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RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS

Dewey e Foucault: Situações Herdadas e Improvisações Situadas
Vincent Colapietro
The Pennsylvania State University - EUA

John Dewey esteve engajado principalmente na tarefa crucial de articular narrativas genealógicas com o intuito manifesto de desestabilizar práticas atuais e tradições estabelecidas. Da mesma forma, Michel Foucault foi, em muitos aspectos, mais pragmatista do que muitos pragmatistas confessos, sobretudo em seus compromissos em relação à realização de uma série de experiências e sua disposição de alterar o curso de sua pesquisa à luz dos resultados dessas experiências. Tanto as dimensões pragmáticas do pensamento de Foucault, quanto a natureza genealógica do projeto de Dewey, foram alvo de atenção (ver, p.ex., Genealogical Pragmatism, de John J. Stuhr e os ensaios mais recentes de Colin Koopman). Mas, há muito mais a ser feito para enfocar mais nitidamente as preocupações justapostas desses dois pensadores fulcrais. O objetivo imediato deste trabalho é, assim, ajudar a dar este enfoque a estas preocupações. Porém, meu objetivo final não é tanto comparativo quanto crítico e construtivo. Isto é, minha preocupação mais fundamental não é acentuar as afinidades entre Dewey e Foucault, mas sim esclarecer os aspectos críticos das práticas humanas a partir da análise desses importantes teóricos. Particularmente, desejei desenvolver uma concepção da ação humana totalmente pragmatista e também genealogicamente explícita como improvisações situadas e, por sua vez, exatamente essa concepção de situações herdadas como convites implícitos a respostas improvisatórias. A metáfora essencial aqui é a improvisação jazzística. Os frutos desta conceituação da ação humana e as situações onde nossas improvisações se desenrolam, são nada menos do que um entendimento radicalmente revisado de ação, mediação e prática. É irônico, e realmente, lamentável, que em nenhum lugar da tradição pragmática se possa encontrar uma explicação bem detalhada das práticas humanas. Este trabalho pode ser interpretado como um passo na direção de oferecer tal explicação de nossas práticas historicamente desenvolvidas e em desenvolvimento. Neste, e em outros aspectos, é um esforço construtivo e não simplesmente ou principalmente um esboço comparativo de dois pensadores importantes.

Solidariedade Comunitária Cosmopolita e Justiça Econômica. Pragmatismo e Tradições Proféticas Liberatórias Religiosas
Judith M. Green
Fordham University, New York City, EUA

Neste ensaio, ofereço uma fenomenologia e genealogia pragmatista da emergência de normas e práticas de solidariedade comunitária cosmopolita e entendimentos associados de justiça econômica. Experiências individuais da necessidade de vários tipos de emancipação pessoal amplamente compartilhadas podem nos levar a reconhecer as necessidades diversificadas e igualmente importantes de outros, podendo, desta forma, nos motivar a desenvolver práticas de solidariedade comunitária cosmopolita assistenciais, criteriosas e educadoras na vida cotidiana que promovam a efetivação desses valores, incluindo episódios de conflito e choque mútuo de alteridade. Este processo de crescimento interativo pode ser realçado, significativamente, alcançando-se uma compreensão historicamente realista de como a solidariedade comunitária cosmopolita emergiu como um ideal, e como o significado de justiça social e econômica se desenvolveu dentro de contextos divergentes anteriores. Como valiosos complementos a histórias sociais e políticas seculares, as vertentes proféticas liberatórias de várias tradições religiosas podem funcionar tanto como histórias "externas" quanto "internas" de práticas assistenciais para e com outros, em meio a esforços prolongados por justiça, inclusive a sabedoria colhida desses esforços. Essas tradições proféticas liberatórias oferecem uma experiência profunda para ampliar de maneira inteligente o significado dos ideais de liberdade, igualdade e solidariedade comunitária que inspiraram teóricos democráticos e ativistas de movimentos democráticos pela democracia, desde o final do Século XVIII. Tamanha expansão inteligente de significados ideais compartilhados pode promover razoáveis acordos democráticos entre variados pensadores e atores contemporâneos, sobre como atingir solidariedade comunitária cosmopolita e fazer justiça dentro de contextos de mundo real.

Definindo Essências em Obras de Arte: Com Assistência Peirceana
Carl R. Hausman
Professor Emérito de Filosofia - The Pennsylvania State University – EUA

Esta conferência questiona a existência ou não de condições fundamentais para estabelecer limites a interpretações. Uma premissa crucial que originou esta questão é a noção de Peirce de objetos dinâmicos que limitam ou restringem ações de interpretação de referentes semióticos. Essências são os objetos dinâmicos que, como define Peirce, "determinam" o signo e, por sua vez, o Interpretante. Embora as interpretações normalmente divirjam, há essências, centros de restrições sobre a extensão em que essas diferenças variam.

O Pragmatismo e o Problema de uma Estética Cosmopolita
Robert E. Innis
University of Massachusetts Lowell – EUA

Ben-Ami Scharfstein, em seu Art Without Boundaries sustenta que a "Arte não é um problema único, nem possui uma única solução, racional ou mística". Não obstante, propondo o que ele chama de "estética aberta" e "pluralismo estético", ele ainda tenta abrir um caminho para uma resposta positiva a uma pergunta extremamente difícil: "Haverá, realmente, uma estética que transcenda todas as culturas humanas"? Esta é a questão central de uma 'estética cosmopolita'. Ela deve prosseguir frente ao que Scharfstein denomina a inevitável "diferença entre generalizações e seus exemplos". 'Arte', 'beleza' e outros conceitos cognatos, tais como 'forma', 'significado', 'expressão', 'ordem', e assim por diante são claramente noções destinadas a criar limites entre elas e seus opostos. Será que o pragmatismo, em suas muitas variedades, oferece instrumentos conceituais ou analíticos que nos permitam navegar ao longo e dentre esses limites? Será que o pragmatismo cria um 'local' para uma estética cosmopolita, uma estética sem limites que reconheça e valorize as diferenças sem desaparecer nas névoas da generalidade infundada? De que tipo de categorias precisaria dispor para estar em condições tanto de apreciar quanto de entender as várias manifestações da arte e da beleza, independentemente do 'local' de onde vêm? Em que nível, se houver, a tradição filosófica americana se engaja ou poderia se engajar neste tema? À luz de sua própria pretensão de ser uma tradição 'distinta', com local distinto, terá um alcance suficientemente universal para ir além do seu próprio 'local' para suprir, se não todo o arcabouço, pelo menos os elementos essenciais de uma estética verdadeiramente aberta?
Entretanto, tal estética não se ocupa de definições ou momentos de arte apenas. O status problemático do 'lindo' também deve ser considerado, como também uma gama de outras categorias, como 'forma', 'significado', 'expressão', 'ordem', e assim por diante, que se cruzam de diferentes modos e em diferentes locais. Haverá, então, uma forma de abordar nossa experiência de arte e beleza que transcenda o 'local'? Ou será o 'local' um fator determinante para definir o que deve ser tomado como arte e como lindo – ou como significativo, ordenado, expressivo, formado? É evidente que há muitas tradições artísticas no mundo e muitos conceitos de lindo e de outras categorias gerais. Stendhal escreveu que a "Beleza é a promessa de felicidade". Porém, ele também qualificou esta asseveração: "Há tantos estilos de beleza quanto há visões de felicidade". Estilos de beleza certamente não estão restritos à arte, em qualquer sentido formal. Estão incorporados e profundamente impregnados nos modos de vida no 'limiar inferior' da cultura humana, como o geógrafo cultural Yi-Fu Tuan explorou em seu desbravador Passing Strange and Wonderful: Aesthetics, Nature, and Culture e Ellen Dissanayake em seus estudos antropologicamente matizados, Homo Aestheticus, What is Art For? e Art and Intimacy.

Languages of Art de Nelson Goodman faz Parte da Semiótica?
Peter Mahr
University of Vienna - Austria

Uma das principais obras da filosofia Americana do Século XX, Languages of Art, de Nelson Goodman, pode ser divulgada como um trabalho de semiótica, apesar do autor não situá-la nesse campo e tradição. O antecedente intelectual de Goodman é esclarecido pela preocupação no início do Século XX de se filosofar sobre o símbolo em lógica e outras questões da filosofia, notadamente em Peirce, Lewis, Leonard, Morris, Cassirer, Langer e Jakobson. Evidenciou-se que, embora a notação como noção principal pareça ter sido derivada unicamente de uma análise filosófica de denotação nas artes como linguagens verbais e não verbais, ou sistemas de símbolos em geral, interesses semióticos atuam para delinear o estético pelos sintomas estéticos, com o cumprimento das exigências semânticas e sintáticas em densidade, saciedade, exemplificação e referência múltipla.

Estruturas da Crença: Arquitetura como Doutrina
Steve Skaggs
University of Louisville – EUA

É amplamente considerado que as artes do desenho, inclusive a arquitetura, refletem e representam atitudes e crenças do cliente, do arquiteto e da cultura geral. Todavia, uma pequena parcela de edifícios vai além da representação e age unicamente como veículo de persuasão. Este trabalho posiciona essa arquitetura doutrinária em um extremo de um continuum marcado por cinco posições distintas, conforme postura de um edifício vis-à-vis ego e idéia. Conceitos pragmatistas fortalecem a discussão de ego, de idéia e de doutrina.

Sementes Peircianas para uma Filosofia da Arte
Ivo A. Ibri
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Brasil

É bem sabido dos estudiosos da filosofia de Peirce que ele não deixou, em meio à sua enorme obra, algo como uma filosofia da arte. Não obstante este fato, defendo que a filosofia de Peirce é composta por um sistema de idéias baseado no qual é possível conceber uma estrutura conceitual que irá proporcionar uma reflexão bastante original sobre arte. Esta originalidade advém, creio eu, das principais diretrizes metafísicas de seu pensamento, a saber, seu realismo-idealismo, cuja síntese pode ser considerada em suas teorias da continuidade ou sinequismo. A Semiótica, não obstante uma ciência normativa, necessita se basear no diálogo entre formas sígnicas e formas do objeto, como uma consequência da hipótese central do sinequismo. Ela, portanto, não pode estar confinada ao universo do signo, em sua tarefa normativa. Este diálogo entre signo e objeto irá coibir um entendimento nominalista daquela tarefa; em outras palavras, a generalidade da Semiótica não irá se originar de qualquer hipótese de transcendentalidade, nem tampouco poderia ela ser a fonte de uma linguagem fundadora do mundo. Estas considerações têm importância capital para a fundação de uma filosofia da arte inspirada na filosofia de Peirce, uma vez que ela não poderá ser uma análise reducionista da linguagem da arte, ou uma mera apologia da criatividade humana. Portanto, este artigo irá desenvolver o que poderia ser, suponho, uma filosofia da arte peirciana, baseada nas sementes deixadas pelo autor para uma reflexão sobre o tema.

Foucault e a Antropologia Pragmática de Kant
Márcio A. Fonseca
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Brasil

Trata-se de evidenciar aspectos precisos da interpretação de Michel Foucault do texto Antropologia de um ponto de vista pragmático, de I. Kant, com o objetivo de indicar de que modo o pensamento kantiano servirá de referência fundamental ao filósofo francês relativamente à elaboração de alguns dos problemas centrais de sua reflexão teórica, tais como a noção de "ontologia do presente", a conceituação de "atitude crítica" e a concepção ética apoiada na idéia de "práticas de si".

A Filosofia do Senso Comum de Thomas Reid e o Critical Common-sensism de C. S. Peirce
Roberto Hofmeister Pich
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Brasil

A filosofia de Thomas Reid (1710-1796) desempenha um papel importante no pragmatismo de C. S. Peirce – também chamado pelo próprio Peirce de "critical common-sensism". Peirce certamente aprendeu sobre Reid primeiramente através das preleções de Francis Bowen (1811-1890), em Harvard. Qual é a dívida filosófica de Peirce para com Ried, quais são os elementos pragmáticos que ele viu no pensamento do filósofo escocês? Peirce teve uma interpretação particular e explícita do "Princípios do Senso Comum" de Reid – eles deveriam ser tomados como "o resultado instintivo da experiência humana". Como os princípios do senso comum de Reid, que se voltam para a possibilidade mesma e significado das operações humanas ordinárias, podem em absoluto vincular-se à teoria do conhecimento e da crença de Peirce? Essas são as perguntas a serem investigadas em nosso estudo.

A Indução como Processo de Determinação Progressiva dos Conceitos
Lauro F. B. da Silveira
Universidade Paulista / Marília – Brasil

Pela adoção do método pragmático, os conceitos indeterminados desde sua vagueza até sua generalidade, encontram no raciocínio indutivo o modo pelo qual, ao longo do tempo, se encaminham para uma cada vez mais completa determinação. Decorre daí que a eles finalmente se aplicarão conjuntamente os princípios de não contradição e do terceiro excluído. Como sua antípoda, encontra-se as representações fronteiriças, às quais nenhum dos dois princípios se aplicariam, levando a que, nos Grafos Existenciais, se estabeleça uma regra que impeça que se considerem os casos limites tomados em sentido estrito.

 

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