Arte da Periferia, território e transformação social: análise psicossocial dos afetos no Teatro Mutirão, do Coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes. Dissertação (Mestrado em Psicologia)Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2017

 

Resumo: Apenas 10% das cidades mundiais são consideradas Cidades Globais, capazes de acolher e fomentar o capital financeiro mundial, dentre elas a Cidade de São Paulo. Contudo, São Paulo se tornou o maior detentor no número de pessoas morando em aglomerados subnormais, como favelas e ocupações. Aliado a este processo, temos nas regiões pobres da cidade, a segregação material, o controle político e cultural – expressos pelo estigma, pelo assistencialismo das Organizações Sociais Civis e pelas chacinas dos jovens. Por outro lado, nestes territórios periféricos há uma grande diversidade de grupos populares que se contrapõe ao modelo hegemônico excludente, tendo a arte como principal manifestação popular. Dentre as manifestações populares e artísticas destaca-se o Coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes, fundado há 15 anos, na zona leste de São Paulo. Este Coletivo busca afirmar o que denomina como “trabalhador que faz arte”, ou seja a produção simbólica e estética realizada na perspectiva da luta de classes. Uma arte comprometida e engajada socialmente, tendo como destaque o que denominam de “Teatro Mutirão”. Por essa razão, essa dissertação elaborou conjuntamente a este Coletivo, por meio da Pesquisa Ação Participante, os objetivos de: a) sistematizar e analisar o ‘Teatro Mutirão’ e sua Oficina, destacando seus pressupostos teóricos e metodológicos; e b) realizar diálogo entre o Teatro Mutirão com o pensamento de VIGOTSKI e estudos sobre Brecht. Logo, percebemos que a forma com que atua o Coletivo Dolores, em particular através do ‘Teatro Mutirão’, destaca-se de diversas manifestações culturais devido a sua aliança aos movimentos sociais, sua atuação direta nas contradições dos modos de produção – seja na produção estética, na forma organizativa do próprio grupo, na auto-gestão da ocupação em que se encontram - e na materialização dos sentimentos, dos pensamentos e da consciência popular em obra de arte. Ou seja, a concepção da arte enquanto “Técnica Social das Emoções”. Ademais, podemos considerá-los enquanto ‘intelectuais orgânicos’, pelo fato de ‘serem/estarem junto’ ao povo, e captarem as contradições sociais, podendo organizá-las, através da arte, na luta de classes. Por essas razões, consideramos que tal proposição estética e organizativa, de caráter popular e cunho revolucionário, indica elementos importantes para a configuração do “Comum”, em que a igualdade, a liberdade e a solidariedade são premissas vivenciadas cotidianamente para um novo porvir.

Palavras Chaves: periferia, arte, afeto, teatro, transformação social.