REENCONTRO PUC-SP
Agora é no Campus

Desde março de 2020 vivemos as agruras da pandemia da COVID-19, e elas não foram e não são poucas, nem leves.

Nos últimos tempos, com as vacinas e a disseminação das informações sobre os cuidados necessários, em muitos países do mundo e no Brasil, a educação volta a funcionar, tanto quanto possível, presencialmente.

Naturalmente, os imprescindíveis cuidados de biossegurança e o apoio social às necessidades das comunidades das escolas e universidades precisam ser acolhidos e respeitados. Aliás, adotar os cuidados e as boas práticas delineadas pela ciência e difundi-las, recusando e, se for o caso, denunciando negacionismos e notícias falsas são gestos de solidariedade, de cidadania e, em nosso caso, também de formação acadêmica.

Nossa grande expectativa é de que 2022 seja um ano de (re)encontro: reencontro presencial nos campi da PUC-SP, encontro com o controle da pandemia e reencontro com possibilidades concretas de começar a tirar o atraso, voltando com força a construir um país justo, democrático, solidário, menos desigual e iníquo. A PUC-SP e as outras universidades têm aí um papel relevante a cumprir.

2022 também é o ano em que se comemora o Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e o Bicentenário da Independência do Brasil (1822). São boas oportunidades para recuperar os sentidos, entre outros, de renovação e de construção do futuro do Movimento Modernista (a arte com a qual nos brindou Elifas Andreato faz essa menção), e de pertencimento, soberania e decolonialidade que a reflexão acerca da Independência do Brasil pode fortalecer e animar.

Sobreviventes que somos da intensa e dolorosa experiência da pandemia desde 2020, ainda é hora de (todas/os juntos) viver o luto daqueles que foram impedidos de permanecer conosco, e de reconstruir o país das tantas lamentáveis consequências sociais, renovando as esperanças e os laços entre nós e com a PUC-SP!

Por isso, preparamos esse momento de reencontro antes do início das aulas (de 21 a 24/02/2022) para celebrar a vida, para conversar sobre o que estamos passando, para habitar de novo nossos campi e apresentá-los àqueles que ainda não tiveram a chance de desfrutá-los.

Antes de terminar, e porque “agora é no campus!”, vamos lembrar a quem já conhece e apresentar aos que chegam agora ao nosso convívio presencial um pequeno conjunto de informações e links que te ajudarão a (re)conhecer melhor a PUC-SP, a organizar sua vida universitária presencial e a vivê-la em toda a sua plenitude. Vamos lá!

Para que esse novo momento comece de maneira segura a toda a comunidade, fique atento e siga as regras de biossegurança vigentes. Esperamos que a programação do “Reencontro” agregue à vida universitária e contribua para uma retomada marcante das atividades presenciais, uma verdadeira celebração à volta de todas e todos à convivência nos campi da PUC-SP.

Travamos hoje uma guerra com muitos inimigos: pandemia, inoperância, mentira, descaso, interesses inconfessáveis, projetos políticos perigosos, antidemocráticos.

Sabemos que a resiliência é constitutiva da vida e esta tragédia (em muito evitável) será superada, mas não pode ser esquecida. O trabalho de memória será tarefa também das universidades.

Quis a história que em 2021, no auge da pandemia da COVID-19, celebrássemos os 75 anos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC-SP.

Universidades são tardias no Brasil, foram proibidas pela coroa portuguesa e alvo de discussões infindáveis na 1ª República. Apenas em 1920 criou-se a primeira universidade brasileira (Universidade Nacional, RJ). Em São Paulo a USP foi instituída em 1934, a PUC-SP em 1946 e está entre as primeiras dez do país.

Em 1946 o Brasil tinha poucos milhares de estudantes e um pequeno punhado de universidades. Universidade era para poucos. 76 anos depois a realidade é outra. São mais de 2.000 instituições de ensino superior e perto de 300 universidades. Os estudantes beiram a casa dos 08 milhões, metade deles em universidades, o que continua insuficiente para as proporções e desafios do país.

Penso em universidades como cachoeiras. Guimarães Rosa as descreve assim: "o senhor vê: existe cachoeira... Mas cachoeira é barranco de chão e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma?

Assim como cachoeira que retomba e se mistura às aguas por onde cai, produzindo energia limpa, a PUC-SP e o sistema universitário brasileiro retombam e expandem a produção de caminhos e de futuro, são potência do conhecimento que soluciona problemas, inclui populações e participa do desenvolvimento social. São energia limpa, que cria riqueza, possibilidades de justiça e equanimidade.

A PUC-SP fez-se cachoeira, acertou, errou, viveu e superou crises dolorosas, mas inovou em áreas de conhecimento que, em alguns casos, se formaram no Brasil a partir de sua experiência. Combateu a ditadura, inovando em formas de organização acadêmica. Inovou também ao reinventar a universidade para enfrentar a pandemia.

A PUC-SP tornou-se exemplo de espaço democrático, emblemática em sua estrutura colegiada escolhida por pares. Agora em 2022, seus primeiros 76 anos estão por toda parte: em como é percebida, nas marcas que produz na sociedade, no reconhecimento de sua qualidade acadêmica, nas possibilidades e desafios que antevê.

Chegamos até aqui, mas é preciso mais. Se ambicionamos um futuro como sociedade, precisaremos da universidade. Ela deverá assumir compromissos que sejam guias, demarcando, inclusive, desafios prementes:

• definir participação substantiva na solução dos problemas socioambientais que ameaçam a vida das novas gerações e do planeta;

• ajudar a superar a extrema desigualdade que carrega consigo a miséria, o individualismo exacerbado, o compromisso apenas com a satisfação no presente;
• avançar na inclusão dos não brancos, dos que habitam as periferias, dos oriundos de famílias de baixa renda, das mulheres, das pessoas com deficiência... Trabalhar pela inclusão para atrair e transformar jovens vidas em vidas cidadãs. Não há pessoa que “não mereça” a experiência da universidade.

São desafios inadiáveis. Podem parecer intransponíveis. Não são. Como diz Mario Quintana, “não há nada como um sonho para criar o futuro. O que é utopia hoje, pode ser realidade amanhã.”

Depois de praticamente 02 anos de funcionamento quase totalmente online, finalmente chegou a hora de voltar 100% ao presencial, mantendo todos os cuidados ainda necessários. Hora de voltar à fremência das relações face a face, tão importantes à formação acadêmica e à vida social de cada um e de todos nós. Hora também de fazermos presencialmente o difícil, mas importante, luto daqueles que perdemos nesses tempos duros.

Hora de reencontro! Novos tempos nos esperam. Como sempre fazemos na PUC-SP, estaremos juntos.

Profa. Maria Amalia Andery
Reitora da PUC-SP
(texto baseado em discurso proferido em agosto de 2021 na Sessão Solene dos 75 anos da PUC-SP)