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observatório ecopolítica

Ano V, n. 120, novembro de 2022.

 

 

copa do mundo no catar: o que está no jogo


Há muita polêmica em torno da realização da Copa do Mundo de Futebol Masculino no Catar. Repercute nas mídias, nas redes sociais, em salas diplomáticas e de diretorias, nos campos, em algumas arquibancadas, em algumas mesas de bar...


Em texto recente divulgado na internet, anarquistas na Argentina e contra a Copa enfatizaram a importância do Catar como produtor e vendedor de gás natural. Destaque muito maior que o obtido pelo país por sediar eventos “mundiais” esportivos desde 1995: a Copa do Mundo Sub-20, os Jogos Asiáticos de 2006, torneios de tênis e fórmula 1, o Rally Dakar e duas edições do Mundial de Clubes da FIFA em 2019 e 2020. E destaque ainda maior desde a guerra entre Rússia e Ucrânia, e as sanções de Estados europeus ao governo de Vladimir Putin. O Estado catari avançou na disputa com o russo pelo lugar de fornecedor internacional indispensável de gás natural liquefeito. Chefes de Estado, ao longo dos últimos meses, reúnem-se com o emir do Catar, Al-Thani, para acordar o acesso ao gás catarino.


A escolha desse Estado, seu governo e empresas evidencia os negócios e investimentos que explicitam o que se nomeia “sportwashing”, termo referente a todos os trâmites e acordos — de empresas, instituições e Estados — envolvendo grandes torneios e megaeventos esportivos. No caso do Catar, como no da Rússia, sede da última Copa do Mundo de Futebol Masculino, acrescenta-se ao funcionamento deste nicho mercadológico e como meta contribuir para o apaziguamento das políticas autocráticas e ditatoriais.


Rússia, Catar, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Azerbaijão são alguns dos países que mais financiam ou compram times de futebol masculino de alto desempenho, como Barcelona, Bayern de Munique, Boca Juniors, Botafogo, Manchester City, Newcastle, Paris Saint-Germain e Roma — sendo o Bayer e o PSG clubes pertencentes à Qatar Sports Investment (QSi), uma subsidiária da Qatar Investment Authority, órgão do governo catarino especializado em angariar e fomentar investimentos nacionais e estrangeiros.


Além do investimento em grandes clubes de futebol, o Estado do Catar financia: renomados museus e o mercado da arte, em outros lugares do planeta; centros de pesquisa e universidades, nos EUA; abrigos para pessoas classificadas como “refugiados”, na Turquia.


Para além dos negócios explícitos entre Estados e empresas, a Copa do Mundo Catar 2022 expõe a exploração e as violências capitalistas contra os trabalhadores, em sua maioria classificados como imigrantes.


No mencionado texto, xs anarquistas na Argentina afirmam: “se nos lembramos das famosas Copas do Mundo como a de 78 na Argentina, que aconteceu enquanto pessoas eram torturadas, assassinadas e desaparecidas em campos de concentração, a Copa do Mundo deste ano no Catar está entre os campeões da infâmia: mais de 10.000 trabalhadores da construção civil foram relatados como mortos, geralmente vindos de países como Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e outros no Sudeste Asiático”.


As estatísticas oficiais do Catar mostram que mais de 15.021 não-catarenses — de todas as idades e ocupações — morreram entre 2010 e 2019. Porém, de acordo com a Anistia Internacional, os dados referentes às causas das mortes não são confiáveis, devido à falta de investigações documentadas.


O alto número de mortes classificadas como “doenças cardiovasculares”, nas estatísticas oficiais do Catar, obscurece uma quantidade de mortes injustificáveis e alarmantes. Um jornal de grande circulação no Reino Unido realizou uma reportagem investigativa e mostrou que 69% das mortes entre trabalhadores indianos, nepaleses e bengalis, entre 2010 e 2020, foram atribuídas a “causas naturais” pelo governo do Catar.


Um dos riscos mais documentados e previsíveis para a vida e a saúde dos trabalhadores no Catar é a exposição ao calor e à umidade extremos.


O governo do Catar contesta as conclusões e resultados das pesquisas e relatórios realizados por organizações internacionais de direitos humanos, alegando que as estatísticas de mortalidade e segurança para trabalhadores estrangeiros estão de acordo com os padrões internacionais.


Inúmeras situações de violência e de condições de trabalho atrozes, milhares de vezes, ocasionando a morte das pessoas que serviram nas obras preparatórias do megaevento, seguem omitidas pelas autoridades locais e pela FIFA. Contam com ampla anuência e condescendência dos demais Estados participantes do Mundial, assim como das empresas que o patrocinam.


A maioria dos contratados para a realização das obras da Copa do Mundo no Catar eram e são estrangeiros, dos quais os passaportes e documentos foram e estão retidos pelos patrões e autoridades estatais. Aos quais, muitas vezes, impede-se o envio dos baixos salários para fora do país; ou mesmo se nega a realização do pagamento acordado. Salários atrasados são recorrentes.


Trata-se do chamado “sistema de patrocínio”, conhecido como “sistema kafala”, que opera em vários países do Oriente Médio como Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes, Kuwait, Líbano, Omã. Nesse esquema, os supostos patrocinadores, os empregadores, ou seja, os patrões, são os responsáveis legais pelos trabalhadores imigrantes contratados e classificados como “não qualificados”. Qualquer trâmite burocrático requisitado pelo trabalhador deve ser chancelado pelo patrão, desde a abertura de uma conta bancária até a mudança de emprego. Evidencia-se uma situação de exploração agravada.


Monitorados e aprisionados nesse sistema, os trabalhadores estrangeiros tiveram seus passaportes confiscados pelos patrões e, para ir embora, é necessário obter uma “autorização de saída” aprovada pela empresa contratante. Os pedidos dessa autorização, na maioria das vezes, são ignorados pelos chefes. Não raras vezes, resultam em ameaças e intimidações aos que a solicitam. Os empregadores também não fornecem ou renovam “autorizações de residência”, um documento de identificação exigido pelo governo catarino a todos que vivem e trabalham no país. Sem esse documento, as pessoas estão sujeitas a serem presas e encarceradas pelo Estado, o que impede muitos trabalhadores de deixarem seus locais de trabalho para buscar outros empregos ou fugir do país.


Muitos dos empregados foram extorquidos com taxas que variam de U$ 500 a U$ 4.300, pagas a agentes de recrutamento sem escrúpulos em seus respectivos países, sob falsas promessas de altos salários nos serviços de construção dos estádios. A mesma e velha ladainha que, do outro lado do planeta, coiotes usam para atravessar latino-americanos para os EUA. Muitos trabalhadores já chegaram endividados ao Catar.

 

 

costumes islâmicos e a moral do macho

 

 

A maior polêmica, entretanto, está relacionada aos costumes e à diversidade sexual, uma vez que as leis nacionais do Catar serão impostas também aos turistas-torcedores, notadamente às mulheres e pessoas identificadas sob a sigla LGBTQIA+


Tal como ocorreu na Rússia, onde continuou — e segue — em vigor e abrangendo os turistas, a imposição da lei conhecida como “antipropaganda gay”. Todavia, na última Copa, em relação ao governo do Estado russo e aos costumes abençoados pela ortodoxia católica no país, quase não houve declarações e oposições internacionais.


Agora, até entre as seleções de futebol masculinas há protestos a favor da diversidade sexual, dos direitos de minorias e dos Direitos Humanos. A Associação Dinamarquesa de Futebol (DBU) comunicou, em novembro de 2021, que não participaria de atividades promocionais na Copa do Mundo. Em vez dos logotipos usuais de patrocinadores comerciais, as camisas dos jogadores dinamarqueses exibiam “mensagens críticas”. Já em março de 2021, durante as eliminatórias para a Copa do Mundo, as seleções da Noruega e da Alemanha entraram em campo antes das partidas vestindo camisas com slogans de direitos humanos. No mesmo período, o meio-campista da Alemanha e do Real Madrid, Toni Kross, criticou a FIFA por permitir que o Mundial de Clubes ocorra no Catar, enfatizando as condições de trabalho dos migrantes nos estádios e a perseguição de pessoas identificadas como homossexuais no país.


Os ex-jogadores Eric Cantona (França) e Philipp Lahm (Alemanha), também se posicionaram contra a realização da Copa no Catar, declarando que não assistiriam os jogos do torneio. Na França, várias cidades, incluindo Paris e Marselha, optaram por não exibir as partidas em locais públicos durante o torneio — prática comum durante os mundiais.

Capitães de oito seleções europeias (Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Inglaterra, País de Gales e Suíça) pediram à FIFA autorização para usar braçadeiras com a bandeira do arco-íris durante as partidas da Copa, em apoio à causa LGBTQIA+. Resposta FIFA: NÃO, ou cartão amarelo ao capitão. Todos, muito machos e conscientes, refugaram na hora.


Em outubro de 2022, em um vídeo divulgado nas redes sociais para marcar um mês até o pontapé inicial do evento, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, ao falar sobre o evento, disse que “todos serão bem-vindos ao torneio, independentemente de sua origem, cultura, religião, gênero, orientação sexual ou nacionalidade”. Minutos depois da divulgação do vídeo, o diretor de operações da Copa do Mundo, Colin Smith, acrescentou: “tudo o que pedimos é que as pessoas respeitem as normas culturais do Catar”. Instalou-se o ramerrame oficial.


Dez dias antes do início dos jogos, a FIFA proibiu a seleção dinamarquesa de vestir camisas com mensagens em defesa dos direitos humanos, inclusive durante os treinos. A Federação Dinamarquesa, com apoio dos seus patrocinadores (Danske Spil e Arbejdernes Landsbank), havia solicitado o uso da estampa “Direitos Humanos para todos”, indeferido pela FIFA. A ordem foi acatada pelos dirigentes dinamarqueses. Como sempre. O espetáculo havia sido encerrado, galhardamente, com retórica. O mesmo se deu com a seleção da Alemanha e outras defensoras de direitos... Ninguém é mais forte que o capital, o Estado e as religiões.


Um dia antes da abertura do megaevento, o presidente da FIFA declarou: “a FIFA não é a (Organização das) Nações Unidas. Não somos a polícia do mundo, ou os capacetes azuis. A única arma que temos é a bola”. E prosseguiu: “Hoje me sinto do Catar. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africana. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto uma pessoa com deficiência. Hoje me sinto um trabalhador migrante”. Mas não é nada disso. Por fim, ordenou: “se concentrem no futebol”, após fazer a mea-culpa: “o que nós, europeus, temos feito nos últimos 3.000 anos, devemos nos desculpar nos próximos 3.000 anos antes de começarmos a dar lições de moral às pessoas”. Taca cota, portadores de direitos de minorias etc. e tal, como no show de abertura. Tudo pelo espetáculo!


O presidente da FIFA aplicou uma estratégia recorrente entre forças reacionárias. Atacou um discurso politicamente correto, valendo-se das brechas deixadas por este mesmo discurso, democrático por excelência. A FIFA não é a “polícia do mundo”, mas serve à continuidade da ordem, às desigualdades capitalistas, às violências do Estado, às explorações de trabalhadores — também de mulheres e meninas, muitas delas traficadas —, à moral do macho. Ele não é “árabe”, “africana”, “gay”, “pessoa com deficiência” ou “trabalhador migrante” no Catar, afinal, ele segue vivo e muito bem pago. Ele é o presidente de uma entidade envolvida com todos os mercados mais ricos do planeta. Ele é um homem branco, europeu e heterossexual. Não por determinação identitária essencialista, mas por reprodução dessas condutas, dessas normas, desse modo de vida.


Depois da declaração do presidente Infantino, o diretor de relações com a mídia da FIFA, Brian Swanson, também se pronunciou, defendendo a instituição das críticas. Confessou: “eu tenho lido muitas críticas da comunidade LGBTQIA+ sobre a Copa do Catar. Mas quero dizer aqui, em público, que como um homem gay, me sinto à vontade aqui, me sinto bem-vindo”. Fica a pergunta: qual homem gay (ou que faz sexo com homem) do futebol e que está trancado dentro do armário se sente desconfortável em algum lugar do planeta? No Catar ou no Canadá, devotos da heteronorma, da virilidade e da macheza, correndo atrás da bola e das boladas, são bem-vindos em todos os lugares da ordem e da grana. Podem até ser pretos, árabes, latinos. Ainda que cotidianamente, em sua maioria, engulam a seco as bananas, os cuspes, os gestos, as porradas, as palavras pronunciadas dentro e fora dos gramados.


E muitos dizem se espantar frente ao ex-jogador da seleção do Catar e embaixador da Copa do Mundo, Khalid Salman, que, em entrevista a uma emissora alemã, chamou a homossexualidade de “dano mental” e declarou que o Catar tolerará visitantes homossexuais, desde que aceitem as regras do país. Ou seja, que fiquem dentro do armário.


O mesmo se aplica à conduta esperada das mulheres estrangeiras no Catar. Elas devem se portar segundo as diretrizes religiosas locais, controlar gestos e o andar, estar à sombra de um homem, esconder certas partes do corpo que costumam estar à mostra em muitas culturas ocidentais e jamais trocar carícias ou beijos em público...


Vale lembrar, o envolvimento de muitos jogadores-milionários com redes de prostituição e tráfico de mulheres e meninas. Assim como os vários relatos de garotas e mulheres que foram violentadas por machos-astros do futebol. Todos eles fiéis a Deus, Jesus Cristo, Alá, suas lideranças religiosas e pastores de toda ordem. Assim como aliados políticos, empresários, grandes proprietários, celebridades e influencers.


A moral soberana do macho reina no futebol.


E entre recordes e marcas atingidas, celebrou-se o feito de Cristiano Ronaldo: o “primeiro” a marcar gols em 5 Copas do Mundo. Esquece-se, no Catar, na Europa e todos os cantos do planeta, que a jogadora Marta atingiu o feito ainda em 2019, além de ser a recordista de gols em Copas.

 

 

um detalhe

 

 

Eis que, dois dias antes da abertura da Copa, uma polêmica que atinge diretamente os torcedores-turistas despreocupados com as mulheres, LGBTQIA+ e os trabalhadores estrangeiros que, literalmente, deram o sangue e vida para construir os estádios onde eles sentarão para ver os jogos: não haverá cerveja. O governo do Estado do Catar comunicou à FIFA que voltou atrás e não mais tolerará a venda de cerveja nos arredores dos oito estádios construídos especialmente para o megaevento. A FIFA acatou e justificou. A religião manda, sim; é a base daquela cultura; não faz média como as religiões ocidentais que consagram bebidas alcoólicas em rituais sagrados.


Na partida de estreia, contra os donos da casa, a torcida equatoriana cantou “queremos cerveja!”. Os torcedores-turistas endinheirados que visitam o pequeno país árabe reclamam, além das proibições que supostamente não aconteceriam, dos altos valores da bebida cuja garrafinha long neck ultrapassa os 40 reais. Haverá mercado paralelo e tráfico de cervejas no Catar? E as outras drogas? Só de farmácia?

 

 

disputas na segurança

 

 

O Catar é o menor país a sediar uma Copa do Mundo, além de ser a primeira edição em que todos os jogos acontecerão em apenas uma cidade, no caso, na capital Doha, com estádios que ficam apenas 5 quilômetros de distância um do outro. Com aproximadamente 2,8 milhões de habitantes, estima-se que durante o evento mais de 1,2 milhão de visitantes entrem no país.


Visando o monitoramento de todos que irão circular pelo território catarino durante a Copa, o governo criou um centro de comando e controle intitulado Aspire. Segundo as autoridades locais, será uma referência para outros países e demais eventos esportivos internacionais no quesito tecnologias de monitoramento.


O centro monitora e controla todos os sistemas operacionais, incluindo sistemas eletromecânicos, segurança e proteção, comunicações e TI, de todos os estádios. O governo do Catar declara ser o sistema mais sofisticado já implementado num evento desportivo.


A partir do Aspire, autoridades de segurança têm visibilidade de milhares de pontos onde acontecem as partidas, incluindo portões de acesso, partes internas dos estádios e sistemas de transporte. Possibilita o controle até mesmo de problemas relacionados à manutenção de infraestrutura, como possíveis vazamentos em banheiros, por exemplo. Cerca de 15 mil câmeras com reconhecimento facial foram instaladas nos 8 estádios que receberão os jogos e nas redondezas. Quaisquer situações classificadas como “não conformidades” e detectadas pelas câmeras geram alarmes para a central, que pode tomar medidas em locais distintos ao mesmo tempo, por exemplo: colocar estádios em níveis diferentes de alerta, organizar evacuações, fechamentos de perímetros simultâneos e prisões de pessoas classificadas como suspeitas.


Um sistema de comunicação também informará aos torcedores nos estádios, e em outros locais, enviando orientações ou mensagens específicas. Entre as tecnologias de segurança eletrônica adotadas está a vigilância por drones, responsável pelo monitoramento das multidões que circularão pelas ruas dos estádios. A tecnologia empregada nos drones foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade do Catar e poderá estimar, por exemplo, o número de pessoas circulando pelas ruas.


Para controlar os torcedores-turistas durante a Copa do Mundo, foi criado o Hayya Card. Trata-se de um aplicativo que faz a identificação digital de todos os visitantes e que funciona como uma espécie de visto. Para poder ingressar no país, desde o dia 1º de novembro, todos devem inserir neste aplicativo seus dados de passaporte, comprovação de compra de ingressos e reservas em hotéis, além de uma foto em alta resolução. Os torcedores-turistas só poderão usar os metrôs, construídos especialmente para a Copa, se estiverem cadastrados no aplicativo. A cada Copa e megaevento esportivo, são testados e implementados equipamentos para monitorar torcedores. No Brasil, em nome da segurança, o chamado legado da Copa foi a expansão de câmeras, investimento em reconhecimento facial, além de parcerias com Israel em nome do combate ao “terrorismo” (vide Observatório Ecopolítica n. 32).


O Catar também desenvolveu um sistema de segurança cibernética para prevenção de ataques hackers via internet. Mais do que evitar simples ações hackers, o Estado do Catar quer proteger suas informações e dados recolhidos em seus ataques. Recentes investigações realizadas pelo SRF Investigativ, um canal suíço, revelaram que o Catar realiza operações hackers desde 2010. Diretores da FIFA e críticos do país espalhados pelo planeta foram monitorados. A missão era fazer com que as críticas fossem esvaziadas e perdessem força, de modo a conter uma possível mobilização para que o país deixasse de ser a sede do megaevento. Resultado: goleada do Catar contra aqueles que acreditam que a informação é livre na internet.


Em maio deste ano foi realizada uma conferência com mais de 40 Estados parceiros, diferentes órgãos de segurança nacionais e internacionais, além de representantes da FIFA, ONU, Europol e Interpol. O objetivo do encontro foi avaliar riscos, planejar e estabelecer os procedimentos de segurança eletrônica nos estádios e em meio cibernético.


Na última Copa do Mundo, na Rússia, medidas de governo “excepcionais” coloca Qualquer manifestação considerada “piquete” — como segurar um cartaz com conteúdo classificado como de protesto em espaços públicos — era motivo para detenção policial. Inúmeras perseguições e prisões foram realizadas. Notadamente contra anarquistas e antifascistas, que foram preventivamente presos e torturados.


Os relatos acerca das torturas foram amplamente divulgados. Houve conivente silêncio internacional, midiático, diplomático e entre as seleções e os jogadores.


Mas algunxs escaparam às medidas de monitoramento, controle e ao governo russo. Libertárixs estenderam uma faixa enfrentando o terrorismo do Estado perpetrado pelos serviços de segurança, em uma das propriedades do FSB (Serviço Federal de Segurança). Não foram pegxs.


Durante a partida final da Copa, integrantes do atual coletivo Pussy Riot invadiram o campo e interromperam o jogo. O olé nas rígidas medidas e forças de segurança foi tamanho que um dos envolvidos na ação — e já conhecido de outros carnavais pelo governo russo... —, Piotr Verzilov, foi envenenado durante uma sessão no tribunal, quando respondia à acusação pelo “crime” cometido no megaevento.


Será que no Catar algo escapará? Ou seguirá o jogo e a grana e as declarações democráticas e benevolentes de astros do futebol europeu, dirigentes e de uma e outra celebridade do Ocidente?


Enquanto isso, a despeito das polêmicas em relação à Copa, o Catar vai se consolidando como um Estado chave nas negociações entre os chamados Ocidente e Oriente Médio. Moderado, ele serve, há quase vinte anos, como território para base militar estadunidense, ao mesmo tempo em que mantém alianças com Talibã, Hamas, Estado Islâmico. Foi em um luxuoso hotel em Doha, capital catariana, que autoridades estadunidenses se sentaram com autoridades talibãs para acordar a situação do Afeganistão, após o golpe em 2021. Do mesmo modo, não surpreende que, simultâneo ao apito inicial dos jogos da Copa do Mundo no Catar, estouraram dezenas de bombas em territórios curdos na Síria e no Iraque. Lançadas pelo Estado turco — contando com parcerias oficiais e extraoficiais de outros Estados e empresas —, essas explosões têm como alvo aniquilar as experiências curdas em Rojava, mirando também os incessantes levantes no Irã. Pois somente a revolta e a invenção de outros modos de vida afirmam forças no enfrentamento ao capital, à propriedade, ao Estado e à religião.

 

 

R A D. A. R

 

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O observatório ecopolítica é uma publicação quinzenal do nu-sol aberta a colaboradores. Resulta do Projeto Temático FAPESP – Ecopolítica: governamentalidade planetária, novas institucionalizações e resistências na sociedade de controle. Produz cartografias do governo do planeta a partir de quatro fluxos: meio ambiente, segurança, direitos e penalização a céu aberto. observa.ecopolitica@pucsp.br

 

 

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