UNIDAS PELO VOLUNTARIADO

Por Célia Gennari

Maria Grazia Paganoni Percussi, 75, e Maria Pasetti de Souza, 85, alunas da Universidade Aberta à Maturidade (UAM) têm muitas histórias para contar sobre voluntariado. As amigas fazem trabalho voluntário há uns 40 anos. Inclusive, se conheceram porque eram voluntárias na Sociedade Pestalozzi de São Paulo, onde estiveram por 25 anos. Maria Pasetti chegou a ser presidente das voluntárias no local.

Maria Grazia Paganoni Percussi	Maria Pasetti de Souza

Fizeram um trabalho bem intenso, inicialmente fazendo bazares, o que era difícil porque não tinham prendas. Mas era com o dinheiro do bazar que elas mantinham as oficinas da Pestalozzi abertas, compravam lençóis para os alunos e mantinham em ordem a escola. Esse foi o primeiro trabalho que fizeram em meados de 1970.

Ficaram dois anos sem trabalhar quando saíram de lá, mas como ser voluntária era um vício, sentiram falta de prestar auxílio. Até que Maria Grazia conheceu o Dr. Acary Souza Bulle Oliveira, o melhor neurologista de São Paulo. Maria Pasetti, Maria Grazia e Leonilde Lapetina começaram a trabalhar com ele e até hoje elas mantêm uma escola comprada pelo Hospital São Paulo, localizada na rua Estado de Israel, número 899, na Vila Clementino (SP). Nisso já se passaram 17 anos. No local está a sede da ABrELA – Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica e o Setor de Investigações nas Doenças Neuromusculares da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo.

Maria Grazia, Maria Pasetti e o Dr. Acary em evento da ABrELA

“Não temos preguiça, fazemos o que tiver de fazer para conseguir dinheiro e comprar o que é necessário”, afirma Maria Grazia. Assim, com determinação, faziam eventos, arrecadavam fundos e compravam lençóis, material cirúrgico, televisões para os médicos darem aula, árvore de natal, agulhas etc. e em troca, conseguiam, através das assistentes sociais, o atendimento para os pobres. “Conseguimos atender muitas pessoas”, disse Maria Pasetti.

Segundo Maria Pasetti, hoje em dia tudo é muito difícil, precisa muita força de vontade e perseverança para trabalhar no voluntariado. Mas, para Maria Grazia é um lema de vida. Ela fez uma promessa quando seu filho ainda pequeno sofreu um acidente, de que, quando ele sarasse ela iria sempre trabalhar para ajudar quem precisasse. “Me sinto muito bem e mais ainda porque tenho o apoio da Maria Pasetti”, explicou, “fazemos de cinco a seis eventos por ano, sempre juntas. Mas, se uma de nós viaja a outra toca o evento sozinha”.

Equipe em evento da ABrELA

Ainda, ajudam a Santa Casa e conseguiram comprar 10 televisões para a pediatria, colchões forrados de courvin, cobertores, 180 pijamas de puro algodão, pois não pode ser qualquer material para hospital, pois todos os tecidos têm que entrar na calandra para desinfetar. E, ainda, compraram 40 tratamentos de câncer, com a permissão da ANVISA.

Em Maraú (BA) a equipe de voluntárias, coordenadas por Maria Grazia, está “fazendo mais um pouco de história”. A assistente social de Marau tomou conhecimento do trabalho das Maria’s e pediu ajuda para Grazia. Então, no local, primeiro fizeram uma sala de fisioterapia do jeito que eles solicitaram, com a doação das voluntárias. E, depois, sem verbas, contaram com a ajuda do Dr. Eduardo Minelli e de sua esposa Patricia Minelli para terminar o posto na Vila de Saquaíra, no município de Maraú (BA). O casal empenhou-se em comprar e montar a sala de odontologia e de medicina. “Nos sentimos felizes assim. Todo o nosso sacrifício se transforma em harmonia, liberdade e benção de todas as nossas ações”, explicou Maria Grazia. O posto da Vila de Saquaíra é o mais equipado da região de Maraú.

Hoje fazem parte da equipe 12 voluntárias. São elas: Andrea Coelho, Bianca Affricano, Cecilia Mangini, Claudia Aurichio Braido, Claudia Totoli, Fausta Pieri, Grazia Vallo, Leonilde Lapetina Helena Barreto, Maria Grazia Paganoni Percussi, Maria Pasetti de Souza, Patricia Minelli e Rita Bezerra de Cassia.

Maria Pasetti tem quatro filhos, oito netos e Maria Grazia tem dois filhos e três netos e conseguem dar conta da família, do voluntariado e de seus prazeres pessoais, entre eles ir para a UAM. Há cinco anos frequentam a Universidade. Maria Pasetti não perde uma aula e, ainda, faz ginástica, drenagem, acupuntura, aula de pintura... Maria Grazia pratica yoga, faz fisioterapia e massagem. Coisas para se manterem bem e com bastante energia para o trabalho, afinal, estão sempre presentes nos eventos. E até acabam comprando para ajudar também quem doou o evento para as voluntárias.

A vida das Maria’s é impressionante. Uma vida voluntariosa. Elas fizeram cursos de voluntário, para se prepararem para a atividade que pretendiam desempenhar: no Banco Itaú, na Fiesp e na ABrELA com o Dr. Acary. Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) – Essa doença é a pior das escleroses: é uma doença que ainda não se sabe de onde provém, não tem cura e não é muito conhecida. Tem 1.500 casos registrados em São Paulo. “Na Europa também tem muitos pacientes, mas o governo ajuda realizando eventos que rendem muito mais do que os nossos”, explica Grazia.

A ABrELA, hoje membro da Associação Internacional de ELA/DNM, pretende comprar uma casa só para atender os doentes de ELA. Hoje o espaço é dividido com o Setor de Investigações nas Doenças Neuromusculares da EPM da UNIFESP. Na ABrELA, uma unidade menor que tem no mesmo endereço, eles realizam reuniões bimestrais, no primeiro sábado de todo mês para orientação e informação a pacientes, familiares, cuidadores, profissionais e pessoas interessadas. Mais informações clicar aqui.

Segundo Grazia, uma casa maior é imprescindível, pois, entre tantas coisas, os doentes de ELA vão de cadeira de rodas. Maria Pasetti é uma voluntária que ajuda muito na manutenção, faz o pagamento das assistentes sociais, da parte de computação e prove a ABrELA já há muitos anos.

Para Maria Pasetti, o voluntariado é interessante porque tem muita gente que está precisando e “uma andorinha não faz verão”. “É importante que a gente se reúna cada vez mais para ajudar o próximo”.

Maria Grazia informou que a ABrELA está aberta a novos voluntários. “Convido os interessados a frequentar um de nossos encontros, para ver como trabalhamos. Convido os interessados a se unirem a nós ou a formarem um novo grupo e começarem a trabalhar. O trabalho dá muita satisfação para nós e para as pessoas para as quais você vai ajudar. Nós nos sentimos muito importantes com o nosso trabalho”, concluiu.

Ajudar o próximo para as Maria’s é fundamental para o bem-estar próprio. Enquanto muitos deixam a vida passar sem nada fazer de produtivo, elas ocupam seu tempo com atividades diversas e vivem intensamente cada momento. Fazer a diferença na vida de alguém nos parece um caminho eficaz para alcançar a qualidade de vida de que tanto se fala nos dias atuais. Fica aqui a história, o convite e a sugestão das Maria’s Grazia e Pasetti. Fica aí a decisão do leitor de movimentar ou não.

Fotos: Site da ABrELA