Home Page: 9º Encontro Internacional sobre Pragmatismo

 

RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES


Marco Annoni
/ Università di Pisa – Italia

Implicações do sinequismo: lógica triádica e vagueza de segunda ordem
Resumo: Meu objetivo é refletir sobre um dos problemas mais prementes para a lógica de múltiplos valores e a vagueza de segunda ordem, à luz da teoria peirceana do sinequismo.Começarei com uma apresentação de dois conjuntos de princípios que, podemos dizer, formam a obra de Peirce: o primeiro é diretamente retirado de seus resultados no campo da lógica das relações, ao passo que o segundo advém de uma reflexão geral da raiz comum compartilhada pelas partes de seu sistema, a faneroscopia, a semiótica e a pragmática.Para esclarecer a relação entre a lógica triádica e o problema da continuidade, farei uso do famoso exemplo do borrão de tinta, utilizado pelo próprio Peirce, em seu caderno de lógica em 1909.Finalmente, discutirei a objeção geral da vagueza de segunda ordem para a lógica triádica, da qual Peirce não parece ter se dado conta, indagando se o sinequismo, a doutrina da continuidade triádica, poderia ser considerada como uma possível solução teórica para a mesma.

Palavras-chave: Sinequismo. Infinitesimais. Lógica triádica. Indeterminação de segunda ordem.

 


Mats Vilhelm Bergman /
University of Hensinki, Arcada University of Applied Science – Finland

Fundamentos comuns e propósitos partilhados acerca dos contextos pragmáticos da comunicação

Resumo: Este artigo explora um conjunto de concepções chave envolvidas na descrição de Charles S. Peirce de comunicação, desenvolvendo a hipótese que sua semiótica pode ser abordada positivamente através de uma visão comunicacional ou retórica. Partindo da alegação de Peirce que a filosofia deve partir de idéias abstratas, mas com um cenário complexo e familiar de um diálogo ordinário, a noção de interesse comum é inicialmente explicado em termos de experiência e conhecimento, compartilhado por inteligências engajadas na comunicação. O aspecto experiencial da comunicação é ainda mais desenvolvido por uma discussão da alegação de Peirce que o objeto do signo é assimilado através da experiência colateral ou observação que pode ser indicada, e não através de outros meios estritamente semióticos. Ademais, demonstra-se que o interesse comum, embora pré-requisito para a comunicação na estrutura Peirceana, não representa uma exigência de identidade de experiências; um verdadeiro intercâmbio e desenvolvimento comunicacional requer divergências experienciais.
Na terceira parte do artigo, a reconstrução delineada é ampliada por um exame de como os objetos são identificados dentro de universos mais específicos de discurso. O argumento principal defendido é que isto só é possível num contexto propositado, e que algum grau de propósito comum é necessário para uma significativa interação comunicacional. Finalmente, examina-se o papel da indeterminação irredutível, o principal resultado sendo que a vagueza pode não só ser benéfica como prejudicial para nossas tentativas de nos entendermos e ao mundo; seu valor depende de qual universo de discurso operamos e para quais propósitos pragmáticos a comunicação e o pensamento são realizados.

Palavras-chave: Comunicação. Peirce. Semiótica. Interesse comum. Experiência colateral. Observação colateral. Universo do discurso. Indeterminação. Vagueza. Propósito. Determinação.

 

Daniel James Brunson / Penn State University - University Park - USA

Memória e o pragmatismo de Peirce

Resumo: Interpretações das freqüentes referências de Peirce de uma prova de seu tipo de pragmatismo variam, desde sua impossibilidade a sua substantiva inteireza - por exemplo, no escrito de 1907, "Pragmatismo" (EP 2.398 et seq.). Levando a sério a asserção de Peirce que o raciocínio filosófico "…não deve formar uma corrente que não seja tão mais forte do que seu elo mais fraco, mas um cabo cujas fibras possam ser tão delgadas, desde que sejam suficientemente numerosas e intimamente conectadas" (CP 5.265), este ensaio propõe uma fibra negligenciada no raciocínio de Peirce sobre Pragmatismo. Esta fibra é o valor da memória, usado especificamente para explorar as conexões entre Pragmatismo e Sinequismo. Em vários pontos Peirce sugere um forte elo entre o Pragmatismo e o Sinequismo, com a prova do primeiro estabelecendo a veracidade do último (CP 5.415; cf. CP 4.584). Ademais, Peirce assevera que "O argumento que me parece provar não apenas que há um tal concepção de continuidade pela qual me bato, mas que ela se realiza no universo, é que se assim não fosse, ninguém poderia ter qualquer memória" (CP 4.641). Assim, se a memória é evidência ou prova para a favor do Sinequismo, ela deve estar relacionada ao Pragmatismo. Aceitando que a praticamente indubitável existência da memória é prova do Sinequismo, como a memória se relaciona ao Pragmatismo? Como uma abertura para a inquirição, este ensaio explorará o papel da memória nas explicações que Peirce dá da cognição e percepção. Concernente o primeiro, Peirce identificou três tipos fundamentalmente diferentes de consciência: sentimento imediato, sentido polar, e consciência sintética. A memória é um exemplo deste terceiro tipo, juntamente com a inferência e o aprendizado (CP 1.376). Conseqüentemente, a memória não é uma reprodução rigorosa da sensação, mas, ao contrário, é uma inferência da mesma. Isto está de acordo com nosso segundo tópico a ser explorado, a percepção, pois lá a memória é uma generalização de um percepto em um fato perceptual. Mas qual a natureza desta generalização/inferência? Em CP 7.667, Peirce caracteriza a memória como "…um poder maravilhoso de construir quase-conjecturas ou sonhos que serão trazidos à luz por experiências futuras." A memória como um poder conjetural - isto é, hipotético - aparece, então, como a forma inconsciente (ou não-auto-controlada) da abdução e, em 1903, Peirce defende que o Pragmatismo é a lógica da abdução. Portanto, o Pragmatismo como uma máxima lógica pode ser entendida como concernente ao autocontrole da memória. Este ensaio terminará com alguns breves comentários sobre o papel da memória na semiótica peirceana.

Palavras-chave: Cognição. Memória. Peirce. Percepção. Pragmatismo. Sinequismo.

 


Daniel G. Campos
/ Brooklyn College, City University of New York - USA

A imaginação e a criação de hipóteses na matemática
Resumo: Charles Sanders Peirce sustentou que os poderes intelectuais de que o matemático precisa para levar a cabo sua atividade são os da imaginação, concentração e generalização. Neste ensaio exploro o papel da imaginação no raciocínio matemático assim como Peirce o entende. Começarei por explicar, em detalhes, a definição que Peirce dá da imaginação como "o poder de distintamente figurar para nós mesmos configurações intricadas". Depois discutirei o papel dual que a imaginação possui, para Peirce, no raciocínio matemático: primeiramente, o de criar "framing hypotheses,"' i.e., os mundos hipotéticos gerais que os matemáticos estudam; e, em segundo lugar, o de sugerir "hipóteses experimentais", i.e., as mudanças judiciosas, apropriadas, a diagramas matemáticos específicos que pertencem a um sistema matemático mais geral. No restante do ensaio discutirei como a proposta de Peirce propicia uma boa descrição filosófica da verdadeira atividade raciocinante dos matemáticos.

Palavras-chave: Peirce. Criatividade. Imaginação. Matemática. Lógica da inquirição.

 


Hélio Rebello Cardoso Jr.
/ UNESP-Assis

Deleuze com a ajuda de Peirce: sobre o problema dos signos não-lingüísticos
Resumo: O desenvolvimento, com o auxílio de Peirce, de uma semiótica para o cinema, nos livros de Deleuze, Imagem-Movimento (1983) e Imagem-Tempo (1985), tem como tese básica a idéia de que imagens comportam signos, mas tais regimes de signos não se constituem, nem concreta nem analogicamente, como signos de uma linguagem ("linguagem visual"). Deleuze, justamente, encontra em Peirce a proposição de uma "semiótica não-significante", isto é, não baseada em regimes de signos lingüísticos. No entanto, Deleuze vê que uma subdivisão entre "signos não-lingüísticos" e "signos lingüísticos" ainda é por demais grosseira e, por isso, mais uma vez, vê em Peirce a oportunidade complexificar tal dualismo, já que "classificação dos signos [de Peirce] é a mais rica e a mais numerosa que já foi estabelecida." A aposta deleuzeana é que a análise das imagens do cinema envolve uma classificação dos signos onde, simultaneamente, trilha-se um caminho inovador em relação às semióticas calcadas, seja na lingüística da Saussure seja na fenomelogia de Husserl, devido à centralidade que estas conferem à linguagem em toda produção sígnea. Nesta perspectiva, a inovação de Peirce, segundo Deleuze, é que ele foi capaz de definir o signo com a combinação de três "imagens" ou "fenômenos" (primeiridade, secundidade, terceirdade), sendo assim "o signo é uma imagem que vale por outra imagem (seu objeto), sob a relação de uma terceira imagem que constitui seu interpretante, sendo este, por sua vez, um signo, ao infinito." Para Deleuze, essa maneira de iniciar uma semiótica, isto é, pelas imagens ou fenômenos, "por aquilo que aparece", é completamente inovadora, pois que não faz a semiótica depender de "determinações já linguageiras". O ponto de partida peirceano conduziu "a mais extraordinária classificação de signos e imagens", porque, como tal, projetou uma semiótica que se abria ao grande reino dos signos não-lingüísticos. Em continuidade com essa inspiração peirceana, Deleuze reflete sobre dois métodos para se definir os signos, em que pese o lugar da linguagem: o "método restritivo" e o "método expansivo". O objetivo dessa comunicação é formular, à audiência pragmatista e peirceana, questões que propiciem a compreensão e a discussão do Peirce de Deleuze.

Palavras-chave: Semiótica. Peirce. Deleuze. Signos. Linguagem.

 


Maria Amélia de Carvalho
/ Unesp-Marília

Processos nutricionais e a lei da conservação da energia: uma leitura peirceana
Resumo: Peirce (1839- 1914), em 1894, teceu comentários sobre o livro do prof. Robert Henry Thurston (1839- 1903) que discutia a respeito da combustão de alimentos e a lei de conservação da energia. A proposta do nosso texto é realizar, por meio de uma ótica peirceana, uma leitura atual de processos evolutivos de nutrição que contrariam a 2a lei da termodinâmica.

Palavras-chave: Bioenergética. Nutrição. Metabolismo. Processos evolutivos. Peirce.

 


Tiago da Costa e Silva
/ PUC-SP

Pragmatismo: lógica da abdução e método diagramático
Resumo: Em 1903, Charles Peirce apresentou, em sua sétima conferência em Harvard intitulada "Pragmatismo como Lógica da Abdução", as suas três proposições cotárias [de onde cos, cotis, traduzem "pedra de amolar" em latim]; o significado disso estava em fundamentar o método do pragmatismo em bases fenomenológicas, assim como aperfeiçoa-lo. Tais proposições garantem ao pragmatismo sua eficiência como método. Um estudo mais cuidadoso, no entanto, revela que sua configuração como método, assim também como diagrama, o torna realmente um método da descoberta. Em outro texto, datado de 1906 e intitulado "As bases do Pragmaticismo", Peirce apresenta as bases do pragmatismo no interior de sua filosofia, ou seja, na fenomenologia e nas ciências normativas. Com esse texto, o autor buscou evidenciar o caráter diagramático do seu método do pragmatismo, inclusive por salientar, ao final do artigo supracitado, que uma prova estrita de seu pragmatismo poderia ser encontrada na lógica ou semiótica, e mais especificamente, no estudo de seus grafos existenciais.O objetivo do presente artigo é estudar esses dois artigos e colocar em relação esses dois trabalhos de Charles Sanders Peirce, na perspectiva de se evidenciar a estrutura do pragmatismo enquanto um método diagramático cuja configuração permite que tal método atue como um método heurístico.

Palavras-chave: Pragmatismo. Cosmologia. Estética. Ontologia. Epistemologia. Fenomenologia. Lógica.

 


Maria Paula Ferreira Curto
/ PUC-SP

Filosofia ou religião? Uma visão sobre a idéia de Deus em Peirce
Resumo: Este artigo visa apresentar e discutir alguns pontos de vista sobre o que vem a ser a realidade de Deus para Peirce, com base, principalmente, no texto do próprio autor intitulado "A Neglected Argument for the Reality of God" e em alguns intérpretes do "universo peirceano" como Michael Raposa e Donna Orange.

Palavras-chave: Deus. Devaneio.Summum Bonum. Categorias.

 


Mariana Matulovic da Silva Fadel e Hércules de Araújo Feitosa
/ Unesp-Marília

Tablôs para a lógica do muito
Resumo: Dentre as diversas lógicas não-clássicas que complementam o cálculo de predicados de primeira ordem, destacamos a Lógica do Muito. Trata-se de um sistema desenvolvido por Grácio (1999), que se caracteriza por estender a lógica clássica através da introdução de um novo quantificador generalizado no seu escopo sintático. Esse quantificador, representado por G e que faz parte de um conjunto de quantificadores nomeados por Grácio como modulados, formaliza a noção intuitiva de "muitos". Assim, Gxa(x) significa que "muitos indivíduos satisfazem a propriedade a". A noção de muitos, segundo Grácio, está associada a uma estrutura matemática denominada por família fechada superiormente, que nos diz que: se um conjunto a, pertencente à uma família fechada superiormente, estiver contido b, então b também será fechado superiormente. Além disso, a autora estruturou a Lógica do Muito em um sistema dedutivo hilbertiano, baseado apenas em axiomas e regras.Neste trabalho, desenvolvemos um outro sistema dedutivo para trabalharmos com a Lógica do Muito: o método por tablôs. Demonstramos, também, que esse novo sistema, por tablôs, é equivalente ao axiomático proposto por Grácio. Com isso, garantimos a correção e a completude da lógica do Muito em um sistema por tablôs.

Palavras-chave: Lógica do Muito. Ciência cognitiva. Tablôs. Computação. Linguagens.

 


Daniele Fernandes
/ PUC-SP

Peirce e Foucault: signo estético e enunciado
Resumo: Este artigo tem por objetivo indicar possíveis pontos de relação entre o signo estético na Semiótica de Peirce e o conceito de enunciado na obra de Foucault. Nas quatro características do enunciado (falta de um referente, sujeito como um lugar vazio, campo enunciativo e materialidade) encontramos a possibilidade de uma aproximação entre os autores, fazendo perceber suas obras como uma filosofia do processo. O signo estético proporciona, de maneira privilegiada, o crescimento da razoabilidade concreta ao buscar alcançar o "kalós", sempre em fuga. O enunciado é a condição para o devir do pensamento, a condição para a formação de frases e proposições. Ambos (signo estético e enunciado) apontam para o não-pensado, fonte que faz do pensamento um processo contínuo.

Palavras-chave: Semiótica. Signo estético. Razoabilidade concreta. Enunciado. Processo.

 


Mariana Tavares Ferreira
/ UNESA

O conceito de experiência em John Dewey
Resumo: O artigo propõe-se a delinear o conceito de experiência através da obra de John Dewey (1859-1952), relacionando-o às idéias básicas do movimento pragmatista. Para tal, trataremos da construção do conceito em John Dewey através da interlocução com a obra de William James. Abordaremos ainda o debate do pragmatismo contemporâneo, notadamente entre Richard Shusterman e Richard Rorty, a respeito da validade do uso desta noção que remonta aos antigos pragmáticos.

Palavras-chave: Experiência. John Dewey. Pragmatismo.

 


Lorena de Melo Freitas
/ UFPE

Um diálogo entre pragmatismo e direito
Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo analizar algumas contribuições oferecidas pelo pragmatismo para o Direito. Não será nosso intento trabalhar toda matéria, tão logo nossa questão não é, antes de tudo, baseada nas obras dos pragmatistas jurídicos - Oliver Holmes, Roscoe Pound, Benjamin Nathan Cardozo. Por outro lado, eles também serão discutidos, porém, a questão primeira está em: è possível entender o conceito de pragmático de verdade no Direito? A definição de verdade adquire um certo relativismo, após os escritos de Peirce, e o Direito usa este mesmo tipo de relativismo quando trabalha com a "verdade possível", ou melhor, verdade é o que está provado e, principalmente, o que os juízes dizem que é a verdade. A discussão sobre como os juízes decidem, a ser trabalhada no segundo momento, basear-se-á nos textos de Cardozo. Uma outra contribuição, e conclusão nossa, pode ser vista na conferência primeira de Willian James - "O que é o pragmatismo" - onde critica os metafísicos debates filosóficos. Esta idéia pode ser usada para também criticar o pensamento jurídico idealista que aparece na forma de ideologia.

Palavras-chave: Pragmatismo. Direito. Verdade. Idealismo.

 


Dalva Aparecida Garcia
/ CBFC e CAS-SENAC

A questão da natureza humana em Dewey
Resumo: Pressupor que a questão da natureza humana nos conduz à uma discussão acadêmica de natureza ontológica ou metafísica do ser é, de certa forma, reforçar a dicotomia entre teoria e prática tão comum no trato dos problemas educacionais. Todavia, o tratamento que Dewey dá a essa questão no texto O homem e seus problemas permite-nos refletir sobre a dificuldade que temos, enquanto educadores, de interpretar os significados dos conceitos à luz de uma leitura cuidadosa do pragmatismo de Dewey. Assim sendo, o objetivo da presente comunicação é propor uma leitura analítica de um texto que busca responder a uma pergunta intrigante: "A natureza humana muda?". Supor que pergunta seja intrigante por si mesma é adotar uma atitude ingênua, típica da tradição que separa o pensamento da ação. O que nos surpreende no texto, no entanto, é a resposta de Dewey para essa pergunta: A natureza humana não muda. Estaríamos diante de uma contradição? Como Dewey, defensor incondicional do progresso e da democracia poderia defender uma posição essencialista? O que aparentemente nos parece uma contradição vai se tornando, ao longo do texto, um caminho interessante para se pensar o que estaria por trás do uso de termos como "natureza humana" na filosofia de Dewey. Ao afirmar que não crê que as necessidades inatas do homem tenham mudado desde que o homem chegou a ser homem, Dewey se refere às necessidades inatas que estão na constituição do próprio homem, tais como: necessidade de alimentação, locomoção, a necessidade de emulação e colaboração para combater e se ajudar, a necessidade de expressão e de satisfação estética. É importante salientar que não apenas as necessidades como alimentação ou locomoção são consideradas inatas, mas também as sociais, o que nos permite afirmar que em sua natureza o homem é um ser que faz no social, no contato com o outro e com o meio. Exatamente, por isso é preciso não confundir as necessidades humanas imutáveis com a imutabilidade de suas manifestações, pois desta forma, poderemos inferir erroneamente que os hábitos destas manifestações são tão naturais e inalteráveis como a necessidade que os fazem nascer. Finalmente, creio que as afirmações de Dewey, neste texto, podem se constituir um bom instrumento para refletirmos sobre o significado de termos como hábito e crença na esfera do pragmatismo, a fim de buscarmos fundamentos para se pensar a educação para além das dicotomias entre teoria e prática e recuperar o sentido da ação educacional:
"Se os conservadores fossem mais inteligentes, na maior parte dos casos fundamentariam suas objeções não na imutabilidade da natureza humana, mas na inércia do costume, da resistência que os hábitos adquiridos, uma vez que se adquirem se opõem à mudanças. É difícil ensinar novas graças a um cachorro velho e mais difícil ensinar a sociedade a se adotar novos costumes"

Palavras-chave: Dewey. Educação. Natureza humana. Experiência.

 


Eluiza Bortolotto Ghizzi
/ UFMS

Peirce e a comunicação: uma perspectiva "ecológica"
Resumo: As teorias relativas à comunicação têm trabalhado, predominantemente, de um ponto de vista que delimita o espaço da comunicação no âmbito do humano, mais especificamente, do social e dos processos ditos convencionais. Há, todavia, ciências que, quando colocadas em relação com o problema da comunicação, permitem tratá-lo de um modo diferenciado, a exemplo da semiótica, cujas teorias instigam tanto ampliar o campo de abrangência da comunicação quanto rever seus processos e o papel dos agentes envolvidos. A direção adotada por este texto é a de analisar algumas implicações de se entender a comunicação de uma perspectiva semiótica específica - a de Charles Sanders Peirce (1839-1914). Acrescenta a isso um outro compromisso: o de analisar na teoria aspectos que têm permitido caracterizá-la como uma "ecossemiótica"; o que implica em dizer que lança um ponto de vista sobre a comunicação que é, ao mesmo tempo, semiótico e ecológico. Utiliza-se, entre as referências teóricas, além dos textos de Peirce, escritos de Winfried Nöth - que trata da influência "transdisciplinar" da ecologia na nossa época, para colocar em cheque alguns dos nossos pressupostos e paradigmas, ao mesmo tempo em que aponta as potencialidades da semiótica de Peirce para uma "ecosemiótica" - e Thomas Sebeok - que concebe a comunicação, sob o foco da semiótica, de um modo amplo, permitindo supor nessa sua concepção, já, uma visão "ecosemiótica" da comunicação. Para analisar o problema este texto utiliza, da obra de Peirce, além da teoria semiótica, outros conceitos filosóficos, especialmente o de "mente". Com base nesse referencial teórico, este texto apresenta argumentos para se compreender as implicações da perspectiva da semiótica de Peirce, caracterizada como "ecológica", sobre os processos de comunicação; mostra que essa tanto problematiza os estudos de comunicação que a vêem como estritamente social e convencional quanto coloca como alternativa a visão da comunicação como envolvendo um feixe de relações semióticas de tipos diversos entre o homem e seu meio ambiente. Aponta, por fim, que essa perspectiva permite um entendimento mais complexo dos processos da comunicação humana, dado que considera, no interior dos mesmos, todo um universo de signos novos e de tipos variados que são produzidos por nossas culturas em seus processos evolutivos (além dos produzidos por outras fontes) e que constituem uma importante parte do nosso ambiente.

Palavras-chave: Semiótica. Ecosemiótica. Ecologia da comunicação. Charles S. Peirce.

 


Leoni Matia Padilha Henning
/ UEL

A concepção de filosofia em Dewey e o caráter educativo das instituições
Resumo: Dewey delineou sua concepção sobre filosofia no decorrer de todo o seu trabalho. No entanto, tal trajetória não foi desenvolvida de forma linear e fruída. Sua idéia sobre o objeto fundamental da filosofia aponta, desde cedo, para a investigação sobre o campo da experiência continuamente elaborado pelos mais diversos arranjos de interconexões. Contudo, a filosofia dos tempos das modernas academias já recebe estas experiências, não na sua forma primária, mas através de feixes de problemas altamente intelectualizados e generalizados, tornando-se um mero exercício formal e sofisticado. Preocupado com o falseamento da filosofia - devido ao seu caráter metafísico e epistemológico pré-científico - e com suas conseqüências, John Dewey (1859-1952) se dedica à sua reconstrução. Em sua obra "Reconstruction in Philosophy" (1920) o notável autor expõe os problemas da filosofia e as novas diretrizes que esta deveria tomar para o aprimoramento dos indivíduos inseridos numa sociedade - no caso particular no novo contexto do mundo moderno do pós-guerra. Dewey defende uma concepção 'orgânica' de filosofia social para enfrentar as propostas de cunho individualista por um lado, e as de teor socialista, de outro. Para ele, tais posições têm sido fundamentadas em conceitos abstratos e fixos, com pretensões universalistas, pouco ajudando na investigação, pois não auxiliam na elucidação das situações efetivamente concretas. As ciências políticas, a sociologia, a filosofia ou a teoria social em geral, tem se mostrado distante da realidade concreta, se constituindo em artigo de luxo com pouquíssimas contribuições à investigação dos problemas e ao planejamento de uma sociedade marcada por características resultantes da revolução científica, industrial e política. O uso da 'inteligência', ao invés da 'razão', através do método de observação, levantamento de hipóteses e comprovação experimental nas investigações dos problemas humanos promove o pensamento reflexivo e, por conseguinte, deve orientar a reconstrução da filosofia. Dewey propõe que superemos os dualismos teoria-prática, sociedade-indivíduo suplantando a separação do político em relação ao moral. Cada indivíduo deve ser compreendido como um ser em processo ativo que se desenvolve estimulado pelas mudanças que ocorrem no substrato social do qual participa e de cuja vida associativa é igualmente dependente. Nesse sentido, institutions are viewed in their educative effect: - with reference to the types of individuals they foster (1957, p.196). Ou seja, a individualidade é 'criada' de acordo com as influências da vida associativa, na qual cada um é livre na medida em que se desenvolve e muda sempre que lhe é requerido. No entanto, "society is strong, forceful, stable against accident only when all its members can function to the limit of their capacity" (1957, p. 208), sendo o espírito experimental dos seus membros um recurso indispensável para isso. Assim, uma teoria só faz sentido quando, estando desvencilhada das explicações metafísicas e dos conceitos generalizantes tal como Estado por exemplo, realiza a investigação debruçada nos fatos específicos, mutáveis e relativos aos objetivos e aos problemas aos quais estão ligados. Preocupado com a situação de pessimismo e insegurança próprios dos anos que se seguiram a I Guerra Mundial, Dewey defende o pluralismo que ocorre concretamente na vida social, não desconsiderando os laços estreitos que ligam os indivíduos e a sociedade. Combatendo os nacionalismos ferrenhos construídos sob a égide do dogma da soberania nacional e da exaltação do Estado - abnormally supreme position (1957, p. 204) -, aponta esses fatores como possíveis causas dos terríveis conflitos, se constituindo em forte barreira para a formação de uma mentalidade internacional compatível com uma noção de sociedade, entendida não como um organismo único, mas como um conjunto de várias associações de experiências compartilhadas. Tal situação pública e social oferece os únicos meios para a universalização dos valores no sentido de socialização da comunicação, da participação e da convivência irrestritamente distribuída.

Palavras-chave: Dewey. Filosofia. Reconstrução. Instituições educativas.

 


Renato Rodrigues Kinouchi /
UFABC

Peirce e a lei dos grandes números: probabilidade e conhecimento a ulteriori
Resumo: O pragmatismo pode ser descrito como um tipo de empiricismo voltado para o futuro, tanto assim que "hábito" e "experiência" são avaliados em virtude de seus conseqüentes mais do que em razão de seus antecedentes. Essa perspectiva aparece na conhecida máxima peirceana: considerar os efeitos dos conceitos intelectuais. Peirce utiliza essa máxima na elucidação de conceitos difíceis tal como "probabilidade". Em "The Doctrine of Chance" ele assinala que eventos individuais não possuem graus de probabilidade. Falando objetivamente, a probabilidade é atribuída a séries indefinidas: quando dizemos que ao lançar um dado a probabilidade de sortear um "cinco" é de 1/6, significa que no longo termo um sexto dos sorteios fornecerá a face "cinco". Para cada sorteio, entretanto, ou um "cinco" aparece ou não aparece, e não somos capazes de predizer o que será. Baseado na lei dos grandes números, Peirce conclui que não devemos nos fiar somente em nossa experiência individual finita quando fazemos estimativas de probabilidade, mas usar o sem fim das experiências de uma comunidade ilimitada. Poder-se-ia redargüir que tal comunidade ilimitada não pode existir de fato. Não obstante, em alguns casos, é matematicamente legitima uma extrapolação dos dados disponíveis - o que nos aproxima do conhecimento de uma comunidade ilimitada.Nesta apresentação mostraremos que a análise de Peirce sobre probabilidades pode ser vista como uma modificação da classificação tradicional kantiana, acerca do conhecimento sintético a priori e a posteriori. Relatos estatísticos são apropriadamente descritos como sintéticos a posteriori, visto que de uma quantidade finita de experiência retiramos a freqüência de certa propriedade, mas necessidade lógica não está envolvida nisso. Asserções probabilísticas, entretanto, não são sintéticas a posteriori pois implicam necessidade no longo termo - assim, talvez, devessem ser entendidas como a priori. Mas, ao mesmo tempo, asserções probabilísticas não podem ser a priori já que sua necessidade somente se aplica ao longo termo, e não para cada instância isolada. Na verdade, dentro do esquema kantiano não há um lugar certo para a necessidade implicada em asserções probabilísticas. Defendemos que essa lacuna poderia ser satisfeita pela introdução de uma nova classe - chamada de conhecimento sintético a ulteriori - definido como "o que se conhece sobre um número indefinido e grande de casos, mas não a respeito de instâncias isoladas". Para Peirce, as leis da natureza são probabilísticas e estamos fadados a encontrar crenças verdadeiras e justificadas caso a pesquisa seja estendida indefinidamente. O pragmatismo é uma busca por conhecimento a ulteriori.

Palavras-chave: Probabilidade. Filosofia da Ciência. Immanuel Kant. Charles S. Peirce.

 


Manúcia Passos de Lima
/ PUC-SP

Aquisição de hábitos como evolução no pragmatismo de Peirce
Resumo: Sob o princípio da ordem, da regularidade e da lei - típicos da terceiridade - a tendência da mente é generalizar e adquirir hábitos e desta forma a evolução se dá pela transformação da espontaneidade em racionalidade, já que tudo o que é espontâneo não tem vínculo com o futuro e já que evolução se delineia através de uma linha cronológica que medeia experiências pretéritas com possíveis experiências futuras. Com base no pragmatismo de Peirce este paper se propõe a abordar a aquisição de hábitos como um processo evolutivo.

Palavras-chave: Hábitos. Evolução. Pragmatismo. Peirce.

 


Orion Ferreira Lima
/ Unesp-Marília

Uma abordagem naturalista do problema corpo-mente
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discutir a consciência como o núcleo central do problema mente-corpo. Inicialmente o apresentamos à luz da perspectiva cartesiana, conhecida também como "dualismo de substância". Nesta, a mente é uma substância não-extensa, independente do corpo. Em experimentos neurocognitivos recentes, à medida que relatos de experiências conscientes foram correlacionados positivamente com medidas neurobiológicas, o dualismo de substância foi gradativamente perdendo terreno. Estas pesquisas sugerem a existência de um nexo causal entre cérebro e mente. De acordo com Richard Rorty, em "Philosophy and the Mirror of Nature", o problema da consciência encontra-se circunscrito ao cérebro e moções do corpo. Acreditamos que as atuais pesquisas e teorizações feitas por Antônio Damásio acerca da consciência proporcionam uma explicação da ligação entre o fenômeno consciente, o cérebro e o corpo em sua totalidade. Desse modo, entendemos que na atualidade se coloca a possibilidade de que o problema mente-corpo seja tratado em uma perspectiva cientifica.

Palavras-chave: Consciência. Dualismo de Substância. Neurobiologia.

 


Patrick Loisel
/ Universitè de Sherbrooke – Canada

Semiótica psicosocial: o paradigma específico da reabilitação do trabalho
Resumo: Nesta análise semiótica do diagnóstico médico através de uma abordagem biopsicosocial da doença e enfermidade, de Silveira indica que quando analisando signos observados "conflitos podem resultar devido ao fato que todos aqueles que são responsáveis pela saúde não compartilham dos mesmos valores ou da mesma linguagem que os pacientes e seus parentes" (tradução livre). Na área do trabalho de prevenção de invalidez e reabilitação, a presença de múltiplos "apostadores" ("stakeholders") torna o caso muito mais complexo. O trabalho em prol da prevenção de invalidez e reabilitação trata do problema de pessoas que não retornam ao trabalho após enfermidade ou acidente. Elas adotam um novo comportamento incluindo exacerbação de dor, retraimento da atividade, freqüentemente revelando sintomas depressivos e isolamento social. Estas pessoas têm pobres indicadores de saúde e geram custos consideráveis em termos de compensação, tratamento (custos diretos) e desorganização do trabalho (custos indiretos). Dados recentes nesta área mostraram que previsores de invalidez ("disability predictors") diferem das causas de doenças e estão relacionados ao sistema complexo que gravita em torno do absenteísmo no trabalho, incluem o próprio local de trabalho (empregados e sindicatos), o sistema de seguro e o sistema de saúde . Múltiplos "apostadores" deste sistema complexo observam os sinais gerados pelo paciente/trabalhador e a situação gerada pelo processo de invalidez e analisam estes sinais através de sua grade de análise ("grid of analysis"), que depende de seus objetivos específicos e de seu conhecimento e cultura. Por exemplo, o médico atento aos sinais de dor, tentará, através da solicitação de uma bateria de exames ou consultas a especialistas, encontrar e curar uma doença específica, mesmo que esta "doença" seja simplesmente o resultado de mudanças degenerativas naturais devido ao envelhecimento. Isto resultará no reforço, na mente do paciente, de que ele/ela pode estar acometido por uma terrível doença (que "ninguém descobriu…"), favorecerá temores quanto à retomada das atividades, incluindo o trabalho, perpetuando, assim, o processo de invalidez. Por sua vez, o empregador, sabendo que o trabalhador parece estar realizando atividades normais em casa, poderá achar que o mesmo está a dissimular a tal dor, leva em consideração perdas econômicas e a desorganização do trabalho devido à ausência do trabalhador, e apela baseado nesta ausência. Isto leva a ações legais que reforçará os temores do trabalhador, introduzindo frustração e um sentimento de falta de justiça, o que contribui, também, para a perpetuação do processo de invalidez. Neste sistema, múltiplos "apostadores" têm algo a dizer a respeito do diagnóstico e gerenciamento da invalidez e agem a partir de sua própria interpretação e compreensão da mesma. O paciente/trabalhador está exposto a estas opiniões e ações conflituosas devido à diversidade de interpretações do mesmo signo ou, a uma observação preconceituosa de diferentes sinais e, perde-se em tal complexidade. Retraimento da atividade é o resultado deste mau entendimento desta complexidade. A interpretação de signos é, obviamente, mais importante que os próprios sinais e podem ter um impacto tremendo no comportamento dos seres humanos. Isto inclui importantes questões de ordem social e ética.

Palavras-chave: Semiótica psicosocial. Rehabilitação no trabalho. Signos. Diagnóstico de invalidez.

 


Luís Malta Louceiro
/ PUC-SP

Elementos sobre a influência de Ralph Waldo Emerson no pragmatismo clássico norte-americano
Resumo: Em um artigo publicado no Popular Science Monthly (CP 5.358-87; 1877), "The Fixation of Belief" (A fixação das crenças), C. S. Peirce (1839-1914) discute quatro métodos de crença: o da tenacidade, o da autoridade, o a priori, e o científico (pragmático). Será precisamente a partir desta classificação que se fará uma leitura do papel que Ralph Waldo Emerson (1803-1882) desempenhou na história da filosofia norte-americana. Discutir-se-á, outrossim, a importância dos seus três primeiros Ensaios - "Nature" (Natureza), "The American Scholar" (O 'scholar' americano) e o "Harvard Divinity Address" (Palestra aos formandos do Seminário de Harvard) como palestras-textos fundadores do seu Transcendentalismo - de herança neo-platônica e schellinguiana (via Coleridge) - e a influência que ele teve no advento e desenvolvimento do Pragmatismo Clássico.

Palavras-chave: Neoplatonismo, Transcendentalismo, Pragmatismo, Semiótica, Estética.

 


Dilnei Lorenzi
/ PUC-SP e UNIFAE - Curitiba

Uma nota crítica acerca de "Pragmatism: a new name for some old ways of thinking" de William James por Bertrand Russell
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo central apresentar a critica feita por Russell a concepção de verdade de Willian James explicando as divergências entre os dois filosófos. A crítica de Russell, em questão, aparece em dois artigos, o primeiro intitulado de Pragmatism: A New Name for some Old Ways of Thinking, enquanto que o segundo, publicado, em abril de 1909, na Edinburgh Review, tratava do pragmatismo em geral. O fundamento essencial de divergência, segundo Russell é que o pragmatismo afirma que uma crença há de ser julgada verdadeira se possui certas espécies de efeitos, enquanto que Russell defende que uma crença empírica dever ser considerada verdadeira se possui certas espécies de causas. Para Russell a posição de James está nos seguintes pressupostos: as idéias tornam-se verdadeiras contanto que nos ajudem a estabelecer relações satisfatórias com certas partes de nossa experiência, a verdade é uma espécie de bem, e não, como habitualmente se supõe, uma categoria distinta de bem e a verdade é o nome de tudo aquilo que prove ser bom do ponto de vista da crença e, também, devido a razões claramente atribuíveis. À parte as objeções de caráter mais geral à opinião de que uma crença se torna verdadeira pela excelência de seus resultados, há ainda que considerar como dificuldade inteiramente insuperável; o que se supõe, antes de saber se qualquer crença é verdadeira ou falsa, (a) quais são os efeitos da crença e (b) se esses efeitos são bons ou maus. Aplicando o critério pragmatista diz Russel a (a) e (b): quanto ao que constitui de fato os efeitos de uma determinada crença, adotaremos a opinião de que "vale a pena" e, quanto a saber-se se tais efeitos são bons ou maus, adotaremos, igualmente, a opinião de que "valem a pena!". É óbvio que isso nos conduz a um retrocesso infinito, afirma Russell. O problema de definir a "verdade" consiste, pois, de duas partes: primeiro, a análise daquilo que se entende por "crença" e, depois, a investigação da relação, entre crença e o fato, que torna a crença verdadeira. Uma crença, segundo Russell, tal como ele entende o termo, é um estado de um organismo que não implica relação muito direta com o fato ou com os fatos que tornam a crença verdadeira ou falsa.

Palavras-chave: Verdade. Crença. Falsidade. Pragmatismo.

 


Jonas Moreira Madureira
/ PUC-SP

Sobre a distinção entre o sentido e a representação de um signo
Resumo: Em "Sentido e Referência", Frege aborda enfaticamente a distinção entre sentido e representação de um signo. Nosso objetivo é arrazoar tal distinção a partir de dois âmbitos. Um, que corresponde à necessidade de reconsiderar o problema da igualdade em juízos do tipo "A=B", apresentado desde o início como o leitmotiv do artigo; outro, que diz respeito à relevância de tal distinção para a justificação de uma opção realista em lógica. Trata-se, portanto, de uma reflexão que se propõe explicitar a tese de que a noção de "sentido", na lógica fregeana, cumpre o papel essencial de determinação, não apenas do signo enquanto signo, mas tão somente do modo pelo qual o próprio objeto se dá (die Art des Gegebenseins). Assim, o "sentido", em contraposição à "representação" que é exclusivamente psíquica, é aquilo que, se ao menos não impede, pelo menos, frustra as pretensões de romper definitivamente a tão antiga relação entre lógica e ontologia.

Palavras-chave: Realismo lógico. Frege. Sentido. Representação. Igualdade.

 


Stefano Moriggi
/
Università di Milano - Italia

De volta a Mead: padrão de comunicação não-intencional
Resumo: Um dos aspectos mais importantes do pensamento de George Herbert Mead, mui freqüentemente confinado apenas ao debate sociológico, é a atenção que este filósofo norte-americano dá à gênese não-intencional da forma primária de comunicação e ao papel que este tipo de gênese desempenha no processamento de nossa própria experiência subjetiva e intersubjetiva (sujeito-objeto, mente-mundo, indivíduo-sociedade). Através de uma leitura crítica das páginas de Mead a respeito deste tópico fundamental em seu pensamento, é possível, hoje, encarar alguns dos principais problemas em foco no debate epistemológico (e neurofisiológico) contemporâneo: começando com as observações de Donald Davidson e John Mc Dowell sobre as relações entre sujeitos racionais, sua linguagem e o mundo exterior. Mas, muito mais interessante, é o fato que o ponto de vista pragmático de Mead oferece um dos mais promissores "frameworks" que possibilitam uma interpretação conceitual das mais consideráveis descobertas das neurociências, em particular, aquelas concernentes às assim chamadas "neurociências sociais". Voltar a Mead hoje significa buscar as origens do significado (individual e social) fora da intencionalidade e antes da dimensão da linguagem, recuperando a perspectiva pragmatista de Mead baseada na percepção e na ação como a condição verdadeiramente primária da possibilidade de dar sentido ao mundo à nossa volta. Se, como George Herbert Mead escreveu, "a percepção tem, em si, todos os elementos de um ato", de acordo com esse filósofo norte-americano, então, isso implica que cada objeto percebido (coisas, outras pessoas e o comportamento também) "convida-nos à ação com referência e ele". A dinâmica complexa deste "convite para agir" permite que o objeto visto e as ações adquiram seu próprio significado para nós e, deste modo, que se defina um padrão de comunicação não-intencional, como base do processo de dar significado.

Palavras-chave: Percepção. Ação. Mente. Sociedade.

 


Darcísio Natal Muraro /
USP

O conceito de conceito no pensamento de John Dewey
Resumo: O presente artigo se propõe a desenvolver a seguinte questão: o que é conceito no Pragmatismo de John Dewey? Para trabalhar essa questão parte-se da afirmação de C.S. Peirce para quem a concepção de um conceito guarda relação estreita com a concepção dos efeitos observáveis ou a influência prática que se concebe nessa concepção do objeto. O pensamento produz uma crença que é a base de nossos atos, ações ou conduta e essa crença significa a instauração de um hábito. Dewey explora essa questão em sua teoria instrumental da concepção segundo a qual os conceitos são instrumentos intelectuais para dirigir a ação. Tais instrumentos são permanentemente reconstruídos a partir das situações problemáticas que aparecem naturalmente na experiência corrente. Essa reconstrução se dá no processo de investigar logicamente as relações presentes nessas situações e a buscar as soluções mais satisfatórias. Os conceitos desempenham papel de clarificar atividades confusas na experiência a fim equacionar a situação problema. Desta forma, não apenas nos capacita para mudar nossa atitude frente à realidade como também permite o controle e a mudança do próprio curso da ação. Para Dewey, o hábito que o ser humano desenvolve par garantir sua sobrevivência é o hábito ativo de pensamento reflexivo ou inteligente que tem o papel de restabelecer a continuidade da experiência através da permanente reconstrução conceitual. Trata-se de um hábito que permite ao ser humano aprender a aprender, aprender a modificar seus hábitos tendo em vista a criação de hábitos mais eficientes para conduzir sua vida. A educação é o âmbito de formação desse hábito de pensamento reflexivo.

Palavras-chave: Pragmatismo. Conceito. Hábito. Instrumentalismo. Experiência. Dewey.

 


Sérgio da Costa Oliveira
/ PUC-Rio

A utopia pós-metafísica de Richard Rorty
Resumo: O objetivo desta comunicação é refletir sobre a articulação apresentada por Richard Rorty entre a sua utopia poética, oferecida esta como horizonte de uma cultura que cedesse à tentação de justificar suas práticas em função de quaisquer pretensões metafísicas, e a chamada "sabedoria da incerteza", tal como tratada no ensaio "A Arte do Romance", do escritor Milan Kundera. Segundo este texto preciso, as personagens de um romance ilustrariam exemplarmente, através das múltiplas descrições que podem receber, a completa incapacidade de acessar-se à perspectiva de algum Juiz Supremo que lhes garantiria alguma verdade essencial a ser descoberta, permitindo-nos, assim, imaginar este gênero europeu de arte como uma reação e uma alternativa ao desejo de teorizar acerca das ações humanas. Tal posicionamento do autor tcheco é em tudo subscrito por Rorty, o qual vê nesta "sabedoria da incerteza" o equivalente cultural de uma sociedade onde a nenhuma descrição caberia mais a pretensão ascética de aspirar a um Inteiramente Outro que teria por fim, supostamente, remover-nos da condição meramente circunstancial de nossos discursos em direção à Verdade.

Palavras-chave: Richard Rorty. Milan Kundera. Verdade. Cultura poética. Utopia do romance.

 


Benjamin A. Peltz
/ Indiana University - USA

O momento do significado: a apercepção na filosofia de Josiah Royce
Resumo: Filosofando na virada do século XX, Josiah Royce construiu um idealismo sistemático que incluía a discussão dos principais tópicos filosóficos. De suma importância tanto para a epistemologia e a metafísica de Royce é o conceito de apercepção. No entanto, devido ao fato de que os estudos royceanos vinham sendo negligenciados até recentemente, discussões a respeito de seu uso deste conceito são escassas. Este ensaio aparece reforçado pelo movimento que marca a recente reemergência do interesse na filosofia de Royce engajando-se em um exame exploratório da apercepção de Royce e conclui que a psicologia contemporânea só teria a ganhar se revise os escritos sobre apercepção deste filósofo. Ademais, na medida que certas inconsistências no que tangem à apercepção em Royce forem identificadas, aqueles envolvidos na filosofia royceana são encorajados a engajar a comunidade peirceana em busca de soluções possíveis.

Palavras-chave: Josiah Royce. Apercepção. Duração. Absoluto. Triádico. Psicologia.

 


Ahti-Veikko Pietarinen
/ University of Helsinki - Finland

Como provar o pragmaticismo: os grafos existenciais de Peirce
Resumo: O Pragmaticismo de Charles S. Peirce foi uma posição filosófica que ele acreditava apresentar uma tese ('A Máxima do Pragmaticismo') que pode ser rigorosa e conclusivamente provada. Começando em 1903, ele esboçou várias tentativas para chegar à prova. Em 1905, ele acreditou que uma exposição dessa prova é melhor conduzida utilizando sua teoria de grafos existenciais. Até 1907, sua última prova semiótica estava completada. Subseqüentemente, "scholars" tentaram interpretar os elementos-chave dessa prova e buscaram uma compreensão de sua estrutura. Nesta palestra, sua prova do Pragmaticismo de 1907 é reconstruída ao sistematicamente relacioná-la à verificacionisticamente interpretada concepção de significado jogo-teorética. A análise da prova mostra que o Pragmaticismo de Peirce é um aliado íntimo da concepção de linguagem modelo-teorético. Efetivamente, sua prova é um argumento para o significado de nossos signos intelectuais como uma forma ou uma estrutura que aparece devido às nossas ações e práticas interpretativas e estratégicas (habituais). Uma vez que os elementos dessa estrutura precisam capturar tanto a modalidade quanto a continuidade, é, ademais, demonstrado como a reconstrução pode ser remodelada no "framework" da teoria dos grafos existenciais.

Palavras-chave: Peirce. Pragmaticismo. Prova.

 


Luciane Rodrigues
/ Unesp-Marília

A teoria ecológica e Peirce
Resumo: O conceito de sistema semiótico é desenvolvido, atualmente, na Teoria Ecológica e na Teoria da Biosemiótica, para explicar a formação do conhecimento. Sistemas semióticos caracterizam-se pela noção integrada de nicho e interpretação. Charles Peirce e Jakob von Uexküll podem ser considerados "pais" desta Teoria do Conhecimento por terem sido os primeiros a desenvolver esta noção. Peirce através de sua definição de signo - a representação de um objeto em algum aspecto ou outro - que configura uma explicação sobre os tipos de relação entre sujeito e mundo. E Uexküll, através de sua definição de "Umwelt", termo que se relaciona ao conjunto de características ambientais pelo qual um dado tipo de animal é sensibilizado - que explica o comportamento do sujeito no mundo. Neste trabalho procuraremos delimitar esta abordagem epistemológica, i.e. a abordagem ecológica do conhecimento, concentrando nosso foco no conceito de sistema semiótico de acordo com Peirce.

Palavras-chave: Sistema semiótico. Teoria ecológica. Biosemiótica. Nicho semiótico. C.S.Peirce.

 


Vinícius Romanini
/ ECA-USP

A semiótica de Peirce passo a passo
Resumo: Peirce nunca escreveu um tratado de semiótica. Os conceitos de sua teoria dos signos precisaram ser coletados de algumas dezenas de artigos publicados, mas principalmente de manuscritos e anotações em cadernos e de cartas que trocou ao longo de quase meio século. Por isso, a tarefa de mapear a evolução da semiótica de Peirce exige de seus comentadores o conhecimento nas várias disciplinas com as quais dialogou, o que só foi possível recentemente e, ainda assim, de maneira incompleta. Pretendemos nos concentrar aqui na evolução da semiótica de Peirce, mas não poderemos deixar de relacioná-la com outros campos de seu interesse filosófico, como a cosmologia e, especialmente, o pragmatismo. Afinal, boa parte dos esforços de Peirce para desenvolver sua teoria dos signos, notadamente após 1900, deveu-se à sua tentativa de oferecer uma prova rigorosamente lógica - ou, ao menos, filosoficamente consistente - à sua versão do pragmatismo - que ele às vezes prefere chamar de pragmaticismo.

Palavras-chave: Semiótica. Peirce. Pragmatismo. Filosofia. História da Ciência.

 


José Renato Salatiel
/ UNAERP-Guarujá

Considerações sobre falibilismo e matemática em Peirce
Abstract: Em Peirce, todo conhecimento positivo procede de inferências prováveis, ou seja, de proposições elaboradas a partir do exame de uma amostra aleatória tomada de um todo. Desta assertiva segue-se o corolário do falibilismo epistemológico do autor que afirma que, por meio do raciocino, não podemos nunca obter certeza, exatidão e universalidade absolutas (CP 1.141). Não havendo de modo algum um saber conclusivo a partir de inferências prováveis, haveria infalibilidade em se tratando de proposições matemáticas do tipo 2 + 2= 4? Susan Haack (1979) afirma que, sobre este ponto, Peirce é ambíguo em seus textos. Hookway (1992), por outro lado, afirma que a matemática possui estatuto epistemológico distinto das demais ciência. É este último argumento que desenvolveremos na presente comunicação. Com tal propósito, retomamos a definição de matemática dada por Peirce de ciência necessária e hipotética. Postulamos que há uma certeza lógica (no sentido estrito do termo) inerente ao juízo 2 + 2= 4 o que, no entanto, não se conforma a uma certeza epistemológica. O que o falibilismo afirma é a impossibilidade de uma axiomática em se tratando de questões de fato (CP 1.149), mas a matemática é a priori e não afirma nada de verdadeiro a não ser a respeito de coisas hipotéticas. Porém, é falível em seu caráter experimental, explicitado na divisão que Peirce faz entre dedução corolarial e teoremática.

Palavras-chave: Falibilismo. Matemática. Dedução. Epistemologia. Lógica. Inferência.

 

Rossano S.Tavares, Iralene S. Araújo, Luciana D. de Oliveira, Luís F. Lopes e Mário A. P. de Queiroz / PUC-SP

O comércio semiótico de informações: o continuum de interpretantes e o crescimento dos signos

Resumo: Charles Sanders Peirce começa o sistema de seu pensamento semiótico pela Fenomenologia, uma vez que ele se recusa a fazer uma filosofia que não seja a de estar no mundo. Para ele, fazer uma teoria, deixando o mundo de lado, é correr o risco de cometer inconsistências, desarmonias. Talvez a explicação para essa postura esteja no fato de que a Fenomenologia Peirciana seria, segundo Lucia Santaella1, "a descrição e análise das experiências que estão em aberto para todo homem, cada dia e hora, em cada canto e esquina do nosso cotidiano", por meio dos três elementos formais de toda e qualquer experiência, quais sejam: Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. No que se refere ao Pragmatismo Peirciano, tratase de um sistema filosófico completo, o qual dá liberdade - para quem nele adentra - tanto para contemplar quanto analisar o mundo, abrindo mão do tempo, por meio do belo emanado pela Natureza. Ademais, o Pragmatismo permite que a análise do mundo seja efetuada por meio da Matemática, de forma lógica e precisa, visto que ela possibilita a criação de modelos que representam o mundo em sua totalidade, viabilizando de forma natural a passagem do imaginário para o real. Há que se ressaltar, no entanto, que um dos pontos mais importantes da filosofia de Peirce é, indubitavelmente, a Ética, pois o Homem ainda tem um longo caminho evolutivo em direção a respeitar a Natureza, a qual, muitas vezes, de forma afável ou bem agressiva, não cansa de enviar signos (mensagens). A linguagem, por sua vez, tão rica e poderosa em algumas áreas do saber, mostra-se insuficiente para estabelecer a relação permanente entre o Homem e a Natureza. Além disso, Peirce chama a atenção para o fato de que o pensamento e as experiências estão num continuum de reflexividade e em equivalência com um continuum dos interpretantes. Assim, podemos afirmar que as ocorrências refletidas instauram situações geradoras de novas ocorrências, as quais serão novamente processadas pela razão. Sendo assim, este estudo caminha no sentido de mostrar que o Pragmatismo e a Semiótica, quando associados, são elementos que permitem ao Homem e à Natureza estabelecerem uma comunicação permanente. Entretanto, vale lembrar que, em um processo de comunicação, faz-se necessário que "aquele que comunica" e "o outro que também participa desse ato comunicativo" estejam dispostos a estabelecer tal comércio de informações, cabendo ressaltar que, no entanto, muitas vezes, os signos gerados pela Natureza são de total desconhecimento e/ou não são totalmente depreendidos pelo Homem.

Palavras-chave: Semiótica. Pragmatismo. Fenomenologia. Continuum de interpretantes.

 


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