória aguda grave), há 18 anos, um grande número de mutações (as SARS-CoVs) foram rastreadas e mostraram ter como hospedeiros morcegos. Animais cujo potencial de transmissão para humanos foi comprovado por pesquisadores chineses antes mesmo da mutação SARS-CoV-2.

 

Em relação ao novo coronavírus em humanos, inicialmente chamado de 2019-nCoV, as pesquisas envolvendo análises destes animais mostraram semelhança de 96% entre o nível do genoma de um coronavírus detectado em morcego e o detectado em um ser humano.

 

Há hipóteses que consideram a transmissão do vírus de morcegos para pangolins, outro provável hospedeiro. Os pangolins são os mamíferos mais traficados no planeta. Servem ao consumo humano em regiões da Ásia, tanto para fins alimentares quanto medicinais, sendo suas escamas muito valiosas para a fabricação de drogas da medicina chinesa. São dezenas de medicamentos que se destinam desde o tratamento de problemas de lactação e circulação até infecções e impotência sexual, além de alguns tipos de câncer e malária.

 

As oito espécies de pangolins (quatro africanas e quatro asiáticas) são catalogadas como "criticamente ameaçadas de extinção" na International Union for Conservation of Nature Red List of Threatened Species. Em 2017, foi outorgada pela Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES) a proibição do comércio internacional de pangolins. Neste mesmo ano, a China apreendeu uma carga "ilegal" de pangolins que pesava 11,9 toneladas. No ano seguinte, a China tentou incluir no mercado da indústria farmacêutica ocidental medicamentos que usavam escamas e outras partes do animal em sua composição. Os negócios não prosperaram e, em agosto de 2019, o governo chinês decretou que o programa nacional de saúde não cobriria mais produtos feitos de pangolim. A medida entrou em vigor em janeiro de 2020, alegada como uma questão ambiental.

 

Hoje, China, Vietnã, Indonésia, Hong Kong, Malásia, Singapura compram toneladas de escamas e centenas de pangolins ainda vivos da Nigéria e do Congo, principais países fornecedores da "mercadoria". Não só, EUA e países europeus como Holanda e Suíça também compram esses animais ― vivos ou mortos, inteiros ou em partes ― vindos também de outros países africanos. Ao menos 67 países estão envolvidos no tráfico de pangolins.

 

Em março de 2020, duas espécies de pangolins, encontradas em diferentes províncias chinesas, foram analisadas e estavam infectadas com SARS-CoV-2. A relação zoonótica, de acordo com os pesquisadores, sugere possíveis contatos para além do consumo direto dos ditos "animais selvagens" como sua mistura com seres marinhos, todos vivos, à venda no Mercado de Frutos do Mar de Huanan, localizado na cidade de Wuhan, na China, epicentro do contágio entre humanos pelo novo coronavírus.

 

Mas as pesquisas voltadas ao mapeamento da "origem" da mutação viral que chegou a contaminar mais de 262 milhões de pessoas em todo o planeta não avançaram. Ao que tudo indica, todos os laboratórios e investigações se voltaram aos inúmeros efeitos da doença em corpos humanos e, é claro, no desenvolvimento de vacinas e drogas que possam ser usadas no tratamento da Covid-19.

 

Desde o início da chamada pandemia, consideram-se duas hipóteses originais do vírus: a criação em laboratório e o comércio e consumo de "animais selvagens" por chineses. Ambas as hipóteses foram refutadas por pesquisas realizadas por cientistas chineses e chanceladas pela Organização Mundial da Saúde. Em relação à hipótese atrelada aos hábitos alimentares e comerciais chineses, fora demarcado como "paciente zero" da Covid-19 um contador que morava a 30 quilômetros de distância do Mercado de Huanan e não tinha vínculos com o local ou funcionários.

 

Mais recentemente, um artigo publicado na revista Science, em 18 de novembro de 2021, aponta que a primeira infecção acometeu o corpo de uma mulher, vendedora no mercado de frutos do mar. Ela deu entrada no hospital com os primeiros sintomas da doença em 11 de dezembro de 2019. Já o contador, teve os primeiros sintomas em 16 de dezembro de 2019, o que indica que fora contaminado por transmissão humana. Em 30 de dezembro, a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan emitiu avisos de emergência, que circularam internamente em hospitais locais, alertando para uma "pneumonia inexplicável" que atingia vários pacientes. A maioria deles, funcionários e prestadores de serviço do Mercado de Frutos do Mar, ou pessoas com relações próximas a eles (27 dos 41 primeiros infectados, transferidos de Wuhan para Jinyintan em meados de dezembro).

 

Michael Worobey, cientista na Universidade do Arizona e autor do artigo "Dissecting the early COVID-19 cases in Wuhan", traçou as conexões entre o mercado e os primeiros pacientes hospitalizados com a "pneumonia inexplicável" em dezembro de 2019, indicando que este pode ser o local inicial da disseminação da doença. Ele conclui que há "fortes evidências da origem da pandemia no mercado de animais vivos".

 

Sobre este mapeamento, realizado a partir de informações cedidas pelos hospitais da região, artigos científicos chineses e notícias, ele afirma: "dada a alta transmissibilidade do SARS-CoV-2 e a alta taxa de propagação assintomática, muitos casos sintomáticos iriam inevitavelmente em breve perder uma ligação direta com o local de origem da pandemia. E alguns casos contados como 'desvinculados' podem ter ocorrido a apenas uma ou duas transmissões. (...) Da mesma forma, é inteiramente esperado que os primeiros casos apurados em um mercado de frutos do mar seriam de trabalhadores que não estavam necessariamente diretamente associados à venda de animais selvagens porque o surto se espalhou de humano para humano. O caso índice foi provavelmente um dos 93% que nunca necessitaram de hospitalização e, de fato, poderia ter sido qualquer uma das centenas de trabalhadores que tiveram um breve contato com mamíferos vivos infectados."

 

O Mercado de Frutos do Mar de Huanan foi fechado e desinfetado em 1º de janeiro de 2020. Nenhum mamífero vivo à venda no mercado foi coletado e testado. Assim como de nenhum outro mercado de Wuhan que vende animais vivos para consumo humano.

 

Em sua pesquisa, Worobey indica a presença da SARS-CoV-2 em outros mamíferos vendidos no Mercado de Huanan como os cães-guaxinim. Os primeiros casos sintomáticos da doença remetem a funcionários que atuavam na seção oeste do mercado, onde cães-guaxinim estavam confinados e enjaulados.

 

Nestes quase dois anos da chamada pandemia, outros mamíferos, em diferentes cantos do planeta, apresentaram sintomas e/ou testaram positivo para o novo coronavírus. Contudo, nenhum outro mamífero infectado pelo vírus apresenta letalidade semelhante à de humanos. Pelo contrário, raramente são sintomáticos. Gatos, cachorros, furões, hamsters, coelhos. Macacos rhesus e cynomolgus, marmotas, musaranhos (que foram analisados por cientistas chineses em 2017 como possíveis hospedeiros que causaram a mutação alfacoronavírus). Quatro tigres e três leões confinados no zoológico do Bronx, em Nova York. Milhões de visons aglomerados em criadouros na Holanda, Dinamarca, Grécia, Polônia, Lituânia, Suécia, Espanha, Itália, França, Canadá e Estados Unidos para serem executados e terem suas peles extirpadas. Até janeiro de 2021, em ao menos 400 fazendas de visons espalhadas pela Europa foram detectados casos de infecção pelo novo coronavírus.

 

O maior mercado consumidor destes produtos está na China, Hong Kong e Coreia do Sul. A China, além de maior consumidora, é grande produtora do mercado de peles também. A sede chinesa da Federação Internacional de Peles relata que nenhuma infecção pelo novo coronavírus ocorreu nos criadouros locais... A Federação Internacional de Peles, com sede em Londres, lamenta a "crise" no setor. Os preços de peças feitas com pele de animais confinados e abatidos subiu mais de 40% no início de 2021.

 

Na Holanda, em abril de 2020, constatou-se o "perigo" dos visons, pois trabalhadores desses matadouros e pessoas das vizinhanças, ou que tinham relações com os funcionários, apresentaram elevado contágio, sintomas respiratórios graves e alta mortalidade. Neste caso, animais de diferentes fazendas foram testados, comprovando a hipótese. Antes da matança dos bichos, mais visons de outras fazendas foram testados.

 

A partir de maio de 2020, um sistema nacional de resposta às doenças zoonóticas foi instalado na região, promovendo o monitoramento e testagem destes animais, com reportagem obrigatória regular à Netherlands Food and Consumer Product Safety Authority.

 

Em junho de 2020, o governo holandês determinou a matança de milhares de visons. De acordo com as leis locais, eles só podem ser mortos de maneira "limpa": em câmaras de gás de monóxido de carbono.

 

Detecção semelhante foi realizada na Dinamarca: 17 milhões de visons, todos os que estavam confinados em fazendas de pele, foram mortos. 4 milhões de visons foram enterrados em uma área militar dinamarquesa. O processo de decomposição e a interação com os gases por meio dos quais foram mortos fez com que os cadáveres dos pequenos mamíferos subissem à superfície terrestre. A cena de filme de terror chocou moradores da vizinhança que alardearam a possibilidade de contaminação da terra e da água com o novo coronavírus.

 

À época da descoberta dos visons contaminados, a OMS declarou que as mutações verificadas a partir das coletas feitas nestes animais eram "preocupantes" e poderiam comprometer a eficácia de futuras vacinas (então em fase de elaboração). A Holanda anunciou a antecipação oficial do encerramento deste negócio de 2024 para 2021. A Dinamarca e a Suíça cancelaram as temporadas de reprodução compulsória previstas para o ano de 2021. Na França, visons de um dos quatro criadouros nacionais testaram positivo para o novo coronavírus. Mil visons foram mortos por decisão estatal e planeja-se, no legislativo, fechar todos os criadouros ainda ativos. Na Espanha, milhares de visons também foram abatidos.

 

No Canadá, as infecções entre visons e trabalhadores dos criadouros foram notificadas em dezembro de 2020. Nos Estados Unidos, em agosto de 2020. Uma chefia da Federação Internacional de Peles declarou que 12 mil, dentre os 3 milhões de visons que viviam encarcerados nos EUA, morreram em decorrência da Covid-19... Também não foram reportados casos de funcionários, vizinhos ou pessoas próximas a quem tinha contato direto com os matadouros de visons que foram acometidos pelo novo coronavírus. As notícias e as decisões tomadas foram abafadas ou escamoteadas. Nenhum dos estados em que houve surto nas fazendas de pele reportou abertamente a situação ― Oregon, Utah, Michigan, Wisconsin. Neste último, funcionários de criadouros de visons para o abate foram vacinados contra a Covid-19 como grupo prioritário de "trabalhadores essenciais em risco".

 

Pesquisadores nos estados de Utah e Oregon detectaram visons livres, que viviam nos arredores das fazendas de confinamento, contaminados. Gatos e cães que habitavam as fazendas ou sua vizinhança também testaram positivo. Contudo, visons livres nas matas costumam ser solitários. A taxa de transmissão da doença é muito inferior à de animais que sobrevivem em condições de confinamento e aglomerados.

 

De acordo, com Lane Warmbrod, da Johns Hopkins Center for Health Security, "é inteiramente plausível que um vírus se desloque entre diferentes espécies de mamíferos, como já observado de humanos para visons e vice-versa." Anne Hammer, patologista veterinária da Universidade de Copenhague, visitou os criadouros na Dinamarca e encontrou material genético do novo coronavírus no ar ao redor dos visons e em suas pelagens, na água das calhas em que bebiam, nas moscas que habitavam com eles. Em uma fazenda, detectou o vírus na pata de uma gaivota.

 

Na mesma época, frente à situação nos matadouros de visons, W. Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunidade da Universidade de Colúmbia afirmou: "ainda que seja implantado um programa de vacinação eficiente e que o novo coronavírus seja erradicado em humanos, o que por si só já é bastante difícil, se o vírus persistir na fauna silvestre, causará problemas. (...) Devemos evitar um reservatório animal da doença".

 

A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar e o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças determinaram que as fazendas destinadas ao confinamento de visons deveriam realizar testagem frequente em seus funcionários e em animais, senão em todos, ao menos nos que apresentassem sintomas da doença.

 

Em março de 2021, a Polônia declarou ter encontrado carga viral em visons confinados em fazendas de pele locais. O país é líder na produção de casacos com restos de pele de visons. O atual percentual do estado de vacinação no país é de 110.26. É um dos países do Leste Europeu que apresenta agravamento nas taxas de contágio, internação e mortes decorrentes da Covid-19.

 

No planeta Terra nenhum ser vive isolado. Todos estão em relação, direta ou indiretamente. Dividem águas, ares, terras. Microrganismos habitam, mutam e interagem com diferentes organismos. Sem vírus, bactérias e fungos não há vida na Terra tal como a conhecemos hoje. Assim como não há vida em um corpo de carne, osso e sangue, nisso que se chama humano, sem bactérias: neste corpo há mais bactérias do que células. Contudo, a produção e reprodução em larga escala, a circulação veloz e incessante, o confinamento e extermínio de seres vivos ― inerentes ao capitalismo (sustentável ou não) e ao modo de vida antropocêntrico ― levam à violenta redução da vida à sobrevivência em um planeta cuja abundância e imensidão o humano com a sua humanidade intenta governar e vender; aniquilar.

 

R A D. A. R

 

International Institute for Democracy and Electoral Assistance (International IDEA)

 

 

Which countries are on track to reach global COVID-19 vaccination targets?

 

 

An uneven recovery: Taking the pulse of the Latin America and Caribbean Region following the pandemic

 

 

Dissecting the early COVID-19 cases in Wuhan

 

 

Novas evidências da transmissão zoonótica de SARS-CoV-2

 

 

A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin

 

 

Did a mink just give the coronavirus to a human? Here's what we know

 

 

Surto de covid-19 em visons gerou lições preocupantes sobre a pandemia

 

 

In the wake of world's largest ever pangolin scale seizure, new analysis exposes plethora of pangolin trafficking routes

 

um cinturão, uma rota: áfrica na mira do socialismo de mercado, sustentável ou quase.

 

Em 2013, a autocracia do Partido Comunista Chinês (PCC) lançou um novo projeto de dimensões intercontinentais: Um Cinturão, Uma Rota. A denominação faz referência à antiga iniciativa comercial impulsionada pela dinastia asiática no século 2 a.C, momento no qual a China ampliou sua presença em distintas regiões da Ásia por meio da construção de rotas mercantis voltadas, entre outras coisas, ao comércio da seda.

 

O Novo Cinturão não visa apenas ampliar a influência chinesa entre os países vizinhos, mas sim distender e diversificar suas transações comerciais em diferentes localidades do planeta. Trata-se de uma iniciativa que tem como finalidade promover variados projetos de infraestrutura na Ásia, na Europa, na América Latina e, por fim, na África. Investimentos em empresas de energia, oleodutos, gasodutos, portos, rodovias e hidrovias estão na mira da burocracia chinesa, usufruindo dos poderes da racionalidade neoliberal.

 

Em tempos de velozes fluxos transterritoriais de pessoas, informações e mercadorias, gerenciados por uma suposta e esperada governança planetária que envolve Estados, empresários, profissionais das humanidades, ONGs e etc., a China apresenta-se como o Estado capaz de fomentar, mais uma vez, a modernização e, desta vez, o desenvolvimento equitativo dos chamados Estados emergentes. Esse foi um dos objetivos enfatizados na resolução aprovada na 6° Sessão Plenária do 19° Comitê Central do Partido Comunista Chinês, realizada entre os dias 8 e 11 de novembro deste ano. Além disso, de acordo com o que foi estabelecido no 14° Plano Quinquenal, aprovado no ano passado, o Estado chinês tem como finalidade fortalecer o comércio exterior por meio do incentivo à proliferação de múltiplas formas de propriedades e negócios voltados, sobretudo, à chamada inovação. Cabe ao Estado, portanto, garantir as condições ― por meio de estímulos fiscais e novas leis de proteção às variadas modalidades de propriedade ― para o exercício da livre competição.

 

A ditadura do proletariado, assim, alimenta-se e se retroalimenta da racionalidade neoliberal, de modo a investir na formação de capital humano e criar um ambiente adequado e seguro ― atravessado por sofisticados e rígidos controles contínuos sobre os habitantes do território ― para a competição e a ampliação de bens e tecnologias para variadas localidades do planeta.

 

Esse é o chamado socialismo de mercado. Os novos empreendedores chineses somam-se às "tropas" comunistas, percorrendo uma longa marcha em busca do controle de novos mercados. Os grandes conglomerados econômicos, por sua vez, são os responsáveis pela construção de infraestruturas que permitem a entrada desses bens a diversos países.

 

Simultaneamente, a ditadura do proletariado chinês retoma o confucionismo — anteriormente, não só criticado por Mao Tse-Tung como desenterrou os restos mortais do filósofo e os pendurou em forcas — como uma maneira de garantir os valores morais destacados pelo filósofo: a lealdade e a fidelidade, responsáveis pela harmonia do povo chinês com a capacidade de se alastrar pelo planeta, fincando o domínio do Império da China.

 

Xi Jiping investe na retomada do pensamento de Confúcio, atualizando-o e declarando a moralidade de um governante como fundamental para estabelecer-se enquanto soberano capaz de ampliar seu domínio — característica fundamental no conceito de Cinco Relações Constantes de Confúcio. São elas: 1. relação de obediência entre soberano e súdito; 2. relação de obediência entre pai e filho; 3. relação de obediência entre esposo e esposa; 4. relação de obediência entre irmão mais velho e irmão mais novo; 5. relação de obediência entre o amigo mais velho e o amigo mais novo.

 

Na comemoração do centenário do Partido Comunista, Xi Jiping ordenou que todos os integrantes fizessem os cursos sobre o pensamento de Confúcio.

 

Um dos grandes alvos das indústrias pesadas do país asiático, sobretudo na última década, é o continente africano. O comércio de bens entre a China e o continente africano alcanço, neste ano, 209 bilhões de dólares. Além disso, pode-se verificar uma forte presença de empresas chinesas na construção de rotas de transporte entre os países da região. Em abril, por exemplo, a Autoridade Portuária do Quênia anunciou que a China Communications Construction Company, corporação voltada à construção de comunicações, finalizou a construção dos primeiros ancoradouros do porto de Lamu. O porto de águas profundas na ilha queniana, que recebeu seus primeiros navios no mês de maio, está integrado ao Corredor de Transporte Lapsset, projeto que visa estabelecer ligações entre o Quênia, Etiópia, Uganda e Sudão do Sul, de modo a facilitar a transação de mercadorias entre os países mencionados.

 

De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, a região conhecida como África subsaariana está composta por 46 portos que contam com a participação de companhias chinesas, responsáveis, em muitos casos, não apenas pela exportação de tecnologia, como também pela operacionalização e construção das estruturas portuárias. O país asiático também conta com fortes investimentos nos países africanos de língua portuguesa, financiando projetos como o porto de Mindelo, em Cabo Verde; o porto de Bata, em Guiné Equatorial; o porto de Lobito, em Angola; e outros.

 

Projetos como os que foram mencionados estão inseridos na chamada Rota Marítima da Seda, de modo a permitir, por meio da construção e da ampliação da infraestrutura dos portos na região, a entrada dos produtos e do capital das empresas chinesas em distintos setores econômicos. Além de iniciativas vinculadas às ferrovias, portos e gasodutos, muitas corporações estão investindo em setores de alta tecnologia hospitalar. Isso pode ser verificado a partir de medidas adotadas no ano passado, momento no qual a China anunciou a antecipação da construção da sede do Centro para a Prevenção e Controle de Doenças da União Africana. Além disso, o país está investindo na exportação de capital humano por meio da transferência de equipes médicas para o continente, bem como impulsionando parcerias por meio dos Hospitais de Amizade China-África, ampliando sua presença nesse segmento.

 

No último Fórum de Cooperação China-África, realizado em Dakar, no Senegal, Xi Jinping enfatizou que oferecerá 1 bilhão de doses de vacinas para o continente africano, anunciando estar disposto em estabelecer "cooperações" no que tange ao gerenciamento da saúde ― ou seja, da doença ― investimentos em tecnologias digitais, desenvolvimento sustentável, etc. Trata-se de um terreno fértil para a proliferação do empreendedorismo que sustenta a ditadura do proletariado no país asiático, ampliando a projeção e os mercados das empresas chinesas na região e o crescimento de regimes autocráticos ou híbridos na África.

 

Muitas autocracias do continente africano são clientes vitalícias de empresas chinesas voltadas ao desenvolvimento de tecnologias de monitoramento. Zimbábue, Etiópia, Tanzânia e África do Sul têm acordos com a CloudWalk Technology, empresa de software que fornece programas de reconhecimento facial, utilizados sistematicamente em estações de metrô, ferrovias e rodoviárias dos países mencionados. Algumas dessas iniciativas, inclusive, estão integradas ao megaprojeto Um cinturão, Uma rota.

 

Enquanto os autocratas africanos e os empresários que operam com recursos como petróleo e minérios ― principais fontes de exportação para a China ― garantem a manutenção de seus interesses por meio da expansão das "benesses" do chamado socialismo de mercado, os empreendedorismos chineses voltados às tecnologias de segurança e monitoramento garantem a sustentação de muitas autocracias locais e, simultaneamente, aumentam a dependência dos países africanos em relação às ambições dos empresários e burocratas vermelhos.

 

Vale ressaltar que muitas companhias do país asiático estão investindo veementemente no ciberespaço da região. De acordo com um documento do Centro Africano do Conselho Atlântico, intitulado O imperativo da infraestrutura digital nos mercados africanos, publicado em abril deste ano, a Huawei construiu 30% das redes 3G e 70% das redes 4G do continente. Além disso, alguns países, como Uganda, Quênia e Nigéria, já estão realizando testes com 5G por meio de tecnologias chinesas.

 

É em meio à ditadura do proletariado do país asiático que emergem as mais variadas formas de propriedade. Os burocratas chineses fomentam a proliferação do empreendedorismo para além do território controlado pelo Estado chinês, de modo a integrar essas inciativas aos planos definidos pela cúpula da autocracia comunista. A experiência do chamado socialismo de mercado, que se caracteriza por uma confluência entre ditadura do proletariado e racionalidade neoliberal, mostra como o capitalismo convive perfeitamente com qualquer regime político, seja ele autocrático ou democrático.

 

A ditadura do proletariado, assim, tornou-se uma eficiente gestora da livre competição e, por conseguinte, da miséria. E do saber sobre a chamada pandemia.

 

A presença da China nas universidades africanas remonta à década de 1950, quando o continente passou por uma série de lutas de independência e por rebeliões socialistas. Para além dos investimentos bélicos, a China também ofereceu aos africanos apenas um pequeno número de bolsas de pós-graduação para estudar em suas instituições de ensino superior. No entanto, desde 2000, essas bolsas de estudos no país asiático já são cerca de 61.000.

 

Desde 2000, a China também investe na construção de Institutos Confúcio, voltados para o ensino de mandarim e dos pensamentos do filósofo chinês. Esses Institutos, em sua maioria, estão localizados dentro das universidades africanas e são mantidos pelo Hanban, uma agência do ministério da educação chinês e uma afiliada do Partido Comunista Chinês.

 

Desde 2009, o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) conecta 20 universidades e faculdades africanas com as da China. As universidades africanas selecionadas incluem as do Cairo, Nairóbi, Lagos, Dar es Salaam, Pretória, Makerere e Stellenbosch. Em algumas delas é possível ter um diploma reconhecido pela China.

 

Um dos exemplos da presença chinesa está na Universidade Makerere, em Uganda. Em 2019, foi lançado o seu primeiro diploma de bacharelado em estudos chineses e asiáticos. Entretanto, os ensinos asiáticos restringem-se a ensinos chineses. Em breve, a universidade pretende lançar um programa de pós-graduação com o mesmo foco.

 

ni hao

 

Em uma sala de aula em Lusaka avista-se uma fila de mulheres negras enfileiradas. Todas com cabelo alisado em vestido chinês tradicional. Todas são universitárias e diante delas está um velho senhor chinês. É a cena de um dos concursos de proficiência em mandarim; o velho diante delas é o juiz. Patrocinado pelo Hanban o concurso é considerado como um dos maiores eventos de promoção do chinês pelo planeta. Em 2017, na sala em Lusaka, o juiz indagou a uma moça: "Qual seu sonho?". E escutou como resposta: "Wode mengxiang shi Zhongguo" ou "Meu sonho é a China".

 

Em outras salas acontecem as competições entre os homens, que também devem vestir roupas chinesas tradicionais. A competição é composta por um discurso em chinês e depois por perguntas do juiz ao candidato.

 

Em diversas cidades africanas crescem os números de escolas de mandarim e centros de kung-fu. Alguns países já possuem a proposta de incluir o mandarim no currículo escolar. Saber mandarim é o diferencial para se destacar no mercado. E escutar ni hao em alguns centros urbanos já se tornou comum como escutar um hello pelo planeta adentro.

 

R A D. A. R

 

A nova rota da seda

 

 

China estimulará mais vitalidade do mercado e atualizará comércio exterior

 

 

África - Cúpula da China discute cooperação reforçada

 

 

China envolvida em oito portos nos PALOP

 

 

China antecipa início da construção de sede do África CDC

 

 

África é mercado atraente para tecnologia chinesa

 

 

Analysts: China Expanding Influence in Africa Via Telecom Network Deals

 

 

The digital infrastructure imperative in African markets

 

 

 

 


O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br

 

 

www.nu-sol.org
www.pucsp.br/ecopolítica
http://revistas.pucsp.br/ecopolitica
05014-9010 Rua Monte Alegre, 984 sala s-17
São Paulo/SP- Brasil
55 11 3670 8372