Resumo:
Esta pesquisa objetivou investigar a potência da Rádio Comunitária Heliópolis FM (RCH) para se constituir em espaço de ação coletiva, na perspectiva de seus radialistas. Para tanto, resgata da história da emissora, princípios, forma de planejamento e atuação contextualizando com a história das rádios comunitárias no mundo e analisa os sentidos dos radialistas e diretores sobre seu papel na comunidade e na estrutura da União de Núcleos, Associações de Moradores de Heliópolis e Região (UNAS) mediante seus diversos projetos sociais na locais. O referencial teórico adotado é da Psicologia Social Sócio-Histórica especialmente a teoria de Lev. Vigotski sobre linguagem e sentido/significado, nas reflexões sobre transformação social de Silvia T. Lane, da dialética exclusão/inclusão de B. Sawaia, e na teoria da afetividade de B. Espinosa. A metodologia enquadra-se na perspectiva da pesquisa qualitativa de estilo etnológico, usando o procedimento de observação do funcionamento da rádio registrado em diário de campo, entrevistas individuais semi-estruturadas com os radialistas e a diretoria da emissora, além de conversas informais também registradas em diário de campo. Conjuntamente, foram analisados documentos da programação da emissora e de documentos sobre a Rádio Comunitária Heliópolis e da UNAS. Dessa forma, a análise dos dados segue a orientação de Vigotski da busca do subtexto do discurso obtido no campo. Compreendemos que a RCH é produto e produtora de subjetividades, mediante a produção de significados, e sentidos, e também é um instrumento de mediação das relações, na medida em que influencia na vida social, coletiva, e cultural. A história da RCH e a análise dos sentidos nas entrevistas, indicaram seu potencial por ser idealizada por lideranças da própria comunidade, administrada pelos moradores locais, sendo pioneira na conquista pela outorga, pela alternativa a mídia hegemônica, e também pela resistência no enfrentamento ao preconceito que a própria mídia produz sobre a comunidade de Heliópolis, transmitindo informações locais sobre a realidade. Mostrou também que a RCH desenvolve funções de utilidade pública, transmitindo informações da própria comunidade, incentivando bandas ou artistas desconhecidos; e também com uma função educativa, de formação dos locutores, e na transmissão de programas e vinhetas de informação educativa, cultural e jornalística, tornando-se uma estratégia de enfrentamento à alienação. Apesar de atualmente se observar o esvaziamento da esfera pública baseada na hipervalorização da intimidade, da privacidade, do retraimento e silêncio, consideramos este um norte que as RCs não se podem perder de vista. Neste sentido, refletimos que para superar a dicotomia entre esfera pública e privada é preciso atrelar a noção de comunidade a sua politização em busca de territórios capazes de motivar trocas de opiniões, vontades, e ideias, proporcionando bons encontros com o outro, e investindo assim na potência de ação coletiva, e no poder comum capaz de impedir os excessos desproporcionais entre si, como os que geram a miséria e a escravidão. Acreditamos que a RCH pode explorar ainda mais seu potencial educativo, cultural, participativo e político, a partir de sua afetação e potência de ação coletiva em conjunto com movimentos sociais, reforçando seu papel de denúncia, sua luta por direitos, por políticas públicas, pela democratização da comunicação, assim como pela democracia participativa
Palavras Chaves: Psicologia social sócio-histórica, Rádio comunitária, Participação social, Sentido/significado, Dialética exclusão/inclusão