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observatório ecopolítica

ano IV, n. 66, abril de 2020.

 

Invisível é o coronavírus (!)

 

1. Diante do medo colocado pelo novo coronavírus e a Covid-19, proliferam artigos, depoimentos e recomendações plausíveis como precauções diante da possibilidade da “quebra” da economia capitalista. A ciência comparece como o discurso “técnico” a ser seguido, para não haver a paralisação da economia. A recomendação principal das autoridades internacionais, científicas e governamentais, cidadãos e populações ditas vulneráveis é de moderação nas condutas por todxs.

 

2. Este novo coronavírus chegou pelos estratos socioeconômicos superiores; logo, a população vulnerável é essa. Por e para ela, é que as medidas de distanciamento social e isolamento foram projetadas com o objetivo de conter o vírus e de adiar sua descida aos estratos inferiores. É um pouco do que se aprendeu, até agora, com China e Europa.

 

3. Os cidadãos vivem as condições reais colocadas. Aqueles que dispõem do equipamento eletrônico para seu home office (e, com isso, a economia segue normalizada), para seus filhos matriculados em escolas particulares redimensionadas em Ensino à Distância – EAD, para as compras por internet, comunicações com amigos e parentes, com amplo uso do celular, ainda têm um tempo para um tanto de caridade.

 

4. Quem está fora do acesso ao equipamento eletrônico para trabalho e escola (de filhos e da sua própria formação universitária) fica sem emprego, no oscilatório, sem escola. Crianças e jovens do ensino público ainda não têm EAD. Estão em suas habitações, geralmente minúsculas, trancafiados, isolados ou quando muito fuçando em seu celular.

 

5. Notícia informa que em Paraisópolis (favela gigante em São Paulo) foi contratada equipe médica 24 horas/dia com aplicação de testes. Não se comenta quem paga por isso. Mas não se contesta que a favela é governada pelo PCC (Partido do Primeiro Comando da Capital). Lá, assim como em outras favelas e em zonas da periferia, pequenos comércios reabriram.

 

6. Efeito das recomendações do homem que senta no trono do palácio? Sim, afinal as sondagens mostram que as populações mais pobres e miseráveis são as que mais apoiam o governo do executivo. Expondo seus corpos, eles defendem o emprego, o seguro pelo voucher, a sua condição de vítima e sua monumental devoção ao divino. Mais uma vez, constata-se que política e religião formam um duplo indissociável.

 

7. Na Itália, a máfia já investe no comércio de máscaras e kits de proteção, dentre outros produtos, lançando mão de seu vasto know-how em parcerias legais-ilegais para liberação de produtos em alfândegas e passagem de produtos em “fronteiras”. Os EUA, por determinação de Trump, não só impõe medidas de protecionismo para garantir reserva de mercado para a produção e comércio de máscaras e respiradores, como, também, sequestra máscaras, equipamentos respiratórios e insumos para testes comprados da China por outros países. Interceptam escalas de aviões em seu território ou fora dele, pagando um preço maior do que o acertado inicialmente, como já ocorreu com a Alemanha, França e Brasil. A China, por sua vez, vende para quem pagar mais. Isto é capitalismo. Analistas chamam isto de “pirataria moderna”. Equívoco! Isto é expediente de corsários que servem ao Estado. Isto é capitalismo, que não existe sem tráfico, pois não há mercado legal apartado do ilegal.

 

8. Os governantes (executivo federal e estadual) procuram encontrar um discurso moderador. Pretendem afastar, no Brasil, a suposta distância entre o executivo e os governadores que o apoiaram na eleição para presidência e que discordaram em certo momento.

 

9. Primeiro foi o Ministro da Saúde apaziguando a circunstancial discórdia, enaltecendo o discurso científico. Depois foram os governadores e mídias sublinhando a mudança do pronunciamento moderado do homem que senta no trono do palácio, em nome da ciência e das advertências para que a economia não quebre em dois ou três meses.

 

10. Já se fala em aprovação de “orçamento de guerra” para a guerra invisível contra o coronavírus. De um lado, as prescrições científicas que funcionam tanto para redesenhar a conduta do presidente dos USA, como a do daqui em torno da moderação. De outro lado, busca-se o consenso para que a guerra contra o invisível permaneça real. Os pobres e miseráveis deveriam saber que viveram e vivem sob uma guerra permanente onde são mortos de fome, desemprego, desamparo social, polícia e política diariamente. Mas, são elxs que, paradoxalmente, saem como infantaria suicida para garantir que a economia não quebre.

 

11. Nos EUA, Trump e o governador de Nova Iorque (democrata, mas com relacionamento político amistoso) pareciam jogar em campos opostos. Não havia e nem há oposição entre eles, ambos são convictos defensores da racionalidade neoliberal. A oposição formal acontecia pela disputa (também eleitoral entre os dois partidos) em torno de medidas para garantir a economia e a saúde da população. Como aqui, e em qualquer lugar do planeta, a defesa da saúde da população dos estratos superiores é estratégica e a tática é a defesa da saúde de todxs. O discurso científico foi e continua decisivo, até mesmo para reduzir o crescimento dos defensores do negacionismo e do terraplanismo.

 

12. Lá como cá, a suposta oposição entre executivo e governadores, mostra o perfeito entrosamento entre o homem que senta no trono do palácio, seu ministro, outros ministros e grupos de apoio civis e militares. O discurso científico fundamenta e dá suporte. Primeiro, porque o saber do Estado está fundado na estatística, na economia política e na ciência política sim, ainda que o Ministério da Educação vocifere que as Humanidades não sirvam para nada; que as Humanidades não servem porque produzem palavrórios ideológicos. Ou seja, tudo que não estiver em conformidade com o discurso governante é ideologia perniciosa e perigosa.

 

13. O discurso científico fundamenta e dá suporte, também por produzir dados estatísticos que são divulgados, segundo a política dos governantes. As estatísticas e os governantes não produzem mentiras, mas verdades que embasam cientificamente políticas colocadas em funcionamento. Na China, nos EUA, no Brasil e na OMS a estatística, a economia política e a ciência política funcionam para dar sustentabilidade à economia capitalista fundada na racionalidade neoliberal e que dilui as extremidades do leque partidário. A OMS recomenda uma programática planetária com base no discurso científico sobre a saúde, e o estado atual das coisas pela Covid-19. Os Estados fazem os acertos democraticamente ou não (afinal, a economia capitalista sempre precisa de um regime político qualquer, seja totalitário, autoritário, democrático…). A racionalidade neoliberal tem o ideal de democracia na produção empreendedora, na conduta resiliente e na qualidade de vida. É sua realidade e utopia que as vende como sonho para muitos.

 

14. Procurar opor discurso político a discurso técnico é um perigo à liberdade. Quem viveu ou já leu sobre a ditadura Vargas ou a ditadura civil-militar recente sabe, perfeitamente, que elas se justificaram e glorificaram com base no discurso técnico sobre o político. Não há discurso técnico (científico) que não esteja fundamentado em política, seja como guerra prolongada por outros meios até o final da II Guerra Mundial, seja como segurança do vivo, desde então.

 

15. O terrorismo emanado da sociedade civil contra Estado e governos, até final do século passado, organizavam suas lutas contra o terror do Estado nacional. Desde Al-Qaeda e Taleban o terrorismo passou a ser invisível. O ataque vinha e vem de qualquer lugar; de lugares não identificados alvejando edificações emblemáticas do domínio capitalista e as pessoas que ali estavam. Começou, assim, a era de um terrorismo transterritorial. A caça a este terrorismo acionou os sistemas de espionagem eletrônica, produziu homicídios (como o de Osama bin Laden) e festivas manifestações populares em nome da eficiência e segurança do controle eletrônico sobre o terrorismo transterritorial. Ao mesmo tempo, o aparato jurídico penal, passou a produzir legislações antiterroristas contra associações de contestação e revolta produzidas internamente. O invisível tinha de ser identificado e o foi. No Brasil, principalmente os adeptos da tática black bloc. Nisso houve estatística, economia política e ciência política.

 

16. Toda a adesão ao conhecimento técnico que o aparta da política conta com o desconhecimento voluntário sobre a produção de verdades. Traz em si, inicialmente, a eficiência da conduta moderada que a qualquer momento pode se transformar em autoritária e totalitária, demonstrando sua eficácia. Isso não é paranoia, é história-política. É o prenúncio dos autoritarismos. Da mesma maneira, a oposição verdadeiro-falso é o prenúncio de totalitarismos. Identificar líderes autoritários como populistas é apenas um jogo de cena que alimenta a mesa abastada do analista de gabinete.

 

17. Então, quando a OMS elabora sua programática e a administra, antes de tudo está em jogo a boa governança planetária, sem provocar mais riscos do que aqueles tantos com os quais neoliberais estão familiarizados. Quem vive perigosamente são as populações pobres e miseráveis, com ou sem coronavírus. Sua situação ficou mais agravada. Só isso.

 

18. Em períodos de guerra, as grandes indústrias foram readaptadas para produção de armamentos. Hoje, durante a pandemia, empresas e indústrias se readaptaram para produzir aparelhos hospitalares, álcool gel, etc. Com guerra, ou pandemia, os grandes mercados continuam a todo vapor. O comércio de varejo amplia seu alcance pela internet. O mercado redirecionado continua funcionando e seu lucro não para. Falar em crise econômica em macro escala não faz sentido. As quedas nas bolsas provavelmente indicam um momento de readaptação. O dinheiro segue em fluxo. Industriais e empresários não tem o que temer, enquanto isso seus funcionários tem os salários reduzidos justificados pela queda do lucro. Há uma história mal contada aí. O medo do homem que senta no trono do palácio certamente não é da economia, mas a possível reação das milhares de mãos de obra barata. Estas, sim, veem seu ganha pão se dissipar na rede, ou tem que se submeter a frações de seu salário, justificados pela caridade do empregador que diz tomar essas medidas para evitar demissões.

 

19. Então, se alguém deve morrer para a economia não “quebrar”, devem ser os pobres e os miseráveis. E eles, paradoxalmente, que majoritariamente apoiam essas medidas. Servem de parâmetro latente para futuras medidas de abertura dos distanciamentos sociais e do isolamento. São a prova viva da possibilidade da política do isolamento vertical defendida pelo executivo. Explicitam a eficácia do governo dos súditos pelos súditos alimentando as estatísticas, a economia política e a ciência política. As medidas paliativas de complemento salarial, apenas incentivam a retomada de suas atividades como autônomos.

 

20. Enquanto isso, os empregados são objeto de experimentos com reduções de salários, férias compulsórias, sobretrabalho computo-informacional, gestão da vida em casa com os filhos, cuidados com contaminações… porque sabem não haver testes confiáveis e em quantidade suficiente que detectem o vírus a serem acionados, assim como disponibilização de máscaras necessárias e suficientes (hoje em dia já se incentiva como fazer sua própria máscara segura com tecido, o que até dias atrás era condenado) … e que começam a falar pelas redes sociais digitais que as estatísticas mentem.

 

21. Mas eles sabem que se elas mentem é para seu bem. Os cadáveres começam a aparecer mais visivelmente, os velórios e sepultamentos abreviados, muitas vezes, sem atestado de óbito. Toda exceção é constitutiva da regra.

 

22. Dentre os cientistas começam a aparecer os que lançam suas profecias. Não pretendem esconder a inclusiva relação política e religião, e que Deus está acima de todos.

 

23. A racionalidade neoliberal está se atualizando. Muitos perderão empregos com as acelerações nos usos computo-informacionais. A internet nunca foi mais do que espaço de liberdade capitalista (antes de ser democrática ou totalitária). Muitos continuarão sem água, saneamento básico, serviços de saúde, ainda que de vez em quando bradem contra os seus vizinhos súditos que engrossam polícias, milícias e marchas. A saúde do Estado é a saúde dos empresários. Hora de enfrentamentos vindouros.

 

24. Estamos numa situação fértil para os que resistem ao consenso ou à unanimidade em torno do discurso científico de Estado. Esta não é uma novidade; só não pode estar acomodada à retórica da resistência. Isso depende de raiva e paciência. Está em andamento um inventivo como produzir resistências, um como procriar ajuda mútua, como não deixar de brotar ações diretas e experimentar autogestão. O que vem por aí quanto ao emprego, o uso de home office, de EAD… e conformidade ou moderação nos isolamentos em nome da saúde deficitária não está mais na penumbra.

 

25. …

 

Possíveis efeitos do invisível (…)

 

1. Os possíveis efeitos do novo coronavírus se anunciam como medidas de economia, política, segurança em saúde, climáticas, de desenvolvimento sustentável capitalista e modulações nas condutas de todos e cada um. Efeitos surpreendentes de resistências podem emergir…

 

2. O saber estatístico encontra-se em uma encruzilhada. Ficou explicitado que aos números de casos contabilizados, devem ser acrescentadas as subnotificações. E há também as não notificações de contaminações e mortes…

 

3. Constata-se que os poucos resultados obtidos em escassos exames realizados até agora, se deve não só à falta de laboratórios equipados. Não há testes suficientes para o novo coronavírus. O Brasil ocupa o último lugar do ranking dos países que aplicam testes… E por aqui, também faltam máscaras, insumos para a farmacologia, respiradores, médicos, equipes de enfermagem…

 

4. Em alta: produção caseira de máscaras de pano (preferencialmente algodão), com instruções sobre uso, higiene e devido acondicionamento. Populações chamadas de vulneráveis (pobres e miseráveis que habitam periferias e favelas) estão convocadas à nova ocupação e ao novo ramo do empreendedorismo.

 

5. Em altíssima: a chamada disputa pela verdade entre, de um lado, o executivo na figura do homem que senta no trono do palácio, com ou sem a cordata condução do seu Ministro da Saúde e, de outro lado, certos governadores, OMS e o Ministro da Saúde (quando se intitula técnico), além de uma parte considerável da imprensa.

 

6. O chefe do executivo faz pronunciamentos preparados para que sua imagem repercuta como governante moderador. O pronunciamento oficial semanal (que, geralmente, é contradito em lives diárias), em suas linhas e entrelinhas não altera a obstinação do homem que senta no trono do palácio em intimar a volta ao trabalho porque todos precisam retomar o labor diário para o bem da economia e do sustento de sua família. Enfatiza que seu governo está muito envolvido com cuidados na defesa da saúde da população. Com isso a volta ao trabalho funciona como a devida retribuição de seus súditos.

 

7. Dizem haver uma “junta militar” que verdadeiramente governa o país; que ela pretende fazer do homem que senta no trono do palácio uma Rainha da Inglaterra. Faltam evidências, sobram suspeitas e especulações. É sempre bom lembrar que o homem que senta no trono do palácio foi eleito pelo sufrágio; que provém de uma patente militar subalterna da mais disciplinar das instituições. Mesmo aposentado, nunca esqueceu que aprendeu a sempre obedecer aos seus superiores. E o seu governo está cercado pelos superiores da patente dele. Ele diz obedecer ao seu povo que o elegeu, aos superiores de patente, à pátria e a Deus.

 

8. Hoje, o chefe do executivo e os empresários próximos querem que a economia “não quebre”. O chefe do executivo comanda seu subordinado no Ministério da Saúde, que se diz técnico e segue a OMS. O homem que senta no trono do palácio declara que o médico não abandona o paciente; que é o paciente que substitui o médico. Faltou dizer que isso ocorre no seguro saúde privado. No público é uma excepcionalidade.

 

9. A oposição entre o discurso técnico e científico e o discurso político é falsa, mas funciona como verdadeira produção da verdade para os interesses do executivo. O discurso oficial é político, eleitoral, econômico, de gestão de uma frágil segurança da saúde. A disputa sobre a cloroquina é somente a ponta do iceberg. O discurso de certos governadores, que não se pretende oficial, também é, estrategicamente, um discurso de produção de verdade. Nesta luta, quem sairá vencedor?

 

10. A flexibilidade do isolamento social é recomendada pelo executivo e por certos governadores. Há uma coalizão de forças se formando.

 

11. As pessoas começaram a sair de suas habitações (há um tanto de gente que permanece sobrevivendo nas ruas). Uns creditam o aumento de circulação de pessoas às palavras e lives do homem que senta no trono do palácio. Outros lembram que as pessoas pagam contas no início do mês e têm que ir às ruas. Alguns falam que os mais pobres sairão mais ainda no decorrer da semana em busca do benefício quase insignificante ofertado pelo governo… E há os que compreendem o aumento da circulação fundado na liberdade constitucional de cada um, à sua consciência e que Deus protege a pátria e cada um. Conduta que incrementa o sensível abalo ao isolamento pessoal e social. E há um tanto de comércio livre que reabre suas portas, ambulantes vendendo algo. É como se atestassem a ilusão de que ‘o pior já passou’.

 

12. Por aqui, ainda não houve o esperado pico, sempre anunciado para semana seguinte. Mas ele virá. Não há testes nem máscaras suficientes (sequer para os seletivamente escolhidos pelo governo: equipes médicas e a chamada segurança pública), não há força política no exterior para se obter equipamentos e insumos. A subserviência aos estadunidenses e as besteiras ditas contra a China colocaram o Brasil no final da fila. Há ministro de relações exteriores? O governo Trump intercepta compras brasileiras para a saúde pública negociando a preços mais vantajosos com a China; a China parece, neste caso, desconhecer quem é o Brasil e que aqui tem gente também. A China já acena a possibilidade de nova venda para alguns estados brasileiros com novas regras, incluindo pagamento adiantado e preço dobrado. Ambos os governos querem lucros, equacionamento do problema internamente; enquanto o governo Trump mira a reeleição, o chinês mira o controle do saber sobre o novo coronavírus…

 

13. Muitas outras doenças não tiraram férias, não foram para o isolamento, e batem à porta do sistema de saúde.

 

14. As crianças já descobriram que as férias extraordinárias viraram uma rotina entediante e começam a perturbar seus pais trabalhando em home office ou atordoados com efeitos de redução de salários, desemprego e na busca pelo salário desemprego. E ainda há os desempregados e pobres com seus filhos sem a comida que a escola serve. Pouco importa o que a escola ensina… E isso não é de hoje. Se a instrução escolar está na bancarrota há muito tempo, a sociabilidade obediente permanecerá eficiente e eficaz até quando?

 

15. Há pedintes pelas ruas: querem dinheiro, comida, comida, dinheiro, dinheiro, comida… O número cresce. As estatísticas não dão conta, nem a caridade. É a parte visível que independe da invisibilidade do vírus. Não há guerra. Somente a guerra permanente que o capital e o Estado declara aos súditos. Hoje, ela expõe a miséria destas pessoas que aceitam a sujeição por dinheiro, comida e, quem sabe, um álcool gel!

 

16. Falam que os velhos morrem abandonados em asilos. É o morto-vivo que a produtividade dispensa; que a família se livra; que a sociedade se despede.

 

17. Os estratos superiores introduziram o novo coronavírus e julgam estar cercados de garantias para sua vida biológica. Será que os hospitais de excelência que os receberam no início da epidemia possuem todos seus leitos de UTI ocupados por contaminados?

 

18. Nos estratos inferiores, majoritariamente, eles acreditam no condutor laico e religioso (devem trabalhar para si e para o Brasil!) e fortalecem empresários e as forças políticas que apoiam o homem que senta no trono do palácio.

 

19. Os estratos intermediários, como sempre, permanecem atônitos e oscilam. Há os que apoiam o governo com ou sem o atual Ministro da Saúde e o seu discurso fragmentado, ora fundado na OMS, ora apenas declarando haver “um só comandante”, ou seja, o presidente. Há os que batem panelas. Há jornalistas de muitos lados e muitas empresas. Nada noticiam que escape à posição política de sua empresa.

 

20. O homem que senta no trono do palácio vai às ruas. Quer mostrar que é o escolhido, não pega esta “gripezinha”, é livre, um novo Superman? Usa do discurso técnico submetido ao político para sua vontade e a dos empresários que o sustentam; usa de Deus e do Brasil como o que está acima de todos e de tudo; sinaliza que qualquer substituto eventual no Ministério da Saúde será seu subalterno; que os militares são uma de suas bases, juntamente com o povo trabalhador.

 

21. E, segue o jogo… Diante do invisível, as visibilidades.

 

22. Mais de 25 mil presos foram colocados fora das prisões após decisão do Conselho Nacional de Justiça (Recomendação 62 do CNJ de 17/03/2020) e da presidência do STF. Pelo artigo 2º. Os jovens internados devem ter seus prontuários reexaminados para receberem medidas socioeducativas a ser cumpridas em meio aberto e que as medidas de internação provisória sejam evitadas. O Ministro da Justiça e da Cidadania foi contra. Até mesmo essa medida excepcional de equacionamento do contingente encarcerado nas prisões é contestada pelo governo atual. Simplesmente porque a prevenção da infecção não deve passar pela vida dos mortos-vivos encarcerados.

 

23. Por que não transformar as prisões em hospitais? A gestão compartilhada da prisão passa pelos devidos acertos entre o sistema penal, penitenciário e organizações ilegais. Isto é, lucro econômico e político. Se a prisão não serve para o que se propõe, que tal a experimentação de transformá-la em hospital? Corre-se o risco de ter que aceitar sua falência constatada por todos os técnicos, mas nunca reconhecida politicamente.

 

24. A matança que se avizinha indica que lá na frente, provavelmente a taxa de desemprego aparecerá reduzida nas estatísticas, assim como o uso do dinheiro público para cobrir os rombos empresariais será enaltecido como a medida certa de sempre. Funcionará, também, como complemento à reforma da previdência?

 

25. O sistema de saúde é pouco equipado, a economia política depende do dinheiro do Estado, e este não falta para sanar problemas de liquidez, de capital de giro…

 

26. O isolamento social pelo planeta mostra as melhorias no ar que se respira com a queda dos índices de poluição, o desaparecimento de neblinas poluentes nas cidades chinesas, o reaparecimento do Himalaia, o ar melhor em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nos EUA…

 

27. A questão climática, escanteada por Trump e seus asseclas, abalará o presente? É imediata para um capitalismo que levará adiante a sustentabilidade depois do novo coronavírus? Está explicitada a questão do clima: a arrogância do lucro! A defesa da sustentabilidade vem por forças que pretendem civilizar o capital e o capitalismo, assim como os sujeitados em geral. Após a pandemia tremerá a mesa resiliente de negociações? Ou ela estremecerá com as práticas resistentes? Nada é fixo, constante e imutável!

 

28. …

 

 


O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br

 

 

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