Nova concepção internacional de saúde
"Não é muito sábio esperar pela sede para começar a cavar o poço".
Nei Ting, Canon de Medicina do Imperador Amarelo, 5000 aC
Já fazemos parte da aldeia global há algum tempo e vivemos em plena era das comunicações; no entanto, muito pouco se sabe - e se estuda - sobre a civilização viva mais antiga do planeta. Um de seus maiores tesouros, sua multimilenar Medicina tradicional, é um bom exemplo.
Agradeço à Professora Vitória e sua equipe pela rara oportunidade de ajudar na divulgação das Medicinas Tradicionais, notadamente sobre o Tai Chi Chuan, uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa.
Devido à sua relevância e ao grande número de informações que não fazem parte do nosso cotidiano, nutro a esperança de poder aprofundar mais o tema em outros artigos.
No Congresso Mundial da OMS sobre Medicinas Tradicionais, em 2008, foi adotada a Declaração de Beijing que, entre outras coisas, enfatizou que o conhecimento das Medicinas Tradicionais, seus tratamentos e práticas devem ser respeitados, preservados, promovidos e comunicados ampla e adequadamente.[1]
A OMS reconhece dois tipos de Medicina: a Medicina moderna ocidental e a Medicina Tradicional, que é definida como "a soma total de conhecimentos, habilidades e práticas baseadas nas teorias e experiências de diferentes culturas, usadas para manter a saúde bem como para prevenir, diagnosticar, melhorar ou tratar doenças físicas e mentais”.[2]
Frequentemente descrito como "Meditação em movimento", o Tai Chi poderia muito bem ser chamado de "Medicação em movimento", pois pode ajudar a tratar ou prevenir muitos problemas de saúde relacionados com a idade, e ainda pode ser a atividade perfeita para o resto da vida.
O Tai Chi é uma forma lenta e suave de exercício que não deixa ninguém perder o fôlego, embora aborde os principais componentes da aptidão: força muscular, flexibilidade, equilíbrio e condicionamento aeróbico (em menor grau). Os movimentos do Tai Chi são circulares e nunca forçados, os músculos ficam relaxados e não tensos, as articulações não ficam totalmente estendidas ou dobradas, e os tecidos conectivos não são esticados. Esta breve descrição do Tai Chi é da Universidade de Harvard.
Sem dores, grandes benefícios: segundo estudos, o Tai Chi quando combinado com o tratamento médico padrão, pode auxiliar em muitos problemas tais como:
* Artrite: Reduz a dor (osteoartrite severa do joelho); melhora significativamente a flexibilidade e retarda o processo da doença em pacientes com espondilite anquilosante (inflamação dolorosa e debilitante que afeta a coluna vertebral).
* Baixa densidade óssea: Uma maneira segura e eficaz para manter a densidade óssea em mulheres pós-menopáusicas.
* Câncer de mama: Em mulheres que sofrem de câncer de mama ou os efeitos colaterais do tratamento, o Tai Chi pode ajudar a melhorar a qualidade de vida e a capacidade funcional (capacidade física para realizar atividades diárias normais).
* Doenças do coração: Aumenta significativamente a capacidade de exercício, diminui a pressão arterial e melhora os níveis de colesterol, triglicérides, insulina e proteína C-reativa em pessoas com alto risco de doença cardíaca.
* Insuficiência cardíaca: Melhora a habilidade dos participantes para caminhar e a sua qualidade de vida. E reduz os níveis sanguíneos da proteína natriurética tipo B (indicador de insuficiência cardíaca).
* Doença de Parkinson: Um grupo com ligeira a moderadamente grave doença de Parkinson mostrou melhor equilíbrio, capacidade de locomoçâo e bem-estar geral.
* Problemas de sono: Em um estudo com idosos saudáveis com queixas de sono moderada, melhorou a qualidade e a duração do sono.
* Acidente vascular cerebral: Melhora o equilíbrio e reduz a pressão em hipertensos.
* Força muscular: Melhora a força na parte inferior e superior do corpo; fortalece tanto as extremidades inferiores quanto as superiores e também os músculos das costas e abdômen.
* Flexibilidade: Aumento significativo da flexibilidade nas partes superiores e inferiores do corpo, bem como a força.
* Equilíbrio: Melhora do equilíbrio e, segundo alguns estudos, redução de quedas; ajuda a reduzir o medo de cair.
Propriocepção (capacidade de detectar a posição do corpo no espaço, que diminui com a idade). [3]
A HMS, Escola Médica de Harvard, em seu Asian Medicine Research Program tem, entre suas atividades, o Programa de Pesquisas Tai Chi, que explora os efeitos clínicos e mecanismos fisiológicos e biofísicos do Tai Chi, entre outras terapias.
"Um crescente corpo de pesquisas cuidadosamente realizadas está construindo argumentos convincentes para o Tai Chi ser um complemento ao tratamento médico padrão na prevenção e reabilitação de muitas condições comumente associadas com a idade", diz Peter M. Wayne, professor de medicina de Harvard. [4]
De acordo com a Universidade Johns Hopkins, o Tai Chi melhora a saúde cardiovascular, a qualidade do sono, o equilíbrio, ajuda na prevenção de quedas, reduz a pressão arterial e alivia o stress; reduz dores de artrite e de rigidez articular e a condição física melhora em idosas com osteoartrite; a prática de longo prazo de Tai Chi parece melhorar o condicionamento cardiovascular, o consumo de oxigênio e pode atrasar o declínio da função cardiovascular e respiratória. [5]
Publicados no American Journal of Psychiatry Geriatric, estudos recentes sugerem que o Tai Chi tem benefícios significativos para pacientes com problemas crônicos de saúde. Após o treinamento do Tai Chi, 94% dos adultos mais velhos deprimidos apresentaram melhora acentuada nos quadros de depressão e também mostraram melhora acentuada em testes cognitivos.
"No total, os efeitos foram muito contundentes'' disse a Dra. Helen Lavretsky, autora e professora de psiquiatria da UCLA. A Dra. Lavretsky também disse que os resultados são empolgantes porque a depressão é difícil de tratar em pessoas mais velhas, dois terços das quais não respondem ao tratamento medicamentoso inicial. [6]
Aulas de Tai Chi e medicação reduzida devem ser usados para prevenir quedas em idosos, de acordo com especialistas no Reino Unido e os EUA. Na primeira atualização desde 2001 das Diretrizes sobre prevenção de quedas em idosos da American Geriatrics Society e do British Geriatric Society, as novas recomendações para intervenções têm foco em intervenções multifatoriais, que incluem exercícios de treino de marcha, equilíbrio e força, como o Tai Chi. [7]
A médica Mary Tinetti, que revisou as diretrizes e está em Yale University School of Medicine, disse que: "As quedas são um dos problemas de saúde mais comuns experimentados por adultos mais velhos e são uma causa comum de perda de independência funcional. Dada a sua frequência e consequências, as quedas são para os idosos problema de saúde tão graves como ataques cardíacos e enfartes." Dr Finbarr Martin, geriatra consultor da Guy's and St Thomas' NHS Foundation Trust, revelou que o Tai Chi "concentra-se no equilíbrio, em vez da força, que é menos importante para a maioria das pessoas mais velhas, que são fortes o suficiente.
Andrew Harrop, diretor do Policy and Public Affairs at Age UK disse: "Atualmente, existem grandes variações na qualidade dos serviços de prevenção de quedas em todo o Reino Unido e é crucial que estas orientações sejam colocadas em prática para garantir que futuras quedas sejam impedidas".
"Com uma pesquisa mostrando que os programas para melhorar a força e equilíbrio podem reduzir o risco de quedas em até 55%, a recomendação de que as intervenções para a prevenção de quedas incluam um componente de exercício é particularmente bem-vinda. [8]
O Tai Chi Chuan regularmente praticado melhora a função das células T nos pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Uma combinação de Tai Chi com medicação pode proporcionar uma melhora ainda maior no metabolismo e imunidade dos pacientes com diabetes tipo 2. [9]
A reunião anual da American Academy of Otolaryngology/Head and Neck Surgery Foundation, sugeriu que Tai Chi pode beneficiar pacientes com distúrbio vestibular (distúrbios do equilíbrio do ouvido interno que podem causar vertigens, tonturas, náuseas e outros problemas com o equilíbrio geral). Os participantes do estudo relataram ter uma diminuição acentuada dos sintomas (vertigem e náusea) e uma melhora em seu equilíbrio. [10]
O Tai Chi pode ser um bom tratamento para a fibromialgia (síndrome comum e complexa caracterizada por dor crônica, fadiga, disturbios do sono, etc) segundo o New England Journal of Medicine. [11]
O Centro Nacional para Medicina Complementar e Alternativa (NCCAM) é a principal agência do Governo Federal dos Estados Unidos para a investigação científica sobre os diversos sistemas de cuidados médicos e de saúde, práticas e produtos que não são geralmente considerados parte da medicina convencional. O NCCAM apoiou estudos sobre os efeitos do Tai Chi, sobre a perda óssea em mulheres na pós-menopausa; sobreviventes de câncer; depressão em pacientes idosos; sintomas como fibromialgia, como dor muscular, fadiga e insônia; osteoartrite do joelho; pacientes com insuficiência cardíaca crônica e artrite reumatóide. [12]
A CAM (Medicina Complementar e Alternativa) é atualmente oferecida em cerca de 50% dos hospitais da Noruega e em um terço dos hospitais da Dinamarca. Na Noruega, de 50 hospitais, 40 oferecem acupuntura; outros 19 oferecem outras terapias, como o Tai Chi. [13]
O Tai Chi pode melhorar a qualidade de vida e o humor em pacientes com insuficiência cardíaca crônica, de acordo com pesquisa liderada por uma equipe do Beth Israel Deaconess Medical Center, uma filial de ensino, assistência e pesquisa da Harvard Medical School. [14]
De acordo com a Mayo Clinic College of Medicine, líder no uso de Medicina Complementar, apesar de sua longa história, o Tai Chi tem sido estudado cientificamente somente nos últimos anos; ele é recomendado para reduzir a ansiedade, a depressão, aumentar a energia, a resistência, a agilidade, melhorar a aptidão cardiovascular em adultos mais velhos e melhorar a qualidade do sono. [15]
Depois destas evidências, que tal incluir o Tai Chi em sua rotina de atividades diárias?
Prof. David Roberto de Almeida
david_hruodbeorth@yahoo.com.br
O professor David é doutor em acupuntura pela WFAS (World Federation Acupuncture-Moxabustion Societies).
Referências:
1 World Health Organization, Beijing Declaration; consulta refeita no site em julho de 2011:
http://www.who.int/medicines/areas/traditional/congress/beijing_declaration/en/index.html
2 World Health Organization, Traditional Medicine; consulta refeita em agosto de 2011: http://www.who.int/medicines/areas/traditional/definitions/en/index.html
3 Harvard Medical School, The health benefits of Tai Chi; consulta refeita em junho de 2011no site:
http://www.health.harvard.edu/newsletters/Harvard_Womens_Health_Watch/
2009/May/The-health-benefits-of-tai-chi
4 The Division for Research and Education in Complementary and Integrative Medical Therapies, Asian Medicine Research Program; consulta refeita em junho de 2011 no site: http://www.osher.hms.harvard.edu/research.asp
5 Johns Hopkins Health Alerts; consulta refeita em julho de 2011 no site:
http://www.johnshopkinshealthalerts.com/alerts/healthy_living/
JohnsHopkinsHealthAlertsHealthyLiving_3457-1.html
6 The New York Times, Tai Chi Eases Depression in Elderly; consulta feita em julho de 2011 no site: http://well.blogs.nytimes.com/2011/03/18/tai-chi-eases-depression-in-elderly/
7 The American Geriatrics Society, New Guidelines for Preventing Falls in the Elderly Include: Start Tai Chi, Cut-Back on Meds; consulta feita em julho de 2011no site: http://www.americangeriatrics.org/press/id:1545/
8 BBC UK, Tai Chi prevents elderly falls say geriatrics societies; consulta refeita em fevereiro de 2011 no site: http://www.bbc.co.uk/news/health-12170441
9 British Journal of Sports Medicine, Regular Tai Chi Chuan exercise improves T cell helper function of patients with type 2 diabetes mellitus with an increase in T-bet transcription factor and IL-12 production; consulta feita em julho de 2011 no site:
http://bjsm.bmj.com/content/43/11/845.abstract?sid=ade8a5d7-229a-
453e-b1f7-7792b093232f
10 TIME, Treating vertigo and dizziness with Tai Chi?; consulta refeita em julho de 2011 no site: http://healthland.time.com/2009/10/05/treating-vertigo-and-dizziness-with-tai-chi/
11 The New England Journal of Medicine, A Randomized Trial of Tai Chi for Fibromyalgia; consulta refeita em julho de 2011 no site: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0912611#Top
12 National Institutes of Health, NCCAM, Tai Chi: An Introduction; consulta refeita em julho de 2011 no site: http://nccam.nih.gov/health/taichi/introduction.htm
13 National Center for Biotechnology Information, U.S. National Library of Medicine; Use of complementary and alternative medicine at Norwegian and Danish hospitals; consulta refeita em julho de 2011 em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21244655
14 Beth Israel Deaconess Medical Center; Tai Chi May Improve Quality Of Life In Chronic Heart Failure Patients; consulta refeita em julho de 2011 em: http://www.bidmc.org/News/InMedicine/2011/April/ArchivesTaiChi.aspx
15 Mayo Foundation for Medical Education and Research;Tai Chi: Discover the many possible health benefits; consulta refeita em julho de 2011 em: http://heartspring.net/top_ten_complementary_therapies.html
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