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observatório ecopolíticaano III, n. 52, junho de 2019.
conhecendo o inimigo ao lado. 2ª. parte
Alianças escamoteadas
Ainda que busquem se dizer democratas, as organizações e indivíduos apresentados anteriormente possuem alianças com outros grupos que deixam vazar, ou sequer intentam esconder, seus posicionamentos autoritários e de extrema-direita.
Em meio aos organizadores dos protestos em defesa do governo, realizados no dia 26 de maio, estava o recém-criado Movimento Brasil Conservador (MBC), um desdobramento da mídia de direita Conexão Política, que possui um site de notícias e uma página no Twitter com 234 mil seguidores desde 2017.
O editor-chefe deste portal de notícias, Davy Albuquerque, é o fundador do MBC, criado em setembro de 2018. O evento inaugural ocorreu em Botafogo, no Rio de Janeiro, e contou com palestras dos fundadores, de jornalistas do Terça Livre e de Flávio Bolsonaro. Em novembro, em São Paulo, foi realizado o primeiro congresso do grupo com a participação dos jornalistas do Terça Livre, do cantor Lobão e do “príncipe imperial” Dom Bertrand de Orleans e Bragança. O MBC se declara comprometido: “com a restauração do Brasil, pautados na defesa dos pilares da civilização ocidental e no combate à dominação cultural imposta por ideologias revolucionárias e destrutivas em nosso país.”
Entre seus princípios, postulam: a “continuidade da essência cristã” do Brasil; a defesa à legítima defesa (posse de armas); o direito à vida (contra o aborto); a criminalização dos movimentos Sem Terra e Sem Teto como terroristas; uma política econômica liberal clássica; a defesa do Estado de Israel; o combate ao “monopólio” da grande mídia; o repúdio à legalização das drogas; a defesa absoluta das polícias e das Forças Armadas; o fim de qualquer noção coletivista da sociedade que divide o povo em grupos de interesse; a defesa das liberdades individuais acima do poder estatal; a defesa da sacralidade da propriedade privada; (...) o fim da relativização de valores que abre espaço para a decadência moral da sociedade; (...) a crítica ao uso exagerado do garantismo penal que protege criminosos, enquanto as suas vítimas permanecem descobertas de qualquer atenção; o repúdio à inversão de valores estatal que trata o cidadão de bem com extremo rigor e descaso e os rebeldes, os perdidos e os subversivos com complacência e omissão.”
Chamam atenção todos esses princípios e a participação do senador Flavio Bolsonaro (PSL), político incontestavelmente atrelado às milícias cariocas, no evento inaugural deste “movimento” que desponta como um dos mais recentes, e já muito influente, em meio à direita nacional.
A presença de Dom Bertrand também sinaliza para outra conexão à direita, os monarquistas. Bertrand é bisneto da princesa Isabel e aparece, junto de Olavo de Carvalho, como uma referência intelectual nacional para a direita. Além de seu sobrinho, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, eleito deputado federal (PSL-SP), há uma “bancada monarquista”, recém-eleita, composta pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC) e pelos deputados federais Paulo Martins (PSC-PR), Delegado Waldir (PSL-GO) e Enrico Misasi (PV-SP).
Os deputados federais Paulo Martins (PSC-PR) e Carla Zambelli (PSL-SP) também se definem monarquistas. Logo no início do ano a alteza deles foi à Brasília, recebida pelo Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Gilberto Callado de Oliveira – amigo de Bertrand e membro do Círculo Monárquico de Nossa Senhora do Desterro, de Santa Catarina – foi nomeado representante da sociedade civil no Inep (Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira), órgão responsável pelo Enem.
Olavo de Carvalho também é um defensor da monarquia e de Bertrand. Define-o como “o brasileiro mais patriota”, “o sujeito que mais estudou os problemas do Brasil, que mais busca soluções”.
As propostas desses monarquistas no governo são o fim da demarcação de terras indígenas, a oposição ao casamento gay e a proibição do aborto em qualquer circunstância. A deputada e líder do Nas Ruas, Carla Zambelli, empolga-se dizendo que fazem parte de uma transição para uma monarquia parlamentarista no Brasil.
Bertrand foi membro da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa de Tradição, Família e Propriedade) e hoje é diretor de relações institucionais do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira (IPCO), chefe da Casa Imperial e autor do livro “Psicose Ambientalista – Os Bastidores do Ecoterrorismo para implantar uma Religião Ecológica Igualitária e Anticristã”.
Plínio Corrêa de Oliveira foi o criador da TFP, na década de 1960, uma organização católica e ultraconservadora, ativa no apoio ao golpe civil-militar e na organização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Em dezembro de 2006, o primo de Plínio, o engenheiro Adolpho Lindenberg fundou o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira.
Não há informações sobre seus colaboradores voluntários e sócios, além de Lindenberg e Bertrand, mas é sabido que são somente homens. Em seu site, eles convocam: “Se você é pró-vida e pró-família, defensor do Sagrado direito de Propriedade e dos Valores Morais cadastre-se e entre neste grupo seleto e mobilizado de ativistas nesta luta ordeira e pacífica, mas enérgica, pelo nosso Brasil! Ajude-nos a manter o Brasil livre do Aborto, da Agenda Homossexual e do Comunismo!”
O IPCO esteve no evento do dia 26 de maio, assim como em todas as manifestações com participação da direita, desde 2013 até as marchas pelo impeachment, sendo articulador importante dos protestos contra Judith Butler e a “ideologia de gênero”. A chamada “ideologia de gênero” é um dos alvos prediletos do grupo, junto ao ensino marxista nas escolas, o aborto, o “conceito de ‘trabalho escravo’”, ao casamento gay, as “ditaduras ‘bolivarianas’”, ao “ateísmo e o anticatolicismo crescente” e as “leis socialistas que perseguem os brasileiros com impostos abusivos”.
Há outros grupos discípulos de Plínio Corrêa no Brasil, em aliança com o Instituto, como Fundadores, Associação Devotos de Fátima, Associação Apostolado do Sagrado Coração de Jesus, Associação Brasileira pela Legítima Defesa, Agência Boa Imprensa, Lepanto e Paz no Campo – diretamente ligado a Dom Bertrand.
Bertrand alega que a esquerda, os ambientalistas e os indigenistas querem que pessoas “brancas como ele” sejam expulsas para a Europa. Chega a tal conclusão pois estes defendem a demarcação de terras indígenas, algo que ele considera desnecessário, pois os indígenas no Brasil “não chegam a 100 mil”. Diz também que “praticamente não houve” escravização de indígenas durante a colonização e que o Império não pode ser responsabilizado pela escravidão dos negros. “A solução para o problema dos índios foi dada pelo imperador Dom João 3º a Tomé de Souza, governador-geral do Brasil entre 1549 e 1553: Tem que catequizar, dar civilização e cultura – fazer o que a igreja fez ao longo de cinco séculos”, diz Bertrand. E parece que ele não fala sozinho, nem acompanhado apenas de homens do século XVI...
Para eles o aquecimento global é uma farsa e o verde é a nova cor do comunismo; os produtores rurais são perseguidos; a PEC do “trabalho escravo” é somente uma armadilha contra a propriedade; os ambientalistas querem implantar uma “religião ecológica e anticristã”; os indígenas que não são pagãos, foram convertidos pela teologia da libertação.
Possuem conexão com ruralistas como o Movimento Brasil Verde Amarelo, fundando um dia depois das manifestações contra os cortes na Educação (15M) e que conta com: Aprosoja, Associação Nacional em Defesa dos Pecuaristas, Agricultores e Produtores Rurais, Abeg e Andaterra. É possível indicar pistas de aliança com os grupos armados que acossam, ameaçam, torturam e matam indígenas em áreas rurais e em meio às matas.
Assemelham-se a grupos evangélicos como o Evangélicos da Ilha, cuja página no Facebook tem 2,4 milhões de seguidores. Fundado por Adalberto Nascimento, da Assembleia de Deus, o grupo define seus objetivos como “a missão de evangelizar, (...) a fim de edificar e alcançar vidas para o reino de Deus, sempre posicionando-se publicamente, a favor dos valores da família tradicional, a favor da vida (contra o aborto), a favor da palavra e igrejas, fazendo oposição aos Partidos ou Políticos que aprovam leis que ferem os bons costumes.”
Assemelham-se aos Gladiadores do Altar, da Universal do Reino de Deus. Em 2015, um vídeo divulgado pela igreja mostrou centenas de seus soldados, no que parecia um grupo paramilitar, jurando fidelidade à missão de limpeza do Brasil. “(…) Destruiremos cada religião enganosa até que desapareça do nosso país! Essas religiões pagãs e de origens africana e asiática ou muçulmana não serão toleradas em nosso país! Nem o Homossexualismo! Faremos o trabalho que o governo não teve competência pra fazer! Junte-se a nós!” Imediatamente processado judicialmente, o grupo saiu dos holofotes. Abandonaram a disputa?
As faces do fascismo brasileiro
Um dos grupos fascistas mais antigos no Brasil é a Frente Nacional Integralista, fundada por Plínio Salgado em 1932. O Integralismo se inspirou no fascismo, em ascensão na Europa no mesmo período, tendo como emblema a saudação “Anauê” com a mão direita estendida, em alusão às saudações nazifascistas na Alemanha e na Itália. Saudação repetida pelo Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante seu pronunciamento de posse, no início deste ano.
Os integralistas ficaram conhecidos no Brasil como os camisas verdes, ou ainda “galinhas-verdes”, sendo os seus líderes Plínio Salgado, Miguel Reale e Gustavo Barroso, considerados as principais referências. Na década de 1930, o movimento chegou a despertar simpatia de parte da classe média brasileira e até de Getúlio Vargas, entretanto sua existência foi proibida pelo próprio em 1937, quando este vetou por lei todas agremiações políticas no início do Estado Novo.
Apesar da proibição, a ideologia integralista se perpetuou entre os membros de pequenas organizações e simpatizantes. Em 1945, os membros remanescentes da Ação Integralista Brasileira (AIB) criaram o Partido de Representação Popular (PRP), pelo qual o líder Plínio Salgado se candidatou a presidência em 1955. Durante o período da ditadura civil-militar, grande parte dos adeptos do integralismo dirigiu-se para o ARENA (Partido da Renovação Nacional), inclusive Salgado que foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo. Após a redemocratização, houve aproximações dos integralistas com o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), de cunho nacionalista e conservador fundado por Éneas Carneiro, e o Partido Militar Brasileiro (PMB) que gerou o movimento Frente Nacionalista.
Fundada em 22 de abril de 2015, a Frente Nacionalista (FN) visa unir todas as frentes nacionalistas do país “cujas vozes eram interditadas na constelação de partidos que gravitam em torno do esquerdismo e do fisiologismo”. Segundo o seu programa, buscam elencar diversos “perigos” na sociedade como o “marxismo cultural”. A FN propõe a redução da maioridade penal para 15 anos, a prisão perpétua para políticos corruptos, a pena de morte, um programa para que a “maternidade seja uma escolha livre e não um fardo” e políticas contra a imigração no país. Além disso, eles também propõem que a mulher sem filhos tenha o mesmo tempo de aposentadoria do homem. Porque para os fascistas a única função honrada da mulher é criar os filhos e cuidar do lar.
Desde seu início, a FN busca alianças com partidos políticos de direita para se respaldar. Uma evidência disso é o logotipo do PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro) inserido no folheto de divulgação, como um dos realizadores do evento, que deveria ter acontecido em Curitiba em dezembro de 2015. O evento em questão era a Dezembrada, nome do festival que fazia alusão aos eventos dos Carecas do ABC e que marcaria a fundação da Frente com a participação de bandas de neonazistas. O evento acabou não ocorrendo devido à ação de grupos antifascistas. Houve também uma liminar do Ministério Público.
A Frente Nacionalista possuía um site oficial que saiu do ar, porém ainda tem diversas páginas no Facebook, além de contar com uma rádio online intitulada Rádio Combate (anteriormente conhecida como Rádio Careca), dedicada a tocar bandas de Oi e hardcore nazifascista. Dispõe ainda de coligações com grupos neonazistas e integralistas como os Carecas do ABC e o Movimento FSNB (Frente Social-Nacionalista Brasileira). Além de estar filiada ao PRTB, partido presidido por Levy Fidelix.
Os Carecas do ABC são um grupo dissidente do Carecas do Subúrbio, formado inicialmente na região do Grande ABC, principalmente em Santo André, e atualmente estão presentes em praticamente toda a cidade de São Paulo e em algumas outras capitais do Brasil. Apresentam-se como integralistas e seguem o lema “Deus, pátria e família”. O Carecas do Subúrbio foi um dos primeiros grupos de skinheads brasileiros, surgido na década de 1980, e que posteriormente viria a se organizar no Rio de Janeiro e em outras cidades sob o nome de Carecas do Brasil. Os carecas defendem um nacionalismo integral, sem separatismos ou regionalismos, que agregaria todo o povo brasileiro – desde que iguais a eles ou obedientes e mortificados. Negam serem nazistas ou fascistas, por estes serem regimes estrangeiros e que não condizem com a realidade nacional, por isso adotam o integralismo como o “genuíno movimento nacionalista brasileiro”.
O Ultra Defesa é outro grupo nacionalista e patriótico que utiliza a saudação romana (braço erguido, mão para baixo), por acreditar que o Império da Roma antiga é o verdadeiro guardião da tradição ocidental. Defendem uma sociedade de “valores aristocráticos, viris, e comandada pela verdadeira elite”. São contrários ao neoliberalismo, à “homossexualidade”, à legalização do aborto e defendem o fortalecimento das Forças Armadas. Kombat RAC (Rock Against Communism), subgrupo skinhead brasileiro de orientação neonazista, é uma das facções mais violentas em atividade, costumam esporadicamente dar as caras na internet. Um de seus líderes é Guilherme Jácullo Evangelista, acusado legalmente de cometer crimes de ódio, agressões físicas e de propagar conteúdo antissemita; também marcou presença em uma manifestação pró-Bolsonaro, em 2011, ao lado de outros fascistas, como o organizador Marcio Galante, e organizações militares extra-quartel, separatistas, católicos radicais, grupos de extrema-direita e gangues nazifascistas.
Este ato aconteceu quando Jair Bolsonaro, então deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, fez declarações homofóbicas e racistas em um programa televisivo. Grupos neonazistas organizaram o ato em apoio a ele no vão livre do MASP. O evento também foi convocado no fórum Stormfront, comandado pelo movimento neonazista internacional White Pride Worldwide. Um membro do fórum chamado “Erick White” escreveu: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto Cívico, portanto, levem a família, esposas, filhos e amigos”. O convite para o ato é finalizado com um “14/88″. O número 14 refere-se às 14 palavras da frase do supremacista branco estadunidense David Lane: “Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as crianças brancas”. Já o número 88 significa “Heil Hitler”, com o número 8 representando a oitava letra do alfabeto.
Ainda em 2011, foi divulgada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância de São Paulo (Decradi) uma lista com grupos “extremistas” em atividade. Ali também incluíram gangues punks. As de extrema-direita eram: Impacto Hooligan, Front 88, Kombat RAC, Front Skinhead, Falange Skinhead, Juventude Fascista, Resistência Ariana, Brigada Hooligan, White Skin, White Power SP, Carecas do Subúrbio, Carecas do ABC, Impérium, Divisão 18, Resistência Skinhead, SP OI e Blood and Honour SP.
Em 2017, algumas dessas gangues neonazistas voltaram a ser noticiadas devido à investigação sobre a autoria de pichações antissemitas na região central de São Paulo, denunciadas por um rabino. Foram identificadas como as mais ativas: Impacto Hooligan, Front 88 e Kombat RAC. Segundo a polícia, os Carecas do Subúrbio e do ABC hoje são pacíficos e se dedicam a organizar “eventos musicais e ações sociais”. Com este aval, os carecas sejam os mais fáceis de se identificar nas imagens das marchas pelo impeachment, nas quais aparecem uniformizados posando ao lado de policiais e levantando faixas contra a corrupção. E pelas ruas e em eventos, no quais passeiam entre os manifestantes lgbts e antifascistas com socos-ingleses cobertos por lenços. Estão relacionados com a Direita SP, o IPCO, Ativistas Independentes, Juntos pelo Brasil, Crítica Nacional e evangélicos.
Ainda de acordo com as autoridades, as ações violentas do Impacto Hooligan, Front 88 e Kombat RAC, atualmente, estão voltadas aos antifascistas e, como estes não procuram recorrer à polícia, a instituição declara não ser capaz de monitorar tais “crimes” nem de cuidar de sua punição.
No ano passado, entre o primeiro e o segundo turno eleitoral, foram registrados pelo ONG Open Knowledge Brasil mais de 70 ataques com intimidação física à minorias e pessoas identificadas como contrárias ao candidato militar. Pessoas foram executadas como o capoeira Moa do Katendê, em Salvador; o cearense Lucas Pinho foi encontrado em um lixão após a Parada Gay, no Rio de Janeiro; o homem gay, José Carlos Mota, foi encontrado dentro de um armário em sua casa, depois de enviarem mensagens de seu celular dizendo “Viva Bolsonaro”; três travestis também foram alvo destes ataques: Priscila, morta à facadas no centro de São Paulo, Laysa Fortuna, também esfaqueada, em Aracajú, e Kharoline, morta em decorrência de facadas nas virilhas, em Santo André – nestes três casos ocorreram saudações ao então candidato à presidência. Pichações de suásticas e “morte aos negros”, “morte aos gays”, “morte aos nordestinos” foram encontradas em diversas cidades e em campus universitários. Nunca mais se soube destes casos, amplamente divulgados pela grande mídia, na época, mas agora esquecidos.
De acordo com dados da organização SaferNet Brasil, a busca e o compartilhamento de conteúdo neonazistas crescem exponencialmente no país desde 2015. Diferente do que notifica a polícia, na internet os alvos preferidos são ativistas lgbts, feministas e dos direitos humanos que se expõem pelas redes sociais. Além do fórum StormFront e dos chats, essas pessoas se organizam em grupos privados em redes sociais, na deep web e por meio de aplicativos de mensagens.
E não se deve esquecer que, diante das decepções e desilusões com o atual governo, alguns grupos de extrema-direita veem os políticos eleitos como “traidores lesa pátria”, pois ainda não “mataram o comunismo” e não efetuaram a “faxina” prometida; além de estarem rondados por casos de corrupção. Estes grupos são pela intervenção militar e estiveram nas ruas no último dia 26 de maio. Estão nas ruas desde 2013 em todos os protestos de direita e são notados como “alguns indivíduos”, “alguns cartazes”, “algumas menções” à intervenção ou ao fechamento do STF. No Facebook há muitas páginas criadas em 2013, em 2015 e em 2017 e as mais recentes são as de desiludidos com o atual governo. Não há grupos ou figuras de maior projeção. “Intervenção militar já!” apareceu com grande destaque durante a greve dos caminhoneiros em 2018.
Além de cartazes com esse clamor serem frequentes nas marchas verde-amarelas, muitas figuras aqui citadas apoiam, “caso necessário”, uma intervenção militar. Há uma massa que se diz saudosa do período da ditadura civil-militar, o vangloria e homenageia. E as Forças Armadas, segundo pesquisas de confiança institucional, são a instituição na qual os brasileiros mais acreditam...
Em 1934, centenas de militantes anarquistas foram à Praça da Sé, local onde os galinhas-verdes pretendiam realizar uma marcha integralista. A presença destemida dos anarquistas provocou uma “revoada dos galinhas-verdes” que fugiram e se esconderam. Hoje, diante de tantas forças de direita, é preciso mapearmos esses grupos, conhecermos o inimigo e enfrentá-lo. Somos a força insuportável para os autoritários. Ou deixaremos que o antifascismo vire só mais uma identidade do divíduo de esquerda contemporâneo?
No arco pendular que vai da direita institucional, aos velhos conservadores, aos novos segmentos fascistas e aos encenadores democráticos está algo mais que a oposição binária direita-esquerda. Há uma temida transição, principalmente da esquerda, que em defesa da democracia se ajusta e se dispõe a dialogar com o que se veste de direita institucional, mas que por baixo de suas roupagens de “cebola” esconde ou camufla os mais diferentes uniformes golpistas.
Dizem que no Brasil ainda não há uma tradição no debate democrático que combina o leque que vai da direita à esquerda. Que nos falta um estilo de vida, que é preciso disputar os valores morais sem arranhar a continuidade da democracia e suas reformas. Toda esta conversa mole jurídico-política não é capaz de conter a expansão das mais variadas formas de ação da direita na atualidade, aqui e pelo planeta.
As criminalizações de condutas e os direitos de minorias estão em xeque nestas circunstâncias pelas mais variadas formas de ação de direitistas. Alguém poderia dizer que algo similar também é praticado pela esquerda. Seria leviano, porque a esquerda parece convencida que tudo se resolve com democracia e se esquece que se o capitalismo, preferencialmente deseja o regime democrático, ele funciona sob qualquer regime político. Nele, um golpe de Estado para redimensionar a democracia é tão eloquente quanto uma redemocratização posterior. Até mesmo o nazismo e o fascismo foram-lhe favoráveis com bençãos liberais declaradas ou tímidas. A esquerda não pode se acostumar com este estado de coisas. A não ser que deseje ser a vítima sacrificial.
Os anarquistas, que estão fora deste leque esquerda-direita, sempre estão atentos aos movimentos pendulares da direita; também sabem que na luta antifascista são precisos os devidos cuidados para não serem escanteados, ou simplesmente sugados como elementos colaborativos e de diálogo que funciona para legitimar o bloco antifascista que agrega liberais e esquerdistas.
E para o bloco ou frente “democrática”, lembrava Errico Malatesta, os anarquistas não servem aos outros para legitimar a restauração da ordem.
O anarquista que entrar nessa não é ingênuo. É somente mais um ressentido da ocasião que desconhece, “por ciúme ou por desfeita” a própria história dos anarquismos. Na luta antifascista, o anarquista não faz parte do coro, nem simplesmente “desafina”, produz o escândalo da coragem no duelo entre espadas, e uma atitude desconcertante.
R A D. A. R
Ato de neonazistas em apoio a Jair Bolsonaro
Ódio nazista se espalha pela internet brasileira
Polícia de SP vê aumento de movimentação neonazista e identifica grupos
Nazistas brasileiros veneram Bolsonaro
O integralismo brasileiro nunca deixou de existir
A Frente Nacionalista pode ser a nova face do neofascismo brasileiro
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