Resumo:À luz da Psicologia Sócio-Histórica, e de sua articulação com a filosofia de Espinosa, e dos diversos estudos interdisciplinares sobre vínculos e rupturas sociais, sobre gênero, migração e refúgio, este trabalho tem como objetivo investigar a processualidade dos sentidos, afetos e relações da vivência no refúgio de mulheres migrantes em seu processo de exclusão/inclusão social. Pressupõe-se que a análise centrada na afetividade traz elementos para esclarecer até que ponto as diferentes situações analisadas se orientam em direção ao desenvolvimento ou diminuição da potência de ação, provavelmente, num movimento de alternância entre esses dois polos. Para tanto, busca-se conhecer a história do processo de refúgio; investigar os sentidos que as mulheres têm delas mesmas e os sentidos presentes nas relações com o lugar de origem, com o lugar de acolhida e seus serviços públicos, bem como com as outras pessoas em diversas situações da vida cotidiana; analisar como tal migração afeta as relações familiares e qual o papel que a família ocupa nesse processo; compreender as configurações do preconceito e da discriminação que, possivelmente, são direcionados às mulheres refugiadas; analisar as perspectivas que essas mulheres têm de futuro e seus projetos de vida; e estudar como as questões de gênero relacionam-se com os seus sentidos e afetos envolvidos no processo de refúgio. Para atender a esses objetivos, a pesquisa segue os princípios metodológicos da observação de campo, que foi acompanhada por entrevistas semi-estruturadas nas cidades de São Paulo e de Paris. O grupo de sujeitos selecionados é formado por 20 mulheres que migraram em busca de refúgio, das quais 9 foram localizadas no Brasil e 11 na França. Com o objetivo de organizar o material da análise, são estabelecidas 4 categorias principais referentes aos pertencimentos relacionais das migrantes: família, trabalho, cidadania e relações eletivas. De modo geral, as reflexões permitem observar um acúmulo de transformações e rupturas das relações e dos vínculos sociais pertencentes à vivência dessas mulheres que as afetavam de ideias e sentimentos contraditórios e opostos no processo de exclusão de seus países de origem e de inclusão perversa nos países estrangeiros. Nesse sentido, a flutuação da potência de ação e dos afetos que caracterizou a vivência das refugiadas indica um quadro de sofrimento ético-político, mas também de resistência e de desejo de liberdade.
Palavras Chaves: : Mulher refugiada, Afetividade, Resistência, Exclusão/inclusão social.