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observatório ecopolíticaAno V, n. 103, janeiro de 2022.
Algumas notícias de final e de início de ano na ecopolítica planetária.
o fantasma da liberdade
Como sempre a palavra liberdade é a chave para a proliferação dos autocratas e os liberais (das antigas e os novos). Eles vivem por suas liberdades e só elas são verdadeiras.
Há um lote, atualmente, que se recusa a tomar vacina e defende por meio de palavras do presidente ou de seus e suas ministras mais solenes em verdades ficcionais os medicamentos toscos, recomendados por seus médicos.
Aqui e em outros cantos do planeta, não se negam somente a tomar vacina, mas desejam também punir e penalizar quem defende a vacinação contra a Covid-19. Consideram os outros sendo componentes de uma suposta ditadura que assola o mundo. Eles e elas fazem passeatas, quebram o chamado patrimônio público, e com a mesma empáfia que exigem punição aos vândalos dos outros lados políticos, vomitam seu humanitarismo, sua liberdade e inteligência para determinar o que é livre. Para eles e por eles não vacilariam em recriar campos de concentração e extermínio.
Os liberais e conservadores atualizados os consideram inoportunos, mas são aliados importantes contra os que radicalizam liberdades. Fazem funcionar a faca de dois gumes, o fantasma da liberdade. Os autocratas de hoje são similares ao que os fascistas e nazistas foram no passado para liberais e conservadores diante de socialistas, comunistas e anarquistas. Os liberais e conservadores sempre preferiram o reativo ao que vai adiante. Por isso são dissimulados contínuos e proprietários da liberdade. São os criadores do fantasma da liberdade.
No Chile, talvez agora ganhe força a associação Hijos e Madres del Silencio, que procura por crianças sequestradas pela ultra reconhecida ditadura Pinochet, apoiada por liberais, neoliberais, conservadores esclarecidos e reativos. Nos EUA os Proud Boys (que ignoram até mesmo as ativistas) seguem a toda ameaçando quem eles consideram inimigos da ocasião.
Então, neste redemoinho, a direita e a esquerda, pretendendo-se moderados, defendem a democracia e deixam intocável o capitalismo e os fundamentos do fascismo de cada dia. No limite, seguem as prescrições filosóficas dos sentimentos morais de Adam Smith, que hoje em dia quer dizer capital humano altruísta e humanitário a serviço do bom governo das empresas, ou seja, da boa governança.
A liberdade de opinião, sempre fortalecedora do liberalismo, transformou-se em seu avesso pelo conservadorismo reativo master. A Internet, para os a favor e os contra, funciona para dinamizar a consagração da família, da comunidade, da religião, dos portadores de direitos de minorias, daqueles que não precisam discernir fake news, produzem fake news e incensam suas identidades. Há os que se metamorfosearam em influencers, condutores com seus milhões de conduzidos, donos de assuntos que viram o centro de tudo, de pessoas e suas vidas milimetricamente postadas...
A liberdade de opinião faz quase tudo virar ideologia e faz quase nada para dinamizar as análises sobre a existência libertária. Todos devemos ser todos e todas. E devem zelar pela produção e a sua democracia de direita ou esquerda. A liberdade de opinião virou ditadura da opinião pessoal ou pública. Quem contestar é vândalo, segundo cada força pluralista. Isto tudo na era da chamada saúde mental!
terceira via à brasileira
Entre os entusiastas da terceira via, naquela que fica entre as duas convencionais e que pretende juntar-se a uma delas para aniquilar a outra, estão obviamente os dissidentes do homem que senta no trono do palácio. A recomposição de liberais e conservadores volta ao cartaz como uma peça embolorada.
Na eleição passada estavam todos juntos. A partir da chamada pandemia começaram a se separar, e o imaginário bloco monolítico começou a dissolver. Enquanto os oponentes imaginavam se fortalecer reativando a velha candidatura a governante de opositor institucional, os dissidentes começaram a articular, com o apoio da imprensa e suas ramificações, a chamada terceira via. O que nada mais é, foi ou será que a outra face do mesmo.
Todos os grandes, com suas devidas diferenças de minorias aceitas ou meramente toleradas, passaram a ser vistos como dissidentes. Como se fossem inimigos do homem que senta no trono do palácio. Todavia são apenas adversários que se juntam para vencer os inimigos institucionais e os transgressores surpreendentes. São os purificadores diante da autocracia.
Muitas vezes os opositores oficiais, dentro ou fora do governo, também não deixam de visar com força das armas ou a astúcia do direito a aniquilação dxs transgressores surpreendentes.
Tudo cabe, ou melhor, quase tudo cabe no leque pluralista onde, temporariamente, a terceira via se aloca com sucesso. Seja para ganhar uma eleição ou para recompor as candidaturas. Seja para governar ou para remanejar as forças dominantes. Nenhuma das forças, seja a primeira, a segunda ou a de terceira via é anti-hegemônica. Elas disputam a hegemonia, conceito sem o qual a ordem e suas adversárias não conseguem sobreviver? e governar.
Terceira via é coisa de dissidente, daquele que não abandona o que é, mas que somente deixa de acompanhar o condutor atual. Já vimos isso no socialismo do Partido Comunista quando este condenou o stalinismo. Trata-se, portanto, de um ponto de convergência entre comunistas do passado e bolsonaristas, à revelia do chamado capitão. Ambos produzem dissidentes embolorados que se apresentam para melhor continuar governando. No caso soviético, depois de Stalin, tudo passou a vir das forças repressivas policiais, no caso brasileiro vem de juiz lavajato, govenador repaginado etc. e tal.
Dissidência é apenas a recomposição da ordem. Basta olhar a dissidência ao PT que a qualquer momento se ajunta para ser a força oponente no leque pluralista. Dissidência é uma conduta previsível em política. Fazem vistas grossas, quando lhes interessa, segundo seu explícito interesse, para mensalões e derivados, KGB e sucursais, negativistas e similares.
Dissidência é uma saída estratégica no governo do Estado. Sempre justa, adornada de denúncias, com propostas honestas e sensatas, compondo o acordo geral onde sempre caberá mais de um, ou seja, vários.
Dissidência é uma condução visando a reforma de procedimentos, incorporando quem está fora e aumentando o círculo interno de governo do Estado e da sociedade.
prisioneiros estrangeiros da Dinamarca para o Kosovo
"somente uma morte anônima sem valor
A Dinamarca não tem mais lugares no interior de suas prisões. Lá há poucas prisões construídas. Entretanto, o governo e a sociedade civil organizada, em nome do conserto normalizador com punição, descobriram a versão da prisão globalizada, tão difundida pelos Estados Unidos da América após o 11 de setembro de 2001: exportar prisioneiros. O destino dos prisioneiros dinamarqueses sem cela nacional é o Kosovo.
Trata-se de mais um negócio de circulação do excesso de gente. Tá aí um "negócio da China" para países miseráveis e autocráticos. É uma nova versão da supermax, aquela prisão criada pelo governo estadunidense com base na racionalidade neoliberal, para os declaradamente sujeitos considerados incapazes de ressocialização/reintegração. O resto é ladainha para ocupar os vigilantes dos direitos humanos.
Se houvesse mesmo vigilantes dos direitos humanos, antes de tudo eles seriam inimigos das prisões. Não perguntariam o que colocar no seu lugar e nem como melhorá-las. Passariam a chave nas prisões para que ninguém mais fosse encaminhado para lá; revolveriam o princípio punitivo do direito penal em princípio conciliatório advindo do direito civil.
E isto é muito mais do que ser um suposto burocrata inteligente (todo burocrata é ubuesco) que diz pensar em ajudar, acolher, reformar o lugar dos encarcerados e encarceradas com discursos humanizadores (burocrata é de qualquer gênero, invariante, como polícia e forças armadas). Resta-lhes, eventualmente, a sessão de terapia presencial ou online; as constantes redes sociais digitais ou não de assemelhados blindados, orgulhosos defensores perpétuos da punição e as candidaturas a lideranças espasmódicas, com seus respectivos transtornos de protagonistas.
jovens da fundação casa terão empregos; autistas eletrochoques?
Cresce a olhos vistos as parcerias estabelecidas entre empresários e sociedade civil, em nome do combate à miséria, agora ampliada graças à epidemia. Parece que antes e depois não havia, nem haverá tal relação e crescimento.
O negócio é lucrativo, tanto para a companhia que destruiu Brumadinho como para as ONGs que desde este solo já se estabeleceram globalmente. A propaganda estampa e consolida a verdade. A empresa se reitera humanista, as ONGs antirracistas, a favor de pobres, mulheres, indígenas e demais minorias numéricas portadoras de direitos também. Todos são solidários e devem servir de exemplo aos demais.
Enquanto isso na Fundação Casa de São Paulo, mais um programa para empregar "infratores" será implementado. Sempre noticiado como a boa nova, o grande gesto político do governo, a saída para jovens aprisionados em situação de reintegração/ressocialização. Só não informa que é preciso estar em cana, estigmatizado, seletivamente escolhido pelo sistema penal e pela palavra, voz e caneta do juiz para um jovem aspirar um emprego. Qualquer jovem afeito a ser empregado pensará: então, a saída é cometer uma infração e parar na Fundação Casa.
As pesquisas indicam que desde 2012 cresce o percentual de jovens (até 29 anos) sem escola e emprego, a categoria vulgarmente chamada de nem-nem, atingindo cerca de 30% do contingente. No momento, falam que isso se deveu à pandemia. Estudos sobre a defasagem em capital humano, mostram que, para além da pandemia, há uma constante no crescimento de desemprego na última década. Será que estes mais de 30 milhões de jovens esperarão por empregos ou pelo gesto filantrópico da Fundação Casa que fala que produzirá programa-emprego para infratores?
A gestão filantrópica da miséria depende do esquecimento por qualquer um do que é o empresariado, para quem funciona o governo, para que servem ONGs, fundações e institutos vinculados à pobreza, aos direitos de minorias e à naturalização em ser-estar sujeitado.
A lucratividade e a gestão da miséria dependem da segurança dos que vivem da pobreza alheia. Antes e depois da chamada pandemia, desde o início deste século, foi fundada a Bridgespan, que faz a gestão gratuita dos investimentos filantrópicos da Fundação Bill & Melinda Gates, da Bloomberg Philantropies, da Ford Fundation... Mas há também as que cobram como a McKinsey. Um atuante governo de sociedade civil organizada e Estado por qualquer lado, em fluxo contínuo.
Estamos diante da verdadeira alegria de certos gestores e autoridades estatais, capazes de saudar o negativismo, declarar que ainda são tão poucas as crianças mortas por Covid-19 que distribuir vacinas é uma perda de tempo, enquanto deslizam em lanchas, jet-skis, dançando um funk vestindo a camisa de um clube da região (de preferência o mais popular), declarando-se membro do rebanho no qual é o pastor, etc. e tal, e a eterna vítima, seja da facada ou da incompreensão dos críticos do enriquecimento pela filantropia neoliberal negacionista ou caridosa. Ambas, preferencialmente, religiosas.
E as ruas, cada vez mais repletas de moradores com seus cães, barracas e edredons, servindo a empresários, à sociedade civil e aos censos que sustentam políticas públicas. Nos últimos seis anos a população de rua dobrou. Esta população, em 2020, preferia a rua aos abrigos municipais. São 47,5% que esperam sair desta situação conseguindo emprego fixo e 23,1% com moradia permanente.
Mas tudo não se resume a isso. Há muita gente perdida, desesperada, fodida, noiada, dormindo no chão sem barraca nem cachorro. E passado alguns dias a pessoa não está mais, ou seja, partiu ou foi partida... Um pouco mais distante o que observei é um lance mais solitário, uma entrega a vagar até cair em algum canto.
As políticas públicas se colocam, como sempre, iniciando um investimento altíssimo. A sociedade civil organizada fatura com a moral da miséria. E quem vive na rua constata que é melhor ficar por aí, como mostram os percentuais do censo, ou morrer partido.
Pequeno deslocamento: para salvarem o crescimento estatístico ou a simples evidência empírica dos diagnósticos de autismo entre crianças, os cientistas retiram do seu acervo embolorado, mas sempre pronto ao uso normalizador, o eletrochoque.
Como no passado, certos psiquiatras são exímios em diagnosticar a necessária ativação de eletricidade no corpo como motor da indústria do cérebro, como máquina da era passada da mecânica e/ou como máquina cibernética no presente. É preciso pôr o capital humano em pé e produtivo. O autismo é uma deficiência de formação genética e ponto final. Por que terá crescido tanto o estado autista e/ou o diagnóstico médico autismo?
Enquanto isso na cidade do Rio de Janeiro ganha espaço o Projeto Cidade Integrada do governo do estado que pretende substituir as antigas UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), encerradas em 2014.
Em São Paulo, na favela Paraisópolis, ocorre o grande investimento em plantação de alimentos para a população favelada, cumprindo o objetivo de ensinar a população a cultivar hortaliças em casa para a sua renda e saúde. E, também, para produzir à distribuidora de "quentinhas" do projeto Mãos de Maria. Trata-se da criação da Agro-Favela Re-Fazenda. Realização dos empreendedores liderados pelo G10 Favelas. Tudo começou como Horta na Lage, com o suporte do Instituto Stop Hunger, conectado ao grupo Sodexo. É assim que se forma uma subjetividade neoliberal de consentimento, inclusão, empoderamento feminino, empreendedorismo.
os jovens preferem redes sociais à política: resultado de pesquisa; cultura e arte
O título da matéria jornalística, sobre a pesquisa X ou Y, deve estar no masculino ou deveria contemplar também o feminino? Com nome e sobrenome ou como um simplista reflexo do senso comum, ou melhor do chamado bom senso em voga, é sabido e constatável que os jovens preferem as redes sociais à política.
Os políticos, os empresários e os seus pesquisadores, devem crer que, de vez em quando, um ou mais representantes políticos serão catapultados entre eles para as candidaturas a uma próxima eleição. O resto, cancelado ou não, é uma tarefa para a democracia com seus erros e acertos, seus devidos ajustes, encenações e rituais. Porque só a democracia pode errar e consertar o erro do povo pelo povo. Mesmo sendo uma merda ela é o melhor dos regimes. Mundo das abstrações! O mundo capitalista é assim.
O que desejam da política os portadores das categóricas opiniões? Eles e elas se encontram em redes sociais digitais variadas. Vem com um pouco de Google se ainda lhe sobrou uma lasca de espírito enciclopédico Wikipédia. Hoje, trata-se de ver o influencer falando e seguir o que ele disse. E isso já independe da plataforma ou do meio, só se segue, sejam as frases curtas do Twitter, nos textões do Facebook, na foto ativista do instagram, no vídeo no YouTube ou no áudio no Spotify. Quase sempre política é assunto chato e a ser cancelado como tema, matéria, jornalismo e muito mais como ciência ou filosofia. E assim, os mesmos que defendem a ciência não precisam de ciência política, nem de política. A racionalidade neoliberal agradece abrindo as portas para o devido representante.
Todos os que vivem da política precisam dos que rejeitam a política, seja partidária, macro ou micro, da subjetividade ou objetividade, da política do banco, da dona de casa, da política compensatória para pobres, da política democrática ou sabe-se lá o que, mas todos deverão ser democratas...
Essa tal de política, fala o portador de direitos e democrata com firma reconhecida ou não: é que enche o saco e é sede de corruptos para acolher devassos.
A política é imprescindível para o capitalismo, as elites, as vanguardas, os protagonistas e os antagonistas, as classes e os desclassificados, os partidários e apartidários. A política é imprescindível para a segurança da propriedade, do Estado e dos corpos que governam, para sua exclusiva segurança, outros corpos com vigilâncias, disciplinas, controles e monitoramentos.
No passado, certos intelectuais, repetindo um cineasta europeu de vanguarda, diziam que a cultura é a norma e a arte a exceção. E ainda hoje, recorrem a ele. Norma porque sempre passível de revisão, cultura normalizadora e normalizante, cultura a ser modificada, transformada. A exceção seria a arte por romper com a norma, produzira a crítica e fundar uma nova ordem. Ou não?
Uma ou outra, uma e outra, decorrem de uma certa oposição impossível entre Apolo e Dioniso. A cultura apolínea está sempre revestida dos imperativos domesticadores de Dioniso. A cultura dionisíaca permanece atordoada por não conseguir se territorializar. Tampouco a arte é exceção, quando produzida ou apropriada pelos críticos e donos, e até mesmo instalada em ready mades disponíveis a incontáveis intervenções... Já foram para o catálogo que a todo custo pretende aprisionar o dadaísmo para sempre. Cultura e arte não estão separadas, estão na metamorfose dionisíaca ou apolínea em nossa era.
Hoje, exceção (à regra, ou uma forma de estado de exceção, de regramento das exceções) é uma prática de Estado condenada pelos jornalistas, intelectuais e cientistas que se autoproclamam superiores. Como se o Estado e a democracia com leis e normas não usassem das práticas de exceção. Como se a utopia fosse real, até nisso.
Até a arte indígena, que no passado foi soterrada como artesanato, hoje em dia vem acompanhada do adjetivo contemporâneo, ou seja, o artista indígena é o perfeitamente integrado ao mundo branco. E o branco passou a ser questionado, assim como o cubo branco para exposições, a cultura colonizadora, colonialista e a ser descolonizada. Os conservadores e retrógrados acham tudo uma sujeira. Mas está tudo limpinho, até mesmo a sujeira que é apresentada limpa no asseio das salas de exposição. Estranha ou maleficamente muitos jovens artistas cometem suicídio. Efeito da estatística, do senso comum, da falta de bom senso, da busca desesperada pelo protagonismo, do crescimento dos deprimidos...
A regra cultura-arte ruiu desde que a ciência tomou o lugar da arte. O capitalismo não acabou, se modificou, engoliu a arte na cultura, produzindo a cultura dos curadores, a mais nobre conduta e suposta eternização do pluralismo. Arte se opunha à cultura no tempo das revoluções, quando predominava o ideal imperialista universal francês. Mas, ficaram intocados os conceitos de cultura popular, erudita, maldita etc e tal, quando este ideal se transferiu para o estadunidense, científico e democrático, desde o final do século passado com a racionalidade neoliberal.
Como entender que a arte tenha se tornado democrática? Quando se tentou ajeitá-la no realismo socialista só serviu para punir ou matar; quando rejeitada como decadência serviu ao extermínio nazista, e ao ser enaltecida como indústria e modernismo adornou o fascismo.
Na Áustria, de outubro de 2021 a abril de 2022, encontra-se em exposição "Viena se alinha: a política da arte sobre o nacional-socialismo". São obras artísticas produzidas durante o nazismo, e até pouco tempo atrás, guardadas na Câmara de Belas Artes do Reich. Segundo as curadoras o evento faz parte da revisão da história da Áustria, compreendida como de submissão à Alemanha. O imprescindível escritor austríaco Thomas Bernhard nunca deixava de afirmar que os austríacos são nazistas.
Há uma arte de existir que não se confunde com o princípio de que todos somos possíveis artistas, todos somos artistas ou produtores de arte. A arte da existência não tem mercado, preço, galeria, objeto qualquer que possa ser arte, museu ou espaço a céu aberto para instalações e performancers. A arte da existência, em poucos e únicos desvencilhamentos, endereça os produtos da arte ao museu da cultura. Com a arte da existência se atiça para ver o que restará na natureza, mostrando os supostos e ideais destinos humanos aos terráqueos do futuro, como ficaram gravados nas cavernas as mensagens muito claras e as cifradas para sempre.
A arte dos primórdios ficou para sempre. A dos povos civilizadores foram destruídas, restauradas, furtadas por Estados e seus agentes de colonização em imperialismos, também pelos mecenas e colecionadores atuais, enfurnada em casas-cofres, bancos, bunkers não localizáveis, resultando em fortunas, tesouros e heranças. Alguns povos e Estados subalternos, pedem a devolução dos bens furtados pelas tidas culturas superiores. Com quem fica a arte indígena roubada de povos submetidos ao etnocídio?
Muitos acham tudo muito justo, parte da compensação, da retratação, do possível e não exigem a adorada punição aos Estados assaltantes. Sabe-se desde o final da II Guerra Mundial que não se deve condenar mais os Estados (pela via oral ou pelo tribunal) e então tudo vira diplomacia instantânea e punição individualizada. Há uma ampla política de devolução em andamento. Para os objetos da cultura de povos superiores e civilizadores, consensualmente, não há punição, mas bom senso, negócio político. Arte absorvida pela cultura e governada pela ciência (feita inclusive para atestar autenticidades).
A política, cancelada ou não, não pode prescindir das eleições e seus representantes. Vale tudo para se manter a norma, para adorná-la com arte e governá-la? pela ciência. Mas, será que todos os jovens estão à espera das fundações, institutos e ONGs burguesas? A minoria potente não envia aviso prévio!
Os jovens, hoje em dia, muitos deles desempregados, são atraídos para a profissão de influencer ou a de esportista de e-sports, sentados diante do dispositivo eletrônico e pretendendo tornar-se um campeão individual ou coletivo, mas individualista de exercícios com esportes coletivos sob a forma de jogos eletrônicos. Trata-se de uma nova-velha fórmula para catapultar o garoto ou a garota da favela para o estrelato semimilionário. Uma readequação do capital humano entrecruzando lazer-trabalho como ocupação de vida-atlética ficcional. Os jogos eletrônicos também colaboram para captura de jovens para a liberdade de mercado. Daí virão outros Pelé, Garrincha, Maradona...?
As Forças Armadas dos EUA absorveram os jogos eletrônicos e há décadas já recrutam soldados que jogaram desde criança. Agora esses jogos também se tornaram uma oportunidade e um investimento nas crianças. Mesmo que o gamer não se torne um astro, ele pode ser um comentarista, um streamer... além disso, os e-sports devem entrar em breve para as Olimpíadas.
Os jovens de esportes de alto rendimento foram os primeiros a descobrir, desde as últimas olimpíadas de verão e agora nas olimpíadas de inverno sediadas na China, que conquistar o topo é ter muito dinheiro e muita cobrança. Constataram a máxima de Maquiavel: não basta conquistar, é preciso conservar. Não basta ser conservador reativo aos moldes da extrema-direita. É preciso produtividade, longevidade histórica no topo, ser e estar sempre como protagonista empoderado no auge. Os mais jovens não suportam. Os mais jovens em empreendimentos menos arriscados seguem adiante. E neste caso os mesmos jovens de esportes de alto rendimento viraram empresários e benfeitores exemplares. Esse é o capitalismo para jovens. Poucos conseguem, mas a sua maioria, organizada em minorias portadoras de direitos, espera alcançar o sucesso. Colaboram para a formação da atual subjetividade de empreendedor moderado e participativo.
Não foram poucas delegações que ameaçaram não ir ao país alegando que a China não respeita dos DH e porque os atletas não poderiam acessar "livremente" a internet. Afinal de contas, hoje em dia atleta virou influencer como um investimento em sua carreira para além dos esportes. A China dará celulares para os atletas poderem acessar a internet "livre"; depois da China anunciar a internet para os atletas, muitos países voltaram atrás, incluindo o Japão.
uma dinheirama do Estado para alimentar a representação política
Não é pouco. No Brasil, é coisa de mais de 5 bilhões do chamado dinheiro público destinado aos partidos e candidatos para as sucessões representativas. Uns dirão, essa é a forma democrática para os capitalistas economizarem ou dar destinos camuflados a seus apoios financeiros para seus representantes. Outros dirão, que isso sim é democratização da representação. Mesmo que nunca tenham se perguntado de onde vem o chamado dinheiro público, e se a forma de consolidação é igualitária...
Os representantes, homens ou mulheres, sempre iguais em direitos e em desempenho burocrático, mais ou menos corruptos ou indeléveis inocentes úteis, representam a vontade abandonada de outrem a seu favor. São os que recusam um querer. Escolhem, preferem ou simplesmente seguem alguém que os conduzam.
A representação democrática com eleições amplas é a forma mais pacificadora para a continuidade dos partidos de todas as ideologias, portanto, dos capitalistas, dos seres moderados de centro, nitidamente conservadores apesar da vestimenta de palavras que usam; da esquerda que sonha com a via pacífica para o socialismo, cuja realidade consiste em permanecer em negociação constante para obter benesses sob a forma de retornos financeiros ou em políticas públicas. Ainda creem que o primeiro passo para o socialismo é acabar com o pauperismo!!!!!
Os capitalistas e suas elites principal e secundárias, disputam o quantum destinado às seletivas políticas públicas, cada vez mais funcionando como compensações às minorias portadoras de direitos. Este é o tom da banda desde o final do século passado. Mas, a representação, hoje em dia, deve ser o sonho, a utopia, e a realidade que todos os povos do planeta devem seguir como reverência à racionalidade neoliberal de capitalistas e capital humano (os conhecidos no passado como trabalhadores, mão de obra, força de trabalho). Deve ser democrática, participativa e representativa.
Como nas religiões todos devem seguir um deus monoteísta. Devem acompanhar um líder democrático ou autocrático. Populista é o disfarce de ambos, vendido pelo jornalismo político e cultural. Contudo, a tendência atual é a de independentemente da liderança, se incentivar e confirmar a representação da liberdade.
A justiça está cada vez mais exposta como tendenciosa e jamais neutra. São poucos os que acreditam nesta misericórdia. Não são muitos os que creem que liberdade de expressão é liberdade de imprensa, de empresas capitalistas de oposição temporária ao governo, ao regime político, mas jamais ao Estado.
As polícias, os exércitos, os cidadão-polícias aumentam... Esta é uma sociedade de controle que, muito mais que as anteriores, brada, reclama, suplica, roga e pede por muito mais e mais segurança. Segurança policial, territorial, alimentar, climática, do carro, da casa, da vizinhança, do celular, do ferro elétrico... É preciso segurança, seguros, seguridades e monitoramentos online e presencial para permanecer paranoico.
Aqui, matam-se negros, pobres, indígenas, brancos, miseráveis com ferocidades e a qualquer momento.
Aqui, certos pobres já compreendem que o neoliberalismo quer que eles sejam os gestores dos demais miseráveis, seus voluntários preferenciais.
Em tempo: se você quiser fazer um bom plágio, passe toda esta escrita para a duplicidade ou variedade de gênero. Fácil é escrever e se exibir, difícil é traduzir tudo isso para a atitude e a fala sem cair no esdrúxulo e na baboseira. Toda linguagem é fascista já pronunciou Roland Barthes, um conhecedor incontestável do século passado; os democratas são os que pretendem torná-la palatável. É o caso clássico, matemático, de que a ordem dos fatores não altera o produto; e que toda transgressão deve ser previamente conhecida. E o produto é a maioria democrática moderada e conservadora formada pelas minorias portadoras de direitos! Norma e exceção em idealizações.
"Vida desinteressante"
"Ali perto, na Paulista, uma manifestação pedindo a cabeça de já nem lembro quem. Em matéria de cabeças institucionais, por mim tanto faz. A minha rua foi a de junho de 2013, a rua que prometia destrancar todas as outras e trancar para sempre os palácios. E 2013 foi massacrado tanto pela esquerdona federal quanto pelas direitinhas estaduais. Em comparação, o que estamos vendo hoje é briga de cotonete, aqueles cotonetões de programa do Faustão, coloridos, berrantes: um lado verde-amarelo e outro vermelho duelando pelo trono bege-cafona de Brasília. A brincadeira é engraçada, até alguém perder um olho" (Victor Heringer, Vida desinteressante, pp. 196-197).
"A vida é maior que Liu Yutian, o primeiro homem a percorrer toda a Muralha da China? A vida é maior que a Muralha da China? A vida é a única coisa construída pelo homem que os astronautas conseguem ver do espaço sideral?" (Idem, p. 144).
"Não foram os europeus o apocalipse do índio?" (Idem, pp. 126).
"Há quanto tempo não ouvimos dizer que um tal sujeito é triste? Estar deprimido é a moda, mas ser triste ninguém mais é. Esquecemos que o antônimo da depressão não é felicidade, mas força de vontade. E toma-lhe remédio para apaziguar a apatia. Neste processo de confusão conceitual, os tristes ficaram para titia, foram excluídos dos catálogos dos homens. Pobres dos tristes, que nunca tiveram remédio. (...) Viva o triste, abaixo a tristeza?" (Idem, pp. 74-75).
"O que fazer quando te dizem que a língua árabe tem letras solares e letras lunares, catorze de cada? Me diz. (...) A coisa é que as letras solares e lunares do árabe só fazem sentido quando são ditas. A pronúncia é diferente, entendeu? Então você precisa me dizer" (Idem, 176-177).
das descobertas do Brasil
Entre 1503 e 1507, em Paris, publicou-se em latim, as narrativas de viagens atribuídas a Américo Vespúcio, com o título Mundo novo e Quatro navegações de Américo Vespúcio. "Nunca é demais recordar que ainda foi a leitura de Quatro navegações que inspirou o geógrafo Martin Waldseemüller a batizar de América as novas terras encontradas por portugueses e espanhóis" (França, Jean Marcel C. "O Brasil veio de fora". In. Martins, Ana C. I. e Sochaczewski, Monique. Jogos de espelhos: uma proximidade distante, uma distância tão próxima, p. 20).
"O Brasil é um território muito mal conhecido na Europa. Os portugueses por razões políticas, não divulgam quase nenhuma informação sobre essa sua colônia. Daí, as descrições vinculadas nas publicações geográficas inglesas serem, estou certo, terrivelmente errôneas e imperfeitas" (Tenente inglês Watkin Tench, 1787, de passagem pelo Rio de Janeiro com destino à Austrália. In França, Jean Marcel C. Idem, p. 24).
As cidades mais visitadas, a partir do século XVIII, foram as do litoral. Rio de Janeiro com mais incidências, seguida, muto atrás, por Olinda e Recife e, também, por Salvador, os litorais de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Maranhão, Angra dos Reis, Ilha Grande e São Sebastião (SP). "No que tange ao mundo que os colonos estavam criando nos trópicos, as descrições primam pela monotonia e pela repetição dos mesmos temas, objetos, personagens e abordagens. (...) Durante os três séculos entre a viagem de Vespúcio e o desembarque de D. João VI, produziu-se sobre o Brasil uma espécie de longa e repetitiva narrativa..." (Idem, p. 42).
"Raro foi o visitante que deixou de se referir, com mais ou menos detalhes, às exóticas e vistosas aves do Brasil — região conhecida, durante as décadas iniciais do século XVI, como 'Terra dos Papagaios'. O poeta Richard Flecknoe afirmou: 'conquanto os pássaros da Arábia sejam chamados de aves do Paraíso, merece o Brasil o nome de Paraíso das Aves'" (Idem, p. 49).
"Nada, todavia, em se tratando da natureza dos trópicos, mereceu mais atenção do visitante que a prodigalidade do solo. (...) "Gabriel Dellon, cirurgião francês e prisioneiro da Inquisição português de Goa, que visitou Salvador em 1665: 'há uma grande quantidade de frutas que crescem pelos campos sem nenhum cultivo, como os limões, as laranjas, os ananases, as bananas, as goiabas e muitas outras... A terra produz também um excelente tabaco, que se distingue daqueles plantados em outros lugares; produz ainda, melancias de uma qualidade soberba'" (Idem, pp. 50-51).
"Eis no alvissareiro ambiente dos trópicos, a grande 'mácula' que o visitante europeu detectou: o colono". (...) "Em 1698 o jovem e opinativo engenheiro francês François Froger também notou que os colonos eram cruéis, porém não contente, taxou-os de desonestos, preguiçosos e libertinos (...): 'o excesso é tão comum entre eles, que não somente os burgueses, mas também os religiosos podem manter relações com mulheres públicas sem temerem ser alvos da censura e da maledicência do povo'" (...). Para o "renomado sábio francês Amédée F. Frézier, que visitou Salvador em 1714, ... os baianos, em geral, também não agradaram... Irritou-lhe, a princípio, o hábito que tinham de se fazerem 'molemente carregar numa espécie de cama feita de tecido de algodão, suspensa, de ambos os lados, por um grande bastão que 2 negros levam ou sobre a cabeça ou sobre os ombros'" (Idem, p. 56-57).
"O 'rol das imperfeições', no entanto, ainda não estaria completo. Uma grave lacuna haveria aí se não acrescentássemos ao menos mais item: o ciúme desmedido. (...) Ciúme que, segundo os mesmos visitantes, não raro ocasionava crimes de sangue". Criou-se uma imagem da mulher brasileira difundida pelo capitão James Cook, famoso por suas três viagens de circunavegação: 'creio que todos estarão de acordo que as mulheres das colônias espanholas e portuguesas da América meridional concedem seus favores mais facilmente do que aquelas de países civilizados' (Idem, pp. 61-62).
"La Barbinais, quatro décadas mais tarde...: 'os religiosos e os padres seculares, além de ignorantes ao extremo, mantêm relações públicas com as mulheres, a ponto de muitos serem conhecidos não pelos seus sobrenomes, mas pelos de suas senhoras. Impudicos, quando escutam os pecados de uma mulher no confessionário, parecem antes incentivar a sua conduta do que inspirar nela sentimentos de contrição e piedade. Durante a noite, andam pelas ruas travestidos alguns de mulher, outros de escravos, armados de punhal ou de armas ainda mais perigosas. Mesmo os conventos, casas supostamente consagradas a Deus, servem de abrigo para mulheres públicas'" (Idem, pp. 63-64).
E assim, com a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, no começo do século XIX, fugindo de Napoleão Bonaparte, começaram a falar da vida aristocrática brasileira, com a fundação de uma oligarquia preconceituosa e dona de uma elite à brasileira: com e sem escravos, com e sem mulheres subalternas, filhos subjugados, empregados imprensados em favor do amor à obediência. E falam de arte e até de arte moderna (cópia da cópia) que somente serve para incentivar a disputa paulistas x cariocas com os olhares estatelados de mineiros, gaúchos e toda a burocracia ubuesca.
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Foi somente no final do século XIX que chegaram xs anarquistas para pavor da burguesia e mais tarde ser o alvo de dizimação também por marxistas stalinistas nos dois séculos seguintes.
R A D. A. R
Bridgespan
Bill & Melinda Gates Foundation.
Fundação Vale
Fundação Tide Setubal
Instituto Sopo Hunger – Sodexo
Fundação CASA-SP
Censo de população de rua, 2020.
Defasagem em capital humano, os nem-nem .
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"Viena se alinha". Museu de Viena, MUSA.
Projeto Cidade Integrada do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br
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