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observatório ecopolíticaano V, n. 108, abril de 2022.
china, rússia, áfrica: monitoramentos, controles de internet e conexão militar.
Em uma pesquisa realizada entre 2009 e 2010, Misha Glenny declarava: "O monumental potencial de computação da China permanece largamente inexplorado no momento, todavia já é visto na maioria dos setores relacionados com segurança computacional nas áreas civil e militar, como na ordem global, perdendo apenas para os Estados Unidos. À medida que a China começar a realizar o seu potencial, a natureza da internet mudará".
Pouco mais de uma década após essa constatação, a China começa a realizar o seu potencial...
os protocolos...
O funcionamento da internet ocorre por meio de protocolos. Esse sistema conhecido como IP (Internet Protocol) torna possível o tráfego de dados, com a localização e identificação de computadores.
Encontra-se, atualmente, em funcionamento parcial o IPv4, sistema que enfrenta problemas de esgotamento de endereços. Caso se esgote a capacidade de armazenar os endereços, a comunicação ficará comprometida. Portanto, a atual "corrida" é dirigida para se atualizar o IPv4. Sua nova versão é o IPv6 que está sendo implementado em todas as redes de conexão.
Enquanto em boa parte do planeta trata-se somente de uma substituição, a China lançou o projeto CNGI (do inglês, China Next Generation Internet) que pretende fazer uma rápida substituição dos protocolos e ir além. O anúncio deste projeto ocorreu em 2008, durante os Jogos Olímpicos de Verão em Beijing.
O intuito dessa atualização é o de possibilitar um maior número de endereços para a computação em nuvem, bem como para o 5G — cuja tecnologia também é chinesa e a principal montadora das antenas desse sinal é a Huawei, multinacional com sede em Shenzhen — e para aparelhos relacionados com a Internet das Coisas (IoT). O IPv6 possibilita à China operacionalizar uma série de acessos que permitirão tais conexões funcionarem.
A partir das pesquisas com a aplicabilidade do IPv6, entretanto, a China já diagnosticou que esse modelo de conexão está obsoleto. Em breve também entrará em colapso, pois as pessoas mantêm cada vez mais conexões com seus mais variados objetos smarts.
O CNGI está ligado à construção de backbones para proporcionar um novo protocolo. Os backbones são redes de transporte de dados, ou seja, esquema de ligações que derivam de um centro que irradia para várias extremidades. O tamanho dessa rede pode ser imenso, por exemplo, saindo da Ásia para alcançar a América do Sul.
Assim, enquanto o planeta celebra o IPv6 como a possibilidade de permanecer conectado, o PCC (Partido Comunista Chinês) pretende dar o seu mais novo grande salto adiante com a construção da internet de próxima geração.
Este investimento intensificou-se após os vazamentos providenciados pelo ex-soldado Edward Snowden que divulgou documentos de como a NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) possui um programa de monitoramento planetário. Vale recordar ainda que, após os vazamentos, Snowden fugiu da China e, atualmente, está na Rússia. De acordo com rumores do The Wall Street Journal, na China ele tomou parte no desenvolvimento do Grande Cannon, um aperfeiçoamento do Grande Firewall chinês que consegue retirar algo do ar em questão de segundos a partir de solicitação realizada pelo Kuomintang.
A discussão planetária subsequente aos vazamentos de Snowden, escancararam o funcionamento da internet e seu inerente monitoramento que muitos se negam a assumir. Mais tarde, para além dos vazamentos de dados, os escândalos do Cambridge Analytica com o Facebook, e a manipulação de dados pela Rússia nas eleições de 2016 nos EUA, alertaram a China sobre a necessidade de investir em sua própria estrutura.
Desta maneira, o potencial democrático da internet, defendido por muitos entusiastas, não está dissociado desse monitoramento e processamento de dados concebido desde os laboratórios da NSA, quando a rede passou a ser construída.
Para muitos, é fundamental ter uma nova internet. Por conta disso, desde os vazamentos de Snowden aos nossos dias, vemos aparecer modelos de legislações para a proteção/tratamento de dados de usuários, como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil.
Agora qualquer usuário pode consentir com os cookies de um site para acessá-lo ou recusar o monitoramento parcialmente de modo que ainda tenha acesso à informação que queria.
Mais do que regulamentações, a China investe em estrutura. Enquanto boa parte do planeta discutia em como vetar com medidas legislativas, ou o que pode ou não ser manipulado pelos servidores de serviços na internet, a China começou a desenvolver o Novo IP. A proposta, já apresentada à ONU, fundamenta-se na necessidade de haver uma nova internet, posto que o atual modelo se mostrou ineficaz e está a cada dia mais obsoleto. No quesito de possibilidades, esse novo IP permitiria até mesmo que cirurgias fossem realizadas remotamente. Finalmente, chegaríamos às possibilidades de comunicação holográfica — tão sonhadas desde os filmes sci-fi da década de 1970 — e o metaverso ganharia infinitas outras possibilidades. O Novo IP chinês possibilitaria realizar atividades online ainda desconhecidas.
Para além da empolgação com essas novas possibilidades, a proposta da China está em organizar a internet do topo para a base. Isso significa que haverá um compartilhamento inerente entre os dados que são produzidos com o topo, o governo chinês, que alimentariam tecnologias de inteligência artificial, e o Big Data.
a purificação da internet
O projeto de Novo IP, por mais que possa parecer distante, já possui algumas aplicações em funcionamento. Assim, a China já está promovendo o que nomeou de purificação da internet.
O Ano Novo Lunar de 2022, que deu início ao ano de Tigre, foi o marco para a China tornar a internet no país como um ambiente online "saudável, feliz e pacífico". Por conseguinte, todas as notícias consideradas impuras devem sair do ar, junto com influencers tidos como imorais e que foram e são punidos com o banimento de suas contas.
Comportamentos considerados maus, como não pagar impostos, também são punidos com outras restrições online. Uma dessas medidas atingiu a atriz chinesa Zheng Shuang, cuja presença online foi drasticamente afetada com a remoção de seus sites e vídeos, após se ter constatado o seu não pagamento de impostos.
Recentemente, até mesmo um artigo escrito pelo ex-primeiro-ministro Wen Jiabao em homenagem à morte de sua mãe foi parcialmente barrado pelo firewall chinês. Apesar do ex-primeiro-ministro ser da alta cúpula do PCC, seu artigo trazia recordações da atuação de sua mãe na segunda Guerra Sino-Japonesa e na Revolução Cultural. A memória política apresentada no artigo foi entendida como potencialmente perigosa ao PCC e os compartilhamentos foram barrados, redimensionando este escrito para circulação restrita. Segundo o governo, foi uma medida para evitar comentários que pudessem distorcer a atuação do partido e sua importância para o país.
No Weibo, o Twitter chinês, os links que remetiam ao artigo levavam a páginas inexistentes, e os usuários só poderiam ver um grande 404 em suas telas. Mais do que barrar postagens e comentários ofensivos ao PCC, a China estuda o efeito de uma publicação e o que ela pode provocar de respostas negativas.
De acordo com relatório produzido pela Freedom House, que avalia os acessos à internet e a liberdade de tráfego de dados, o governo chinês mantém o controle sobre os gateways da China para se conectar à internet planetária. É assim que o PCC consegue cortar solicitações de informações transfronteiriças para restringir a conectividade ou o acesso a conteúdo hospedado em servidores fora do país.
O grande marco de demonstração da capacidade do governo chinês em vetar a conexão foi em 2009, quando provocou um blecaute de 10 meses em Xinjiang, onde moram cerca de 22 milhões de pessoas. Na ocasião, em Ürümqi, capital da província, conta-se que entre mil e 3 mil uigures rebelaram-se contra o governo central e o tratamento que recebem. Tudo começou no sul do país, com uma briga dias antes, na qual dois uigures foram mortos em uma disputa trabalhista. Não há muitas informações do que teria ocasionado tal conflito. Entretanto, a rebelião em Xinjiang deixou quase duas centenas de mortos, além de mais de mil feridos pelas forças de segurança do Estado?
A China não voltou mais a suspender a conexão de uma província como nessa ocasião. Entretanto, realiza blecautes esporádicos, pretendendo atingir pessoas específicas. Um exemplo ocorreu em 2020 quando a polícia da província de Yunnan cortou a internet e os serviços móveis da família do ativista Wang Zang, impedindo-os de se manifestar contra a detenção de Wang.
Esses blecautes, sejam de regiões ou dirigidos para atingir um grupo de pessoas, são realizados em nome da segurança nacional do Estado chinês.
Com o Novo IP medidas similares poderão ser ainda mais rápidas e efetivas. Ao mesmo tempo em que, com o artifício do Big Data, será possível ao governo chinês controlar até mesmo desejos dos usuários da internet.
O Novo IP já possui apoio de governos como Arábia Saudita, Irã e Rússia.
um lembrete
Vale lembrar que o Irã é tido como o primeiro país do planeta a ter sido alvo de um ataque hacker por uma arma cibernética.
No ano de 2007, George W. Bush declarou que daria fim ao programa nuclear no Irã, entretanto, um ataque como o realizado no Iraque tornou-se inviável por falta de aprovação popular. A solução veio dos laboratórios da NSA em parceria com o exército de Israel, e o desenvolvimento de um malware instalado na Usina Nuclear de Natanz, lançado no final do mandato de Bush, em 2009. O sistema da usina funcionava de maneira offline e não poderia ser atacado pela internet. Todavia, foi hackeado por meio de uma maleta, similar a que um funcionário de escritório utiliza, colocada há cerca de 10 quilômetros de distância da usina que conseguiu invadir os computadores centrais e copiou os dados alterando-os em momentos específicos para que nada fosse percebido pelos técnicos e engenheiros de plantão. Os códigos para alterar os computadores da usina eram copiados de um computador e passado para outro e depois retornavam para a central modificados.
O malware, posteriormente nomeado de Stuxnet, tinha como objetivo danificar o funcionamento da usina e travar a sua produção nuclear, atingindo diretamente as centrífugas sem que ninguém constatasse e muito menos desconfiasse. Por praticamente dois anos os iranianos não souberam de onde vinham os erros. Nos primeiros anos do mandato de Barack Obama, o malware foi amplamente utilizado para atacar Natanz e há suspeitas de que possa ter atingido outras usinas nucleares, como as da Índia.
Apesar das precauções, o código do Stuxnet vazou. Tornou-se possível a qualquer hacker utilizá-lo, sem a necessidade de ter uma mala como a da NSA, mas somente com a própria internet, ou até mesmo com o uso de um pen drive. Era o primeiro vírus que poderia agir diretamente sobre o offline e levar máquinas à sua própria destruição.
Tal tipo de ataque não foi visto nem mesmo quando a Rússia derrubou o sistema de Chernobyl na guerra com a Ucrânia. Os hackers russos conseguiram apenas tirar do ar o sistema operacional da usina, sem o danificar
R A D. A. R
China censors article by former premier amid tightening internet controls
Cyberspace Administration of China (CAC).
Palestra exército brasileiro sobre ciberespaço.
A arma perfeita, de John Maggio.
a parceria sino-russa
Em novembro de 2021 foi realizado o China-Russia Internet Media Forum: promoting exchanges and mutual learning, contando com duas sedes, Beijing e Moscou.
Na ocasião, comemorou-se o 20º aniversário da assinatura do Tratado China-Rússia de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável.
No Fórum, destacou-se a importância da divulgação de notícias entre os países. Assim, as informações sobre a Rússia, por exemplo, são largamente divulgadas na China para incentivar o turismo. Da mesma maneira que a Rússia tem preferência em divulgar os programas de TV e serviços streaming da China em seu território para impulsionar o consumo dessas mídias.
Os meios de comunicação de ambos os países na internet se propuseram a aprofundar o multilateralismo, com o combate a informações falsas, "salvaguarda" da equidade e da "justiça no ciberespaço e contribuição para os laços amigáveis" entre eles.
Nos dois territórios, onde a comunicação online é realizada por meio de uma série de edições, a mídia local e oficial permanece como a maior fonte de informações e de notícias do restante do planeta. Assim, uma mídia online serve como uma ponte para os dois países, compartilhando uma variedade de informações em tempo hábil, como alegou o Fan Jianping, presidente da China Radio International, acrescentando que as mídias da China e da Rússia poderiam mergulhar ainda mais fundo em certos tópicos para despertar o interesse público.
Mas, não se trata somente da troca de entretenimento e de propagandas. A parceria da China com a Rússia também envolve a troca de tecnologias de processamento das informações e dos dados.
RuNet
Na década de 1990, a Rússia já repensava a internet e sua relação com o usuário. O país reconheceu que a internet merecia a máxima atenção de uma de suas instituições mais tradicionais e sanguinárias: a polícia secreta FSB (Федера́льная слу́жба безопа́сности Росси́йской Федера́ции ou Serviço Federal de Segurança da Federação Russa), sucessora da KGB (Комите́т Госуда́рственной Безопа́сности ou Comitê de Segurança do Estado).
Antes da virada do milênio, a Rússia já conseguia monitorar cada pacote de dados que entrava, saía e percorria o país. Esse sistema para monitoramento ficou conhecido como Система оперативно-разыскных мероприятий, Sistema para Atividades Operativas de Investigação (Система оперативно-разыскных мероприятий, SORM). Atualmente ele possui três versões.
Na primeira versão, tratava-se de um hardware que era exigido pelo próprio governo para ser instalado. Por meio dele, monitorava-se chamadas telefônicas e tráfegos de e-mails.
A versão 2, agia diretamente nos provedores de serviços de internet, fazendo com que a FSB monitorasse todas as compras com cartões de crédito, mensagens trocadas por e-mail e o acesso a sites.
Em agosto de 2014, o uso do SORM-2 foi estendido ao monitoramento de redes sociais, chats e fóruns, exigindo que seus operadores instalassem sondas SORM em suas redes. Portanto, a Rússia consegue agir diretamente nos fornecedores de serviços e todos os dados por eles operados para fazer os monitoramentos. Atualmente, o SORM está em sua terceira versão... e já consegue monitorar as conexões sejam IPv4 ou IPv6.
Aliados aos programas de monitoramentos existentes desde os primórdios da World Wide Web (WWW), a parceria com a China trouxe atualizações para a Rússia.
Os protótipos da China para desenvolver uma outra internet não estão somente restritos ao país. Com as trocas entre os países, a Rússia está pronta para se desconectar da internet planetária. Ou seja, trata-se de um funcionamento da internet que ocorrerá somente na Rússia. Desde 2019, legalmente, a Rússia desenvolve um projeto para ter uma internet exclusiva. Essa internet possui uma infraestrutura e de modo semelhante aos equipamentos e que eram instalados em servidores e de empresas de telefone, há um equipamento nessa estrutura para direcionar todo o tráfego na internet para os servidores internos. Ou seja, é quase impossível escapar.
RuNet está há tanto tempo em desenvolvimento no país que se encontra como referência nos dicionários locais. Vulgarmente, a RuNet é conhecida por seus conteúdos online que estão disponíveis para usuários russos sem conhecimentos de línguas estrangeiras. A rede também serve para a hospedar lojas online do país. Além disso, nela também é possível acessar as versões paralelas de aplicativos famosos no ocidente, como Twitter, Facebook, Amazon e Instagram.
Ainda em fevereiro de 2021, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev declarou que a Rússia já pode se desconectar da internet mundial e ter uma internet local. Essa é a chamada RuNet, uma internet russa que funciona como uma intranet, largamente em funcionamento em qualquer empresa (privada ou estatal). A grande questão da Rússia é que ela conseguiu fazer essa intranet funcionar independente da internet e com qualidade de velocidade similares: uma intranet russa veloz, com apps funcionais e pronta para atender à necessidade dos usuários.
... e a África?
Os mais recentes parceiros da China são Estados africanos. Além dos investimentos em infraestrutura nestes países, a China também investiu na internet. A Administração do Ciberespaço da China (CAC) lançou a iniciativa sobre a construção conjunta China-África de uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço.
Em 24 de agosto de 2021, realizou-se virtualmente o Fórum de Cooperação e Desenvolvimento da Internet China-África com o tema "Prosseguindo o Desenvolvimento e a Segurança Comuns, Construindo Conjuntamente uma Comunidade com um Futuro Compartilhado no Ciberespaço". O Fórum foi organizado pela Administração do Ciberespaço da China (CAC) e contou com a presença de representantes de 14 países africanos e da Comissão da União Africana.
Os preceitos dessa conferência encontram-se com os da segunda Conferência Mundial da Internet em 2015, quando o presidente chinês Xi Jinping apresentou quatro princípios e uma proposta de cinco pontos sobre desenvolvimento global e governança da Internet. Resumidamente, ele defendeu a manutenção da paz e a segurança no ciberespaço e o respeito à soberania no ciberespaço com a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado neste meio, oferecendo a sabedoria e a abordagem da China para o desenvolvimento global e a governança da Internet.
Sobre o preceito de compartilhar informações em nome da segurança e do desenvolvimento, o documento final destacou alguns objetivos a serem seguidos. Entre eles estão:
1. Melhorar o acesso à internet e promover a conectividade (com redes backbones e cabos submarinos intercontinentais).
2. Construção da infraestrutura – desenvolvimento de 5G, IoT internet industrial.
3. Reforçar a capacidade de serviço público viabilizada pelas TIC: com o compartilhamento de informações e experiências para o uso de tecnologia digitais para responder às emergências como pandemias e desastres naturais. Auxílio aos países na construção de cidades inteligentes.
4. Integração de tecnologias digitais com desenvolvimento industrial para transformação e modernização econômica.
5. Fortalecimento da confiança mútua estratégica no ciberespaço, com a proteção contra a corrida armamentista no ciberespaço, bem como as tentativas de politizar questões técnicas, para criar um ambiente pacífico para o desenvolvimento.
6. Intensificação da proteção da infraestrutura de informação crítica. Com o combate a roubos de dados de empresas.
7. Melhorar a gestão da segurança dos dados e a proteção das informações pessoais.
8. Intensificar a cooperação internacional no combate aos crimes cibernéticos e ao ciberterrorismo.
9. Dar plena execução ao papel de canal principal da ONU na governança global no ciberespaço.
10. Melhorar o sistema de governança internacional compartilhado e governado por todos, com a criação de mais plataformas para China-África de cooperação digital.
11. Participar em pé de igualdade no gerenciamento de recursos de infraestrutura da Internet.
12. Promover a capacitação em governança do ciberespaço, entre a China e os países africanos para estabelecer plataformas de intercâmbio multicanal, aprofundando o intercâmbio de talentos e a cooperação no campo da inovação digital que promovam diálogos e intercâmbios entre think tanks para ajudar os países africanos a melhorar sua capacidade de participação na governança do ciberespaço.
13. Compartilhar os benefícios do comércio eletrônico.
14. Trazer mais oportunidades para as MPMEs (micro, pequenas e médias empresas) na economia digital.
15. Reforçar o apoio e a assistência aos grupos vulneráveis e não deixar ninguém para trás. Compartilhar as experiências de combate à pobreza direcionada pela Internet para promover a cooperação China-África em sua redução. Mais produtos e serviços adequados para idosos, pessoas com deficiência, mulheres e crianças para desenvolverem suas habilidades digitais.
16. Implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
a internet é militar
A internet foi concebida dentro dos laboratórios da NSA com o objetivo de ser um meio de comunicação que pudesse continuar a existir mesmo diante de um ataque nuclear em território estadunidense.
Por muitos anos, ela parecia ser um ambiente livre, como declararam muitos hackers e onde informações provenientes de praticamente qualquer lugar do planeta poderiam ser trocadas. Por muito tempo, sua raiz militar parece ter sido esquecida e muitos ainda se assustam com a capacidade de monitoramento das informações.
Entretanto, forças armadas já compreendem a internet como campo de batalha. O exército brasileiro declara: "A doutrina do exército brasileiro considera que o ambiente operacional de condições circunstanciais que afetam o espaço onde atuam as forças militares e que interferem na forma como são empregadas, sendo caracterizado pelas dimensões física, humana e informacional". Sendo que "A dimensão informacional abrange os sistemas utilizados para obter, produzir e atuar sobre a informação".
Tal conceito segue as forças militares estadunidenses cuja doutrina "considera que a guerra é travada atualmente em cinco domínios: terra, ar, mar, espaço e ciberespaço". Mesmo conceito corroborado pela OTAN e seus outros países-membros.
A internet não se tornou militar ou foi apropriada para um uso militar a partir de pesquisas russas e chinesas. Ela é um espaço em que são travados conflitos pela soberania de controle e monitoramento de dados de cada um. Qualquer outra proposta, é só reforma para atualizar o seu funcionamento de sempre.
a comunicação não é livre
Enquanto isso, no chamado Ocidente, a rede social Twitter foi vendida para o trilionário Elon Musk. Em nome da liberdade de expressão e da democracia, Musk declarou que essa compra pretende deixar a "comunicação livre" na rede social. Assim que o acordo de venda foi anunciado, as ações da empresa tiveram a alta valorização esperada. Possivelmente, o aumento no valor das ações se deu pelo número de contas novas cadastradas após o anúncio do acordo. Em muitos países, como no Brasil, aumentaram as contas de usuários fascistas que estão de prontidão para postarem seus tweets e retweets.
Entretanto, ao proclamar uma comunicação livre (como se houvesse transferência de dados na internet que não fosse controlada e monitorada), Musk terá de lidar com as recentes leis para o monitoramento e o controle das redes sociais. A Lei de Serviços Digitais da União Europeia exige que o Twitter e similares façam mais para eliminar o abuso e a desinformação. Em outros países, como o Vietnã, as empresas de mídia social enfrentam riscos legais quando um usuário publica algo que o governo entenda como ofensivo. Porém, até mesmo tais leis podem tornar-se um grande investimento para Musk, que ao esbravejar contra elas faz seus negócios crescerem.
Musk, um entusiasta da chamada revolução do Vale do Silício e de toda tecnologia dali derivada, é mais um liberal que conseguiu tornar o espaço sideral mais acessível para os bilionários; investe em IA e, agora, detém uma das maiores redes sociais do planeta.
Relacionar-se com os guardiões da informação, sejam eles governos ou usuários dispostos a clicar nos botões de denúncia, é somente uma questão de cálculo. E deixar todos falarem em nome da democracia, até o fascista, é uma questão de mercado e de política.
O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br
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