Sueli se escreve com S de Sorriso e de Saudade
Por Célia Gennari
Sueli Van Haute Carrasco, paulistana de nascimento e de coração. Formada em Magistério, aluna da Universidade Aberta à Maturidade (UAM) desde 1997, foi colaboradora na primeira edição do antigo Jornal ComPUCtador, com Mulheres Notáveis. Em 1999 foi convidada a tornar-se membro da equipe, responsável pela organização do banco de textos e também pela realização da seção Sabor & Saber. Para ela, fazer parte da equipe “foi uma aprendizagem contínua e um crescimento cultural ímpar”.
“Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas”
A encantada pela vida de São Paulo, Sueli Carrasco, não passou por aqui por acaso. Fez balé e fez amigos, queria ser parteira, mas o pai a levou a fazer magistério, casou, teve dois filhos e duas netas. Orgulhosa dos seus meninos, para ela “homens guerreiros”: um era seu guru, o outro a ensinava a paciência. Casou-se por amor e por amor viveram juntos “até que a morte os separasse”.
“Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”
A longevidade de sua mãe não chegou até ela, mas o pensamento positivo e o desejo de viver para ver as suas netas crescerem e se formarem sempre foram o seu elixir de força e determinação em todos os momentos mais difíceis que o leitor possa imaginar. Ela tinha medo de não saber envelhecer, de não saber aproveitar também essa fase, mas ela conseguiu. Sim, ela conseguiu, com a dignidade de sempre.
“Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes”
A Universidade Aberta à Maturidade entrou na sua história para lhe ensinar a envelhecer, para sair “um pouco” da rotina de dona de casa, para novos horizontes, novas descobertas... uma nova vida! Aproveitou cada momento, cada aula, cada nova amizade sincera, fraterna, leal... Participou de tudo que pode e amava estudar e se dedicar ao aprendizado da Língua Espanhola... e se apaixonava pelas as aulas dos professores, suas palavras na transmissão de seus conhecimentos... Sueli era encantada!
“E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”
“Pessoa especial que não permitiu que seu problema físico (de saúde) influenciasse negativamente sua personalidade gentil e acolhedora! Seu sorriso permanecerá por todo o sempre na memória e sua postura digna é um exemplo a ser seguido! Que Deus a envolva na sua luz!” – Nilde Tavares
“Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva”
Sempre tão preocupada com o outro, sempre tão cheia de consideração pelo ser humano, mas nunca colocou ninguém acima da sua família. Prioridades ela tinha como ninguém, queria sempre completar, somar, auxiliar a todos que conquistavam a sua estima e respeito. Educação primorosa, gentil, amável, mas extremamente protetora dos seus entes queridos, sabia como usar as palavras para defendê-los.
“Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa”
“Sueli, sim, estivemos juntas por muitos anos. “O ComPUCtador” nos uniu na década de 90! Simpática, bonita, alegre, positiva e com uma capacidade de organização incrível, ela era indispensável. Sabia onde estava tudo sobre o Jornal! Muito orgulhosa da família e, em especial, das netinhas… Ah!, que amor e dedicação. Sonhava com as conquistas das meninas! Num meu momento de muita fragilidade, tive na Sueli a amiga que, sensível, percebe as necessidades básicas de alguém, sem paparicos, mas com atitude – um paletó num dia de frio, um cachecol, um abraço, um telefonema, uma balinha, uma caixa de bombom, simples assim! A longa reclusão exigida pelo momento vivido, não lhe tirou a espontaneidade, o sorriso e a minha sensação gostosa ao ouvir sua voz no “telefone”. Aquele “antigo” telefone, fora de moda, que nos permite sentir a emoção das palavras, o carinho, a risada sincera e sonora, a segurança ou a fragilidade da voz, que nos sensibiliza. Descanse em paz, minha amiga! – Ignez Ribeiro
“Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João...”
E assim, acabou a música, a melodia, a dança, as boas risadas, os abraços, a sinceridade nas palavras, mas veio a certeza de que sua história, sua semente, perpetua em seus descendentes e em nossas memórias. Ela deve estar dançando com seus pais neste momento, curtindo o som de “Sampa”, de Caetano Veloso, música que tanto adorava. Assim seja!
Sueli Carrasco foi nossa entrevistada da edição número 39.
Ainda bem!
Clique aqui para ler a entrevista.
https://www5.pucsp.br/maturidades/entrevista/entrevista_39.html
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