7º Encontro Internacional sobre o Pragmatismo - Página inicial

8 a 11 de novembro de 2004

Miss Ophelia Deroy
PhD Student - University of Paris XII, France

PEIRCE E O CETICISMO ANTIGO

RESUMO
Peirce, quando é acusado de ser um cético, recusa a acusação violentamente; contrariamente a isso, expressa que sua grande satisfação é-se dizer "[in-]certo de [suas] próprias conclusões" (CP 1.10). Ele não defende também uma forma de falibilismo radical que, como escreveu Christopher Hookway, "escapa do ceticismo apenas por um crucial fio de cabelo"? Não podemos, então, lembrar os paradoxos lógicos em sorites, que Peirce e os modernos lógicos da vagueza mencionam freqüentemente, e que perguntam que cabelo é suficiente para passar da careca à cabeleira, perguntando também qual característica distintiva, adicionada a um ceticismo inicial, é suficiente para se escapar dele?
O tema foi largamente debatido e ainda mereceria uma discussão interessante, mas não é esse nosso ponto. O propósito de nosso estudo será, antes, clarificar o que deveria ser sustentado como ceticismo e o que Peirce poderia querer dizer com isso, como quando ele o recusa ou como às vezes quando ele o aceita.
O primeiro ponto é se distanciar do sentido pejorativo da palavra: como mostra o bem conhecido diálogo entre Hilas e Filono escrito por Berkeley, acusar a posição adversária ou de dogmática ou de cética é um topos muito retórico; assim, devemos ser prudentes em nosso uso de tal vocabulário polêmico. Aplicada principalmente a Peirce, a confusão entre dúvida e ceticismo é uma saída estreita: como disse Vitor Brochard, em um estudo de 1884, que ainda hoje é referência, a dúvida não faz o cético.
"O verdadeiro cético não é alguém que duvida deliberadamente e teoriza sobre suas dúvidas; nem é alguém que acredita em nada e diz que nada é verdadeiro, o que é outra acepção equívoca do termo: o verdadeiro cético é alguém que, deliberadamente e por razões gerais, duvida de tudo exceto do fenômeno, e mantém-se a duvidar."
A pertinência dessa última definição terá de ser qualificada, antes de ser comparada com a filosofia de Peirce. Parece, por certo, necessário distinguir entre diferentes tipos de ceticismo, e todo estudioso familiarizado com a filosofia grega sabe que Pirro não deve ser confundido nem com Carneades nem com Sexto Empírico.
A investigação histórica, portanto, parece sugerir a ocasião para qualificar o termo ceticismo e para especificar suas ligações e sua diferença com outros rótulos filosóficos, tais como o fenomenismo, o probabilismo, o empirismo, o relativismo ou o positivismo, que também são usados para caracterizar a filosofia de Peirce e o pragmatismo em geral.
A clarificação histórica, ao explorar as variantes das posturas epistemológicas e práticas dos céticos, permite distinguir entre os diferentes sentidos na acusação levantada contra Peirce, além da acusação global de louvar a incerteza. Pode-se também sublinhar diferentes - e mutáveis - respostas a argumentos céticos destrutivos, ou diferentes relações entre Peirce e este ou aquele tipo de ceticismo. Será a ocasião para revisar, de uma perspectiva histórica, os estudos e os juízos feitos sobre o ceticismo no século XIX, e enfatizar uma admiração particular pela Nova Academia, e então completar a admirável obra de Max Fisch sobre as influências gregas na filosofia de Peirce, com o estudo do conhecimento acadêmico de Peirce do ceticismo antigo.
Além dessa preocupação terminológica, o enraizamento do debate na antiguidade, que Peirce tanto conhecia quanto freqüentava os textos, tem por meta dar sua plena consistência a uma perspectiva freqüentemente considerada como adversária dos filósofos, ou ao menos, como uma experiência temporária e negativa que é necessária a eles. Temos de nos defender contra o ceticismo ou reconhecer alguma prudência cética, para emprestar um termo grego que sugere adequadamente que o problema se estende de aspectos teóricos para problemas práticos? Em cada uma das posições céticas, do conformismo pirrônico ao proto-positivismo de Sexto, há um coração positivo da doutrina, que poderia, com mudança suficiente, debater com o pragmatismo e suas interpretações comuns.


Centro de Estudos do Pragmatismo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia
Departamento de Filosofia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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