Volta para o cartaz/Back to the poster

 

Prof. Dr. João Carlos Salles Pires da Silva
Departamento de Filosofia - Universidade Federal da Bahia - Brasil

Versão Bilíngüe [Bilingual Version]

O Projeto de uma Pragmática Filosófica

O projeto de uma pragmática filosófica parece conspirar, de certa forma, contra suas origens. Para afirmar-se, afinal, deve promover um deslocamento de uma concepção de filosofia como atividade terapêutica a uma filosofia da linguagem. Pretendemos, então, examinar as dificuldades de um tal movimento, reconstituindo-o, porém, não de modo abstrato, como se construíssemos uma demonstração em estado de épura. Para dar concretude a nossa proposta de leitura e torná-la bem mais interessante, examinando esse deslocamento nas condições efetivas por que pode condensar uma aporia ou claros benefícios, consideraremos como origem do projeto de uma pragmática filosófica a obra de Wittgenstein, o que já comporta uma circunscrição severa. Por outro lado, examinaremos o conjunto dos trabalhos de Arley Ramos Moreno, cuja produção comporta tanto o comentário fiel (e. g. em seu Wittgenstein: Através das Imagens), como sutis transgressões, das quais bem reconhece o preço, como em seu extenso livro Idéias para uma Pragmática Filosófica. Discutiremos, então, se tal deslocamento é inevitável, apesar de aporético e não consentido, tomando como objeto a própria noção de "uso" (em seu duplo registro de expediente terapêutico e de proposição sobre a natureza da significação) e a questão da certeza e da necessidade, aspectos essenciais às condições de objetividade, cuja constituição é, todavia, de natureza pragmática.
É claro que a obra de Arley Moreno depende de referências ou influências outras, como as de Granger, Frege ou Husserl, mas o confronto com Wittgenstein explicita uma tensão característica da possibilidade mesma de uma pragmática como componente de uma teoria das relações entre linguagem e mundo. Por outro lado, se muitas são as heranças possíveis de Wittgenstein, a obra de Arley Moreno exemplifica um esforço de sistematização teórica dos mais consistentes. Afinal, analisando seus trabalhos podemos bem inquirir como o detalhe de uma pragmática filosófica pode dialogar com questões gerais da história da filosofia, de sorte que se encontre um lugar adequado para a própria noção de pragmática, sem que ela precise recuar ao plano do transcendental puro ou decair em forma de acesso a algum relativismo exacerbado. Com isso, torna-se enfim nosso objeto a tensão constitutiva do projeto de uma pragmática filosófica: "focalizar o aspecto pragmático da constituição do sentido de nossa experiência", evitando, contudo, a idéia da naturalização das convenções lingüísticas, bem como uma qualquer metafísica de processos transcendentais puros.


The Design of a Philosophical Pragmatics

The design of a philosophical pragmatics seems, somehow, to conspire against its origins. To definitely assert itself, it must shift from a conception of philosophy as a therapeutic activity to a philosophy of language. Thus, we intend to examine the difficulties of such a movement reshaping it, but not in an abstract fashion, as if building a demonstration in épure-space. In order to provide substance to our reading proposition and make it much more interesting, examining this shift under the actual conditions in which it may condense aporia or clear benefits, we will consider the work of Wittgenstein as source for the design of a philosophical pragmatics, which in itself involves strict boundaries. On the other hand, we will examine the overall works of Arley Ramos Moreno, whose writings include both faithful observations (i.e., in his Wittgenstein: Através das Imagens) and subtle transgressions, the price of which he well appreciates, as in his extensive book Idéias para uma Pragmática Filosófica. Thus, we will discuss whether such shift is inevitable, although aporetic and unauthorized, taking as object the exact notion of 'use' (in its dual sense of therapeutic expedient and proposition on the nature of significance) and the question of certainty and necessity, essential aspects for objectivity, whose structure, though, is of a pragmatic nature.
Evidently Arley Moreno's works rely on references or other influences, such as Granger's, Frege's or Husserl's, but the confrontation with Wittgenstein expounds a characteristic tension of the possibility of a pragmatics as a component of a theory of the relationship between language and world. On the other hand, no matter how many legacies there are of Wittgenstein, the work of Arley Moreno represents one of the most consistent endeavors in theoretical systemization. After all, from an analysis of his work one can well inquire how the detail of a philosophical pragmatics can dialogue with general matters in the history of philosophy, in order to find a suitable place for the notion itself of pragmatics, without having it retreat to the pure transcendental plane or decline as an access to some exacerbated relativism. Thus, finally, our object is the constitutive tension of the design of a philosophical pragmatics: "to focus on the pragmatic aspect of the constitution of the meaning of our experience," avoiding, however, the idea of the naturalization of linguistic conventions, as well as any metaphysics of pure transcendental processes.


Página anterior - Página inicial
[Previous page - Home]