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observatório ecopolítica

ano III, n. 51, maio de 2019.

 

conhecendo o inimigo ao lado. 1ª. parte

 

Das redes às ruas e à institucionalização

 

No dia 26 de maio de 2019, novamente, os eventos dominicais contaram com uma programação ativista de direita em defesa da pátria, da moral e dos valores religiosos, das forças armadas e do atual governo – notadamente: o presidente, seu superministro autor do pacote anticrime e o ministro da economia com a litania monocórdia da Reforma da Previdência. No entanto, a convocação para tais eventos expôs algumas cizânias entre as organizações de direita e estiveram ausentes grupos arrebanhadores como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem pra Rua. Mesmo assim, os protestos dominicais ocorreram com a presença de outros grupos e de figuras adoradas pela direita brasileira como o MC Reaça.

 

Autor de uma única paródia, ele esteve nos carros de som para cantar este jingle da campanha presidencial de Jair Messias Bolsonaro: “E pras feministas, ração na tigela/ As mina de direita são as top mais bela/ Enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela/ Bolsonaro, capitão da reserva/ E o Bolsonaro casou com a Cinderela”. Exatamente uma semana depois MC Reaça se matou. Rapidamente, o presidente, todos os seus filhos com cargos no governo e outros políticos e digital influencers de direita se pronunciaram em homenagem ao #irmãodedireita.

 

No dia seguinte, vieram alguns detalhes. Ele cometeu o suicídio, enforcando-se, após espancar a amante, que lhe relatara suspeitar que estivesse grávida, e gravar uma mensagem para sua esposa pedindo-lhe para ajudar a cuidar da criança. Nenhuma homenagem foi revista, nenhum pronunciamento posterior foi feito. Uma parte da direita acredita que é tudo mentira da “mídia esquerdista”, e que na verdade ele foi assassinado; a outra parte justifica o “erro do menino”. Marcello Reis, que em seu canal do Youtube, Revoltados Online, declarou: “realmente [ele] deu um tapão na cara dela, deslocou o queixo e tal, mas ela não está internada na UTI e não está grávida (...) Ela partiu pra cima dele antes, tem mulher que é muito folgada (...) Quem é casal ai sabe. Eu já tive 25 anos, já tive muitas mulheres na minha vida e ao mesmo tempo”.

 

O Revoltados Online foi criado em 2010 com o intuito de “caçar pedófilos” na internet e obteve um boom em 2013. Sua plataforma principal é o canal do YouTube, que tem quase 100 mil inscritos. Possui 60 mil seguidores no Twitter e no Facebook chegou a ter 2 milhões de seguidores, antes de sua página ser banida por compartilhamento de conteúdo racista. Esteve na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 26 de maio e marcou presença nas manifestações de 2013, e de 2015 e 2016 pedindo o impeachment de Dilma Rousseff.

 

Neste último domingo de maio, lá também estavam outros youtubers de direita como Renato Barros do canal Questione-se (com cerca de 400 mil inscritos) e Fernando Lisboa do canal Vlog do Lisboa (com aproximadamente 300 mil inscritos). Suas opiniões são muito valorizadas, como ressalta o CEO do Movimento Avança Brasil, Eduardo Platon: “O trabalho dos Youtubers de Direita oferece uma grande janela de oportunidade para construir as bases da direita e dos conservadores no Brasil, oportunidade para unir esses movimentos e informar a população que entre o joio e trigo na política nacional, há um universo a ser explorado e separado em função dos inimigos da nação.”

 

Há outras figuras que tentam emplacar através de suas páginas nas redes sociais, como Ana Cláudia Graf da Ativistas Independentes, criada em fevereiro de 2017, e Isabella Trevisani da página Despertar Patriótico/Direita Unida, criada em agosto de 2018.

 

É a partir das redes que estes grupos se formam e consolidam por meio da convocação aos protestos de rua, onde alguns de seus integrantes despontam como lideranças. Isabella Trevisani ganhou as páginas de grandes jornais após o confronto entre manifestantes contrários à Ditadura Civil-Militar e os que, como ela, queriam celebrar o golpe, no dia 31 de março deste ano, na Avenida Paulista. Ela é a mulher que chorou, disparou spray de pimenta contra antifascistas e que exibiu suas tatuagens: “Brasil: ame-o ou deixe-o” e “Brasil acima de tudo”. Ela foi candidata à deputada estadual (PRTB-SP), não foi eleita e agora busca se promover para disputar a prefeitura de Ferraz Vasconcelos.

 

Outra figura que ganhou destaque nos jornais, devido ao confronto no mesmo dia 31, foi Leandro Mohallem que fez selfie com a cabeça ensanguentada, vestindo uma camiseta com a frase “meu partido é o Brasil”. Ele é membro do Juntos pelo Brasil, cuja página no Facebook existe desde junho de 2013, tem cerca de 650 mil curtidas e na qual se definem como “cidadãos de orientação conservadora, empenhados na construção e consolidação de um sistema político democrático e pautado no respeito aos direitos humanos, à tradição judaico-cristã, à vida, à liberdade, à propriedade privada, à família tradicional, às Forças Armadas, à moral pública, e à participação política das massas. Nós repudiamos as doutrinas vermelhas antidemocráticas como o Comunismo, o Nazismo e o Globalismo.”

 

O Juntos pelo Brasil chamou certa atenção depois de organizar, em 2016, um ato pró Donald Trump. Apoiaram o empresário candidato, principalmente, porque Obama “criou o Estado Islâmico”(sic). Além de Mohallem, convocaram o evento Edson Salomão, Paulo Enéas e Dennis Heiderich.

 

Mohallem, mesmo tentando a todo custo se promover após a “tentativa de assassinato” (sic) ocorrida no dia 31, até agora não é dos mais bem sucedidos, mas angariou um cargo como assessor da deputada Carla Zambelli (PSL). Dennis Heiderich consegue maior repercussão nas redes por se promover como homossexual de direita, em vídeos que viralizam como “gay de direita humilha feminazis juvenis”. Edson Salomão fundou um dos grupos mais ativos e arrebanhadores, o Direita SP. Paulo Enéas é o editor do site Crítica Nacional que serve com uma das fontes de notícias e análises políticas para pessoas de direita. Ao recusarem a grande imprensa, estas pessoas se informam por meio de suas próprias mídias.

 

Em 2002, Olavo de Carvalho criou o site Mídia sem Máscaras para “combater o viés de esquerda da grande mídia”. Migrou deste formato para as redes sociais; no Youtube tem, aproximadamente 56 mil inscritos, o vídeo mais visualizado (234 mil) é “Como se tornar um leitor inteligente”. No Twitter tem 88,4 mil seguidores e no Facebook 64 mil. Mas o projeto serviu mais para catapultá-lo como figura formadora de opinião. Agora possui seu próprio site de autopromoção e de seus cursos online, que custam a partir de 400 reais. Seu canal no Youtube tem 730 mil inscritos e o vídeo mais popular, “O aviso mais importante que já dei aos brasileiros”, teve 1,8 milhão de visualizações. No Facebook é seguido por 580 mil pessoas e no Twitter por 632 mil.

 

Vendo os ensinamentos deste guru e as oportunidades em meio às manifestações contra o governo de Dilma Rousseff, Italo Lorenzo e Allan dos Santos criaram o Terça Livre que começou como um canal de Youtube e hoje é um site de notícias, “sempre atento ao nosso valor de fundação: o amor pela Verdade e a fé de que somente Ela nos libertará”.

 

A maior mídia da direita é O Antagonista, criado por dois ex-jornalistas da revista Veja, Diogo Mainardi e Mario Sabino com o objetivo de “amolar” e, talvez, “eliminar” os protagonistas (a grande imprensa). Investem em uma mídia “capaz de pautar, cortar, expurgar e copidescar (...) escarnecer, ridicularizar, esclarecer, cultivar inimigos e influenciar pessoas.”

 

Assujeitamento e condução do rebanho

 

O grupo Direita SP foi fundado em maio de 2016 por Edson Salomão (presidente), Douglas Garcia (vice-presidente) e Jorge Luiz (“2º vice-presidente” e advogado do grupo) com o objetivo de “batalhar pelos valores que norteiam a direita brasileira.” A página do Facebook tem aproximadamente 235 mil curtidas, mas eles são presença constante nas ruas e dizem ter mais de 900 filiados. Além de estar à frente do evento do dia 26 de maio, organizaram a Marcha Contra a Lei de (i)Migração, a Marcha Pela Vida dos Policiais Militares, a Marcha Pela Revogação do Estatuto do Desarmamento, a Marcha Pelo Escola Sem Partido, a Marcha Em Defesa da Família e foram um dos principais articuladores dos protestos contra a presença de Judith Butler no Brasil.

 

Como é comum aos sites destes grupos, logo de cara é fornecida ao internauta a opção de fazer doações ou de se filiar; no caso do Direita SP (DSP) há diferentes planos de filiação. O DSP realiza encontros semanais com palestras e debates; organiza marchas e investe na participação institucional por via eleitoral. Os palestrantes são homens como o Cabo Anselmo, infiltrado canalha e delator durante a ditadura civil-militar.

 

O referencial teórico se repete em outros projetos voltados à educação, com cursos online, como o Instituto Conservador, no qual o professor Rafael Nogueira ministra o curso “Política, Governo e Conservadorismo”, com duração de dois anos por 60 reais mensais, com bibliografia do guru Olavo de Carvalho, Platão, Aristóteles, São Tomás, os contratualistas todos, Kant, Stuart Mill, José Bonifácio, Roger Scruton, Eric Voegelin e a Bíblia.

 

Rafael Nogueira é membro do Avança Brasil, outro grupo bastante ativo nos protestos do fim de maio, e nas redes, com 1,4 milhões de seguidores no Facebook. Fundado em fevereiro de 2015 “por um grupo de cidadãos livres e conservadores dos bons costumes, trabalhando para a transformação do Brasil em um Estado liberal, com uma sociedade próspera, livre e aberta, permeado pela transparência e eficiência de tudo que é público, com limitação e separação clara de poderes. Trabalhamos pela implantação do Federalismo Pleno no Brasil, pela total descentralização do poder político e de recursos, gerando autonomia administrativa e jurídica para estados e respectivos municípios.” Além de fornecerem os cursos de política conservadora, possuem um app de celular e funcionam como mídia, atualizada diariamente.

 

O Burke Instituto, também direcionado a uma educação ultraconservadora, oferece 18 cursos em formato de videoaula, divididos em três módulos. Cada curso custa 119 reais e dá direito a aulas com pessoas como Ana Caroline Campagnolo, a jovem e polêmica deputada estadual (PSL-SC), autora do livro “Feminismo: Perversão e Subversão”, investigada por desvio de verbas (nestes cinco meses desde a sua posse), portadora de uma arma cor de rosa e ex-maconheira que teve vídeos antigos postados nas redes sociais redescobertos.

 

Voltando ao Direita SP, para se filiar ao grupo é preciso estar de acordo com o parágrafo 1º “Posição contrária à legalização das drogas, ao aborto, à política de cotas em universidades e em concursos públicos, à ideologia de gênero, ao ativismo LGBT – que não visa a defesa de direitos das pessoas mas a promoção de um modo de vida e o combate aos valores familiares – e aos movimentos sociais de esquerda (MST, MTST, etc); posição favorável a mudanças na legislação penal e à redução da maioridade penal; apoio às Forças Armadas e às Instituições Policiais (Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Civil e, por extensão, Guardas Civis); apoio ao projeto de Lei ‘Escola Sem Partido’, seja buscando um vereador em sua cidade para protocolá-lo, seja para apoiar o projeto eventualmente já protocolado; posição favorável ao pleno direito à legítima defesa.”

 

É possível imaginar a fundamentação dos cursos oferecidos após uma breve leitura do blog do grupo, como o texto intitulado “Os nazistas brasileiros do século XXI” que acusa antifascistas de serem nazistas, por se oporem ao Estado de Israel. “Neonazistas são, por raiz, antissemitas e socialistas. Todas essas características são encontradas em diversos movimentos ditos ‘sociais’ que existem no Brasil, dentre eles estão: MTST, MST, UNE, UBES, UPES e principalmente os ‘ANTIFA’s’” (sic).

 

Douglas Garcia, eleito deputado estadual (PSL-SP), é a figura mais polêmica do grupo. Foi o criador do bloco de carnaval Porão do DOPs. De Americanópolis, periferia sul de SP, filho de um pastor e egresso do projeto Guri, ele aposta no conservadorismo dos pobres. “Você consegue convencer as pessoas atacando a questão moral. Fala pro cobrador de ônibus se ele apoia que filho João possa ser chamado de Maria. Vai dizer que não. Mas você não consegue se chega dizendo que vai tirar o Bolsa Família.” Ele se dizia de esquerda até 2013, apesar de nunca ter concordado com pautas antievangélicas como aborto e descriminalização de drogas. Tudo mudou quando um amigo lhe mostrou um vídeo do atual presidente falando que a “única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas”, onde “canalhas que fodem nós a vida toda” têm mais é “que se foder”. Ele “concordou totalmente” com essa opinião e trocou de identidade política.

 

No começo deste ano, na Assembleia Legislativa, disse a uma deputada transexual que se visse “um homem que se sente mulher” entrar no banheiro feminino o tiraria de lá no tapa e chamaria a polícia. Acusado de transfobia, ele se assumiu gay publicamente, aproveitando para se divulgar nas redes sociais como um gay de direita, contra a “ideologia de gênero” e o movimento lgbt+.

 

Ele declara não haver uma violência maior contra os gays e diz que o brasileiro não pode ser considero homofóbico, assim como não pode ser considerado racista, pois “a violência no Brasil é democrática”. Nas eleições, compôs uma duplinha de deputados do PSL-SP ao lado de Alexandre Frota, eleito deputado federal, com quem agora está brigado. A parceria – ao menos pública – dos dois vem desde os protestos contra Butler e a “ideologia de gênero”.

 

Rommel Werneck, o Febo, é outro “homonacionalista”, católico, monarquista e integrante do DSP ativo em Santo André. Ele administra o grupo Gays de Direita com cerca de 350 membros. Sua formação política vem dos encontros no 1º Batalhão da Polícia Militar, no centro de São Paulo, onde ocorrem reuniões semanais de um grupo que trata de temas como “a ameaça islâmica, a ditadura militar e a divulgação de autores conservadores”. Por meio do projeto Infância sem Pornografia, o grupo foi um árduo opositor da exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, em Porto Alegre, realizada em 2017 e cancelada após o banco fomentador da mostra ceder às reclamações.

 

Assujeitamento é pouco! E a questão que aproxima essas pessoas da direita é a segurança e o desejo cego por punição.

 

Hélio Bolsonaro, o homem negro, adorno constante em pronunciamentos midiáticos da racista família Bolsonaro, enfatiza como é bem tratado pelo presidente e seus filhos. Não são poucos os vídeos na internet e as declarações à televisão nos quais ele chora ao falar de “seu irmão [Jair Bolsonaro]”. Não é para menos. Hélio Lopes – seu nome de solteiro –, que também é militar, candidatou-se a vereador pela primeira vez em 2004 e teve menos de 300 votos. Em 2014 e em 2016, tentou de novo, sem sucesso. Em 2018, foi eleito o deputado federal mais votado no Rio de Janeiro pelo PSL.

 

Talvez o mais famoso representante cotista da direita seja Fernando Holiday. Negro, gay e de família pobre, ele se vende como o primeiro vereador abertamente homossexual a ser eleito no país, em 2016, pelo DEM. Apesar de, obviamente, negar as causas dos movimentos lgbt+ e negro. Convertido do neopentecostalismo ao catolicismo, ele se identifica como um “gay abstêmio”, pois evita cometer pecado. É um dos integrantes mais conhecidos do MBL.

 

A página do MBL no Facebook está no ar desde junho de 2013. Porém, a data de criação oficial do grupo é novembro de 2014, quando esteve à frente da convocação de protestos a favor da Operação Lava Jato. Em 2015, quando realizaram o Primeiro Congresso Nacional do MBL, lançaram algumas propostas políticas voltadas para as seguintes áreas: Educação, Saúde, Sustentabilidade, Reforma Política, Economia, Justiça, Transporte e Urbanismo, todas no sentido de maior privatização desses setores. Neste mesmo ano, ganharam destaque em meio às entidades organizadoras dos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff, especialmente os jovens Kim Kataguiri e Fernando Holiday. Kataguiri foi um dos fundadores do grupo ao lado de Renan Santos.

 

No segundo congresso, em 2016, para defender privatizações e os “valores da civilização ocidental” palestraram: o cantor Pedro Ferreira, o humorista Danilo Gentili, o ministro Gilmar Mendes, o economista polonês Marek Troszczynski, o então deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), o então ministro Mendonça Filho (Educação), o então prefeito de São Paulo, João Doria, a advogada Janaína Paschoal e o colunista Reinaldo Azevedo. No evento do ano seguinte, lá estava de novo João Dória e Pedro Ferreira, além dos, à época, prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB-RS), senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e José Medeiros (PSD-MT), os deputados da “bancada evangélica” Marco Feliciano (PSC-SP) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), a jornalista e youtuber Joice Hasselmann, o colunista Luiz Felipe Pondé, o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, e o youtuber Arthur do Val, conhecido como Mamãe falei. Do Val também integra o MBL e é o maior digital influencer da direita tendo 393 mil seguidores no Twitter, mais de 1,7 milhão no Facebook, 2,5 milhões de inscritos em seu canal do Youtube, o Mamãe falei, cujo vídeo mais popular, “Lula condenado”, tem 4,4 milhões de visualizações.

 

Fernando Holiday foi reeleito vereador (DEM-SP), Kim Kataguiri foi eleito deputado federal (DEM-SP), Arthur do Val/ Mamãe falei foi eleito deputado estadual (DEM-SP). No ranking eleitoral, o Mamãe falei esteve atrás apenas de Janaina Paschoal (PSL-SP). Joice Hasselmann também ganhou um carguinho, sendo a segunda mais votada como deputada federal, atrás de Eduardo Bolsonaro (ambos PSL-SP). Flávio Rocha desistiu de sua candidatura à presidência, talvez percebendo maior vantagem nas parcerias possíveis através do Instituto Brasil 200, presidido por seu sobrinho, Gabriel Rocha Kanner, que fundou o “movimento” Brasil 200 ao lado de Joice Hasselman. Antes mesmo de virar um Instituto, o “movimento” já contava com Antônio Carlos Pipponzi, da Drogasil; José Apolinário, da Polishop; Alberto Saraiva, do Habib’s; e Roberto Justus, apresentador de televisão e diretor do grupo Newcomm. Gabriel Kanner tentou se eleger deputado federal pelo PRB, não conseguiu. Mas, por meio do Instituto, participa ativamente do governo.

 

O MBL possui 451 mil seguidores no Twitter, mais de 3,2 milhões curtidas no Facebook e tem sua própria mídia, o MBLNews. Em seu início, o movimento não encabeçava algumas pautas comuns à direita como a condenação absoluta do aborto, da descriminalização das drogas, da criminalização da homofobia e do casamento gay. Mas notaram que este discurso não era um bom negócio. Tornaram-se um dos principais polemistas em relação à exposição “Queermuseu” e se promoveram por meio do endurecimento do discurso cristão e contrário à “ideologia de gênero”, afirmando seus pilares na “filosofia grega, direito romano e religiosidade judaico-cristã”, conforme Kim Kataguiri. Esta pauta moral, contra a “pedofilia” e a “zoofilia” – supostamente propagadas pela exposição – foi tema central do terceiro congresso do grupo.

 

O MBL, ao lado do Vem pra Rua, é indicado como um dos principais mobilizadores dos protestos pelo impeachment. O Vem pra Rua também não aderiu aos eventos do dia 26 de maio, considerando-os “perigosos” por se aproximarem de pautas antidemocráticas como o fechamento do STF e pedidos por intervenção militar. O grupo existe desde 2014 e foi fundado pelo empresário Rogério Chequer, que foi candidato a governador de SP pelo NOVO, com baixíssima votação. Apesar de ser um grande grupo e bem articulado, não há informações sobre outros integrantes. Organizam-se em núcleos e conselhos táticos/estratégicos municipais, estaduais e regionais a fim de “organizar a indignação popular e transformar o Brasil (...) o Movimento atua também na educação cívica da sociedade por meio de sua página no Facebook, que conta hoje com mais de 2 milhões de seguidores.”

 

Atuam por meio da convocação para marchas contra a corrupção e do incentivo à participação junto ao Congresso e ao STF. Dizem ter mais de 14 mil voluntários em todo o país e apresentam um discurso de unificação dos brasileiros contra a corrupção, na linha “meu partido é o Brasil”, mas sem falar em unidade em torno dos valores da direita, como os demais grupos.

 

Nas redes, hoje, está voltado para a Reforma da Previdência e ataques ao PT. Assim como o Nas Ruas, criado por Carla Zambelli em 2011, e hoje registrado como Associação Brasil nas Ruas, que organiza congressos com temática contra a corrupção. A página do #NasRuas possui mais de 900 mil seguidores. Em nome do amor ao Brasil, o propósito do grupo é conscientizar o cidadão para que este participe fiscalizando “o poder público” a fim de combater a corrupção e pressionar, por meio de protestos de rua, pelo “fim da impunidade”.

 

Em 2013, em Salvador, foi uma das primeiras organizações a embalar na hashtag não é pelos 20 centavos. Foi uma entidade muito ativa durante as marchas pelo impeachment. Em 2017, também aderiu aos ataques repressivos a certas obras de arte. Endossando campanha punitiva iniciada pelo pastor Magno Malta, foi ativa no compartilhamento da acusação de “pedofilia” direcionada ao Museu de Arte Moderna de São Paulo e ao performer de “La Bête”.

 

O grupo pretende: “diminuição do Estado; federalismo; reformas para flexibilização trabalhista, tributária e previdenciária; revogação do estatuto do desarmamento; Escola Sem Partido; mudança de critérios de indicação dos Ministros do STF e Tribunais de Contas da União e Estados; autonomia financeira da Polícia Federal; redução da maioridade penal; combate à Corrupção, com aumento de pena e redução da impunidade; apoio permanente à Lava Jato, entre outros.” No ano passado, a líder do grupo, Carla Zambelli, foi eleita deputada federal (PSL-SP).

 

É importante lembrar que os protestos pela censura do “Queermuseu” ocorreram no começo do mês de setembro de 2017. No fim do mesmo mês, o alvo foi o MAM e o performer de “La Bête”. Em outubro, ocorreram as articulações para impedir a participação de Judith Butler em eventos acadêmicos no Brasil.

 

As manifestações de junho de 2013 levaram muitas forças para as ruas e expuseram também uma massa de direita e muitos fascistas, que se vangloriaram com o impeachment em 2016, depois de realizarem muitos protestos e articulações neste sentido. Estes eventos menores, ocorridos um ano antes das últimas eleições, que marcaram a institucionalização da direita e de suas forças fascistas, explicitaram um fator determinante para arrebanhar a massa esperançosa. Não apenas opor-se à corrupção e à impunidade, mas reforçar os valores do cristão cidadão de bem, assegurando sua família heteronormativa, monogâmica e burguesa alicerçada sobre a propriedade e a pátria.

 

Essas forças que aí estão, institucionalizadas e empoderadas, indicam alianças que esses grupos ditos democráticos, apartidários e independentes querem escamotear. Agem por dentro e por fora de partidos legítimos, mas almejam o governo suprapartidário que se perpetue por meio de encenações ritualísticas nas câmaras, assembleias e senado. A seu modo, expressam a vontade de governança suprimindo opositores, confinando-os como minoria, ou preferencialmente colocando-os no ostracismo. Trocam o toma lá dá cá, por pega já e dá um pé na bunda dos demais. Tudo muito democrático porque não abre mão, pelo menos por enquanto, do ritual de funcionamento de câmaras, assembleias e senado.

 

Cantarolam as ladainhas a favor da reforma da previdência, do pacote anticrime e das medidas para o crescimento econômico contra o globalismo. Fazem parecer que sonham com um capitalismo civilizado e um liberalismo político de fachada para dar prosseguimento aos bons e certos negócios. Têm aversão às minorias e aos portadores de direitos inacabados, funcionam como cidadão-polícia privilegiados, seguem gurus, condutores e os mentores das forças armadas. São os principais articuladores de mobilizações pelas redes sociais.

 

Para eles, tudo é uma questão de técnica apropriada, e neste sentido, tudo pode ser com ritualizações democráticas ou golpe de Estado de verdade!

 



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Monarquistas ocupam cargos em Brasília e reabilitam grupo católico ultraconservador

 





 


O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br

 

 

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