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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES

 

Pragmatismo, Lógica e Linguagem: Raízes e Perspectivas de uma Unidade para Além dos Dualismos

AGUIAR, José Arlindo de
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Igarassu, FACIG; Faculdade Maurício de Nassau - Brasil
arlindoaguiar@bol.com.br

Resumo: Lógica e filosofia da linguagem dividem com o pragmatismo o título de caracterizadoras da tradição anglo-saxã na filosofia. Mas a interconexão entre os dois temas nem sempre salta aos olhos. Podemos com alguma facilidade analisar formalmente com nossas diversas versões atuais da lógica os princípios do pragmatismo; inversamente há espaço para abordar os sistemas lógicos sob o viés pragmático. Aqui se tenta delinear a lógica que pode existir inerentemente aos princípios do pragmatismo, e aquilo que de pragmático se esconde na mais pura filosofia analítica.
O caminho proposto leva em consideração um indício histórico da era em que a lógica e a linguagem estavam indissociadas do mundo sobre o qual falavam. Um mundo que chamava aos objetos "pragmata", "aquilo com que lidamos". A Grécia berço da filosofia mantém em seu pensamento a união originária que conecta a raiz pragmática e a linguagem. A linguagem, ou discurso grego se consubstancia no "lógos", traduzido mesmo até simplesmente por conversa.
A comparação de um mundo em que cada objeto se fazia objeto por sua função, e em que esta mesma funcionalidade se estabelece como organização lógica do discurso reflexo da natureza, com o nosso mundo deve dar perspectiva ao que podemos modernamente entender por função contemporânea da lógica. Ou que lógica podemos de fato chamar de pragmática aquela(s) para as quais encontramos uma realidade coincidente e na qual podemos aplicá-la com finalidades específicas ou a tentativa de formalizar a própria intimidade da relação entre meios e finalidades.
A título de exemplo no primeiro caso consideremos as criações abstratas da lógica matemática, no segundo a abordagem dos objetos de conhecimento como primitivos objetos "à-mão" contribuição Heideggeriana à fenomenologia, talvez sua parcela de débito com o empiricismo radical de James, admirado pelo seu mestre Husserl.

Palavras-chave: Pragmatismo. Lógica. Linguagem. Fenomenologia.

 

Caminhando nos Campos de Trigo de Van Gogh e Agnes Denes - Premissas Estéticas que Fundamentam uma Pragmática da Filosofia da Natureza

ALMEIDA, Maria Celeste de; COSTA e SILVA, Tiago
Universidade Federal da Bahia - UFBA
Centro Universitário Senac São Paulo
mcawanner@hotmail.com
tkunst@gmail.com

Resumo: O presente ensaio pretende elaborar um estudo de como um determinado efeito estético, advindo de uma peculiar obra de arte, possui a competência de sugerir - segundo sua natureza ontológica - o aparecimento de uma concepção de Filosofia da Natureza, onde a partir do momento da contemplação, surge a idéia do outro, de não-ego, e em seguida, aparece o poder cognitivo construído pela objetividade deste outro, que lhe determina a representação e seus interpretantes. Aparece também, juntamente com a primeira contemplação, a idéia de uma matriz eidética originária comum que perfaz toda a realidade, a natureza, e mais ainda, e subseqüentemente, a idéia de que a mente humana, com seu aparato cognoscitivo, é apenas um pequeno aspecto que apareceu como conseqüência prática do processo evolutivo da natureza.
As obras que servirão como base para a construção desse ensaio são a pintura de Vincent Van Gogh "Campo de Trigo com Corvos", (1880), e a obra contemporânea de Agnes Denes - uma Earth Art - "Campo de Trigo: uma Confrontação", (1989). A primeira obra, construída com a técnica de óleo sobre tela, e caracteristicamente pertencente ao período Expressionista pela sua peculiar forma de representação apresenta-nos um conjunto de efeitos sensíveis que, além de a tornarem única dentre os quadros de Van Gogh, propõem um deslocamento semântico para além daquele tema representado - mas ainda identificável na imagem - realçando as características de vitalidade e originalidade já existentes na paisagem real sensível que lhe servira de referência. A segunda obra, entretanto, é construída a partir de um imenso campo de trigo realmente plantado em uma área específica no centro financeiro da cidade de Nova Iorque. Esta obra possui a competência de enlevar suas próprias características como material significante dentro de um ambiente de deslocamento semântico, e propor sinestesicamente um certo efeito estético que propicia a perda de dimensão analítica de uma tela e ao mesmo proporciona a integração da mente cognoscente com a obra, isto é, depois da fusão entre sujeito e objeto, o retorno ao momento reflexivo readquire outras dimensões.
Dessa forma, como estratégia metodológica para esse ensaio, será feita uma verificação da natureza ontológica das obras propostas, um estudo das suas potências de significado, e com isso adentraremos a relação entre um específico efeito estético e a sugestão de um caminho pragmático para uma Filosofia da Natureza - baseada na idéia sugerida pelo momento contemplativo - cuja origem cosmológica comum remonta aos pensamentos de Schelling e de Platão.

Palavras-chave: Estética. Semiótica. Epistemologia. Arte Contemporânea. Ontologia. Filosofia da Natureza. Metafísica.

 

Sobre Relativismo no Neopragmatismo de R. Rorty

ARAÚJO, Inês Lacerda
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR
ineslara@.matrix.com.br

Resumo: Rorty leva adiante o pragmatismo, renovando-o. Inspirado em Wittgenstein, Dewey e Heidegger, ele critica a tradição filosófica centrada na representação como obstáculo à cultura pragmatizada. Nela vale a conversação, a justificação, o modelo para o conhecimento não é a mente como espelho da natureza, mas as práticas culturais através das quais é possível obter verdade objetiva. Mas esta não é o centro de um procedimento epistemológico, e sim resultado da aplicação de procedimentos justificados em contextos do discurso normal. Ao invés de buscar um algoritmo comum, um fundamento sólido e inabalável, é preciso abrir a filosofia para a conversação. O rótulo de relativismo (visto este como perigo para a verdade, para a ética, para a política) não é o mais apropriado para caracterizar seu pensamento; como Rorty põe em xeque a relação esquema/conteúdo e nisso segue Davidson, a verdade não depende de esquema; o idealismo e o relativismo concernem mais os filósofos sistemáticos que propõem critérios para o conhecimento. Se o conhecimento for visto não como método para chegar à Verdade, mas como parte de procedimentos que muitas vezes melhoram a compreensão que temos de nós, então à filosofia caberá o papel de auxiliar na conversação da humanidade e não de juiz cultural. Se a mente não for vista como cuba que contém idéias, que representa a realidade, mas como certo elemento usado para caracterizar algumas de nossas atividades, compreensível em certos jogos de linguagem, então não precisamos de uma ciência que nos decifre

 

Bioética, Determinação da Paternidade e a Concepção Pragmática do Direito

BELTRÃO, Taciana Cahu
Associação Caruaruense de Ensino Superior (Asces) - Brasil
tacianabeltrao@gmail.com

Resumo: Nossa hipótese, a ser trabalhada na presente Comunicação, visa mostrar o caráter eminentemente pragmático da atividade jurídica no tocante à produção de decisões, muito embora desse caráter de aprender com a experiência, pouco se dêem conta os juristas, que os testes de certeza estão muito mais na experiência prática do que n a natureza das coisas objetivamente consideradas. Para tanto e na pretensão de dar conta desse modo de perceber o âmbito jurídico e em que medida se pode aprender com o método do pragmatismo, tomamos como paradigmático o modo como é tratada a questão da determinação da filiação na perspectiva civil-constitucional, que releva - ou, na melhor hipótese, coloca no mesmo patamar - o vínculo biológico, enquanto elemento componente, mas nem sempre com caráter fundamental, no estabelecimento de critérios definidores da paternidade. Neste aspecto, outras condicionantes são atualmente utilizadas por alguns magistrados mais ciosos de aprender com a experiência e que entendem, por exemplo, que a relação afetiva poderá prevalecer para tal reconhecimento. Para tanto, o juiz tomaria por base a necessidade de repensar velhos institutos, dando ao direito civil um caráter promocional, com vistas ao pleno desenvolvimento da dignidade da pessoa humana, o que de certo exige do magistrado, não apegado apenas ao frio formalismo, um olhar atento sobre o amplo leque dos anseios sociais, tendo como objeto uma função utilitarista e pragmática do Direito. Este modo de ver o problema mostra a aceitação da afirmação de Peirce, tida para muitos como a que inaugura o pragmatismo, pelo qual a verdade é o conjunto de efeitos práticos concebíveis. Nesta comunicação, a partir do exame de como se resolvem casos de determinação de paternidade, a hipótese que desenvolvemos é que a transformação decisiva que pode inaugurar uma nova forma de reflexão do âmbito jurídico é aquela que se afasta dos dualismos tão caros aos operadores do direito - direito público X direito privado; abstrato X concreto; ser e dever-ser; direito zetético X direito dogmático - e que, também, principalize o exame do âmbito jurídico tão somente naquilo que aponte como e de que maneiras a reflexão jusfilosófica pode aprender com a experiência. O obstáculo a ser superado é que tal atitude filosófica se choca com a teoria predominante no direito, a qual, ainda que de forma não consciente, conforma o ideário jurídico de maneira que novas questões, notadamente aquelas incorporadas pelo biodireito - área inteiramente inédita na prática judicial - sejam ignoradas pelos juristas e alguns julgadores que, na maioria dos casos, viram as costas para a experiência, inclusive no momento de formação da sentença. É esta questão que pretendemos desenvolver com a nossa comunicação e que, ao mesmo tempo, constitui uma das hipóteses centrais de nossas pesquisas.

Palavras-chave: Bioética. Determinação da Paternidade. Concepção Pragmática do Direito..

 

O Amor Criativo e os Processos Evolucionários na Cosmologia de Charles Sanders Peirce

BIZARRO, Maristela Sanches
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
maristela.m@gmail.com

Resumo: Em 1893, Charles Peirce escreveu um importante texto no periódico The Monist, que se constitui como uma base importante para estabelecer os pressupostos de sua cosmologia. Em tal artigo, "O Amor Evolucionário", Peirce estuda os modelos convencionados à época de seu texto e conclui que estes modelos teóricos não são capazes de explicar efetivamente os processos evolutivos da Natureza. E então, propõe um terceiro modelo, no qual um princípio criativo, ao emanar uma miríade de objetos, possui o poder de colocar aquilo que criou em relação e atraí-los novamente para si em uma forma cíclica, gerando novos elementos advindos de tais sínteses. Peirce conclui que esse modelo possui uma forma similar à do Amor descrito no Evangelho de João e nomeia esse modelo de Amor Criativo. Com base nessa postura teórica, o objetivo central desse ensaio é investigar como ocorre a passagem da experiência contemplativa para a ação e sua conseqüente reflexão que se vincula à processos evolutivos, observando-se que da questão: "por que já se anuncia um idealismo objetivo a partir de uma experiência de contemplação?" emergem as principais idéias que perfazem o percurso teórico proposto pelo presente ensaio.

Palavras-chave: Amor Criativo. Evolução. Cosmologia. Pragmatismo. Epistemologia.

 

O Lugar do Pragmatismo no Diagrama Arbóreo das 66 Classes de Signos Denominado SignTree

BORGES, Priscila Monteiro
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP - Brasil
primborges@gmail.com

Resumo: Nessa comunicação proponho mostrar como é possível perceber, através da leitura do diagrama SignTree, a conexão entre a semiótica e o pragmatismo. O SignTree é um diagrama visual que detalha e dispõe as 66 classes de signos peirceanos em uma forma arbórea que permite a visualização de como a semiótica se estrutura e conecta-se à filosofia peirceana. A leitura do diagrama será voltada principalmente à extremidade dos galhos dessa árvore, pois nesse local estão representadas as tricotomias relativas ao interpretante final, à relação do signo com o interpretante final e a relação triádica entre signo, objeto dinâmico e interpretante final. A análise dessas 3 tricotomias é de suma importância visto que nelas encontramos os conceitos necessários para entender o potencial de crescimento dos signos. O interpretante final, segundo Peirce, pode ser de 3 naturezas: gratificante, prático e pragmático. Não é por acaso que a palavra pragmático é utilizada para descrever o interpretante final cuja natureza é de terceiridade. O interpretante final é o correlato que introduz o conceito de ser in futuro na semiose e que levará à capacidade de crescimento infinito dos signos. Sabendo que a relação triádica do signo corresponde ao processo de pensamento e que essa relação envolve o interpretante final, portanto a característica de ser in futuro, pode-se investigar qual o propósito do pensamento, qual deve ser sua finalidade. Momento em que a semiótica e o pragmatismo se conectam. Peirce descreve três tipos de pensamento na última tricotomia: instinto, experiência e forma. O diagrama mostra que das 66 classes de signos encontramos em 55 delas pensamento como instinto, em 10 pensamento na forma de experiência e em 1 pensamento formal. Entender as razões pelas quais esses três tipos de pensamento aparecem assim distribuídos nas 66 classes de signo é o objetivo dessa comunicação, visto que essa compreensão levará à conexão entre semiótica e pragmatismo peirceano. Sugiro que a única classe de signo na qual aparece o pensamento formal expressa a máxima pragmática, a razoabilidade concreta e que as outras classes de signo representam a concretização desse ideal pragmático. Nas classes de signo que aparecem o pensamento na forma de experiência temos a vinculação do pensamento com a ação prática e na predominância de pensamentos instintivos expresso o propósito do pensamento auto-controlado: construir hábitos de ação.

Palavras-chave: Semiótica. Pragmatismo. Diagrama. SignTree.

 

A Noção de Fluxo Contínuo da Experiência: Contribuições de Dewey para a Ciência Cognitiva

BROENS, Mariana Claudia. ANDRADE, Heloísa Benvenutti. PILAN, Fernando César
Universidade Estadual Paulista - UNESP. F.F.C. Marília - Brasil
mbroens@marilia.unesp.br
eloisabenvenutti@yahoo.com.br
pilan@marilia.unesp.br

Resumo: O objetivo do presente trabalho é investigar a noção de fluxo contínuo da experiência proposta por John Dewey e suas possíveis contribuições para a Filosofia da Mente e a Ciência Cognitiva. Dewey elabora uma teoria que apresenta uma concepção de experiência que engloba todas as dimensões da ação vivida, não privilegiando apenas o papel que ela desempenha na produção do conhecimento cientifico. Segundo Dewey, as teorias do conhecimento tradicionais não consideram adequadamente a experiência, pois ressaltam apenas a relevância que ela tem para a produção de teorias, dissociando-a do entorno de que faz parte. Assim, os eventos do cotidiano não são levados em consideração na produção do conhecimento e a filosofia se torna uma entidade abstrata que se supõe pairar acima ou para além da vida. Através da noção de fluxo contínuo da experiência Dewey refuta essas teorias racionalistas, adotando uma perspectiva evolucionária que procura ressaltar a continuidade ação/ambiente. Procuraremos mostrar que essa noção de fluxo contínuo da experiência pode contribuir para a investigação dos processos cognitivos atualmente em curso na Filosofia da Mente e da Ciência Cognitiva.

Palavras-chave: Pragmatismo. Fluxo Contínuo da Experiência. Hábito. Conhecimento.

 

O Falibilismo e o Futuro do Pragmatismo

BROWN, Sean
Universidade de Indiana-Purdue em Indianápolis
seaabrow@iupui.edu

Resumo: Em seu Reinventando o Pragmatismo de 2002: A Filosofia Norte-americana no Final do Século XX, Joseph Margolis declara a direção que o Pragmatismo deve seguir se quiser ser a filosofia dominante norte-americana. Graças a Rorty e Putnam, o interesse no Pragmatismo renasceu. Mas, Margolis, com propriedade, declara que renovar o Pragmatismo não basta. Este precisa ser reinventado se quiser vingar. Mais importante ainda, Margolis argumenta, o novo Pragmatismo deve renovar um compromisso com o falibilismo juntamente com alguma forma de historicismo. Quer seja, para Margolis o falibilismo deveria desempenhar um papel central no novo Pragmatismo. Neste trabalho examino a noção de falibilismo de Margolis, especificamente sua distinção entre os falibilismos de Peirce e Dewey, assim como as razões porque ele prefere o de Dewey ao de Peirce.
Neste exame seguirei o debate Houser-Margolis na forma em que ele se desdobrou na Transactions of the Charles S. Peirce Society, começando com a palestra inaugural, como presidente, de Houser em 2004. A principal objeção de Houser a Margolis é que ele leu mal Peirce e que, conseqüentemente sua preferência por Dewey é mal orientada. Embora Margolis aceite a primeira objeção, ele rejeita a última, afirmando que o future do Pragmatismo ainda reside em Dewey, não em Peirce. Revisitando o debate, busco elucidar parte da confusão, para que tenhamos uma idéia melhor da posição do Pragmatismo Clássico que Margolis pensa precisa ser reinventada.

 

Duas Notas sobre a "Mente Experimentalista" de Espinosa segundo Peirce

CARDOSO JR., Hélio R.
Universidade Estadual Paulista UNESP - Assis
herebell@uel.br

Resumo: Entre os filósofos da tradição metafísica elogiados por Peirce encontra-se Espinosa. A saudação de Peirce a este pensador se deve ao fato de que sua metafísica seria partícipe de uma, assim chamada, "mente experimentalista. A presente comunicação visa, justamente, destacar elementos da filosofia espinosana que, por hipótese, realizam o caráter experimentalista alegado por Peirce. Tal objetivo principal será cumprido a partir de duas notas, onde se demonstrará não apenas os problemas experimentalistas de Espinosa, como também, sua ressonância em certas passagens importantes de "Metafísica Científica" de Peirce. De fato, Espinosa se dedica, com afinco, à construção do chamado paralelismo ontológico entre corpos e idéias. Sendo esta uma das teses centrais de sua Ética, o referido paralelismo estabelece, decisivamente, um elo pragmatista entre o conhecimento (idéias) e o mundo da ação (corpos). De fato, para Espinosa, verifica-se uma continuidade entre idéias e corpos, cujo rompimento faria uma ética recair em um simples sistema moral. Do ponto de vista prático, segundo Espinosa, sempre que se estabelece uma nova relação entre corpos, ela requer novas condutas de ação. Assim como, para Peirce, novas relações desencadeiam crenças que se estabelecerão, configurando um novo hábito que há de gerar uma modificação quanto à conduta da vida. A mesma concordância, aproximadamente, se encontra do ponto de vista das idéias ou no domínio epistemológico. De acordo com Espinosa, o surgimento de uma nova relação entre corpos impõe a necessidade de conhecimento, já que novas relações precisam de novas idéias. Com Peirce, temos o sentimento de satisfação sempre que se passa da dúvida à crença, de modo que novos hábitos mentais são também a garantia epistemológica de que algo novo surgiu. Em suma, tanto para Espinosa quanto para Peirce, vigoraria certa ressonância entre a alegria ética e a satisfação de conhecer. Por isso é que, hipoteticamente, a mente experimentalista de Espinosa atraiu a atenção de Peirce.

Palavras-chave: Peirce. Espinoza. Pragmatismo. Metafísica. Experimentalismo.

 

Imaginação, Concentração, Generalização: Peirce sobre as Habilidades de Raciocínio do Matemático

CAMPOS, Daniel G.
Brooklyn College - City University de Nova Iorque, EUA
dcampos@brooklyn.cuny.edu

Resumo: Neste trabalho proponho discutir as condições epistêmicas para a possibilidade da descoberta matemática que estão envolvidas na lógica da inquirição matemática de Peirce. Uma vez que Peirce desenvolve uma visão sistemática, de obra aberta, da prática matemática, meu tratamento proposto sobre as condições para a possibilidade de inovação não deveria ser ad hoc; ela deveria, ao invés, refletir e, na verdade, partir da estrutura do sistema flexível de Peirce. Em outras palavras, este relato das habilidades epistêmicas exigidas para o raciocínio matemático deveria partir das categorias irredutíveis de qualidade, relação e generalidade - ou Primeiridade, Segundidade, e Terceiridade - que são intrínsecas à prática matemática. Mais especificamente, eu proponho que as condições epistêmicas necessárias para a possibilidade da descoberta matemática sejam aquelas exigidas pelo matemático para poder detectar e investigar com precisão os aspectos qualitativos, relacionais e gerais da hipótese matemáticas. (Esta reivindicação confia na concepção peirceana da matemática como o estudo do que é verdadeiro de um estado de coisas hipotético e sobre sua visão do método matemático como o de experimentação sobre diagramas ou ícones que encarnam relações formais.) De modo análogo, Peirce descreve as habilidades do raciocínio do matemático como os poderes da imaginação, concentração, e generalização. Eu interpreto os três como diferentes habilidades semióticas para raciocinar com ícones matemáticos. A imaginação consiste no "poder de retratar distintamente para nós mesmos configurações intricadas" tais como diagramas matemáticos (MS 252). Concentração é "a habilidade de pegar um problema, levá-lo a uma forma conveniente para ser estudado, decifrar o espírito do mesmo, e determinar, sem erro, exatamente o que ele envolve ou não" (MS 252). O poder de generalização é a habilidade "de ver que aquilo que parece de início um emaranhado de circunstâncias intricadas não é senão um fragmento de um todo harmonioso e compreensível" (MS 252). Estas habilidades entram em jogo em diferentes estágios do processo matemático de experimentação sobre diagramas. Finalmente, na base deste relato prossigo com o resultado pragmático para o desenvolvimento de um método de treinamento de alunos em raciocínio matemático.

Palavras-chave: Peirce. Matemática. Lógica da inquirição. Descoberta. Imaginação. Generalização.

 

Informação Neuronal: uma Informação Pragmaticamente Significativa?

CARVALHO, Maria Amelia de
Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" - UNESP - Campus de Marília - Brasil
mariamel@marilia.unesp.br

Resumo: O termo informação neuronal foi usualmente pensado em neurociência cognitiva como uma correlação causal entre a probabilidade de disparo de neurônios em relação a um determinado estimulo. Isto é, como uma medida de correlação condicional estímulo-atividade nervosa. Este conceito de informação apresentou problemas aos paradigmas tradicionais da neurociência por que é um conceito oriundo da Teoria Matemática da comunicação, e neste caso, considera-se que a informação não veicula significado. Nas atuais investigações neurocientíficas a informação no sistema nervoso está associada a um conteúdo semântico. Desse modo, é preciso dar conta de uma interpretação deste conteúdo numa perspectiva do próprio sistema onde o processo informacional ocorre. Entretanto, consideramos que a perspectiva naturalizada do conceito de informação no sistema nervoso proposta por Moreno & Barandiaran (2006) pode contribuir com as atuais pesquisas teóricas em neurociência pois apresenta uma concepção de informação neuronal que veicula significado. O objetivo deste artigo é investigar, a partir do Pragmatismo de Peirce, se esta concepção naturalizada de informação neuronal permite considerá-la uma informação pragmaticamente significativa. Deste modo, com o auxílio de uma construção diagramática, pretendemos refletir acerca do papel da informação neuronal em condutas de percepção-ação corporal.

Palavras-chave: Epistemologia naturalizada. Filosofia da neurociência. Informação neuronal. Pragmatismo. Percepção-ação.

 

Uma Abordagem Pragmatista sobre a Fundamentação dos Direitos Humanos

CATÃO, Adrualdo de Lima
Universidade Federal de Alagoas, UFAL, Maceió, Brasil
adrualdocatao@gmail.com

Resumo: O trabalho visa a apresentar uma visão pragmatista sobre a ética e a fundamentação dos direitos humanos. Quer-se afirmar que o ambiente discursivo em que os debates sobre direitos humanos acontecem deve ser visto como incomensurável, ou seja, um ambiente no qual os participantes não partilham das mesmas pressuposições lingüísticas. Diante da incomensurabilidade, todavia, o trabalho não quer defender um relativismo cultural, e a tese de que as linguagens éticas são intraduzíveis. Apresenta a incomensurabilidade como uma questão de grau de entendimento, que não vem gerar o fim da conversação ética, mas sim, estimulá-la. A noção Kuhniana de paradigma lingüístico é adaptada aos propósitos do trabalho, sendo apresentada como ambiente discursivo no qual é possível estabelecer-se um determinado grau de consenso, de forma a possibilitar a comunicação coerente e com sentido. A tese é a de que não se pode dar ao discurso sobre direitos humanos um caráter incondicional, tendo em vista a existência de diversos paradigmas éticos diferentes, presentes nas mais diversas sociedades e culturas. Isto, contudo, não quer dizer que se deve abandonar a discussão ética e trabalhar com uma postura irracionalista, ou mesmo relativista. Também não se quer dizer que o discurso pelos direitos humanos é simplesmente inviável ou não pode ser endereçado a culturas diferentes da ocidental. Assim, a abordagem proposta quer enfatizar que posturas intolerantes não devem ser justificadas simplesmente pelo fato de que são "verdades" integrantes de um determinado paradigma, e, portanto, não poderiam ser questionadas, a não ser por critérios de dentro do próprio paradigma. Destarte, o dualismo comensurável-incomensurável (Rorty) aparece como uma diferença de grau e não de gênero, demonstrando que o discurso sobre direitos humanos pode se revestir de um caráter mais comensurável ou mais incomensurável, na medida em que os participantes do discurso estejam, em maior ou menor grau, inseridos num mesmo paradigma ético. Não se defende, portanto, uma incomensurabilidade absoluta. Em conclusão, a postura pragmatista nega, ao mesmo tempo, o autoritarismo e o relativismo ético, sendo uma proposta teórica para visualização do discurso pelos direitos humanos como pautas para a educação humana visando um mundo melhor. Nesse sentido, uma visão pragmatista deixará de lado questões metafísicas sobre a existência de direitos universais para que a energia dos humanos esteja concentrada em educar e incluir democraticamente (Dewey), ou seja, educar para aumentar a identificação entre os seres que podem ser chamados de "humanos", na evidente defesa de uma ética democrática.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Universalismo. Relativismo Ético. Democracia.

 

Um "Problema dos Universais" Moderno: John Stuart Mill, Rival de Peirce

CHEVALIER, Jean-Marie
Paris-XII ; IJN/CNRS/EHESS ; ENS Ulm (França)
jeanmariechevalier@yahoo.fr

Resumo: Pode ser que a unidade do Pragmatismo esteja do lado de seus rivais. Adotando a visão de F.E. Abbot, de que a batalha do nominalismo e realismo, longe de ser ter sido disputada no final do século XV, permanece atual como sendo "o problema que subjaz a todos os problemas", Peirce reabre o Problema dos Universais da Idade Média, tomando partido pelo realismo de Duns Scotus contra o nominalismo que vinha prevalecendo desde Ockham até quase todos os filósofos modernos. Se o realismo de Peirce é bastante conhecido, as pessoas mal se dão conta de que ele foi construído contra uma grande e popular filosofia, a de John Stuart Mill. No início de sua carreira, Peirce escolhe Mill como seu alterego ockhamiano.
Esta Nova Contenda dos Universais revive a oposição entre ockhamistas e "Dunces" (refere-se tanto a Duns Escoto quanto à palavra "estúpido," "lerdo") na modernidade, i.e. a lógica das ciências empíricas. Assim, o problema da realidade dos universais depende da questão se podemos inferir de particular para geral na ciência. Ela lida com a indução, conhecido nos debates contemporâneos como o Problema de Hume, mas intimamente relacionado às questões da uniformidade da natureza e à existência das leis, ambas discutidas por Mill.
A lógica de Mill é examinada em vários dos primeiros escritos de Peirce até 1870. Peirce lida com o problema novamente de 1900 a 1911 e dá um golpe de misericórdia às obras deste "filósofo fortíssimo, mas filisteu." A evolução da crítica de Peirce espelha a construção de seu pragmaticismo. As primeiras observações detêm-se especialmente na teoria do silogismo de Mill - sua definição totalmente errônea de inferência - e na inútil regra da uniformidade para garantir nossas induções. Os últimos escritos repreendem Mill por recusar a realidade das leis da natureza, e por adotar a assim-chamada posição positivista, mas "com a mais metafísica das descrições." A acusação pouco surpreendente de Peirce de psicologismo na lógica de Mill (1865) deve ser vista, em 1909, como um sintoma de uma construção metafísica muito distante da verdadeira ciência. Assim, a evolução de Peirce pode ser lida à luz de sua crítica de Mill: inicialmente prisioneiro das dificuldades da lógica clássica, ele constrói, do ponto de vista lógico, toda uma metafísica científica. Mesmo o que aparece como ataques reiterados a Mill (seu nominalismo, seu erro sobre conotação) na verdade deriva das variações de seu realismo.
Peirce tende a ver Mill como o arquétipo do que ele filosoficamente abomina. É por isso que ele por fim assevera que Mill é inconsistente - cuja opinião é reforçada pelas nove versões, às vezes contraditórias, da Lógica que foram publicadas durante a vida de Peirce. Peirce associou-o a outros pensadores rivais: Mill aparece como positivista com Comte, nominalista com Ockham, individualista com Bentham, mau probabilista com Laplace, etc. Um modo de dizer que Mill era tudo menos um pragmatista. Obviamente a linha de trabalho de Mill é completamente desenhada de acordo com a sombra que o sistema de Peirce projeta.
Um estudo da correspondência (não-publicada) entre Peirce e Mill, completamente negligenciada pelos estudiosos de Peirce, lança nova luz sobre sua relação.

Palavras-chave: C.S. Peirce. J.S. Mill. Pragmatismo. Indução. Nominalismo. Universais.

 

Abduction and Creativity: Meaning Construction and Aesthetic Appreciation

COCCHIERI, Tiziana & OLIVEIRA, Luis Felipe
Universidade Estadual Paulista - UNESP; Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
cocchieri@gmail.com
oliveira.lf@gmail.com

Abstract: In this paper we establish the relation among the concepts of aesthetic appreciation, abduction and creativity. We start presenting the concept of abductive reasoning, one of the three principal forms of logical inference described by C.S. Peirce in his pragmatic philosophy. Within the relation of abduction, creativity and meaning construction, abduction can be understood as the kind of reasoning that culminates in a temporary assimilation of an explanative hypothesis, which holds conjectural procedures; i.e., abduction is the logical operation that can introduce new ideas. With other logical inferences, deduction and induction, there is no creative process, for anything one can know is already present in the premises, as a matter of necessity or probability respectively. In other words, abduction is the only inferential form that makes knowledge acquisition possible. In a second moment, after we have verified how that relation of abductive reasoning and creativity occurs, we present the idea that aesthetic appreciation might be understood as an act of meaning construction. Thus, artistic meaning in this perspective cannot be considered as an already-given object enclosed in the work, neither as a purely subjective and non-formal elaboration, nor as an extrinsic imposition furnished by art criticism. Conversely, we propose the hypothesis that meaning in art is a process of work reading not different from other processes of meaning construction in several domains; it is a particular case of a more general and methodic process described by Peirce, that operates over the three forms of logical inference. Lastly, we illustrate our hypothesis with the analysis of some pieces of art, in music and in visual arts.

Keywords: Abduction. Meaning. Art. Aesthetic Appreciation.

 

Outro dos "Erros de Descartes": Peirce e a Racionalidade Natural das Emoções

DEROY, Ophelia
Universidade de Paris XII
ophelia.deroy@laposte.net

Resumo: Quando falam de emoções, as pessoas mencionam James. Quando falam de Peirce, elas sublinham seus métodos de inquirição, sua lógica, sua concepção de verdade. Os dois tinham coisas importantes para dizer em cada um destes domínios, mas conseqüentemente, sua proximidade é tornada um tanto problemática. Mais importante ainda, o papel específico e o cômputo das emoções dados por Peirce é freqüentemente ignorado. Mas como é que se reconciliam emoção e razão? Que tipo de papel elas têm no funcionamento da mente? Que emoções estão então em jogo, e como um peirceano as computa? Neste trabalho dou uma visão panorâmica da teoria peirceana das emoções e seu papel no raciocínio, enquanto sublinho alguma proximidade com James e com algumas teorias naturalistas das emoções atuais. O cômputo peirceano difere destes em pelo menos três pontos: primeiro, emoções não são dadas, mas desenvolvidas e até aprendidas; segundo, emoções são principalmente sociais; terceiro, elas têm valor cognitivo, como a semiótica mostra. Com estas três categorias, pode se usar Peirce para dar uma teoria das emoções como respostas adequadas ao mundo, e para reabilitar algumas antigas concepções da racionalidade como imanentes e naturais.

 

Direito, Verdade e as Conseqüências Práticas: uma Análise Pragmática do Realismo Jurídico

FEITOSA, Enoque
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Brasil
enoque.feitosa@uol.com.br

Resumo: O propósito desta comunicação é analisar alguns aspectos do realismo jurídico - através de um de seus mentores, Oliver W. Holmes Jr. - sob a ótica da metodologia pragmática. O paradigma adotado é o pressuposto peirceano acerca do conceito de verdade. Por focar o fenômeno jurídico na atividade de juízes e tribunais, o realismo jurídico guarda afinidades com o pragmatismo, particularmente quanto às implicações metodológicas de Peirce. Ao subordinar a aceitação de qualquer idéia - verdade, justiça, bem - ao exame das suas conseqüências práticas, Peirce descreve os passos a serem seguidos pela filosofia pragmática na formação dos conceitos, passos estes fundados na experiência pois, se não temos o dom da introspecção, todo o conhecimento interior só derivaria da observação do mundo. Por isto é que no realismo jurídico há a consciência, resultante do exame da atividade dos juízes e tribunais, de que os magistrados formulam seus julgamentos - em especial nos casos difíceis - num processo de duas etapas, onde a primeira é a própria conclusão, que é inspirada no que é mais conforme com o sentimento e idéia de justiça do julgador, estribado na sua educação, formação, valores e tradições e só depois é que busca a motivação técnica, isto é, as justificativas ou ratio decidendi apenas como acréscimo, muito embora por disposição legal elas estejam topologicamente antecedentes àquelas motivações. A teoria do direito, presa ao modelo formalista-positivista, parece ainda não ter conseguido fornecer um modelo de justificação adequado à complexidade do fenômeno jurídico. A coincidência histórica de filósofos e juristas viverem numa época e numa sociedade fortemente apegada à experiência e com um forte viés antimetafísico (embora tenham, não sem alguma ironia, denominado seu grupo de estudos de "clube metafísico") forneceu os instrumentos filosóficos e metodológicos a essa corrente jurídica herdeira do pragmatismo, cuja contribuição jusfilosófica ainda é pouco estudada no Brasil, dado que durante muito tempo houve resistências, aqui, a essa forma de reflexão. Sinteticamente, o pragmatismo se caracteriza por sua atitude de considerar que todas as teorias, a moralidade, os valores, gozam apenas de veracidade instrumental na medida em que são aptos a atingir os objetivos a que se propõe o indivíduo ou a sociedade. Por sua vez, no realismo jurídico, a discussão do que juristas chamam de as razões do direito só tem sentido se tal reflexão for ancorada na medida de utilidade desse fenômeno de regulação da vida social. A idéia de Oliver W. Holmes Jr., de que o fundamento do direito não é a lógica e sim a experiência tem o mérito fundamental de levar em conta as influências sociais e históricas que não podem ser abstraídas da compreensão do que é o Direito. A hipótese de que o conceito holmesiano de experiência se aproxima da idéia de experiência no pragmatismo e que tal contigüidade torna aplicáveis os princípios pragmáticos ao Direito é o eixo de nossa comunicação e se coloca então como uma possibilidade de resposta, ainda não plenamente explorada, dos problemas postos pela teoria jurídica contemporânea. Esta é a hipótese desta comunicação.

Palavras-chave: Pragmatismo. Direito. Realismo Jurídico.

 

Acerca da Vocação Pragmática do Realismo Jurídico Americano a partir das Idéias de Benjamin Cardozo sobre a Natureza do Processo Judicial

FREITAS, Lorena
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Brasil
lorenamfreitas@hotmail.com

Resumo: O objetivo desta comunicação insere-se num campo interdisciplinar envolvendo Filosofia e Direito. O propósito do estudo consiste em identificar os fundamentos do realismo jurídico americano em suas articulações com a filosofia pragmática. O pragmatismo encontra suas raízes no século XIX no chamado "Clube Metafísico de Boston". Como uma filosofia da ação pressupõe uma abordagem metodológica inovadora por romper com os cânones das clássicas abordagens lógico-metafísicas. Um dos primeiros pensadores a se preocupar com o problema foi Charles Sanders Peirce no seu consagrado "paper" How to make our ideas clear. Todavia foi William James que, de forma feliz e sobretudo pertinente cunhou uma definição sobre o pragmatismo que se tornou famosa; segundo ele o pragmatismo é, sinteticamente, um novo método para tratar velhas idéias. Uma vez que a nossa proposta toma o fenômeno jurídico como objeto de análise, elegeu-se o juiz da Suprema Corte Americana Benjamim Nathan Cardozo - sucessor de Oliver Wendel Holmes Jr. - como um intérprete e principalmente um aplicador da filosofia pragmática no desempenho de atividade judicante. Quanto à justificativa, observa-se que há uma seqüência e conseqüência entre os grandes pragmatistas, Peirce dá uma nova conotação ao problema lógico; James explora os elementos psicológicos visto sob o ângulo da sua teoria intitulada "corrente da consciência"; Holmes, como pragmatista jurídico, retira o direito da esfera lógico-metafísica para trazê-lo à realidade experiencial (histórica); Cardozo, por fim, é o grande articulador dessas idéias por tentar demonstrar como elas efetivamente acontecem nos caldeirões dos tribunais (como o próprio cita). Assim procurar-se-á, á luz das idéias de Cardozo, verificar em que medida o método pragmático corresponde aquilo que o já citado William James menciona: "um método capaz de assentar disputas metafísicas" voltado para o âmbito jurídico uma vez que as teorias tradicionais não mais dão conta desses problemas como eles se manifestavam na dinâmica do contexto social. Discutir estas hipóteses acerca da vocação pragmática e sua inserção no realismo jurídico americano a partir das idéias de Benjamin Cardozo sobre a natureza do direito é, pois, o objetivo da comunicação.

Palavras-chave: Pragmatismo. William James. Realismo. Benjamin Cardozo.

 

Eluding the Demon - How Extreme Physical Information Applies to Semeiosis and Communication

FRIEDEN, B. Roy ; ROMANINI, Vinicius
University of Arizona ; University of São Paulo
roy.frieden@optics.arizona.edu
viniroma@gmail.com

Abstract: C.S. Peirce states that a sign represents only some aspect of an object, which means that no representation can be perfect. The form - or information - grounding the sign's ability to represent its object is always deficient in some measure. If we take the difference between the form of the object and the form represented in the sign to be a physical one, the flow of semeiosis can be taken as a flow of information, and consequently, a knowledge game by which the interpretant tries to improve the information grounding the sign, amplifying its ability to represent. The other player in the game, the dynamical object, takes the role of a demon, always changing its form to escape a complete symbolic interpretation. The Extreme Physical Information (EPI) theory, formulated by the American physicist Roy Frieden in 1998, shows how the pay off of this game is always on the side of the interpretant. This explains why semeiosis is teleologic and naturally tends towards an increase of information and knowledge in a community of interpretants pragmatically engaged in the inquiry by means of communication. It also explains why intelligence can evolve among living creatures - their observations tend to be accurate, and accuracy is a prerequisite for effective behaviour. It results that their fitnesses go up, so that evolution favors their existence.

Kay words : Semeiosis,.Extreme Physical Information. Peirce. Fisher. Frieden. Communication.

 

O Papel dos Diagramas - Analógico-digitais - no Processo Projetivo em Design

GHIZZI, Eluiza Bortolotto
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Brasil
ghizzi@nin.ufms.br

Resumo: Este texto tem como objeto de estudo o signo icônico diagramático, tal como pode ser observado e analisado nos croquis que participam dos processos projetivos em design. Este estudo já conta com um desenvolvimento inicial publicado no texto "Arquitetura em diagramas" - apresentado no 8º Encontro Internacional sobre Pragmatismo e publicado na COGNITIO-ESTUDOS: Revista Eletrônica de Filosofia, v3, n2, 2006. Nesse primeiro texto analisamos a prática projetiva em arquitetura como conduzida por um processo dedutivo que se atualiza em signos icônico-diagramáticos (os desenhos), apontando as características gerais desse processo. Neste segundo desenvolvimento sugerimos que tais características abarcam os processos projetivos em design de modo geral (arquitetônico, gráfico, de objeto) e, para subsidiar a argumentação, recorremos a estudos de autores que analisam a metodologia de projeto em design. Além disso, introduzimos reflexões sobre a participação de desenhos digitais nesses processos. Como referencial teórico e metodológico utilizamos a semiótica peirceana, particularmente a "gramática especulativa" e a "lógica crítica". Como resultado, apontamos o aprofundamento da idéia de que o processo diagramático é modo pelo qual são definidos tanto o conceito associado ao projeto quanto a forma particular deste. Ainda, influencia uma prática predominantemente experimental, propícia ao caráter inovador que se busca nos processos projetivos em design. Concluímos, também, que a introdução da mediação por diagramas digitais nesses processos pode amplificar ou restringir - tomando-se como referência a mediação por desenhos analógicos (à mão livre) - esse potencial inovador, conforme o uso que se faça dos recursos de desenho no ambiente digital.

Palavras-chave: Signo icônico-diagramático. Argumento dedutivo. Desenho analógico. Desenho digital.

 

A Experiência de Contemplação em Peirce e em Schopenhauer

GUIMARÃES, Daniel de Vasconcelos; SANTOS, Adriana M. Gurgel
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP - Brasil
daniel_area26@hotmail.com;
seres003@gmail.com

Resumo: Este ensaio propõe uma investigação acerca da possibilidade de aproximação entre as filosofias de Charles Sanders Peirce e Arthur Schopenhauer, a partir do estudo da experiência interna de Primeiridade [firstness] do primeiro autor (entendida como a contemplação imediata do objeto pelo sujeito), e do conhecimento da Idéia (a contemplação do objeto pelo puro sujeito de conhecimento, e não mais por um indivíduo) no segundo autor. Pretende-se ainda ressaltar, dentro de uma (ainda em incubação) estética peirciana, e de acordo com a metafísica do Belo de Schopenhauer, a relação da Arte com a experiência de contemplação. Para estabelecer uma relação entre as filosofias dos dois autores é interessante mencionar ainda que os métodos de compreensão, e talvez mesmo os métodos de exposição de suas idéias não parecem incompatíveis. Serão tomados como referência, a fim de empreender os objetivos mencionados, os Collected Papers de Peirce e a principal obra de Schopenhauer, O mundo como vontade e como representação. Para Peirce, ao se contemplar uma pura qualidade de sentimento [quality of feeling], ou, para Schopenhauer, na contemplação da Idéia (entendida aqui como a forma eterna, a objetivação imediata da Vontade, tal qual exposto no Livro III de O mundo), ocorre a perda da individuação do sujeito, ou seja, a superação de si mesmo como indivíduo, numa experiência onde o fluxo do tempo é suprimido - é no hiato do presente em que ela se dá. De acordo com Peirce, a contemplação fenomenológica constitui-se como uma experiência de unidade, de pura imediação dada pela qualidade de sentimento; contemplar é comungar com o absoluto, ser uno com o objeto. Nessa experiência de infinito, de liberdade, o mundo mostra-se em sua mais profunda essência, e o sujeito encontra-se livre do querer. Em Schopenhauer, quando a consciência inteira é preenchida pela contemplação do objeto - seja ele natural, uma paisagem ou uma árvore, ou ainda uma construção ou uma obra de arte -, há uma dissolução do indivíduo no próprio objeto; a coisa particular se torna a Idéia de sua espécie, e o indivíduo se eleva a puro sujeito do conhecer, ambos excluídos de todas as formas do princípio de razão (a forma de conhecimento dos indivíduos). Quando a Idéia aparece, sujeito e objeto não são mais diferenciáveis, do ponto de vista teórico, segundo as formas secundárias da representação (espaço, tempo e causalidade). Há supressão do tempo, as relações desaparecem, a personalidade se ausenta. Assim é que o mundo como representação aparece inteiramente, e ocorre a objetivação da coisa-em-si, ou seja, da Vontade, em diferentes graus. E a Arte, a obra de arte do gênio, é o modo de conhecimento que repete as Idéias eternas apreendidas por pura contemplação, expondo-as como arte plástica, poesia ou música. A arte retira o objeto de sua contemplação do curso do mundo, isolando-o diante de si. Para Peirce, infere-se que a arte tem o papel de recolhimento do sentido, de representação de um universo que a linguagem lógica não pode dar conta - um universo de liberdade, singularidade e originalidade.

Palavras-chave: Peirce. Schopenhauer. Contemplação. Arte.

 

Objetividade do Conhecimento e Autonomia do Mundo Cultural

GRIGORIEV, Serge
Universidade Temple - Pensilvânia, EUA
serge@temple.edu

Resumo: Neste trabalho faço uso da distinção peirceana entre os modos de evolução anancástica e agapástica para ressaltar o que considero como as tensões estratégicas no relato evolucionário da objetividade de Karl Popper. A distinção entre o conhecimento subjetivo e o objetivo constitui um dos temas centrais da filosofia da ciência de Popper. Popper localiza o subjetivo na esfera das experiências e crenças conscientes; e o objetivo, na esfera dos produtos culturais da mente humana, tais como as teorias. Não deixa de ser interessante, Popper afirma que os habitantes desta última esfera ("mundo 3," no seu idioma) gozam de certa autonomia em relação à esfera das experiências conscientes (ou "mundo 2"). Em outras palavras, do ponto de vista de Popper, o conteúdo de nossas teorias deve ser determinado por algo além e acima do conteúdo específico de nossas práticas discursivas. Esta sugestão é muito mais intrigante uma vez que Popper explicitamente nega a possibilidade de uma confrontação não mediada entre nossas teorias e eventos no mundo das coisas físicas ("mundo 1"), que serve como nosso paradigma do real. Meu argumento indica que a interpretação do relato de Popper da autonomia e objetividade do mundo cultural depende do modo como ele constrói a noção axial da intersubjetividade, que pode ser lida quer ao longo de linhas anancásticas ou agapásticas, com a última sendo uma alternativa mais promissora.

 

Pragmatismo Clássico e o Direito: em Busca de uma Teoria Normativa Evolucionista

HERDY, Rachel
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
herdy@jur.puc-rio.br

Resumo: Este trabalho consiste numa investigação sobre as possibilidades que uma abordagem pragmatista abre para a Filosofia do Direito. Busca-se analisar especificamente o problema do desafio intercultural à universalidade dos direitos humanos. Muitos juristas encontram-se freqüentemente frustrados quando tentam avançar seus argumentos desde a realidade positiva de um regime internacional de direitos humanos, conforme estabelecido por tratados e decisões judiciais recentes e em franco desenvolvimento, para uma dimensão mais abstrata de justificação normativa da "crença" em normas de direitos humanos universalizáveis. A frustração aumenta diante das variações incomensuráveis percebidas entre as culturas jurídicas do mundo. O tratamento do tema inicia-se com uma caracterização do que significa adotar uma posição pragmatista em face do problema da universalidade na teoria normativa. Recorre-se a uma versão considerada "neoclássica" do pragmatismo, presente nos argumentos de Susan Haack (na trilha do pensamento de Charles Sanders Peirce). Pretende-se, a partir daí, refletir sobre a maneira como esta versão neoclássica do pragmatismo dá conta do problema de justificação objetiva das crenças melhores-ou-piores em vista das normas de Direito suscetíveis de universalização. Se a tese aqui proposta estiver correta, parece ser possível fornecer aos teóricos e praticantes de direitos humanos uma filosofia social e jurídica evolucionista que permite a evasão da falácia do etnocentrismo e a busca de uma satisfação empírica para os problemas da universalidade e da normatividade na Filosofia do Direito.

Palavras-chave: Pragmatismo. Direito. Realismo. Teoria Evolucionária. Universalismo. Crença. Experiência.

 

Qualia e Consciência: uma Releitura Peirciana

JORGE, Ana Maria Guimarães
Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP-SP). Brasil.
ana.gui@terra.com.br

Resumo: Este ensaio pretende repensar conceitos de qualia e de consciência a partir de leituras contemporâneas das ciências da cognição e das filosofias da mente, com apoio na obra de Charles Sanders Peirce (1839-1914). Esta reflexão aponta para as marcas de tensão entre posturas dualistas e fisicalistas que buscam comprovação localizada dos fenômenos qualitativos dos sentimentos, sensações e emoções na mente humana. Sob viés diferenciado se enuncia leitura em que sejam evidenciadas marcas para a conaturalidade mente e matéria, e continuidade no conceito de consciência. Assim, toda consciência é possível se houver intersecção entre fenômenos subjetivos e objetivos.

Palavras-chave: Mente. Qualidades de sentimento. Consciência. Filosofia da mente.

 

Pragmatismo e Sistemas Comunicacionais de uma Instituição de Saúde: Integrando Concepções e Conseqüências Práticas

LEÃO, Frederico Camelo
Doutorando em Comunicação e Semiótica, PUC-SP, Brasil
leaofc@gmail.com

Resumo: Que conseqüências práticas uma orientação religiosa pode ter em uma instituição de saúde? Quais são as consistências entre a filosofia institucional e suas aplicações práticas? Como avaliar essas conseqüências tanto no âmbito interno da instituição, como em suas repercussões na comunidade e sociedade? De acordo com a máxima do pragmatismo de Charles Sanders Peirce, o significado de um conceito é a totalidade concebível de suas conseqüências práticas. O objetivo do presente artigo é aplicar o pragmatismo peirceano no estudo das relações entre o código de valores (filosofia organizacional) e as conseqüências da aplicação desses valores nas ações práticas de uma instituição de saúde. Nesse sentido, o artigo inicia apresentando uma cartografia das concepções norteadoras que fundamentam os sistemas comunicacionais da instituição de saúde FEAL - Fundação Espírita André Luiz. Dedicada à filantropia e atendimento de 1200 portadores de doença mental carentes, a FEAL tem suas ações fundamentadas a partir de uma orientação religiosa espírita e o hospital associa práticas da medicina ortodoxa e, de maneira complementar, terapias espirituais. A segunda parte do artigo se dedica a apresentar um relato de caso que evidencia as consistências entre teoria e prática. Nas conclusões, apresenta-se um modelo que aponta para possíveis caminhos e desdobramentos em outras instituições.

Palavras-chave: Pragmatismo. Peirce. Sistemas Comunicacionais. Instituição de Saúde.

 

A Estética Pragmatista e a Reflexão sobre Arte

LEÃO, Lucia
Centro Universitário Senac, SENAC, São Paulo, Brasil
lucia@lucialeao.pro.br

Resumo: O objetivo deste artigo é discutir a experiência estética das ações em rede e refletir sobre as dimensões políticas de projetos que povoam o ciberespaço e permeiam as práticas no cotidiano da cibercultura. Para isso, iremos aplicar a estética pragmatista, tal como foi proposta por John Dewey (Art as experience, 1934) e Richard Shusterman (Pragmatist aesthetics, 1992). Com a inserção das tecnologias digitais e das redes telemáticas nas práticas cotidianas, novas maneiras de interação se tornam possíveis. Questões como produção, distribuição e acesso de dados se somam à emergência de práticas colaborativas, comunidades digitais, problematização de conceitos como autoria e obra de arte e dissolução de fronteiras entre tempo e lugar. A ciberarte engloba as investigações poéticas que problematizam e/ou subvertem as tecnologias das novas mídias. Nessa ampla categoria, encontram-se projetos que se apropriam das redes (Net arte), sistemas de realidade aumentada, realidade virtual, assim como aqueles que atuam em espaços cíbridos, compostos pela convergência de redes in\off line, entre outros. Os projetos de ciberarte colocam diversos problemas quando estudados à luz da estética analítica uma vez que o próprio conceito de objeto de arte não pode ser aplicado. Nesse sentido, compreender as complexidades da ciberarte exige uma série de reformulações teóricas. A escolha da aplicação do programa da estética pragmatista se justifica à medida que esta oferece uma visão livre de oposições e dualismos, ao mesmo tempo em que evidencia a continuidade entre vida, ações políticas e experimentação criativa.

Palavras-chave: Pragmatismo. Estética. Redes. Cibercultura. Ciberarte.

 

Inércia e Dinâmica no Mundo da Ciência: Algumas Considerações sobre o Princípio do Falibilismo e o Problema de Verdade nas Teorias Científicas

LINS, Alessandra Macedo
Faculdade Maurício de Nassau - FMN - BRASIL
alemacedolins@yahoo.com.br

Resumo: Nosso propósito nesta comunicação é o de fazer uma comparação entres as epistemologias de Charles S. Peirce e Karl Popper. Analisaremos, portanto, os aspectos epistemológicos com o intuito de que a presente investigação possa nos fornecer luz diante de algumas questões fundamentais como verdade e crença, que se encontram na base das referidas teorias.
Parece bastante ingênuo o conhecimento que exclui o sujeito da relação e se apega à noção de conhecimento enquanto reflexo do real, o que implicaria, nesse sentido, uma busca incessante por "verdades em si", as quais não serão passíveis de superação.
A idéia de que devemos partir de um fundamento único foi herdada do cartesianismo, mas isso não significa que devemos continuar condicionados a pensar dessa forma limitadora que domina o consciente do homem ocidental, na convicção de que o fundamento último do conhecimento apóia-se ou na pura racionalidade ou exclusivamente na realidade objetiva.
O falibilismo, ao admitir reconhecimento do erro como possibilidade do conhecimento científico, quebra o paradigma de validade inquestionável do conhecimento adquirido. Analisaremos o trabalho de dois filósofos que desenvolveram a noção de refutabilidade das teorias científicas - Peirce e Popper - e ao final da comunicação esboçaremos algumas considerações sobre a teoria do conhecimento complexo.
Segundo Morin, "o conhecimento tem várias fontes e nasce da sua confluência, no dinamismo recorrente de um anel em que emergem conjuntamente sujeito e objeto; este anel em comunicação com o espírito e o mundo, inscritos um no outro, numa co-produção dialógica em que participa cada um dos termos e momentos do anel" (Morin, 2000).
Inicialmente, é importante esclarecer que Popper em sua obra não reconhece os possíveis pontos de aproximação de sua teoria com a teoria proposta pelo pragmatismo peirciano. No entanto, ao avaliarmos suas obras, podemos claramente perceber um alto grau de semelhança, o que nos impulsiona para construção deste trabalho.
A concepção clássica de ciência fundada na visão cartesiana que nesta investigação pretendemos questionar parece provocar uma espécie de "miopia", apega-se de tal forma à ordem e ao conhecido que acaba por se encontrar impossibilitada de ver o novo. A vertente mais radical desemboca num determinismo e, por extensão, numa escatologia. Sempre voltado para o passado para tentar prever o futuro, o que acaba por bloquear a visão complexa do conhecimento, mascarando a impossibilidade de apreendermos o todo numa perspectiva "verdadeira".
Nossa discussão será apresentada neste trabalho com o intuito de desmascaramento da condição limitada do conhecimento, fruto da necessidade de posse e controle a que estamos acostumados. Abre-se a necessidade de reconhecimento da condição limitada e falível do sujeito na relação gnosiológica.

Palavras-chave: Ciência. Cartesianismo. Falsabilismo. Verdade. Refutabilidade.

 

"As Variedades da Experiência Religiosa" de William James Revisitada

LOUCEIRO, Luís Malta
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Brasil
louceiro@uol.com.br

Resumo: Em 1901 coube a William James (1842-1910) dar as prestigiosas Gifford Lectures em Edinburgo, Escócia, onde falou sobre "As Variedades da Experiência Religiosa," publicadas pela The Modern Library (NY) em 1902. Interessar-nos-á, aqui, rever especialmente as Palestras XVI e XVII, em que ele aborda o "Misticismo" - e apresentar o Yoga clássico indiano, como foi codificado por Patañjali no século II AEC, como uma Ciência que leva à Experiência Unitiva ou Integrada - e a Palestra XVIII, que trata da "Filosofia," uma vez que Schelling (1775-1854) -, que influenciou tanto Emerson (1803-82) quanto Peirce (1839-1914) -, ante o impasse legado por Leibniz (1646-1716), Spinoza (1632-1677) e Kant (1724-1804), recorreu, precisamente, ao Panteísmo das Upanishads (séc. VIII a.C.), de Fichte (1762-1814), Eckhart (c.1260-c.1328) e Böhme (1575-1624) para dar um novo rumo à Filosofia Ocidental.

Palavras-chave: Panteísmo. Schelling. Emerson. Peirce. James. Misticismo.

 

Sobre a Análise do Argumento a partir da Analogia de Peirce: as Preliminares de um Relato Grupo-Teórico

MC CURDY, William James
Universidade do Estado de Idaho em Pocatello, EUA
mccuwill@isu.edu

Resumo: O argumento a partir da analogia é uma das formas de raciocínio mais importantes e mais freqüentemente usadas. Immanuel Kant, em notas que se tornariam suas Conferências sobre Lógica, escreveu "Nenhum lógico ainda desenvolveu a analogia e a indução adequadamente. Este campo está em aberto." Mais tarde, um jovem leitor de Kant veio a se tornar um grande lógico, em parte, por ter desenvolvido adequadamente o campo lógico da indução assim como aquele de seu anverso, a abdução. Ele também analisou o argumento a partir da analogia. Ao invés de erroneamente classificá-lo como uma espécie estranha de indução ou de tratá-lo como um enteado da lógica, a ser relegado à seção de miscelâneas no final dos livros de lógica, C. S. Peirce sistematicamente relaciona tanto o argumento da analogia para, enquanto também o distingue dos, argumentos da dedução, indução e abdução. Esta grande contribuição tanto para a lógica quanto para a metalógica tem sido pouco percebida e ainda menos apreciada mesmo por estudiosos de Peirce. Esta negligência deveria acabar e o crédito, há muito devido a Peirce, ser-lhe dado.
Este trabalho explicará primeiramente a análise bipartite básica do argumento a partir da analogia de Peirce, por um lado, para a abdução e a dedução e, por outro lado, para a indução e a dedução. Esta análise estará então justificada. Em seguida abordarei a teoria de grupos, em especial o conceito de ação grupal, q eu será apresentado e então usado para exibir diagramaticamente e exprimir algebricamente a ação recíproca da forma híbrida de raciocínio, que é o argumento a partir da analogia com as formas de dedução, indução e abdução. Ênfase especial será dada ao grupo Klein 4, que tem um papel importante, porém geralmente negligenciado, na lógica. Por fim, o trabalho terminará com uma ampliação da análise de Peirce para mostrar especificamente como o argumento a partir da analogia está intimamente relacionado à analogia pitagórica, quer seja, às analogias de quatro lugares da forma A : B :: C : D (A está para B como C está para D) com a qual ela está freqüentemente associada, mas cuja associação ainda não foi nem adequadamente elucidada nem justificada.

Palavras-chave: Argumento a partir da Analogia. Analogia. Teoria de Grupo. Ação de Grupo. Grupo Klein 4.

 

O Existencialismo de Peirce

MAIN, Robert
Universidade Temple - Pensilvânia, EUA
robmain@temple.edu

Resumo: Estudos recentes sobre Peirce fizeram aparecer tanto um renovado interesse na doutrina peirceana do falibilismo quanto uma grande ênfase no papel da experiência nas estratégias argumentativas de Peirce. Este trabalho reúne estes dois temas por meio de uma intuição originalmente proposta por David Savan, que assevera que "uma visão semi-religiosa pela qual o único nome adequado é existencialista" é central à teoria da inquirição peirceana. Este trabalho adota a leitura existencialista de Savan para poder analisar os primeiros trabalhos anticartesianos de Peirce e sua crítica à dúvida cartesiana. Argumento que, ao passo que Peirce realmente se opõe à versão da dúvida universal de Descartes, ele não rejeita, como tem sido asseverado, todas as formas de dúvida universal. Pelo contrário, meu argumento é que Peirce reformula o ceticismo cartesiano como falibilismo, de um modo que retém o status anterior como condição de inquirição com escopo universal e que ocupa uma posição central dentro da filosofia peirceana. O falibilismo assim construído é não somente a doutrina em que quaisquer das crenças individuais de alguém possam estar erradas, i.e. abertas à dúvida; ao contrário, é uma conseqüência necessária do reconhecimento da finitude do ego humano. Peirce, assim, apresenta um relato que, como as filosofias existencialistas tradicionais, está fundado em uma caracterização específica da egoidade na qual as características definidoras são limitação e finitude. Entretanto, ele também caracteriza a verdade e mesmo a realidade como sendo transcendentes, separadas do indivíduo existente por uma distância infinita. A conseqüência deste falibilismo, então, é que o princípio governante da inquirição se torna, na prática, uma esperança paradoxal; a verdade, como resultado da inquirição infinita, é necessariamente inatingível por inquiridores finitos, falíveis, mesmo quando eles formam uma comunidade (finita). Esta separação entre a prática da inquirição e seu fim ideal já contribuiu para argumentos asseverando que a filosofia de Peirce sofre de um paradoxo fatal e é responsável pelas tradicionais caracterizações polarizadoras de Peirce com respeito ás questões do nominalismo, realismo, idealismo e transcendentalismo. Ofereço a sugestão que, adotando uma leitura "existencialista" do falibilismo (no sentido qualificado defendido por Savan e que não ignora ou diminui o pragmaticismo de Peirce) como sendo o elemento central do pensamento de Peirce, isso possibilitaria um relato que evita tais dilemas.

 

Considerações Pragmáticas do Conceito de Informação

MIRANDA, João Gabriel Jeziorny
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus Marília - Brasil
joaojeziorny@marilia.unesp.br

Resumo: O conceito de informação tem sido estudado de modo sistemático principalmente por pesquisadores das áreas da Ciência Cognitiva, Matemática, Física e Biologia. O objetivo perseguido por tais pesquisadores é saber de maneira mais eficiente como manipular, armazenar, disseminar, reproduzir, e interagir com os dados informativos, sendo suas preocupações centrais os conceitos de mensurabilidade e quantidade de informação gerada por uma fonte, a capacidade de transmissão do canal, assim como sua eficácia na transmissão de dados Neste contexto, a informação é vista em termos de transmissão e recepção de mensagens. Como podemos notar, o direcionamento desses estudos da informação é basicamente técnico, por isso fogem de seus domínios questões de cunho epistemológico, ontológico e pragmático inerentes ao conceito de informação bem como sua relação com os processos de aquisição do conhecimento. O objetivo da nossa comunicação é realizar uma explicitação do caráter epistemológico e ontológico da informação, indicando seu possível vínculo com o conhecimento e seu subseqüente desdobramento prático. Nesse sentido, analisamos a filosofia proposta por Charles S. Peirce (1931, 1958), principalmente sua lógica, denominada Semiótica. Assim sendo, na perspectiva epistemológica, defendemos a hipótese que a informação é o elemento responsável pela fundamentação e justificação de crenças. No viés ontológico, procuramos mostrar que informação, longe de ser uma substância, uma entidade ou coisa, pode ser identificada como um processo semiótico. E, pragmaticamente, concebemos a informação como aquilo que propicia a obtenção, a quebra e a mudança de crenças (conhecimento) que servirão de fundamento para a ação de um agente situado em seu ambiente.

Palavras-chave: Informação. Semiótica. Pragmatismo.

 

O Papel do Significado da Informação na Direcionalidade da Ação: uma Reflexão Pragmática

MORAES, João Antonio de; RODRIGUES, Gilberto César Lopes
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Marília - Brasil
moraesunesp@yahoo.com.br
gilbertocesar@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar como o aspecto semântico da informação participa da direcionalidade da ação. Tal análise se apoiará em duas bases: no pragmatismo de Peirce (1958), particularmente na sua concepção de como o significado resulta da relação semiótica; e na hipótese da formação de significados por parte dos processos informacionais, conforme formulada por De Tienne (2007). Recentemente o estudo da ação tomou nova direção com a inclusão das teorias da informação. No entanto, essa combinação pouco avançou no entendimento dos processos subjacentes a ação porque tais teorias tomam como base a Teoria Matemática da Comunicação (Shannon, 1949), que não consideram seu "caráter semântico". Em contraste, argumentaremos que a direcionalidade da ação é resultado da interação entre o organismo, inserido em um ambiente rico de informação significativa, e os signos que ali estão. Assim, o propósito dessa análise é avaliar em que medida a compreensão do aspecto semântico da informação permitiria avançar na explicação da direcionalidade da ação.

Palavras-chave: Informação. Significado. Direcionalidade. Ação.

 

O Conceito de Informação no Contexto da Filosofia Pragmática Peirceana

MORONI, Juliana
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Marília - Brasil
Juliana-moroni@marilia.unesp.br

Resumo: O presente texto tem como objetivo analisar as três categorias fenomenológicas peircianas no que se refere a sua relação com o conceito de informação. De acordo com Peirce, todos os fenômenos ocorrentes no mundo podem ser entendidos e reduzidos à seguinte tríade: primeiridade, segundidade e terceiridade. Conforme ressalta Santaella (2004), através da inter-relação entre as categorias dessa tríade, a fenomenologia peirceana caracteriza a mente como inseparável da matéria e intrinsecamente ligada à ação. Mente e matéria são consideradas um continnum controladas por hábitos instanciados pela categoria da terceiridade. Procuramos mostrar que tais hábitos universalizados e incorporados na terceiridade transmitem informação que irá direcionar o comportamento dos organismos no meio em que vivem. Nestes termos, toda a forma de conhecimento é naturalizada e, assim como a informação, só se constitui em ação significativa quando inserida em um contexto. De acordo com Santaella (2004), a teoria epistemológica peirceana está baseada em um método cujo ponto central é designado por um processo em que um estado de crença específica (por meio de informações) é submetido a um estado de dúvida (também específica) visando atingir um novo estado de crença específica, e assim continuamente, sem chegar, contudo, a conquista da verdade ou do conhecimento absoluto. Argumentamos que Peirce adota uma abordagem externalista da informação, atribuindo valor à experiência, ao hábito e à ação dos agentes situados no mundo. Conhecimento e informação estão imbricados e caracterizam-se por funcionarem como um processo cumulativo em espiral no qual a ocorrência das etapas posteriores depende das anteriores. A informação é um processo dinâmico e anti-determinista, cuja finalidade é antecipar potencialmente o futuro, estabelecendo um condicional para a ação.

Palavras-chave: Pragmatismo. Informação. Fenomenologia.

 

Pragmatismo e a História da Filosofia: Um Estudo de Peirce e Platão

O'HARA, David Lloyd
Faculdade Augustana, Rock Island, Illinois - EUA
david.ohara@augie.edu

Resumo: Quão importante é um estudo da história da filosofia para o Pragmatismo? Neste trabalho discutirei a importância da história da filosofia para Peirce ao examinar sua volta a Platão nos últimos anos. Em 1894 Peirce escreveu que ele tinha lido só um pouco de Platão, e somente em uma tradução para o inglês; mas no final da década de 1890, os manuscritos de Peirce contêm mais de mil páginas sobre Platão. Entre estes incluem-se numerosos comentários sobre os diálogos de Platão e traduções parciais de vários diálogos. Naqueles poucos anos, Peirce descobriu que um re-exame dos diálogos de Platão ajudou-o a articular a relevância da grande comunidade histórica da inquirição e a re-pensar seu próprio sistema metafísico. Neste trabalho analisarei duas importantes conseqüências do estudo que Peirce fez de Platão: primeiro, Platão foi instrumental na resposta de Peirce ao argumento de David Hume contra os milagres. Peirce, lendo Platão através das lentes da estilometria de Lutoslawski, asseverou que Platão abandonou a metafísica diádica pela triádica em seu período final. Esta metafísica tardia de Platão permite que as leis da natureza cresçam, efetivamente respondendo ao argumento de Hume contra os milagres como violações das leis da natureza. Como uma segunda conseqüência do estudo de Platão por parte de Peirce, argumento que a semiótica tardia dele é desenvolvida junto com o Crátilo de Platão, através do exame da compreensão de Platão da relação dos signos verbais com a physis, ou ser.

Keywords: Peirce. Platão. História da Filosofia. Crátilo. Hume. Milagres.

 

A Lógica dos Relativos e a Semiótica. Sobre Algumas Correspondências Insuspeitas entre Peirce e o Estruturalismo

PAOLUCCI, Claudio Paolucci
Universidade de Bologna - Itália
clapaolucci@tin.it

Resumo: Trata-se de uma palestra que visa ressaltar como a Lógica dos Relativos de Peirce é, indubitavelmente, o texto fundacional da epistemologia estruturalista na semiótica e na lingüística. Mais especificamente, a Lógica dos Relativos constitui uma sintaxe estrutural actancial, como foi desenvolvida décadas depois na Lingüística por Lucien Tesnière e na Narrativa Semiótica por A. J. Greimas.
A passagem de uma lógica predicativa fundada na distinção sujeito-predicado para uma lógica posicional fundada na valência verbal abre caminho para uma nova concepção da identidade dos termos relativos e constitui a fundação de uma verdadeira revolução também na concepção semiótica de Peirce, se comparada à sua fundação nos ensaios anti-catesianos de 1868.
L'intervento vuole mettere in luce come la Logica dei Relativi di Peirce costituisca in assoluto il testo di fondazione di un'epistemologia strutturalista in semiotica e in linguistica, e più in particolare costituisca una sintassi attanziale strutturale, così com'è stata sviluppata decine di anni dopo in linguistica da Lucien Tesnière e in semiotica narrativa da A. J. Greimas.
Il passaggio da una logica predicativa fondata sulla distinzione soggetto-predicato ad una logica posizionale fondata sulla valenza verbale apre così ad una nuova concezione dell'identità dei termini relativi e costituisce il fondamento di un'autentica rivoluzione anche all'interno della concezione della semiotica peirciana, se comparata alla sua fondazione nei saggi anti-cartesiani del 1968.

 

A Natureza do Pragmatismo e a Busca por um Pragmatismo Hispânico

PAPPAS, Gregory Fernando
Universidade do Texas A & M - EUA
goyo_pappas@sbcglobal.net

Resumo: Há um Pragmatismo Hispânico? Para responder a esta questão, parto da questão do que o Pragmatismo é. O Pragmatismo foi revolucionário porque criticou o ponto de partida do modernismo e, ao contrário, tomou a "experiência" como ponto de partida apropriado para qualquer investigação filosófica. Defendo esta visão Pragmática ao contrastá-la com outras visões comuns sobre pragmatismo e ao usar os argumentos do filósofo sul-americano Risieri Frondizi concernentes à razão pela qual a experiência deveria ser o ponto de partida da filosofia. Se estou certo sobre o Pragmatismo, então Frondizi merece ser considerado um Pragmatista Hispânico.

 

Antecipação e Abdução

PESSOA, Kátia Batista Camelo e GIRARDI, Gustavo Melazi
Universidade Estadual Paulista- UNESP - Marília
navevida@yahoo.com.br
gustavogirardi@marília.unesp.br

Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar o conceito de antecipação, que na concepção de De Tienne (2005), é um processo pelo qual a representação de um estado futuro orienta um evento semiótico presente, e a sua relação com o raciocínio abdutivo. Nesse sentido, a antecipação envolve uma dimensão teleológica, na medida em que incorpora signos com os desdobramentos de seus novos interpretantes. No processo de semiose, isto é, nos desdobramentos dos signos, estes carregam com eles o futuro, pois estão impregnados de intenções, desejos, necessidades e ideais. Ressaltamos que na semiose a informação é inerentemente processual, pois os signos se constituem numa dinâmica, e por meio dessa dinâmica, ao serem instanciados, adotam uma forma condicional, que tem a característica de enunciar vagamente o que poderá acontecer no futuro. Ao antecipar uma interpretação, a semiose se desloca em duas direções no tempo: no presente, ela envolve algo do passado que, ao sinalizar por meio de intenções, remete ao futuro; e do futuro para o presente, ao orientar os eventos presentes pela representação do futuro. Há uma co-relação entre essas duas direções temporais na medida em que podemos prever, pelo processo semiótico, os acontecimentos futuros, sendo esta previsão uma orientação para os eventos no presente. Argumentaremos em defesa da existência de uma relação frutífera entre esse processo de antecipação e o raciocínio abdutivo, relação esta que - ao reunir informação na forma de um conjunto ordenado de proposições de um continuum semiótico - possibilita a formulação de novas hipóteses.

Palavras chave: Abdução. Antecipação.

 

Verdade X Método: uma Análise Pontual da Constituição da Concepção Racionalista da Teoria do Conhecimento (Um Contraponto entre os Modelos Teóricos apresentados por René Descartes e Charles S. Peirce)

PESSÔA, Fabiano de Melo.
Faculdade Integrada do Recife - FIR - Brasil
fabianompessoa@hotmail.com

Resumo: Esta comunicação procura analisar, criticamente, a constituição da concepção racionalista da teoria do conhecimento através de um contraponto entre o modelo racionalista de René Descartes e a perspectiva pragmática de Charles S. Peirce. Partindo do modelo apresentado por Descartes - que através do seu Método, redireciona todo o caminhar do conhecimento humano, ao colocar o indivíduo como sujeito ativo na tarefa do conhecer - procuramos pontuar aquilo que nos parece obscuro em sua teoria. Para tanto, fazemos uso do modelo apresentado por Charles Peirce, o qual, atuando de forma intensamente inovadora na tarefa de construção de um modelo racional do processo cognitivo, apresenta uma contribuição de vulto para que se vença um dos grandes desafios postos à teoria do conhecimento que é poder abarcar o máximo de aspectos possíveis de tudo aquilo que nós é dado conhecer. Buscando superar o modelo cartesiano naquilo que este tinha de obscuro, Charles Peirce formula sua teoria sobre a fixação da crença, com os pés fincados na "realidade", em uma perspectiva eminentemente empirista, ao qual denomina de método científico de obtenção da crença. A proposta Peirciana se fundamenta na independência entre pensamento e realidade. Para ele, apesar de possuir o homem o atributo racional, tal característica não pode, por si só, funcionar como parâmetro para a apreensão do real, devendo os elementos da realidade ser introduzidos no processo de concepção da verdade. Contrapõe Peirce a investigação científica ao método intuitivo-racional cartesiano, ao qual denomina de método "a priori" de obtenção de crença. Após analisar os principais pontos dos modelos apresentados por Peirce e Descartes, observamos que, apesar de incluir no processo de captação do conhecimento elementos da estrutura do "real", ainda concebe Peirce a verdade como resultado de um método ("fatalismo metódico"), e procuramos perquirir se isto acarretaria, em Peirce, a exclusão da possibilidade de que venham a existir opiniões divergentes, ambas verdadeiras, sobre um mesmo objeto.

Palavras-chave:Teoria do Conhecimento. Racionalismo. Pragmatismo. Descartes. Peirce.

 

A Abdução como Inferência Fundamental na Produção de Conhecimento

PETRY, Luís Carlos e PETRY, Arlete dos Santos
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/ PUCSP - São Paulo/Brasil
petry@pucsp.br
rletepetry@gmail.com

Resumo: Este trabalho parte de um dos aspectos da crítica peirceana ao cartesianismo. Aborda especialmente a revisão crítica do conceito de intuição, situando-o dentro dos estudos dos métodos das ciências, uma das questões centrais da obra de Peirce. Como resultado da crítica ao espírito do cartesianismo, continua na linha de uma reflexão acerca do conceito de abdução, o qual é proposto por Peirce como primeiro passo de seu método de investigação. Situa a importância da abdução no processo de pesquisa e estabelece algumas possibilidades de aproximações com outros pensadores (especialmente os filósofos da fenomenologia hermenêutica e os psicanalistas de base lacaniana).
O processo de investigação desenvolvido no presente texto organiza-se a partir de uma metodologia de trabalho que busca o diálogo cooperativo entre as fenomenologias de Peirce e Heidegger, identificando principalmente aspectos e momentos nos quais o segundo foi profundamente influenciado pelo pensamento do primeiro na sua proposta de uma filosofia do mundo prático, a partir de Ser e Tempo. De modo retroativo, os desenvolvimentos posteriores da fenomenologia hermenêutica alemã, nos auxiliaram a compreender de um modo mais profundo e cuidado as propostas do filósofo do pragmatismo.
Ao trabalharmos esta perspectiva estamos realizando um primeiro passo metodológico de nossas investigações, as quais tem por finalidade manter viva a proposta peirceana de um método de pesquisa que postule o não abandono do poder da criação no centro do pensar e produzir. Pelo contrário, com o conceito de abdução, arte e ciência se encontram em prol da produção do conhecimento científico, da poesia, bem como representada nas perspectivas artísticas das novas tecnologias.
Desse modo, partindo do fato de que o método de pesquisa peirceano toma como base um conceito inaugural na história da filosofia, qual seja, o conceito do pensamento como signo e de que o signo, na concepção de Peirce, é a materialização do pensamento, encontramos pontos de convergência com outras abordagens mais recentes, as quais apresentam-se fecundas, a fim de uma comparação relacional, na qual o conceito de método e a reflexão centrada em questões é o ponto central.
Nesta investigação, trabalhamos no sentido de uma aproximação que busca valorizar na história do pensamento ocidental o diálogo argumentativo, tendo como ponto central questões que nos determinam, como no presente, o conceito central de abdução como resposta ao problema da intuição.

Palavras-chave: Abdução. Intuição. Semiótica. Método. Teoria do Conhecimento. Fenomenologia.

 

On the Place of Logic in Pragmatism

PIETARINEN, Ahti-Veikko
Universidade de Helsínquia - Finlândia
ahti-veikko.pietarinen@helsinki.fi


Resumo: Do ponto de vista da lógica contemporânea, ataques iniciais á lógica formal por alguns filósofos pragmatistas como F. S. C. Schiller são pouco mais do que aspirações arcaicas em relação à prioridade que a linguagem comum deveria ter na filosofia. Por outro lado, embora concorde com Schiller que a filosofia, desde que ela analise "idéias vagas da vida comum" deveria, de fato, usar "um corpo de palavras com significado vago" (MS 280, 1905), Charles Peirce pensou que a filosofia deveria, não obstante, vestir-se com vocabulário próprio. Peirce concebeu a abundância de novas noções de lógicas não para ter uma caixa de ferramentas à mão para uma variedade de propósitos técnicos, mas para ter os meios através dos quais os significados das expressões com vagos significados pudessem ser tornados precisos. A lógica, assim, não se preocupa primariamente com questões de análise o uso da linguagem, mas com a natureza das idéias. Ela tem que ter precedência sobre a metafísica a fim de que a especulação corra solta na esfera ilimitada do pensamento filosófico. Enquanto William James apreciava os argumentos de Peirce contra Schiller até certo ponto, argüirei que a negligência das raízes lógicas do pragmatismo (pragmaticismo) nos debates contemporâneos pode ser visa como instâncias do sintoma de ver a linguagem como um meio de expressão universal.

 

Uma "Cebola sem Casca": Transparência e Concretização à Luz da Semiótica de Peirce

REDONDO, Ignacio
Universidade de Navarra (Departamento de Comunicação) - Espanha
nredondo82@gmail.com

Resumo: É sabido hoje em dia que o triadismo de Peirce tenta escapar das armadilhas tanto do idealismo quanto do materialismo. Especialmente, a doutrina do sinequismo, com sua busca de continuidades em cada esfera da experiência, é tida como a pedra de toque filosófica que permite este triunfo sobre os dualismos de toda a espécie. Não obstante, há inúmeras passagens em Peirce que parecem se contrapor a uma interpretação límpida deste assunto. Em particular, a idéia de que o signo é um meio que fornece formas ou características de um objeto parece ser um concessão não-pragmática a um certo tipo de platonismo, no qual idéias puras têm que ser derramadas de seu "vaso" (CP 3.597). Realmente, como vários estudiosos já mostraram, a definição comunicativa de signo tem que lidar com uma tensão problemática entre um ideal de transparência e a necessidade de concretização. Neste trabalho, alguns destes problemas e dificuldades serão levados em conta do ponto de vista da filosofia da representação sinequista de Peirce. Através de um desenvolvimento cuidadoso da reivindicação básica de que "todo o pensamento é em signos", será mostrado que, ao passo que não é possível reduzir o signo a qualquer de suas instâncias particulares, ele exige algum tipo de concretização para completar sua função semiótica. Ademais, uma análise dos três tipos de mediação ocorrendo em cada relação genuinamente triádica mostrará que não é correto ter explicações causais ou idealistas na semiose. Ao contrário, será aqui defendido que o fluxo de mediação difusa e contínua permite que Peirce supere o materialismo e o idealismo em uma forma sofisticada de realismo semiótico que efetivamente articule pensamento e expressão sem diminuir o papel desempenhado por qualquer de seus componentes. Levando em consideração algumas conseqüências que podem ser tiradas deste cenário, este trabalho conclui com algumas sugestões para uma filosofia da comunicação mais robusta, na qual não haja lugar para o contato imaterial ou a fusão etérea de mentes descarnadas.

Palavras-chave: Transparência Semiótica. Concretização. Sinequismo. Realismo. Mediação.

 

Uma Resposta Pragmaticista à Questão da Exclusão Causal na Filosofia da Mente

RIBEIRO, Henrique de Morais
UNESP- Faculdade de Filosofia e Ciências - Marília, Brasil.
hdemoraisribeiro@yahoo.co.uk

Resumo: A filosofia da mente contenporânea, no que se refere à área do realismo mental, enfrenta a problemática da exclusão causal da mente. Segundo, alguns argumentos clássicos, a mente parece estar excluída causalmente do universo físico. Esta questão da exclusão causal da mente deve-se a alguns pressupostos que são tacitamente assumidos pelos fisicistas que investigam a questão da exclusão causal. Um pressuposto é o fechamento causal da mente segundo o qual a cadeia causal do universo deve ser necessariamente fechada, isto é, para toda e qualquer causa física existe um efeito físico; o outro é o pressuposto de não -sobredeterminação causal da mente, isto é, a idéia de que dever haver uma e uma só causa para um determinado efeito. Neste trabalho, procura-se mostrar que a noção peirceana de causalidade evita o problema da exclusão causal bem como seus pressupostos, por Peirce assumir uma noção de causalidade final que insere a mente no universo físico.

Palavras-chave: Realismo mental. Exclusão causal. Fisicismo. Causa final.

 

Contribuições do Pragmatismo para o Estudo do Conceito de Cognição na Epistemologia Contemporânea

RODRIGUES, Luciane
Universidade Estadual Paulista - UNESP/Marília - Brasil
lucirodrigues@marilia.unesp.br

Resumo: O objetivo do presente trabalho é indicar possíveis contribuições do Pragmatismo de Charles S. Peirce para a compreensão do conceito de cognição, no contexto atual da epistemologia contemporânea. Argumentaremos que o Realismo Evolucionário do pensamento peirceano, que diz respeito às suas hipóteses sobre a natureza do processo de formação de hábitos, da ação significativa e da construção diagramática, contribui significativamente para a compreensão do processo de aquisição e expansão do conhecimento, cujo estudo é objeto do programa de pesquisa da Filosofia Ecológica. Especial ênfase será dada à relevância do método falibilista peirceano para a elucidação do processo gerador de hipóteses. Nesse contexto, analisaremos o pressuposto epistemológico da Filosofia Ecológica, segundo o qual a cognição está diretamente atrelada à percepção e à ação do sujeito cognitivo em seu processo de interação evolutiva com o ambiente. Para os fins deste trabalho, focalizaremos a hipótese peirceana sobre o princípio gerador de hábitos constitutivos da ação significativa. Entendemos que a ação significativa só é possível porque existe uma continuidade entre as histórias evolutiva e cultural, formadoras de hábitos de ação do sujeito cognitivo, que estão intrincadas na forma deste conhecer o mundo. No sentido peirceano, a continuidade é, grosso modo, a possibilidade de significado contido objetivamente no mundo, i.e. "condições objetivas que funcionam como regras que determinam conseqüências" (Hausman 1993, p. 73). Procuraremos mostrar que a atribuição de significado é, assim, resultante da interação entre sujeito histórico e mundo, exatamente porque essa interação está impregnada de fatores objetivos (objetos imediatos) que restringem o domínio de interpretação e ação do sujeito no mundo. Finalmente, discutiremos duas implicações que julgamos decorrerem da abordagem proposta: (i) a realidade histórica contribui para o caráter de objetividade da cognição / percepção, contudo, (ii) não se trata de qualquer história, mas a do sujeito inserido numa relação específica, propiciada por seu universo semiótico.

Palavras-chave: Realismo evolucionário. Pragmatismo. Objeto imediato. Sujeito histórico. Ação significativa.

 

Peirce e Schopenhauer: Relação entre Primeiridade e Idéia

RODRIGUES JUNIOR, Ruy de Carvalho; SANTOS, Adriana M. Gurgel
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP - Brasil
ruydec@uol.com.br
seres003@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é estabelecer um estudo acerca de alguns pontos de convergência e divergência entre a tentativa de fundamentação de uma metafísica da natureza e metafísica dos costumes, em Arthur Schopenhauer, e a concepção fenomenológico-categorial de primeiridade [firstness] em C.S. Peirce. Parte-se da fundamental reformulação da teoria da representação de Schopenhauer (já pretensamente visível em 1829, em alguns fragmentos não publicados), e sobretudo em sua importante obra de 1836 (Sobre a vontade na natureza), em que o autor pretenderá encontrar uma possível confirmação de suas teses metafísicas nas ciências de seu tempo, assim como na segunda edição de O mundo como vontade e como representação (1844), e dos seus Complementos (1851). Defende-se que no núcleo do deslocamento de sentido de sua teoria da representação está o problemático conceito de matéria (Materie e Stoff), e o difícil conceito de substância, conceitos que levarão o filósofo de Frankfurt a apresentar pelo menos três grandes tentativas (relação entre a quarta classe do princípio de razão suficiente - princípio de razão de agir, lei de motivação -, e a primeira classe - princípio de razão de devir, causalidade; argumentação analógica; e a negação/supressão da vontade de viver empreendida pelo herói da vontade - o asceta/santo) de legitimação das pretensões de validade de sua metafísica da natureza e de sua metafísica dos costumes. Partindo, então, destas tentativas de fundamentação levadas a cabo por Schopenhauer ao longo de sua vasta obra, pretende-se discutir a possibilidade de se estabelecer uma aproximação entre a categoria fenomenológica de Primeiridade de Peirce, e os conceitos de Idéia (tomados aqui em seu sentido ontológico, isto é, como forças inorgânicas e figuras orgânicas, e em seu sentido metafísico/moral, ou seja, como caráter), que perpassam o segundo e o quarto livros da obra magna do filósofo de Frankfurt, O mundo como vontade e como representação. As razões a serem apresentadas como relevantes para tornar possível tal aproximação residem na tensa relação entre o idealismo subjetivo e transcendental schopenhaueriano, com o realismo aristotélico-suareziano por um lado, e a original articulação peirciana entre realismo de matiz aristotélico-scotista e o idealismo identitário-objetivo de filiação neoplatônico-schellinguiano, por outro.

Palavras-chave: Peirce. Schopenhauer. Fenomenologia. Metafísica.

 

A Prudência Aristotélica e sua Aplicação na Medicina

ROMANELLO, Geraldo
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP
gromanello@terra.com.br

Resumo: A interpretação aristotélica das virtudes está dentro da tradição clássica, até hoje não desprezada, o que revela um real valor e decididamente sua participação na tradição clássica como prática do pensamento moral. Seu domínio se confirma há mais de dois mil e trezentos anos, mantendo a tradição racional, em uma visão realista, sem pessimismo, aberta ao mundo social e científico.
Os seres humanos possuem uma natureza específica caracterizada pelo seu pendor ao bem. Este é o pressuposto de Aristóteles: a natureza humana mantém-se a mesma no tempo e o espaço, apesar de haver modificações sociais, culturais, religiosas, econômicas, tecnológicas e científicas.
O bem particular é o bem dos homens, sintetizado na atividade virtuosa; é a eudaimonia, traduzido por felicidade, bem-aventurança, ou ainda, prosperidade. A felicidade é uma das questões abertas em Aristóteles. Quanto ao bem do homem, pode ser definido como um estar bem e fazer o bem.
O exercício das virtudes aparece como a parte central da vida. O sistema ético de Aristóteles tem seu sentido neste exercício das virtudes, o qual traz com resultado imediato à eleição de uma boa ação.
Na pessoa naturalmente boa o hábito também deve ser desenvolvido. Este detalhe na ética aristotélica revela a necessidade da educação moral para todos os homens, bem como a preponderância do racional sobre o sentimental. O papel da razão é de justamente conter os apetites, orientando-os de modo correto, indicando uma decisão racional, inibindo ou até mesmo vencendo os desejos distintos do bem.
Os meios para atingir um fim pedem juízo. Para isto, entram em ação as virtudes, como capacidade de julgar, opinar (porque, no particular, há a opinião correta como o verdadeiro), atingindo a ação correta, o fazer correto, no lugar correto, no momento correto e da forma correta. Esta faculdade opinante ou deliberativa não pode ser confundida como uma aplicação rotineira de normas. Aristóteles não formula normas de agir, ou imperativos. A noção de dever fica de modo implícito na sua ética, embora o termo dever lá conste.
Novamente aparece a relação entre a sabedoria prática e as virtudes morais: os juízos obtidos através de um raciocínio prático, incluem julgamentos sobre o que é bom, correto de fazer. Em suma, uma pessoa, ao agir, guia-se por tais juízos, os quais dependem das virtudes ou dos vícios, quer intelectual ou morais. Como resultado, a ação mesma revela o caráter da pessoa.
A phronesis aplicada na Medicina visa diminuir as incertezas a um mínimo para que o médico possa tomar uma decisão prudente. A deliberação médica estaria baseada na clínica e na ética.

Palavras-chave: Aristóteles. Medicina. Ética.

 

Complexidade Estética em Arte Registrada em uma Proforma Triádica: Contribuições para a Prova do Pragmatismo

RYAN, Paul Jonathan
Universidade das Artes de Londres, Reino Unido
p.ryan3@wimbledon.arts.ac.uk

Resumo: Para Peirce, a estética era uma ciência normativa considerando 'aquelas coisas cujos fins devem incorporar qualidades de sentimento', que se transforma gradativamente em juízos perceptivos. Como Hookway já salientou (Cognitio. Vol 6.1, p. 40), uma característica em qualquer prova do Pragmatismo seria que a experiência estética é tida como complexa, ou rica em significado (mais do que aleatória ou simples, o que pareceria tender na direção do apoio ao nominalismo ou idealismo, respectivamente). A aplicação da máxima Pragmática poderia, então, esclarecer a complexidade de um modo interdependente ao invés de modo circular. Vale a pena notar que Peirce reivindicou que ele era 'um verdadeiro ignorante em estética' (EP 2. p. 189).
Usando um esboço de um artista como o objeto de análise, este trabalho mapeará algumas das complexidades estéticas que a teoria semiótica de Peirce já esclareceu. Ficará claro que mesmo com um desenho relativamente simples, 'significados' relacionados a muitos objetos são contidos em um objeto-de-arte (por exemplo, a representação, o material, o artista, o gênero, o estilo, as cores e assim sucessivamente). Listarei 25 objetos para começar. De modo análogo, 'Eu' com intérprete contribuo com múltiplos 'interpretantes' e, novamente, porei fim à minha lista de (por exemplo, Artista, Adulto, Criança, Inglês, Semioticista…).
Embora o objeto escolhido seja uma 'obra-de-arte', eu não estou usando a palavra estética para significar 'a filosofia das belas artes'. Entretanto, uma estética da forma-de-arte pode ser apreciada dentro daquela parte da natureza pertinente ao ser humano e apenas dirigida ao sentido visual. Uma pergunta a ser considerada é se isto fornece maior ou menos complexidade à estética de uma 'obra de arte' do que a um objeto feito por um não-humano, por exemplo, uma concha ou uma árvore.
Construindo sobre um monograma semiótico, estou desenvolvendo uma 'proforma triádica' para registrar percepções que apresentarei como um trabalho-em-progresso. (Percepções sendo sensações estéticas que já foram julgadas, ou para as quais aceitação já foi dada ou retida, e são, portanto, proposicionais).
Um volume com três lados, um tronco, será mostrado como modelo para visualização do tamanho/tomada de consciência de qualquer investigação quanto à estética de um objeto. Embora o volume de um sólido represente um continuum de significado, o volume pode representar os limites desse continuum em qualquer inquirição. O tronco pode ser exprimido até ser uma linha para qualquer verdade final hipotética para uma comunidade de inquiridores.
Para o Pragmatismo ter sua prova, a complexidade da estética deve estar tão além da demonstração (indemonstrável) que nós devemos ter confiança o suficiente para supor que ela seja o caso como a forma do argumento: 'Se A então B; mas A: portanto B.' Tal confiança só pode ser encontrada se todas as inquirições estéticas revelarem complexidade após escrutínio. A história das discórdias sobre estética parecem já ter confirmado isto, mas isso não é o que essa história deseja fazer. Este trabalho almeja apontar como Peirce começa por fornecer a metodologia para analisar a experiência estética (revertendo generalizações), embora ele tivesse deixado esse trabalho por fazer.

Palavras-chave: Peirce. Estética. Percepção. Prova do Pragmatismo. Desenho. Arte.

 

Cinema e Pragmatismo: uma Reflexão sobre a Gênese Sígnica na Arte Cinematográfica

SANTOS, Marcelo Moreira
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP
marcelo_m.s@terra.com.br

Resumo: Este artigo visa discutir a importância e a urgência da filosofia de Charles Sanders Peirce na compreensão da gênese criativa do cinema. Trata-se de uma reflexão sobre a ontologia e uma possível epistemologia cinematográfica através da semiótica peirciana. Tem-se, como metodologia, a discussão sobre a Fenomenologia da metrópole como um pivô para o desenvolvimento de uma linguagem e de uma estética, especificamente nesse caso, a do cinema, observando o caráter híbrido dessa comunicação e o comportamento dos cineastas em relação a tal estética, enfatizando a importância do pragmatismo na realização e concretização de um filme através de um pensamento triádico, indo desde a idealidade imaginária, testando possibilidades de uma possível externalização e, por fim, no conseqüente desenvolvimento de um filme. Esta tríade tem como base conceitual as Categorias peircianas de Primeiridade, Segundidade e Terceiridade, e encontra correspondência com a Poética de Aristóteles permitindo uma reflexão entre Peirce e este grande filósofo grego.

Palavras-chave: Semiótica. Pragmatismo. Cinema. Ontologia. Epistemologia. Fenomenologia.

 

Fundamentação Última Não-Transcendental?

SILVA, Josué Cândido da
Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC - Brasil
josuecandido@uol.com.br

Resumo: O título de nossa comunicação é uma referência à proposta de Kart-Otto Apel de uma fundamentação não-metafísica da filosofia a partir do conceito de comunidade ideal de comunicação. Em sua fundamentação, Apel parte das condições irretrocedíveis (nichthitergehbaren) da situação de fala, cuja negação levaria inevitavelmente a autocontradição performativa. Ou seja, mesmo um cético precisa argumentar sobre as razões pelas quais recusa o argumento do oponente. Ao argumentar, entretanto, já estaria o cético em uma situação de fala e, portanto, aceitando as regras que regem o discurso argumentativo. A única alternativa a essa situação que restaria ao cético, seria permanecer em silêncio, mas, nesse caso, não poderia dar a conhecer seu ponto de vista e tampouco se caracterizaria como cético. A partir das regras que regem o discurso cotidiano, Apel deriva o conceito de comunidade ideal de comunicação pressuposta como condição a priori de toda situação real de comunicação. Tal conceito lhe permitiria o estabelecimento das condições transcendentais de fundamentação da filosofia capazes de superar o relativismo pós-moderno que postula a impossibilidade de qualquer fundamentação da filosofia. Por outro lado, a passagem da irrecusabilidade da situação de argumentação de uma comunidade real de fala ao conceito de uma comunidade ideal de comunicação, como pressuposto transcendental de todo falante, parece não estar suficientemente justificada. Já em Aristóteles, a prova indireta (ou argumento elênctico) pressupõe apenas uma situação real de fala em que pelo menos um falante que queira refutar o argumento. Para Apel, o pressuposto de uma situação real de fala não é satisfatório para seu projeto de fundamentação da filosofia, daí o recurso a uma comunidade ideal ao interior da comunidade real de comunicação. Tal recurso, porém, traz consigo uma série de dificuldades decorrentes da relação entre comunidade ideal e real de comunicação. Considerar o caminho abandonado por Apel de uma fundamentação não-transcendental e pragmática da filosofia é o tema da presente comunicação.

Palavras-chave: Fundamentação. Pragmática transcendental. Karl-Otto Apel.

 

Será que nossos Melhores Métodos para a Fixação da Crença Levam a uma Opinião Única sobre a Verdade?

SMITH, Barry
Universidade de Londres - Reino Unido
b.smith@bbk.ac.uk

Resumo: Em 'A Fixação da Crença', Peirce observa que opiniões estabelecidas pelos métodos da tenacidade e autoridade podem ser rompidas ao se observar que as outras pessoas ou outras sociedades podem ter opiniões diferentes sobre a verdade ou a falsidade de uma dada proposição. Entretanto, ele sugere, por contraste, que nossos melhores métodos de inquirição estão propensos a levar a uma opinião única e concorde sobre a verdade de qualquer hipótese adequadamente formulada. Suas razões são que cada proposição é ou verdadeira ou falsa, e que os métodos de raciocínio e investigação usados para estabelecer a verdade (ou a opinião) sobre estas questões assegurará concordância geral. Entretanto, a possibilidade permanece que grupos diferentes de uma disputa possam tanto aderir a princípios comuns de raciocínio, ambos conformes a padrões de sua lógica escolhida e, ainda assim, chegar a opiniões divergentes sobre um assunto particular. Pode ser o caso que cada grupo na disputa seja epistemicamente impecável em seu raciocínio embora cheguem a opiniões diferentes, e que, de algum modo, os dois estejam certos. Neste trabalho exploro a coerência da visão relativista de que a mesma proposição possa ser verdadeira para um grupo de pensadores e falsa para outro, e examine se há algo no sistema de Peirce para proscrever tal possibilidade.

 

Elementos de Peirce no Debate de Habermas e Apel

ZANETTE, José Luiz
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP
Zanetti@gvo.com.br ou zanetti@keynet.com.br

Resumo: Habermas e Apel, com a influência do pragmatismo americano, desenvolveram a Ética do Discurso. Porém Apel e Habermas divergiram de forma aguda sobre a possibilidade de uma fundamentação última para essa ética.
Para Apel, em Peirce, há um projeto de fundação de validade das "inferências sintéticas" (abdução e a indução), as quais se realizam como um modo de lógica transcendental e são, simultaneamente, uma lógica de interpretação dos signos. A essa semiótica transcendental combina-se uma teoria normativa de procedimentos para os possíveis critérios na criação de uma teoria consensual da verdade. Com tal base, para Apel, a linguagem é a condição transcendente de todo sentido e validade, já que é implicitamente pragmática na vinculação da fala ao seu próprio sucesso, com a necessidade de consenso sobre o entendimento dos sinais, com a subseqüente interpretação sobre os algos do mundo, com o entendimento ou desentendimento sobre eles. O pensamento argumentativo é igual a uma pretensão de validade que tem que evitar a autocontradição performativa. É uma lógica "a priori" aplicável à comunidade de comunicação e que funda uma normatividade ética.
Habermas vê o apriorismo de Apel como uma espécie de retorno à filosofia do sujeito. Diferentemente de Apel, para Habermas, a abordagem pragmática de Peirce é uma promessa de reconciliação entre Kant e Darwin, com um transcendental e um evolucionismo compatíveis com seus estudos da natureza de Schelling e a recepção da práxis marxista.
Habermas afasta a possibilidade de argumentos isentos de teste empírico e, mesmo em uma pragmática universal na qual o justo se caracteriza pelo critério imparcial de constituição de sua normatividade, não há como garantir que uma norma moral não possa ser alterada futuramente, já que requereria garantir, para esse futuro, as mesmas condições de mundo da vida do momento de sua constituição. É um falibilismo anticético com um construtivismo moral, calcado em um processo contínuo de aprendizagem, que contempla o acaso e o evolucionismo.
Habermas refuta a lógica "a priori" da comunidade de comunicação, com a crença de que a aceitabilidade racional se faz possível "a posteriori", no uso de um poder transcendental da estrutura lingüística fundado em formas de comunicação pelas quais nos entendemos sobre os acontecimentos no mundo e sobre nós mesmos. Tal ocorre porque a língua não é uma propriedade privada, e ninguém dispõe, exclusivamente, de um meio comum de compreensão, o que requer compartilhamento intersubjetivo. Mesmo que falibilista, no "logos" da língua, personifica-se o poder do intersubjetivo, que é anterior à subjetividade dos falantes e sustenta-o.
No evolucionismo, sem pretender negar a evolução das espécies, Habermas não aceita uma teoria prévia que, a cada experiência, leve a uma necessária compatibilização com a mesma. Afastada a justificabilidade ideal e, com os conceitos da verdade como aceitabilidade racional, do falibilismo anticético com um continuum de aprendizagem e com argumentos validados pela imparcialidade da condição de sua constituição, o "a posteriori" de Habermas o afasta de Apel, mas aproxima-o mais de Peirce.

Palavras-chave: Pragmatismo. Lógica Transcendental. Apel. Habermas. Peirce.

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