observatório ecopolítica
ano III, n. 49-50, abril/maio de 2019.
conhecendo o inimigo:
a institucionalização da direita no planeta.
No início de abril foi realizado em Turku, na Finlândia, o Awakening II (Despertar II), um encontro anual internacional de grupos de extrema-direita. O objetivo da reunião foi estreitar as alianças entre os grupos de diferentes países – notadamente os localizados no hemisfério norte do planeta – e propagar uma alegada “normalização” do nacionalismo para “se afastar da imagem de neonazis com um taco de beisebol”.
Sob a temática “é assim que venceremos”, palestraram alguns nomes influentes da atual extrema-direita: os estadunidenses Jared Taylor, fundador da revista supremacista branca American Renaissance, e o professor de psicologia evolucionista da Universidade da Califórnia, Kevin MacDonald; o escritor e editor austríaco Martin Lichtmesz; o feroês organizador em Estocolmo do Scandza Forum, Frodi Midjord; a finlandesa Jasmina Ollikainen e a ucraniana Olena Semenyaka.
Jasmina Ollikainen, uma jovem de 23 anos, é estudante de História na Universidade de Helsinki e membro ativa do Helsinki Academic Perusuomalaiset (HAPSU), uma organização de estudantes de direita, fundada em 2009 com o objetivo de formar uma nova elite intelectual comprometida com o “futuro do povo finlandês”. Olena Semenyaka é pós-graduada e pesquisou o legado da “Revolução Conservadora” alemã, misturando as obras de autores nazistas e fascistas como Ernst Jünger, Julius Evola e Oswald Mosley, às de Heidegger e Nietzsche. Ela foi fundadora do Clube Nacionalista Ucraniano e integra o movimento Azov desde seu início, ao lado do seu criador, Andriy Biletsky; atualmente, é a Secretária Internacional e porta-voz do partido ucraniano Corpo Nacional (Національний корпус).
Alt-right, neo-reacionários, red pillers, identitários, dark enlightenment, nacionalistas brancos, neonazistas, ultranacionalistas, neofascistas, etnonacionalistas, muitos são os termos utilizados para identificar a extrema-direita hoje e, apesar da defendida união e dos princípios comuns, há entre eles algumas nuances.
Em uníssono, opõem-se ao “multiculturalismo”, ao “globalismo” e à miscigenação por acreditarem ser uma ameaça demográfica à raça branca e à sua civilização ocidental. São defensores de seu povo, o povo branco, e de sua suposta superioridade étnica e cultural, que deve ser conservada em sua pureza. Defendem aplicar toda violência aos antifascistas, seu alvo inquestionável. No entanto, há diferenças quanto ao método pelo qual “salvarão” o futuro de seus respectivos povos e em relação a como tratar os inimigos, afora algumas outras questões políticas.
Uma de suas formas de organização é a político partidária tradicional. O Corpo Nacional foi criado em 2016, tendo como base a Guarda Nacional Ucraniana e o Batalhão de Azov, composto por uma divisão de operações especiais da Guarda Nacional e por uma milícia civil também nomeada Azov, brutalmente violenta, e que conta com financiamento bélico de Israel. Hoje é um dos partidos de extrema-direita com maior número de afiliados, passando de 15 mil membros. Advoga a segurança nacional ucraniana e a consolidação da nação, fortalecendo a economia por meio do protecionismo e de um Estado forte, e reativando o poder nuclear nacional. Seus integrantes clamam pela ruptura imediata com a Rússia e não querem se inserir na União Europeia. De acordo com Olena Semenyaka, consideram a Rússia um país multiétnico e aberto ao multiculturalismo ocidental e à imigração, cujas políticas são espelhadas nas neoliberais do Ocidente e com uma severa lei antiextremismo que prejudica a organização dos ultranacionalistas locais. Putin é visto como mais um chefe de Estado corrupto, movido por seus interesses particulares e não pelos do povo russo.
O nacional socialista Nordic Resistance Movement também é um partido político registrado, atuante na Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia. Diferente do Corpo Nacional ucraniano, não intenta construir uma nação, mas recuperar a tradição nórdica, supostamente colocada em risco devido à “invasão” de estrangeiros de outras raças, vindos do “Terceiro Mundo e que trazem consigo a criminalidade”. Postula que os estrangeiros acabaram com o welfare state e que o povo aceita essa situação, pois está cego por “doutrinas falsas (...), marxismo cultural, feminismo e liberalismo.” A retomada dos valores antigos, do “espírito nórdico”, remete ao que definem como “movimento identitário”. De acordo com o site oficial do partido, trata-se de “[um] povo disciplinado e orgulhoso de suas origens e de sua identidade racial e cultural. Hoje, o povo está totalmente engolido pelo egoísmo e pelo materialismo. Uma mórbida ânsia por dinheiro, drogas e prazeres básicos flagela as mentes de nossos adormecidos compatriotas.”
Esta doutrina alega se opor ao neoliberalismo e ao capitalismo e baseia na crítica ao consumismo e na busca por atrair pessoas deprimidas e estressadas pela sociedade moderna. A visão apocalíptica do futuro, que não se restringe à extinção do povo nórdico, está atrelada à destruição ambiental; o que se aproxima do que definem como “eco-fascismo”.
Pelo planeta, registram-se muitos partidos políticos declaradamente de extrema-direita, alguns deles inclusive deixam escapar seu posicionamento fascista ou neonazista. No entanto, o Corpo Nacional e o Movimento de Resistência Nórdico estão diretamente ligados às tentativas de uma unificação internacional da direita. Além deles, destacam-se o partido grego Aurora Dourada (Chryssí Avguê) e o italiano Casa Pound, uma vez que suas relações com gangues e milícias neonazistas e fascistas são explícitas. O que não significa que os demais partidos de extrema-direita não tenham relações com grupos que agem com violência pelas ruas.
A milícia paramilitar do Corpo Nacional, a Azov, mantém conexões com a gangue neonazista estadunidense Rise Above Movement (RAM). Além das trocas cibernéticas, membros destes grupos costumam se encontrar em eventos internacionais de MMA (mixed martial arts). A prática do MMA é apreciada por estes grupos que organizam torneios e mantém seus próprios espaços de treinamento como o Reconquista Club, em Kiev, na Ucrânia, e o La Phalange, pertencente à organização Atalante, em Quebec, no Canadá. O RAM atua como gangue de estimação do American Identity Movement.
Antigo Identity Evrope, o grupo fundado em 2016 por Nathan Damigo, um ex-oficial da Marinha, era definido como um “movimento identitário”. A organização foi renomeada em março deste ano como American Identity Movement, após o vazamento de milhares de mensagens “extremistas” trocadas por seus membros no fórum Discord. Atualmente, o American Identity Movement é liderado por Patrick Casey, um nome de destaque entre a extrema-direita, especialmente na América do Norte. Definem seus princípios como: “nacionalismo, identitarismo, protecionismo, não-intervencionismo e populismo. Os esforços do AIM são duplos: ativismo e fraternidade. (...) O American Identity Movement acredita na efetivação da mudança por meios legais e pacíficos, rejeita a violência política, o extremismo e o supremacismo em todas as suas formas”. Desde as marchas “vidas brancas importam”, em 2017, em Charlottesville, quando um supremacista atropelou uma jovem manifestante antirracista, muitas organizações de extrema-direita tentaram refazer a maquiagem de pacifistas.
Como estratégia para sua propagação e a conquista de mais adeptos, a extrema-direita lança mão de organizações cujo discurso se mostra como mais moderado. No entanto, estas não estão apartadas das organizações menores, que agem de forma violenta e são abertamente racistas e preconceituosas, cujos membros continuam a ser homens brancos, carecas, fortes e armados com tacos de beisebol e não escondem serem fascistas ou neonazistas.
A partir dos mapeamentos feitos por antifascistas e anarquistas que vivem nos Estados Unidos e no Canadá é possível analisar o modo como estas organizações funcionam e se relacionam. Por exemplo, em Quebec, há alguns grupos atuantes como o Atalante, que se define como ultranacionalista neonazista; a Fédération des Québécois de souche, que se propõe a unificar todas as tendências da direita de Quebec; o Horizon Québec Actuel, que evita se envolver na realização de manifestações no intuito de não ser considerado extremista, atuando majoritariamente por meio do Facebook e de canais no YouTube, e o Mouvement Républicain du Québec, reprodutor da política estadunidense com slogans como “Make Canadá great again”. Com exceção da Federação, todos os demais foram fundados nos anos de 2016 e 2017. O Soldiers of Odin, formado em 2015 na Finlândia, possui seu braço canadense desde 2016: é uma organização anti-imigração e anti-islâmica.
Nos Estados Unidos, entre as organizações mais notáveis está o Proud Boys, conhecido pelas ações violentas em ataques a antifascistas e manifestações. O grupo reivindica como princípios: “Estado mínimo; máxima liberdade; o antipoliticamente correto; antiguerra às drogas; fronteiras fechadas; anticulpa racial; antirracismo; pró-liberdade de expressão; pró-direito ao armamento; glorificação do empreendedor; veneração da dona de casa; reintegração do espírito chauvinista ocidental”. Junto ao Patriot Prayer, não se dizem supremacistas e aproximam-se de demandas liberais, sendo chamados midiaticamente de “alt-right”, mas possuem membros e mantém alianças diretas com grupos que acossam violentamente imigrantes, muçulmanos e lgbts – preferencialmente, trans e travestis. O Proud Boys tem sua linha feminina, a Proud Girls, composta por suas esposas e noivas. Outra organização muito conhecida é a Atomwaffen Division (Divisão das Armas Nucleares). Declaradamente neonazista, foi fundada nos EUA em 2013 e tem filiais no Canadá, no Reino Unido e na Alemanha. Eles pregam que “o fascismo é a solução para os problemas que o liberalismo cria”. A divisão estadunidense está pouco ativa após seis processos criminais instaurados contra membros da Atomwaffen, de 2017 até o início deste ano. Dentre eles, há referências a cinco homicídios.
Há também milícias armadas que atuam na patrulha das fronteiras, como o Three Percenters, presente nas fronteiras dos EUA e também do Canadá. Apesar de ser mais recente no Canadá, existe nos EUA como reação ao movimento negro, fazendo patrulha na fronteira com o México e atacando manifestações, como ocorreu em 2015, quando atiraram contra cinco manifestantes em um ato Black Lives Matter, em Minneapolis. A fronteira com o México também é patrulhada pelas milícias Oath Keepers, United Constitutional Patriots e AZ Patriots (fundada por uma mulher, Jennifer Harrison). As milícias de vigilância e patrulha das fronteiras não são exclusividades estadunidenses, há outros exemplos, como a União dos Militares Veteranos da Bulgária; na Eslovênia, a Stajerska Guard; na Grécia, o Aurora Dourada; na Rússia e na Eslováquia, os Lobos da Noite.
Direita alternativa e a grande substituição
Alt-right foi um termo cunhado por Richard Spencer, liderança do National Policy Institute (NPI).
Os anarquistas do site It’s Going Down mostraram, em um artigo após a eleição de Donald Trump, como esta figura, naquele momento, respondeu ao anseio de grande parte da população medíocre estadunidense em relação a alguns acontecimentos como a insurreição negra em Ferguson, em 2014, as manifestações Black Lives Matter, que são realizadas desde 2013, e a amplitude dos movimentos feministas e lgbt.
Até então, o alt-right era somente uma expressão cibernética disseminada em fóruns, sites, youtubers, redes sociais, memes e que ganhava atenção midiática junto ao novo presidente. Atenção angariada, em grande parte, pelo fato dessa “direita alternativa” não se parecer com os supremacistas brancos, conhecidos pelos estadunidenses por outra estética e por serem assassinos em massa e muito violentos. A alt-right mostrava uma nova maneira de ser de extrema-direita, que não estava atrelada a ser um branco musculoso, tatuado e careca que sai para caçar pelas ruas e espancar até a morte seus inimigos. Como anunciaram os anarquistas, a alt-right saiu detrás das telas e começou a ganhar as ruas, com presumida violência.
Até então, a direita estadunidense estava reunida em torno de organizações antigas como o American Nazi Party e a KuKluxKlan. No contexto pré-eleitoral, ocorreu uma grande aliança, sob o nome de Nationalist Alliance, iniciada com a fusão de gangues skinhead e da KKK e que incentivava a restrição ao uso público da suástica. Em geral, a atuação destas gangues neonazistas ocorria no interior do país, em áreas rurais do sul. Foi através da chamada alt-right e de sua ampla atuação na internet que este pensamento foi se espalhando e ganhando novos contornos.
Com Think Tanks, conferências e textos pseudo-acadêmicos, vídeos no YouTube, post’s no Twitter, grupos no Facebook, fóruns no 4 e no 8chan e nos explicitamente nazistas Fascist Forge e Storm Front, podcasts e sites de mídias fascistas como o Daily Storm e a Red Ice, aos poucos a alt-right atingiu diversos domínios online, com suas mídias e plataformas próprias e nas redes sociais comuns, propagando um discurso voltado ao homem branco, proprietário, convocando-o a retomar seu lugar como raça e gênero dominante. Ainda que existam mulheres adeptas ou defensoras da alt-right, elas são consideradas menos importantes para o movimento, que mantém relações íntimas com os chamados Men’s Rights Activists.
A extrema-direita se articula no fundo e na superfície da internet, por meio de suas mídias e de seus fóruns próprios. Até 2017, havia o fórum Iron March, criado em 2008 como uma plataforma abertamente nazista e que, pouco antes de ser banido, congregava grupos “na luta fascista global”. Ali se formaram e se articularam a britânica National Action, organização neonazista fundada em 2013 e banida como “terrorista” em 2016, atualmente agindo na ilegalidade; a lituana Skidas; a australiana Antipodean Resistance, fundada em 2016, cujos membros se mantém anônimos e praticam violência contra judeus, lgbts, negros, feministas, drogados, antifascistas, anarquistas e comunistas (em 2018 foi criada a célula feminina, Antipodean Resistance Women's Alliance); a estadunidense Atomwaffen Divison; o Nordic Resistance Movement; a milícia ucraniana Azov; a Serbian Action, movimento nacionalista e cristão ortodoxo, em defesa do povo sérvio e da restauração da fé ortodoxa. Desde 2018, o Ironmach foi substituído pelo Fascistforge.
Se o que levou à reação da direita nos EUA foram, especialmente, as manifestações negras, na Europa, a reação veio contra a nova onda de imigrações. Em 2014, Lutz Bachmann fundou o Pegida. O contexto para sua criação foi uma manifestação em apoio aos curdos em Dresden. A iniciativa para a formação do Pegida partiu de um grupo de Facebook, criado no dia seguinte à manifestação, intitulado Patriotische Europäer Gegen die Islamisierung des Abendlandes (Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente) e que culminou em uma parada organizada pelos Hooligans Against Salafists, com a adesão de cerca de cinco mil indivíduos. O Pegida considera o islamismo uma “ideologia violenta e misógina” e busca soluções institucionais para tratar o islamismo e a imigração. Alegam ser contrários ao uso de violência e métodos “extremistas”. Hoje, há “pegidas” na Noruega, na Dinamarca, na Bélgica, na Suíça, na Suécia, no Reino Unido, na Áustria, no Canadá, na Bulgária, nos Países Baixos e na Irlanda.
Semelhante ao Pegida, a Generation Identity busca promover, pacificamente, a preservação da identidade etnocultural; a reimigração (necessidade do retorno dos imigrantes ilegais, conduzido de “forma humana”); a defesa “do que é nosso”; a segurança e a soberania das fronteiras nacionais; e a ajuda aos locais de onde saem os imigrantes, o que seria uma espécie de nova colonização. Nas palavras deles: “A imigração em massa destrói a Europa e emigração destrói a África. Deixem-nos, portanto, ajudar no desenvolvimento regional daqueles países que são caracterizados pela guerra e pela pobreza, assim, criando opções para as pessoas permanecerem em suas próprias terras natais e encontrarem oportunidades”.
O movimento se define como hipernacionalista e identitário, proeminentemente europeu, mas como alternativa transnacional para países de maioria branca. Sua convocatória mescla o discurso da extrema-direita supremacista branca ao discurso ordinário da direita planetária. “Somos um movimento jovem e a resposta para a irresponsabilidade política. Você está farto de tolerar a covardia da ‘geração Merkel’? Você está cansado de ver nosso povo se render insanidade dos ideólogos esquerdistas? Você quer ver sua família e seu país florescerem novamente? Então, venha para o caminho da Identitarian – declare guerra à Grande Substituição e à catástrofe demográfica”.
The Great Replacement é o título de um livro publicado em 2012 pelo francês Renaud Camus. Foi ele o primeiro a escrever sobre a “teoria” de que o povo europeu, branco, está sendo substituído por imigrantes norte-africanos e subsaarianos, em sua maioria, muçulmanos. A “teoria” tornou-se recorrente na Europa, desde o agravamento da “crise” imigratória em 2015, sendo citada por lideranças políticas como Jean-Marie Le Pen e partilhada por todos os grupos aqui citados, sejam eles mais moderados ou abertamente neonazistas.
A teoria da Grande Substituição considera as baixas taxas de natalidade entre os europeus, notadamente entre casais “puros”, em relação às elevadas taxas de natalidade na África e no Oriente Médio, e atrelada à imigração massiva de povos provenientes dessas regiões para a Europa. A teoria apocalíptica profetiza que os imigrantes muçulmanos, em poucas décadas, tornarão os europeus minoria dentro de seus próprios países. Para eles, a Grande Substituição já está em curso. Atestam que hoje, 50% das crianças nascidas na Alemanha tem alguma herança estrangeira. A batalha, além de ser travada contra as outras etnias, ocorre entre os jovens, divididos entre os que acreditam nessa teoria e os demais, majoritariamente classificados como esquerdistas alienados pelo “marxismo cultural” ou antifascistas de “extrema-esquerda”.
Estados, mídias e opinião pública consideram que dentre os “extremistas” de esquerda e de direita, os primeiros são os mais perigosos. A repressão e o alarde em torno deles são muito maiores, ainda que os assassinatos, inclusive de policiais, sejam mais frequentes por parte da extrema-direita. De acordo com a Anti-Defamation League, de 1990 até 2017, foi a extrema-direita quem mais matou oficiais, somando 51 mortes contra 11. Nos EUA, a maioria das ocorrências classificadas como terroristas e praticadas por meio de assassinatos em massa são cometidas por homens brancos e de extrema-direita.
Perdedores radicais à direita
2011 – Anders Breivik, 32 anos, vestindo um uniforme policial, ativa uma bomba de fertilizantes em frente ao escritório do primeiro-ministro norueguês, em Oslo, na Noruega. Mata 8 pessoas. Segue para a ilha de Utoya, onde ocorria um acampamento de jovens filiados ao Partido dos Trabalhadores e abre fogo. Mata 69 pessoas. 51 ficam feridas. Antes dos ataques, Breivik compartilhou através do Facebook uma compilação de textos de 1.518 páginas, intitulada “2083: A European Declaration of Independence”. É um neonazista declarado. Em seu manifesto, ele define como principais alvos o “marxismo cultural” e o islamismo. Breivik, cumprindo sua pena de 21 anos de prisão, cursou Ciência Política à distância pela Universidade de Oslo.
2015 – Dylann Roof, 21 anos, abre fogo contra Emanuel African Methodist Episcopal Church, em Charleston, EUA. Mata 9 pessoas e fere 1, todas negras. É um supremacista branco e neonazista declarado. Roof tornou-se uma referência, nos EUA e há uma gangue denominada “Bowl Patrol” (Bowl em referência ao corte de cabelo de Roof, tipo “tigelinha”). De 2017 para cá, 5 pessoas – todas jovens de vinte e poucos anos – foram presas suspeitas de planejarem ataques em nome de Roof; todos assumiram os planos.
2015 – Anton Lundin Pettersson, 21 anos, entra na Escola Kronan com uma espada, em Trollhättan, na Suécia. Esfaqueia mortalmente a professora assistente Lavin Eskandar, uma imigrante iraquiana, e o estudante somali Ahmed Hassan. Fere outras duas pessoas, uma delas vindo a falecer posteriormente. Morre no local. Deixou um bilhete com dizeres racistas e anti-islâmicos.
2017 – Alexandre Bissonnette, 27 anos, abre fogo contra mesquita no Islamic Cultural Centre of Quebec City, Quebec, Canadá. Mata 6 pessoas e fere 19.
2018 – Robert Bowers, 46 anos, abre fogo contra sinagoga Tree of Life – Or L'Simcha Congregation, em Pittsburgh, EUA. Mata 11 judeus e fere 6. Além de “serem judeus”, Bowers mencionou o trabalho com refugiados realizado pela Hebrew Immigrant Aid Society.
2018 – Luca Traini, 28 anos, atira contra seis imigrantes africanos, em Macerata, Itália. Ninguém morreu. Traini se entregou com o braço direito em riste e uma bandeira da Itália sobre os ombros. Afiliado ao partido de extrema-direita Lega Nord, classificou seu ataque como uma vingança ao assassinato da jovem Pamela Mastropietro, cujos suspeitos foram três homens nigerianos. Este caso foi utilizado também na campanha do ministro do interior e líder do partido, Matteo Salvini.
2019 – John T Earnest, 19 anos, abre fogo contra a sinagoga Chabad of Poway, em Poway, EUA. Mata 1 mulher e fere 3 pessoas. Antes de atirar, grita “os judeus estão dominando o mundo”. Declarou-se inspirado por Robert Bowers e Brentron Tarrant.
2019 – Brenton Tarrant, 28 anos, abre fogo contra muçulmanos em duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia. Mata 51 e fere 49. Tudo foi transmitido ao vivo em sua conta no Facebook. O ataque às mesquitas foi um recado para os “invasores” e uma vingança pela morte de Ebba Åkerlund, uma menina de 11 anos, e uma das cinco pessoas assassinadas por Rakhmat Akilov, supostamente um emissário do Estado Islâmico, em Estocolmo, em 2017. Antes de iniciar a matança, ele postou no Twitter e no 8chan um manifesto intitulado “The Great Replacement”.
O manifesto de “um homem branco comum, de uma família branca comum. Que decidiu dar um passo à frente para garantir o futuro do meu povo”, inicia conclamando a reprodução dos brancos e a retomada da família caucasiana e condenando a imigração como produtora de uma substituição “étnica, racial e cultural”; de um “genocídio branco”.
Ele se declara racista, “predominantemente etnonacionalista” e um fascista: “pela primeira vez, a pessoa que eles irão chamar de fascista é um fascista de verdade. (...) Em grande parte, eu concordo com a visão do senhor Oswald Mosley e me considero um eco-fascista por natureza”. Aproxima-se do nacional socialismo nórdico, além de defender esse eco-fascismo e se opor à destruição ambiental capitalista, prega a abstinência de drogas e encerra seu manifesto da seguinte maneira: “A Europa ascende. Vejo vocês em Valhala” (paraíso na mitologia nórdica, destinado aos combatentes).
Assim como todos os demais indivíduos e organizações aqui mencionados, o recado de Tarrant para os antifascistas é claro: “quero vocês no meu campo de visão. Quero seus pescoços debaixo do meu coturno”.
A solução que eles propõem para tirar as etnias indesejadas de seus territórios varia: alguns defendem o extermínio, outros a expulsão. Já para aqueles que os confrontam abertamente – classificados genericamente como antifascistas – a única solução é eliminá-los.
Todavia, frente a recente profusão tétrica desses grupos, não cessa também a resistência vital e corajosa de certos anarquistas. Como alertara Edgar Leuenroth, "quando o fascismo surgiu em organizações nacionais, estrangulando todas as aquisições libertárias, encontrou os anarquistas em plena luta contra todos os elementos que lhe deram origem (...) No combate às hordas fascistas os anarquistas não são combatentes de undécima hora. Enfrentam-nas decididamente desde o início de sua obra vandálica, dando-lhes batalha sem trégua, por todos os meios e em todos os momentos, em toda parte". Como podemos observar em variados cantos do planeta hoje não é diferente. Diante da violência fascista, anarquistas seguem muito vivos e em luta.
R A D. A. R
Generation Identity
Daily Stormer
Fédération des Québécois de souche
American Identity Movement
Facist Forge
Nordic Resistance Movement
A European Declaration of Independence
The Great Replacement
Identify Evropa
montreal antifasciste
it’s going down
Nacionalistas brancos do mundo todo vão se reunir na Finlândia
O obscuro fórum neonazista ligado a uma onda de terrorismo
O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br
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