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A PEQUENA SAUDÁVEL MARIA ANGÉLICA

Jornal Maturidades – Qual o seu nome?
Angélica – Maria Angélica de Lacerda Drumond.

JM – Qual sua idade?
Angélica – 90 anos.

JM – Quantos irmãos você teve?
Angélica – Éramos 5 mulheres e 4 homens. Imagina? Morávamos em uma casa com 8 dormitórios e um grande quintal.

JM – De onde você é?
Angélica – Sou de Jundiaí.

JM – Com quantos anos você veio morar na cidade de São Paulo? E onde estudou?
Angélica – Com 9 anos vim para cá e fui estudar na Escola Estadual Caetano de Campos. Na época, fazíamos ginásio em 5 anos. Não existiam cursinhos. E o vestibular só acontecia em março.

Destaque – Escola Normal Caetano de Campos, fundada em 1846, é um ícone do ensino e da cultura na cidade de São Paulo. No ano de 1894, foi transferida para o prédio da Praça da República, já com o nome de Escola Estadual Caetano de Campos, como é conhecida até hoje. Atualmente funciona na Praça Roosevelt, no prédio antes pertencente ao Colégio Porto Seguro.


JM –
Até onde você chegou nos seus estudos?
Angélica – Eu fiz graduação na USP em Geografia e História. Das 5 meninas da minha família, eu fui a única que fez faculdade. Imagine que na minha turma só havia 12 alunos. Eu entrei na faculdade em 1938.



Memória – A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Geografia e História, recém-criada em 1934, funcionava na Escola Estadual Caetano de Campos. E, juntamente com as outras faculdades já existentes em São Paulo, integrou a recém-fundada, também, em 1934, Universidade de São Paulo. O curso que a Angélica frequentou e onde se formou, era no terceiro andar do prédio da Praça da República e só mais tarde foi para a Rua Maria Antonia.  Ela, quando solteira, morava na rua Tanabi, e a proximidade com a Av. Água Branca ( hoje Av. Francisco Matarazzo) e a Rua Turiassú, facilitava sua locomoção.

JM – Você exerceu a sua profissão de formação?
Angélica – Não. Após a minha formatura eu me casei... E casei com um colega da turma da faculdade, Carlos Drumond. [risos]

JM – Por que você não trabalhou?
Angélica – Naquela época só trabalhava a mulher que o marido não conseguia sustentar. Não foi o meu caso. Meu marido, assim que nos formamos, foi convidado para ser assistente do Dr. Plínio Airós, especializado em Etimografia [história dos povos]. E meu marido me dava mesada, bem como para as nossas filhas, netos...

JM – Quanto tempo vocês ficaram casados?
Angélica – Foram 54 anos juntos, até a morte dele em 1997. Eu me casei em 1943, no tempo da guerra. Aliás, tudo mudou depois da guerra de 1945.

História – Durante o período da guerra houve mudanças no cotidiano dos brasileiros: a criação de cupons de racionamento para açúcar, carne  e combustível (gasolina); pães com farinhas misturadas (trigo, fubá, batata etc.); filas nas padarias, desde a madrugada; redução do transporte coletivo; black-out obrigatório em toda orla marinha e ocasional nas cidades do interior, quando tocavam os sinos das igrejas e os apitos das fábricas. Na cidade de São Paulo, grupos de Escoteiros ajudavam no controle da observância do black-out, nas casas de família e nos prédios de apartamentos.

JM – Qual a principal mudança para você?
Angélica – Até chegar a guerra, as mulheres usavam chapéu e luva, por exemplo. Não saíam sem meia, usavam manga mais curta [até o cotovelo]. Eu gostava de ser bonequinha, daquela moda... [risos]

JM – Quantos descendentes você tem?
Angélica – Tenho duas filhas, Maria Lúcia e Ana Cristina, seis netos e seis bisnetos.

Atualmente...

JM – Como é a questão da longevidade na sua família, já que você tem 90 anos?

Angélica – Todos os meus irmãos morreram com mais de 90 anos. Tenho uma irmã que chegou aos 99 anos! Mas se foram sem problemas de saúde. Acho que morreram de velhice mesmo.

JM – O que você acha que influenciou em tantos anos de vida?
Angélica – Talvez a alimentação. Nossa comida era feita com banha de porco, de coco... [risos] Antigamente também não se ia ao médico por qualquer coisa, fazíamos compressa da água vegetomineral e o inflamado sarava. Nos machucados a gente colocava água oxigenada e sal... Hoje, todo mundo corre para o PS. E olha que tínhamos quintal de terra e eu, por exemplo, estava sempre com o joelho ralado e perdia a unha porque andava muito descalça...

JM – O que a longevidade lhe traz?
Angélica – Hoje estou com artrose, mas não tenho dor. Certamente isso é da idade!

JM – Desde quando você está na UAM da PUC/SP?
Angélica – Desde 1995 e só saio de lá quando não puder mais andar. Estou no meu 16º ano por lá. Já faz um tempão, mas a Naidinha é a mais antiga na UAM, pois está lá desde outubro de 1991.

JM – Como você chegou lá?
Angélica – Eu vi uma notícia na revista Veja sobre o curso para a terceira idade. Sou católica e acredito na mão de Deus... Se tivesse ficado viúva antes de ter ingressado na Universidade Aberta à Maturidade da PUC/SP, não teria ido para lá. Meu marido foi o meu incentivador. Inclusive, foi comigo fazer a matrícula. Na época, os dois netos que moravam comigo também apoiaram a iniciativa.

JM – Como é estar da UAM?
Angélica – Na UAM eu aprendo muito. No meu tempo nunca tive Biologia, por exemplo. Já fomos passear no Palácio das Indústrias, das Ciências.

JM – Como você está?
Angélica – Estou e sou calma. Nunca me estresso, não fico aflita. Desde que meu marido morreu eu moro sozinha. Aqui é um apartamento de uma pessoa idosa, com muitos móveis [risos]. Na casa dos meus netos não tem nada. Mas não me importo que digam que é uma casa de velha, porque é mesmo...



“Eu não deito durante o dia para não dormir demais”
Maria Angélica de Lacerda Drumond

 

Fotos e texto::
Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br
Célia Gennari
csgennari@gmail.com

 
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