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Boletim Informativo Quinzenal
FUNDASP - Fundação São Paulo Mantenedora da PUC-SP e do UNIFAI.

nº02
15/12/2021

 

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Ariano Suassuna e Paulo Freire. Recife, década de 1990. Fotógrafo desconhecido.
Acervo dos herdeiros de Ariano Suassuna.

QUERIDO AMIGO ARIANO

Carta escrita por Paulo Freire, em 31 de maio de 1968, desde Santiago, no Chile, a seu amigo Ariano Suassuna. Na correspondência, Paulo Freire agradece ao "fraterno, risonho e confiante" amigo pelo apoio "desde o primeiro momento" de perseguição política, que resultou no exílio de Freire naquele país. Esse importante documento faz parte do acervo documental de Ariano Suassuna, que foi organizado, em 2007, sob coordenação do professor Carlos Newton Júnior (Departamento de Artes, CAC/UFPE). .

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Carta manuscrita, em caneta azul sobre papel timbrado no canto superior esquerdo, com nome e endereço do autor, então residindo em Santiago, Chile. Data no canto inferior esquerdo (31 de maio de 1968). Há dois acréscimos ao texto: no canto superior direito e no canto inferior direito, logo após a assinatura.


Querido amigo Ariano: 

Há poucos dias lhe escrevi, perguntando-lhe, inclusive, como andava minha situação. Volto agora a fazê-lo, depois de ter sido informado pela imprensa, brasileira e chilena, do resultado de meu processo e de ter recebido um telegrama amigo de Monte e Paulo Cavalcanti, confirmando a notícia. 

Escrevo-lhe agora, meu velho amigo, para dizer-lhe de minha sincera gratidão pelo interesse que você teve, desde o primeiro momento, por meu caso. 

Nunca me esqueço de sua valentia de querer bem, quando, ao chegar ao aeroporto do Recife, vindo de Brasília, num momento em que tudo era penumbra, interrogação, desconfiança, medo, denúncia, fuga, negação; em que os "amigos", antes e depois que o galo cantasse — não importava — diziam: "Quem é? Não conheço. Jamais vi este homem! " Ou, o que era pior: "Conheço este homem, sempre desconfiei de suas intenções malvadas", lá estava você, fraterno, risonho, confiante, ao lado de Monte, ambos abraçando-me. Abraçando-me, quando cumprimentar-me, simplesmente cumprimentar-me, era uma ameaça a quem o fizesse. Você, Monte e outros, muitos outros, foram o contrário de alguns. Entre estes, nunca me olvido também, sem rancor e sem ressentimento, do testemunho de um professor da universidade, que, ao dobrar uma esquina — a do cinema São Luiz — me divisou a uns 10 metros de distância e fez então o mais difícil: andou de lado... 

Você, pelo contrário, veio sempre de frente ao meu encontro, a nosso encontro. Encarcerado, você procurava Elza, enquanto os que andavam de lado perderam nosso endereço... 

Nesta carta "sencilla" nada mais lhe direi além do meu, do nosso muito obrigado. 

Do amigo-sempre, 
Paulo Freire 

Santiago, 31.5.68. 

Acréscimo no canto superior direito: 
(Tive medo de ofender a Monte — como a Paulo — perguntando quanto devo. Que me diz você? Que orientação me dá?) 

Acréscimo no canto inferior direito: 

Gostaria de escrever a Paulo Cavalcanti. Para onde?

 

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Foto de 1982 com cartaz do movimento Anarco Punk na fachada do TUCA
Fonte: Arquivo Movimento Punk São Paulo, Cedic/PUC, 1982

TUCA REVISITADO

O aluno de Jornalismo, e também funcionário da PUC-SP, Cláudio de Oliveira, (www.facebook.com/claudiomarvado.oliveira) foi brilhantemente aprovado em sua banca de TCC, no dia 30/11/2021, sob orientação do professor Júlio Wainer, com um ensaio sobre o TUCA, Teatro da Universidade Católica, cuja singularidade da abordagem – em meio a tantas produções sobre o teatro – reside no fato de que Cláudio colocou em destaque algo pouco ou nunca abordado: a presença e protagonismo dos punks e anarquistas na história do TUCA.

Em suas palavras: "O Teatro TUCA tem sido um espaço de debates, reflexões e resistência contra os desmandos autoritários do estado burguês nos últimos 50 anos. Esta história foi construída a partir da edificação do Auditório Tibiriçá, da concepção do espetáculo Morte e Vida Severina, e, posteriormente, já com o nome de Teatro TUCA, por atores pertencentes aos movimentos sociais, às artes, à academia e à sociedade como um todo. Dentre estes atores, refletiremos sobre a atuação dos grupos libertários, como os do Movimento Anarquista e do Movimento Punk a partir das histórias vivenciadas por estes no TUCA. Passados mais de 50 anos de sua inauguração, são muitos os acontecimentos que colaboraram para a construção simbólica do TUCA (...). Em tempos em que muitos espaços culturais se transformaram em estacionamentos e igrejas evangélicas, (...) o TUCA resiste bravamente com seu prédio que mantém as marcas da história em suas paredes (...).

Agradeço imensamente o apoio da FUNDASP, sem o qual não seria possível cursar a Graduação em Jornalismo".

 

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Cartaz do filme de Sofia Missiato Barbuio, (missiatosofia@gmail.com)  TCC em Jornalismo.

VESTÍGIOS DA ROÇA

Antonio Cândido e seu clássico "Os parceiros do Rio Bonito", da década de 1950, -  que estudou as transformações que o latifúndio e a crescente urbanização provocavam na sociabilidade e na cultura caipiras, ambientando seu estudo num povoado de Bofete-SP chamado Rio Bonito -, são ecos, ressonâncias, timbres que aparecem no documentário que Sofia Missiato Barbuio apresentou no dia 10/12 a uma banca de avaliação de TCC de Jornalismo, cujo orientador foi o professor Renato Levi Pahim.

O filme de Sofia é ambientado na zona rural de Santa Rita do Passa Quatro-SP, cidade em que a aluna nasceu e vive, o que faz do seu filme também um percurso sentimental pelo assunto das configurações atuais do caipira, de sua vida na roça e da sociabilidade entre eles.

O documentário tem uma marcante inflexão de crônica visual, usa a macrofotografia e deixa toda a narrativa na voz dos entrevistados. A aluna obteve a nota máxima da banca examinadora.