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CONFERÊNCIAS PRINCIPAIS

RESUMOS E ABSTRACTS


Individualidade e Sociabilidade na Ciência: O "Realismo Social" de G.H. Mead

Rosa CALCATERRA - University of Roma 3 - Italy
calcater@phil.uniroma3.it

Resumo: Os pragmatistas clássicos compartilhavam da confiança nas possibilidades emancipadoras dos métodos e resultados científicos, embora de modo diferente. Um de seus propósitos mais importantes era mostrar que a atividade científica sugere a superação de uma série de dicotomias - sujeito/objeto, mente/natureza, teoria/prática - que perspassam as tradicionais filosofias tanto idealistas quanto empiristas. A utilização do conhecimento biológico e da psicologia experimental por parte de G.H. Mead, no decurso de sua pesquisa filosófica, representa uma tentativa de alcançar este propósito por meio de uma explicação da consciência humana como sendo um fenômeno específico da vida biológica e, ao mesmo tempo, através do desenvolvimento de uma psicologia social, concebida como uma análise empírica do relacionamento entre as estruturas da vida social e a dinâmica da subjetividade.
Minha intenção é esboçar os principais argumentos que Mead oferece na sustentação de um realismo epistemológico centrado na idéia de uma natureza social das atividades cognitivas. A formulação de um conceito de experiência individual em termos de um aspecto funcional, orgânico do desenvolvimento das ciências, e a perspective destes últimos como um processo "construtivo" de significados objetivos socialmente válidos serão considerados como os parâmetros de uma perspectiva filosófica que visa à neutralização do risco do ceticismo implícito na oposição sujeito e mundo físico, que caracteriza as formas tradicionais de realismo, assim como os resíduos idealistas de teorias que enfatizam o aspecto lógico da pesquisa científica. Levando em consideração um grupo de textos cobrindo toda a obra de Mead, eu focalizarei na congruência deste projeto com uma teoria da mente e linguagem naturalista através da qual ele tenta reestruturar um número de noções filosóficas básicas, tais como de universalidade, significado simbólico, verdade e objetividade, em vista de uma concepção de processos de conhecimento definíveis como "realismo social".


Rumo a uma Abordagem Pragmática do Inconsciente

Vincent COLAPIETRO - The Penn State University – USA
vxc5@psu.edu

Resumo:De modos diferentes, mas que se sobrepõem, Peirce, James, e Dewey explicitamente chamaram à atenção para as dimensões inconscientes da mente humana. Entretanto, não está claro se (para levantar a distinção crucial de Freud) eles estavam reconhecendo o inconsciente em um sentido meramente descritivo ou em um sentido verdadeiramente dinâmico (portanto, estritamente psicanalítico). Embora haja certa evidência textual de que James e Dewey não chegaram perto, na ocasião, de desposar o sentido dinâmico deste conceito controverso, há uma base muito maior para interpretar Peirce como um pensador comprometido com este significado do inconsciente. O propósito deste trabalho é mostrar uma afinidade mais profunda do que a comumente suspeita entre as descrições psicanalítica e pragmatista da mente. Enquanto alguma atenção será dada a James e Dewey, aqui irei concentrar-me no ponto de vista de Peirce. A mente concebida como um feixe de hábitos (e hábitos de um caráter distinto) será articulada de tal modo a trazer sob foco concentrado a mais negligenciada afinidade entre a psicanálise e o pragmatismo (entretanto, ver Arnold Goldberg e também meus próprios estudos sobre esta relação). Embora o assunto sendo explorado neste trabalho se concentre principalmente na viabilidade de abordagens teóricos sobre a psique humana, questões relacionadas à eficácia da terapia psicanalítica não serão ignoradas. De fato, talvez seja o caso de que uma teoria mais ou menos adequada da psique tenha que ser desemaranhada das formas questionáveis da prática terapêutica. Ademais, talvez seja o caso que o parentesco entre psicanálise e pragmatismo nos ajude bastante a separar o trigo dos insights teóricos do inconsciente do joio dos modos desacreditados (ou, na melhor dos casos, incertos) de certas práticas; e ele faz isto ao mostrar até que ponto o inconsciente, em sentido psicanalítico, não nos compromete necessariamente com as formas historicamente sancionadas da terapia psicanalítica. Finalmente, este ato levanta uma série de questões sobre a relação entre nossas descrições teóricas e práticas históricas, terapêuticas e outras. Consignando as mais centrais dentre estas nos ajudará a mostrar como o pragmatismo peirceano fornece a perspectiva abrangente na qual as contribuições mais vitais da tradição psicanalítica podem ser menos problematicamente incorporadas.

 

Quem Tem Medo de Charles Sanders Peirce: Introduzindo um pouco de Bom-Senso Crítico na Filosofia Moral

Cornelis DE WAAL - Indiana Univesity - USA
cdwaal@iupui.edu

Resumo: Meu propósito nesta palestra é explorar a contribuição potencial da teoria de Peirce da inquirição científica para a filosofia moral. Após breve apresentação, eu começo por delinear a teoria de inquirição de Peirce. Em seguida, debruço-me sobre a razão pela qual Peirce acreditava que isto é inaplicável ao que ele chamava "assuntos de importância vital", entre os quais se incluem, obviamente, problemas morais genuínos. Isto nos deixa basicamente com duas opções: podemos tentar desenvolver um modo alternativo de tratar os problemas morais, ou podemos buscar reconciliar problemas morais com a inquirição científica como descrita por Peirce. Defenderei esta última.


As Raízes Gregas do Pragmatismo: Um Novo Nome para um Modo Antigo de Pensar

Rossella FABBRICHESI - Milan University - Italy
rossella.fabbrichesi@unimi.it

Resumo: No decorrer dos anos, Peirce desenvolveu sua própria regra pragmática, ou pragmaticista, enfatizando cada vez mais o tema da 'resolução para agir'. O significado pragmático reside nos efeitos que possam concebivelmente ter conseqüências práticas, em como ele pode levar-nos a agir, e não há distinção de significado tão tênue que consista em algo além de uma diferença possível de prática (Máxima de 1878). A prática não é simplesmente ação, como qualquer scholar peirceano sabe, mas é inegável que o pragmatismo tem uma referência forte em relação à conduta, ao hábito praxeológico, efetivo, capaz de modificar a rigidez do existente com a força de seus efeitos. Força, eficácia, ação, prática são termos circulando com um impacto transformador profundo na filosofia do século XX.
Com o desenvolvimento de seus estudos, Peirce enfatizou ainda mais o exercício dinâmico e produtivo, ou mesmo voluntarista que está imbricado com a construção do significado lógico: não há verdade que não seja um efeito da verdade; isso não advém de uma ação que constitui a verdade; isso não é a aplicação de algum poder expressivo e semiótico. O que achamos deve ser entendido em termos do que estamos preparados para fazer, do que escolhemos fazer deliberadamente (Conferências de Harvard) e a lógica está intimamente conectada à ética (e estética). Poderíamos resumir sua teoria deste modo: a verdade reside na efetividade pragmática que o objeto de nossa concepção adquire durante um certo processo, graças à disposição a responder, compartilhado em um nível coletivo e crucial na produção de sentido (Assuntos do Pragmaticismo). Ou, como Peirce preferia dizer, com uma simplicidade maior e referindo à passagem bíblica: 'pelos seus frutos vós os conhecereis' (Pragmatismo).
Neste trabalho tenciono mostrar que esta noção de verdade está fundada na idéia de poder operativo (en-ergos, em grego), capaz e produzir bons resultados, que sempre foi uma das idéias-chave do conhecimento Ocidental. De fato, nossa civilização está fundada - desde a era grega - na noção do poder do efeito, do resultado alcançado, da ação como engajamento e como a realização de um propósito. Nesta concepção ativa, dinâmica, e 'heróica' do fazer (prattein) é essencial a idéia de alcançar conseqüências práticas relevantes - conseqüências visíveis (calculáveis, mensuráveis) - as únicas capazes de mensurar o sucesso da ação. Isto está intimamente associado à idéia de força, da energia que está envolvida na realização de ações e este é um valor inquestionável em nossa civilização, mesmo que diferentemente modulado, desde a era grega (como Nietzsche tão bem compreendeu). Basta recordar aos valores propostos n' A Ilíada, o poema no qual os cantos são dedicados aos heróis que ganham as lutas e que são reconhecidos como líderes por isso; de fato, o mundo Ocidental já propôs o modelo de uma 'cultura da vergonha' desde então, no qual a única coisa valiosa é o resultado produzido, o efeito prático no agon. Alguma vez nos afastamos destas posições?


A Máxima Pragmática e a Prova do Pragmatismo: As Estratégias de Peirce por volta de 1903

Christopher HOOKWAY - University of Sheffield – England
c.j.hookway@sheffield.ac.uk

Resumo: Na 'Máxima Pragmática e a Prova do Pragmatismo', (Cognitio, 2005), eu tentei esclarecer a estratégias de Peirce utilizada nas 'Conferências sobre Pragmatismo' (1903) para argumentar em prol de (ou 'provar') sua máxima pragmática. Esta prova visava tanto esclarecer o conteúdo da máxima quanto demonstrar sua correção. Este trabalho é uma continuação daquele, e debruça-se sobre a tentativa de Peirce em argumentar em prol do pragmatismo em escritos após 1903. Como no trabalho anterior, estou mais preocupado em identificar as estratégias que ele utilizou para defender a doutrina do que nos detalhes de sua execução destas estratégias. E um assunto importante concerne o porque ele não se satisfez com o argumento de 1903 e, aparentemente, buscou um tipo diferente de abordagem. Terá sido porque achava que o argumento anterior houvera fracassado em estabelecer sua conclusão? Ou fora porque achara que a abordagem anterior não fornecera uma 'explicação' plenamente perspícua do porque a máxima estava correta?


A Crescente Atratividade do Pragmatismo Clássico

Nathan HOUSER - Indiana University – USA – Keynote Speaker
nhouser@iupui.edu

Resumo: Ao redor do mundo parece estar havendo um interesse crescente no pensamento dos primeiros pragmatistas: Charles Peirce, William James, e John Dewey. Isto é tão evidente em São Paulo quanto em Pamplona ou em Cambridge, Massachusetts. Recentemente, também tem crescido o interesse em Josiah Royce, que é às vezes incluído na campo pragmatista, embora às vezes com ressalvas. O que, na visão destes filósofos do século XIX e início do XX está atraindo os filósofos hoje? Talvez seja o fato de que estamos ficando insatisfeitos com uma visão da filosofia que não busca ajudar-nos a nos situarmos mais adequada e satisfatoriamente em nosso universo? Será que a banda larga do pragmatismo é melhor que a banda estreita da filosofia analítica? A visão do pragmatismo aqui considerada concernirá mais o ethos destes filósofos pragmatistas do que suas teorias técnicas. Não obstante, será sugerido que é a força analítica do pragmatismo que, por fim, dará, em seu amplo delineamento, uma vantagem sobre as outras grandes abordagens ancoradas no humano, tais como o Existencialismo ou o franco Teísmo.

 

O Significado de Primeiridade em Schelling, Schopenhauer e Peirce

Ivo Assad Ibri - Centro de Estudos de Pragmatismo - Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia da PUC/SP
ibri@uol.com.br

Resumo:Malgrado o conceito de primeiridade tenha sido concebido por C. S. Peirce (1839-1914), sua raízes já estavam presentes no passado da história da filosofia. Particularmente, Schelling e Schopenhauer foram pensadores que trabalharam este conceito, cada um deles dentro do contexto de seus próprios problemas filosóficos. Peirce é, confessadamente, um herdeiro de Schelling - seu conceito de primeiridade, a par de outras heranças shellinguianas encontráveis em seu pensamento, é, de algum modo, inspirada no pensador alemão. Todavia, quando consideramos Schopenhauer, a primeiridade aparece exclusivamente como uma experiência de contemplação, a qual é, para Peirce, apenas uma dimensão da experiência humana interior sob esta categoria. De fato, a concepção de Peirce vai adiante, estendendo-se e espraiando-se para o mundo externo, sob a forma geral do Acaso, enquanto Schopenhauer mantém o determinismo kantiano, concebendo a Natureza sob estrita causalidade e necessidade. O presente trabalho tenta mostrar, então, as similaridades e diferenças entre estes autores quanto ao conceito de primeiridade, o qual, na realidade, tem seu território teórico comum no velho conceito clássico de liberdade, enfatizando-se, não obstante, sua extrema importância para os três sistemas filosóficos.


O Pragmatismo e a Perspectiva de uma Reaproximação com a Filosofia Eurocêntrica

Joseph MARGOLIS - Temple University – USA
josephmargolis455@hotmail.com

Resumo: As principais correntes da filosofia eurocêntrica, amplamente concebida: pragmatismo, filosofia analítica e, filosofia continental, embora cada um destes "movimentos" se estenda sobre realizações extremamente diversas, agora parecem estar convergindo sobre a questão da adequação ou não a alguma forma de naturalismo. A filosofia analítica tem tendido a favorecer formas redutivas de naturalismo ("naturalizantes," no sentido de Quine e Davidson); a filosofia continental tende a favorecer, no que denomino extranaturalismo, a inadequação de qualquer forma comum de naturalismo (notavelmente, nas linhas exploradas por Husserl e Heidegger); e o pragmatismo tende a favorecer formas moderadas, mas generosas de naturalismo que admitem a singularidade da pessoa humana. A questão que me concerne aqui é a perspectiva de uma reaproximação entre estas correntes, que eu acho que dependem da reconsideração das inovações de Kant e Hegel. Nestes termos, o pragmatismo parece ter uma vantagem distinta, embora sua sorte dependa de sua habilidade em cooptar a obra distinta dos continentais e de substituir as opções extremamente redutoras favorecidas pelos analíticos.


C. S. Peirce e G. M. Searle: O Logro do Infalibilismo

Jaime NUBIOLA - University of Navarra - Spain
jnubiola@unav.es


Resumo: George M. Searle (1839-1918) e Charles S. Peirce trabalharam juntos na Coast Survey e no Observatório de Harvard durante a década de 1860: os dois cientistas foram assistentes de Joseph Winlock, o diretor do Observatório. Quando, em 1868, George, convertido ao catolicismo, deixou-o para se juntar aos Padres Paulistas, ele foi substituído por seu irmão Arthur Searle. George foi ordenado padre em 1871, foi lente de Matemática e Astronomia na Universidade Católica da América e tornou-se o quarto padre superior de sua congregação de 1904 a 1909. Entre os livros que escreveu para não-católicos está Fatos Simples para Mentes Razoáveis (Plain Facts for Fair Minds; 1895). No dia 8 de agosto de 1895, Peirce encontrou esse livro em uma livraria e no dia seguinte escreveu uma carta a George Searle desfiando suas fortes reservas sobre a questão da infalibilidade do Papa. Esta carta (L 397) é praticamente desconhecida entre os scholars peirceanos.
Após descrever estas circunstâncias históricas como uma estrutura, o objetivo de meu trabalho será o de descrever os argumentos de Peirce contra a infalibilidade papal apresentada por George Searle em seu livro, e o contraste entre a atitude genuinamente científica e a noção metafísica putativa da verdade absoluta que está - de acordo com Peirce - por trás da defesa da infalibilidade por parte de Searle. Neste sentido, o falibilismo de Peirce será explicado em algum detalhe, dando conta também de seu infalibilismo prático: "A asserção de que cada asserção exceto esta é falível, é a única que é absolutamente infalível. Mas embora nada mais seja absolutamente infalível, muitas proposições são praticamente infalíveis; tais como os ditos da consciência" (Lógica Pequena, CP 2.75, c. 1902).
Finalmente, tendo em mente o interesse presente nas idéias religiosas de Peirce, será sugerido que algumas das idéias de Peirce sobre infalibilidade estão mais perto da compreensão contemporânea desse assunto do que a defesa de Searle. "Eu me juntaria, de todo o coração, à antiga Igreja de Roma, se pudesse. Mas seu livro - Peirce escreve a Searle - é um tremendo aviso contra fazê-lo".


Ockham e Peirce sobre Realidade e Signos: Aproximações e Divergências

Ockham and Peirce on Reality and Signs: Affinities and Divergences

Roberto Hofmeister PICH- PUC-RS - Brazil

Resumo: O tema dos "universais", na filosofia na Idade Média, fora objeto de análise de Duns Scotus, em cujo realismo modal - da "natureza comum" na coisa e do "conceito universal" só na mente - Peirce parece ter se inspirado na elaboração da sua metafísica e teoria da ciência. É sabido, porém, que a mais profunda revisão histórica do entendimento dos universais é mérito de outro pensador medieval, a saber, Guilherme de Ockham - cuja ontologia é estritamente de coisas particulares e para quem universais como conceitos da mente (conceptus ou intentiones) só têm existência mental exemplar em cada indivíduo, seja como ficta ou atos abstrativos eles mesmos. A repercussão do "nominalismo" de Ockham é pervasiva na filosofia posterior. Para todos os efeitos, aqueles meros acidentes inerentes ao intelecto, os conceitos abstrativos, pressupõem intuições inelectuais de objetos particulares e, como termos mentais simples ou, então, em proposições mentais, são basicamente signos naturais que representam um ou mais entes singulares do mundo. O que são, nesse caso, signos? Quais são os tipos de signos? Como exercem propriedades semânticas (significação, suposição, etc.)? Essas perguntas se revestem de importância porque, se pelo pensamento e linguagem o mundo pode ser conhecido, Ockham crê poder descrever satisfatoriamente uma teoria semântica para mostrar como a mente representa sempre e apenas coisas particulares (substância, qualidade, forma e matéria no indivíduo e de cada indivíduo), tal que generalização e universalidade existem só pela significação. Ao mesmo tempo, parece admitir um realismo direto (sic!) de particulares que determinam, sim, o conteúdo dos termos mentais absolutos e das proposições mentais assentidas - determinam e possibilitam, pois, o conhecimento e a ciência reais. Isso só é inteligível na base da origem dos signos naturais.
Em que medida foi Peirce um leitor de Ockham? Adota posições de Ockham sobre realidade, conhecimento e teoria dos signos, mesmo sem denominá-las "ockhamistas"? Há, naturalmente, vigorosa e convincente tendência a identificar em Peirce um "realismo scotista". Em geral, pois, a própria lógica/semiótica de Peirce, isto é, a sua extremamente detalhada doutrina dos signos, exemplarmente interessada em explicar para propósitos de teoria da ciência como signos e objetos se relacionam, dá apoio ao seu realismo, avesso ao "nominalismo" e ao "idealismo". Há, porém, quem note que, apesar dessa denominação, o programa pragmatista de significação e conhecimento pode, no conteúdo, ser visto como "anti-realista" e firmemente "verificacionista". Isso, por exemplo, poderia ser interpretado da famosa extensa resenha de Peirce a "Fraser's The Works of George Berkeley", de 1870, em que o "nominalismo" rejeitado, que identificava as causas eficientes de pensamentos e conceitos "semelhantes" a modo de teoria representativa da percepção e de teoria da verdade por correspondência, abrindo espaço a desconfianças céticas, bem poderia valer, no conteúdo, por um modo tradicional de "realismo" (sic!) - mesmo o scotista. E se realismo valeria, ali, por toda teoria que põe na realidade de singulares a causa final de inquérito, realidade alcançada se buscada suficientemente e adequadamente, o "verificacionismo" e "realismo empírico", aqui, tem semelhanças ao "nominalismo" de Ockham (sic!). Sem dúvida, o realismo de Peirce tem variações muito mais complexas - da defesa de modalidades objetivas aos problemas de referência a objetos da percepção. De qualquer maneira, o estudo pretendido quer revisar o tema da metafísica e semântica "nominalistas" em Peirce, sob o termo de comparação de Guilherme de Ockham. Dado que existem, na literatura especializada, estudos e pesquisas que associam a metafísica e a teoria dos signos de Ockham àquelas de Peirce, o estudo a ser apresentado propõe-se igualmente revisá-los, tanto quanto for possível.


C. S. Peirce e Aristóteles sobre o Tempo

Demetra SFENDONI-MENTZOU - Aristotle University of Thessaloniki - Greece
sfendoni@edlit.auth.gr


Resumo: A questão concernente à natureza do tempo está intimamente relacionada à antítese tradicional entre o universo parmenidiano a-temporal estático e o modelo dinâmico do vir-a-ser. Isto está maravilhosamente ilustrado na teoria do fluxo do tempo peirceana. Nesta rejeição da visão de mundo atomista, Peirce tratou o tempo em relação íntima com os processos físicos. Ele então propôs uma teoria extremamente interessante que tem um certo parentesco com teorias contemporâneas da flecha do tempo. Entretanto, o que torna esta abordagem extremamente interessante é não apenas seu ar de modernidade, mas suas notáveis semelhanças com Aristóteles (Física, livro IV, esp. caps. 10-14).
Meu propósito, portanto, neste trabalho é reconstruir a teoria do tempo de Peirce à luz da filosofia de Aristóteles. Meu ponto de partida será a análise de continuidade em relação aos infinitesimais (6.109), através do uso da qual ele pode tratar o tempo como um "continuum par excellence," (6.86, 1898) que não é uma coleção estática de instantes discretos, (ver MS 137, p. 4-5, 1904), mas uma coleção de possibilia reais (ver NE, 360), tornando assim possível a compreensão do fluxo do tempo (6.11). Então prosseguirei com o exame da conexão do tempo de Peirce, como um continuum real, com a idéia de infinito. A este respeito, focalizarei na sua rejeição da infinidade verdadeira - no sentido zenoneano-atomístico-cantoriano - e sua adoção da idéia aristotélica de potencial infinito (Física, livro III, caps. iv-viii). Argüirei, portanto, que o que levou Peirce a passar da análise lógico-matemática de continuidade para uma teoria ontológica foi seu apelo à potencialidade no seu tratamento de continuidade-infinidade-tempo. Isto, creio, foi o resultado da influência que ele recebera de Aristóteles, que estava também profundamente preocupado em dar à mudança, movimento e vir-a-ser, seu lugar apropriado na natureza. Assim, tanto Peirce quanto Aristóteles puderam construir uma teoria dinâmica do tempo, intimamente relacionada à idéia de infinidade potencial, que expressa um processo físico sendo progressivamente atualizado, de tal modo que ele jamais poderá existir como um todo imaginado.


O Tempo em Peirce

Lauro Frederico B. da SILVEIRA - UNESP/Marília - Brazil
lfbsilv@terra.com.br

Resumo: A variável tempo, permeia toda a filosofia de Charles S. Peirce. Sua posição a respeito do tempo é a de conferir-lhe realidade objetiva sem lhe atribuir função transcendental. O conceito de tempo acompanhará, em seu desenvolvimento, o conceito de continuum e será sob este último aspecto que receberá seu mais amplo tratamento.Um duplo viés determinará o encaminhamento da discussão sobre a concepção de tempo e de suas propriedades: o senso comum crítico e a teoria topológica do verdadeiro continuum. Com efeito, Peirce encontrará na topologia um modelo formal que lhe permita trabalhar rigorosamente uma apreensão ingênua de tempo, com mínimo pressuposto metafísico, anterior qualquer métrica e, de fato capaz de recuperar, com o auxílio da ciência que lhe é contemporânea a noção aristotélica do tempo em termos de antes e de depois. Deixa crer o autor, que com tal tratamento as concepções de tempo que integram diversas doutrinas filosóficas, podem ser assumidas sem prejuízo do que ele estaria propondo, dada a proximidade com a experiência diária com que a noção é trabalhada. Como modalidade objetiva, torna-se, inclusive, possível acolher o tempo na construção dos diagramas e no tratamento lógico oferecido pelos Grafos Existenciais.

 

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