Economia de Comunhão, Empreendedorismo e Inovação Social
A Economia de Comunhão na Liberdade (EdC) e sua trajetória de 23 anos
Histórico da EdC
A Economia de Comunhão na Liberdade (EdC) surge num contexto histórico mundial pós-queda do muro de Berlim, que simbolizava a presença do Comunismo e sua oposição ao Capitalismo. No Brasil há uma hiperinflação histórica e buscando contê-la é implementado um plano econômico pelo então Presidente da República, Fernando Collor de Melo. O plano ficou conhecido como Plano Collor, gerando o impeachment do referido presidente.
Em 29 de maio de 1991, Chiara Lubich (foto), uma líder global com visão profunda das realidades de cada região que visitou no Hemisfério Sul, chega ao Brasil, especialmente em São Paulo, cujo contraste pobreza e opulência causam-lhe grande impacto. Isto porque os problemas sociais sempre foram muito presentes em sua vidavida [1].Diante disto, constata a enorme desigualdade social, marcada pela má distribuição de renda e o desemprego acentuado no país.
Esta situação faz com que a fundadora do Movimento dos Focolares [2] conclame os empresários cristãos a darem uma resposta concreta ao problema social e ao desequilíbrio econômico no país. Na ocasião, ela sentiu-se impelida a buscar condições para superar essa desigualdade de forma mais efetiva.
Ao constatar também que, não obstante a comunhão de bens praticada no âmbito deste Movimento, desde o seu começo ainda na 2ª Guerra Mundial, não era possível cobrir a necessidade urgente de alguns dos seus integrantes, surgiu a ideia − por parte de Chiara Lubich − de criar empresas que produzissem renda, gerando lucros e que inspiradas no cristianismo dos primórdios, repartissem esse lucro de modo a atender tais necessidades. E, ao mesmo tempo, que essa comunhão de bens produtiva fosse uma constante, por meio da redistribuição do lucro, visando à manutenção dos bens das empresas e o fim da pobreza. Em síntese, o Projeto EdC é a expressão econômica da Obra de Maria.
Este é um modo de vida que contagia e já chegou aos cinco continentes, atingindo cristãos e não cristãos, gerando inclusive o diálogo inter-religioso e com os não-crentes, antes mesmo do Concílio Vaticano II. Esta preocupação e prática social foi corroborada pela encíclica papal Centesimus Annus, escrita por João Paulo II, referente à Doutrinal Social da Igreja, destacando “que a propriedade particular é direito inerente a toda pessoa humana, contudo é meio ou instrumento para fazer que os homens cresçam em solidariedade e sentimentos fraternos. (…) O lucro obtido honestamente por uma empresa de mercado é um valor reconhecido, mas valor subordinado a finalidades humanitárias, pois o ser vale mais ainda do que o ter”.
Neste sentido o embate entre o Comunismo: em busca da equidade sem liberdade, e o Capitalismo: que quer a liberdade, mas não se preocupa com a igualdade, Chiara vivencia o desenvolvimento e o enriquecimento da Europa no pós-Guerra. Assim, diante de tantas situações que presenciou ao longo de suas visitas em diversos países e no Brasil, propõe com o estilo de vida de seu Movimento o seguinte desafio: A cultura da partilha já vivida entre os seus membros deve se tornar a base de um modelo de gestão de empresas e, por consequência, o pilar de um novo sistema econômico. Nem capitalismo, nem comunismo, mas comunhão na liberdade.
O que isto significa? Qual a novidade?
Comunhão na liberdade: o excedente obtido pelas empresas da EdC têm o objetivo de:
- Assistir e suprir as demandas dos que passam necessidades;
- Desenvolver tecnicamente as próprias empresas para que possam crescer e oferecer mais oportunidades de emprego;
- Ajudar na criação desta nova cultura da partilha, isto é, criar “homens novos”, capazes de gerirem empresas e bens de modo que contribuam para maior equidade social, no sentido de um desenvolvimento sustentável no sentido de “satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações vindouras satisfazerem as suas próprias necessidades”, conforme diz o Relatório Burtland (1987) [3].
No que se refere a novidade esta se apresenta nos seguintes aspectos:
Nasce de uma espiritualidade de comunhão, aplicada na vida civil; conjuga eficiência e solidariedade.Com relação à cultura do dar, os pobres são um valor precioso e não um problema; suas necessidades nos impulsionam a sermos sempre mais solidários e fraternos. Esta cultura, o “dar” está em antítese à “cultura do ter” e, neste sentido considera ser possível transformar o comportamento econômico. O “dar econômico” é expressão do “dar-se”, no sentido de “ser” – em outras palavras, revela uma concepção antropológica nem individualista e nem coletivista, mas de comunhão. Ainda estão em construção polos produtivos nos seguintes países: Estados Unidos, Filipinas e França. Destacamos também que entre 2012 e 2013 nasceram 16 empresas no continente africano.
Atualidade e Pertinência do tema
A Economia de Comunhão na Liberdade (EdC) é um novo paradigma que quer a humanização da economia e das organizações de trabalho. Reúne empresas (organizações) inseridas na economia de mercado, governadas não pela troca de equivalentes como defende a corrente utilitarista, mas pela reciprocidade e nesta, as transações não são separadas das identidades daqueles que as originaram e ainda, situam-se dentro de um modelo econômico humanizado, estimulador de comportamentos pró-sociais mais eficientes do que o atual.
Além disso, outros princípios de EdC que não o lucro e a troca instrumental favorecem um novo espaço no interior da própria atividade econômica de mercado e envolvem três aspectos centrais: empresas, pobres e concorrentes. A proposta da Economia de Comunhão na Liberdade (EdC) representa uma forma de superar os desafios da desigualdade social, a má distribuição de renda e o desemprego estrutural no país, e está baseada na constituição de empresas ou transformação das já existentes que tenham como finalidade central, além de gerar renda e lucro, realizar a distribuição – a comunhão – dos lucros em três partes:
a) reinvestir na própria empresa, garantindo e ampliando os postos de trabalho e atividade econômica;
b) investir na formação cultural dentro desta nova racionalidade, de modo a fortalecer a base cultural que sustenta o projeto, ou seja, na difusão da cultura da partilha, mediante a promoção de congressos, estruturas, escolas formativas, bolsas de estudo e imprensa;
c) distribuir, compartilhar uma parte do lucro com pessoas em situação de pobreza, dando-lhes a possibilidade de viver de modo mais digno, criando para elas projetos de desenvolvimento, sem limitar-se a assisti-las financeiramente.
Nas organizações de EdC o ser humano é o foco central, uma vez que não basta apenas dividir o lucro em três partes, incluindo a organização – empresa −, os necessitados e a formação profissional e humana; mas são importantes os diversos relacionamentos não só internos como também os externos, inclusive com os concorrentes. São, portanto, organizações dirigidas por valores e/ou conceitos que constituem a forma de agir, tanto interna como externamente, traçando a filosofia da instituição.
Ao mesmo tempo estas empresas, no seu cotidiano, buscam introjetar esses valores na convivência diária com os diversos segmentos sociais e pessoais, a fim de gerar uma mudança concreta de atitude por parte do outro com quem se está interagindo nas mais variadas circunstâncias. Desta forma, o conceito de fraternidade presente na EdC abrange não tanto a solidariedade, mas sim a reciprocidade gerada na inter-relação entre os diversos setores internos e externos da instituição, permitindo construir relações nas quais haja maior intercâmbio econômico, cultural, social e político-pessoal.
Entretanto, seu alcance em 23 anos de existência não floresceu completamente, mas traz em si a possibilidade de um futuro diferente e cujo estudo e pesquisa no campo acadêmico têm a capacidade de contribuir para que os futuros empreendedores encontrem soluções viáveis para gerirem suas próprias organizações em novos moldes no que diz respeito à gestão administrativa, econômica, financeira e social.
Em 2008, abrangia empresas de pequeno e médio porte na seguinte proporção: associações (2%), cooperativas (5%), firmas individuais (48%), empresas de sociedade limitadas (8%), sociedade anônima (37%), localizadas em cinco continentes: Europa (455), Ásia (42), África (4), América (250) e Oceania (5). Atualmente, há mais de 800 empresas de EdC, sendo 501 na Europa; 43 no continente asiático; 25 na África (das quais 16 surgidas em 2012) e 292 no continente americano, demonstrando um novo crescimento destas empresas a partir de 2009, apesar da crise econômica. No Brasil há 170 empresas localizadas nas regiões sul, sudeste, norte e nordeste. Existem também sete polos produtivos, sendo dois no Brasil − em Cotia, interior de São Paulo; e Igarassu, no Recife (PE) –, um na Bélgica; um na Argentina; um na Itália; um em Portugal e um na Croácia [4].
No período de 2011 a 2013 a utilização dos lucros das empresas foi direcionada para os três setores de intervenção nos quais já há alguns anos é feito o trabalho:
- Assistência às necessidades básicas ligadas à renda, a saúde e a habitação.
- O apoio à escolarização em níveis primários, secundário, universitário e profissional.
- A geração e a consolidação de oportunidades de trabalho em atividades produtivas. [5]
A difusão da cultura do dar, da partilha.
Atualmente existem mais de 500 trabalhos acadêmicos entre teses, dissertações e monografias registrados, em 12 línguas e 26 países diversos, sobre a Cultura da EdC. Mais de 180 delas são encontradas no site www.ecodicom.net ou bem no http://www.edc-online.org/br/
Há trabalhos elaborados nas seguintes áreas: Economia; Administração; Antropologia, Sociologia e Ciências Sociais; Teologia; Contabilidade; Direito; Psicologia; Comunicação, Marketing e Publicidade; Engenharia de Produção; Geografia; Desenvolvimento Ambiental/ Sustentável; Filosofia; Pedagogia; História; Relações Internacionais; Turismo.