Resumo:
Este trabalho parte da concepção de que apesar de haver na atualidade um incentivo à diversidade humana e à pluralidade religiosa, ainda existem manifestações excludentes em relação a muitas delas. O seu objeto de estudo são as configurações objetivas e subjetivas do processo de manutenção da pertença religiosa em convivência com as demandas da vida cotidiana de pessoas filiadas a Umbanda na cidade de São Paulo. O espaço urbano foi determinante para atender o questionamento sobre a comunidade umbandista paulistana, ainda em exploração no campo dos estudos das populações de tradicionalidades africanas no Brasil, no que se refere ao histórico da população negra paulistana no bairro e na cidade. Foram entrevistados integrantes de um templo de Umbanda situado no bairro da Barra Funda da referida cidade. Foram analisados os históricos de vida de 4 adultos identificados como umbandistas e com trajetória de vida intra-religiosa e extra-religiosa diversas. A análise das entrevistas revelou 4 núcleos de sentido da experiência de ser filiado á umbanda: o território de encontro, a pertença religiosa, a manutenção da pertença e a superação do ressentimento e da inação. A categoria mediadora da análise das histórias de vida foi a afetividade, escolhida por ser a base motivacional da ação do sujeito e por condensar as determinações subjetivas da sua condição social. Os autores de referencia do enfoque da afetividade são Espinosa, Vigotski e Sawaia. Os resultados desse estudo revelam que o sujeito umbandista, no cotidiano da modernidade, ainda vive situações de inclusão perversa, sofrimento ético-político pelo preconceito que ronda esta religião, o que se objetiva na forma de sentir e agir sobre a própria realidade. Os aspectos históricos de tradicionalidade africana Bantu que ainda permanecem na dinâmica da religião é uma dimensão da umbanda que favorece a força de vida, pois não os aliena em um poder transcendental, inibindo a reflexão e os mantendo na esperança de milagres. Ao contrário, ocorrem eventos extraordinários em termos de sua potência de transformação da vida ordinária desses sujeitos, mas as mudanças que são produzidas não são mágicas, dependem da reflexão e ação racional das pessoas no conjunto de suas condições subjetivas e objetivas configuradas nos bons ou maus encontros.
Palavras Chaves: Sofrimento ético-político, Religiosidade, Afetividade, Exclusão/inclusão, Umbanda