Resumo: O fenômeno multidão configurou-se como um dos primeiros objetos de estudo da psicologia social, vista pelos pioneiros como irracional, massificadora e perturbadora da ordem social, concepção que influenciou uma geração de pesquisadores que passou a reproduzi-la e, assim, a justificar ações repressoras contra elas. À medida que a sociedade foi se transformando, em decorrência das modificações nos meios de produção, as formas de ação coletiva também foram se alterando e, consequentemente, emergindo novas teorias explicativas dessa realidade, abrangendo diferentes áreas das ciências humanas. Desde 2011, uma nova forma de mobilização de protestos vem acontecendo pelo mundo, em grande parte por ação das redes sociais. No Brasil, esse fenômeno ganhou visibilidade em 2013, quando uma sequência de atos contra o aumento da tarifa em São Paulo ganhou o apoio de grande parte da população (a maioria jovem), forçando a mídia a mudar a maneira como retratava os protestos, passando de vândalos a manifestantes pacíficos, caracterizando a ação violenta como restrita a pequenos grupos merecedores da repressão policial. A mídia passou a não só apoiar, mas a colaborar com a convocação dos manifestantes. O movimento se espalhou pelo país ganhando pautas difusas e revelando uma luta de classes. Entre o saldo consta não só a revogação do aumento da tarifa em diversas cidades, mas também mudanças na agenda governamental e a consciência do direito a protestar, desdobrando-se em diferentes movimentos representando interesses distintos, culminando com a formação de dois grandes grupos, em defesa e contra o impeachment da presidenta do país. Diversos analistas vêm retomando a ideia de multidão como um sujeito políticos para explicar esses movimentos, no Brasil, o debate na Psicologia centra-se na equivalência entre movimentos sociais e multidão, usando como referência os pioneiros dessa reflexão: Freud e Le Bon, e de outro lado, os pensadores contemporâneos Negri e Hardt, que se inspiram em Espinosa. Para colaborar com esse debate, a presente pesquisa busca entender os motivos e afetos que levaram à participação pessoas com diferentes afiliações ideológicas nas Manifestações de Junho de 2013 e/ou nos seus desdobramentos. Os pressupostos teóricos e metodológicos que sustentam essa pesquisa encontram-se na Psicologia de Vigotski, na concepção de sociedade de Marx e na ontologia política de Espinosa, colocando as suas ideias filosóficas de comum e multitudo no centro dessa reflexão. Os resultados desse trabalho apontam para a positividade da multidão e pertinência desse conceito, na perspectiva espinosana. A vivência dos movimentos gerou nos sujeitos dessa pesquisa prazer, aumentou a consciência crítica, mesmo que em direções difusas, o sentimento da importância do coletivo, o aumento da potência política de cada, e segundo sua singularidade. Todos sentem que o coletivo é importante instrumento de transformação. Enfim, rebatem a concepção de multidão como irracional, massificadora e perturbadora da ordem social e eu o sentimento do comum é fundamental, indicando assim, um campo de pesquisas e de ação à Psicologia Social.
Palavras Chaves: Chave:Multidão,Participação política, Afetos