Ecossociodesenvolvimento
O desenvolvimento pode ser compreendido como sinônimo de crescimento econômico, apresentado pela visão da economia neoclássica, ou como expansão das liberdades do ser, em que limites éticos são carregados para dentro do debate, redimensionando o próprio caminho que o conceito toma. No entanto ambas as abordagens são limitadas em alguns pontos. A neoclássica por seu reducionismo, estreitando-o a um único fator como justificativa, o de crescer economicamente, sem tomar como relevante a distribuição destes ganhos ou a forma como são alcançados. A teoria de Sen, mais abrangente, redimensiona o motivo que propulsiona o desenvolvimento, porém deixa de fora limites ambientais.
O conceito de desenvolvimento ganha múltiplos alcances quando tratado por Sachs. Como meio e fim, sua busca pode abranger e realizar ganhos consistentes e efetivos para os parâmetros sociais e ambientais sem haver perda na dimensão econômica. A busca de Sachs consiste justamente em equilibrar estes três ganhos de forma que sejam alcançados mutuamente em paridade de importância, sem, no entanto, desconsiderar o que já foi indexado como parte de sua significação.
“Tal inflação de epítetos é pesada para se manejar no nível do discurso e da escrita. Está na hora de despojarmos a palavra desenvolvimento, com a condição de melhor defini-la, levando em consideração todas as suas dimensões pertinentes. Assim reconheçamos o caráter eminentemente positivo do acréscimo sucessivo dessas dimensões ao conceito de desenvolvimento. É apenas por ter sofrido tal transformação que se tornou uma noção central para a compreensão de nossa época e para a concepção dos projetos nacionais voltados para o futuro. Sartre dizia que o homem é um projeto. Por razão ainda mais forte, as sociedades humanas deveriam se esforçar neste sentido.” (Sachs, 2006)
O autor caminha na direção de ampliar a maneira com que o desenvolvimento é abordado. Sachs deixa claro no título de um de seus livros a necessidade de termos um Desenvolvimento: includente, sustentável e sustentado. Para Sachs a alternativa está em transformar a relação entre sociedade e natureza, promovendo esforços para um maior aproveitamento dos recursos aliado a preocupações sociais. A alternativa de produzir energia proveniente de fontes renováveis em parceria com programas de emprego de agricultura familiar, no lugar das grandes empresas e usinas, é uma das alternativas propostas pelo autor. Sua busca é pela equalização do processo com que os ganhos e mecanismos que engendram o desenvolvimento se configuram.
“O desenvolvimento aparece assim como um conceito pluridimensional, evidenciado pelo uso abusivo de uma série de adjetivos que o acompanham: econômico, social, político, cultural, durável, viável e, finalmente, humano, e não citei todos. Está mais do que na hora de deixar de lado tais qualificativos para nos concentrarmos na definição do conteúdo da palavra desenvolvimento, partindo da hierarquização proposta: o social no comando, o ecológico enquanto restrição assumida e o econômico recolocado em seu papel instrumental” (Sachs, 2006).
Esta equalização se dá em grande parte pela inclusão do trabalhador de pequenas propriedades ao mercado. Através de organização pelo Estado, incentivos e taxas, tanto para sua inclusão como para a garantia dos métodos de trabalho decente, Sachs propõe uma estratégia em que, modernizando as relações sociais de trabalho e de mercado, o desenvolvimento pode acontecer de forma sustentada, com ganhos na qualidade dos empregos e bem estar social e ambiental. Estas novas configurações do trabalho são grandes geradoras de postos de trabalho, gerando novas fontes de renda e dinamizando a economia local. Todas estas instâncias são promotoras de ganhos de qualidade subjetiva, como ética, dignidade, realização pessoal através de participação social. O desenvolvimento deve percorrer este caminho, em que, assim como em Sen, os fins e os meios estejam permeados de atenção aos fatores ambiental e social, sem perder de vista os ganhos econômicos.