1º DIA - segunda-feira, 8 de novembro de 2004 - 19h
1ª Sessão
1ª Palestra
Vagueza
e a Ontologia da Arte
Vagueness
and the Ontology of Art
Profa.
Dra. Claudine Tiercelin
University Paris XII - Créteil, França
[Resumo]
A vagueza é freqüentemente concebida como mera noção
epistêmica ou semântica, e a alegação de que possa
haver objetos vagos raramente é considerada como alternativa séria.
Embora muitos trabalhos originais tenham sido realizados no Século
XX no âmbito da ontologia da arte, pouca atenção tem
sido dada à forma como o conceito de vagueza possa ser importante
na ajuda e esclarecimento de muitas questões ontológicas relevantes
relacionadas à arte: qual o modo de existência de uma obra
de arte? Quais são suas condições de identidade, de
individuação? Seriam iguais para qualquer obra de arte, seja
ela uma pintura, escultura, peça musical? Que tipo de entidade é
uma obra de arte: um type, um token? Um evento? Um estado
de coisas? É ela Real (platônica), nominal, conceitual? Apenas
mental, convencional? Qual a relação (superveniência?)
entre as propriedades estéticas, artísticas, e as propriedades
físicas? Seriam as propriedades estéticas propriedades de
objetos ou basicamente disposições? Faz sentido ser-se um
realista (embora não Platônico) em arte?
Na virada do século, Charles Sanders Peirce forneceu instrumentos
extremamente úteis (embora indiretos) para essas questões
ao desenvolver toda uma Lógica (ou melhor, Semiótica) e um
Realismo da Vagueza: não apenas sustentou que a vagueza é
objetiva (e não simplesmente lógica ou epistêmica),
mas, através de uma análise categorial sofisticada que muito
deve aos medievais (Duns Scot, particularmente), ele também sustentou
que a própria realidade é irredutivelmente vaga e geral.
O objetivo deste trabalho é triplo: 1) apresentar e tentar aplicar
as análises de Peirce no âmbito da vagueza (sob um ponto de
vista semiótico, epistemológico e ontológico) a alguns
exemplos tirados de questões debatidas na ontologia da arte; 2) verificar
se estas análises aplicadas poderão fornecer alguns argumentos
sólidos a favor de uma (recém definida) posição
realista na ontologia da arte; e 3) se as formas que a vagueza assume
no âmbito da arte não poderão, por sua vez, esclarecer
algumas disputas correntes relacionadas à epistemologia e à
ontologia da própria vagueza.
Centro de Estudos do Pragmatismo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia
Departamento de Filosofia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo