2º DIA - terça-feira, 9 de novembro 2004 - 19h
2ª Sessão
1ª Palestra
Peirce
sobre os Medievais: Realismo, Poder e Inferência
Peirce on
the Medievals: Realism, Power and Inference
Prof. Dr. John Boler
Departamento de Filosofia - University of Washington, Estados Unidos da
América
[Resumo]
Após alguns breves comentários introdutórios, onde
chamo atenção à ambivalência na atitude de Peirce
para com os pensadores medievais - alguns altos encômios, algumas
duras críticas - este trabalho se divide em três partes desiguais.
Na primeira e mais longa que, conforme Agostinho, denomino "Retratações"
(Retractationes), analiso algumas críticas ao meu livro Charles
Peirce and Scholastic Realism. Três destas estão refletidas
na posição de Max Fisch, embora, como seria de se esperar,
sua crítica esteja lá apresentada de forma extremamente generosa
e cortês. (Cf., Peirce, Semiotic and Pragmatism, editado por
Ketner & Kloesel.) Fisch considera que Peirce: (1) converteu-se ao realismo
a partir de um nominalismo original, (2) aboliu suas referências ao
"realismo escolástico" durante seu período intermediário,
quando algumas de suas idéias mais importantes se desenvolveram,
e (3) retornou posteriormente à questão, porém com
um realismo muito além de sua posição original.
Meu livro apresentou o realismo escolástico de Peirce como uma posição
única, do princípio ao fim. Mas desejo ajustá-la à
luz dos pontos de Fisch. A primeira, como explicarei, não me parece
significativa, porém reflete uma pressuposição imatura
e não crítica do rótulo nominalista que Peirce abandona
em seus escritos ponderados, maduros (e contínuos). Na análise
das segunda e terceira críticas de Fisch, todavia, desejo aqui distinguir
seu realismo escolástico do seu desenvolvimento continuo do realismo.
(Certamente, o uso extenso de "nominalismo" como um rótulo
crítico, por parte de Peirce, vai muito além do que os pensadores
medievais tinham em mente.) Neste sentido, ofereço um significado
mais restrito e preciso de "realismo escolástico" - aproximadamente
um antiplatonismo, onde se encontra a natureza comum como um elemento nas
coisas. Esse significado, penso eu, se mantém efetivamente constante
para Peirce, embora concorde com Fisch que isto seja apenas uma parte do
seu realismo em desenvolvimento. O que de fato muda, penso eu, é
o auto-proclamado escotismo de Peirce, onde a ênfase se desloca, em
linhas gerais, do conceito de compartilhamento do universal para o de determinação
do particular, ou seja, da Terceiridade para a Segundidade.
Na segunda parte do trabalho, enfatizo a ligação entre a noção
escolástica de potencialidade e as "possibilidades"
de Peirce. Curiosamente, porém (para mim), isto não é
uma influência que o próprio Peirce reconheça. Peirce
rejeita a noção escolástica (e Aristotélica)
de forma. Houvesse ele visto o hilomorfismo no contexto de potências,
poderia, penso, ter desenvolvido um relato mais matizado de suas diferenças
com a teoria original.
Numa seção final do trabalho, breve e mais especulativa, utilizo
a mudança de Peirce de uma lógica sujeito-predicado, à
luz da sua crítica à visão limitada dos escolásticos,
como um conceito para apreciar os três tipos de inferência de
Peirce (dedução, indução e abdução)
como parte essencial da estrutura de sua teoria da mente. Inferência,
afirmo, é o que finalmente embasa a teoria dos signos de Peirce.
Centro de Estudos do Pragmatismo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia
Departamento de Filosofia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo