M.I.C.A. e M.O.P.I.: SEMENTES PARA UM MUNDO MELHOR
Esta entrevista começou diferente. Não nos encontraríamos com uma única pessoa, mas com quatro mulheres, voluntárias competentes, cheias de ânimo, realizações, novos projetos e convictas de que “fazer arte” é um movimento capaz de modificar a vida das pessoas e, através dela, tudo ao seu redor.
Para encontrar este grupo corajoso e atuante nos dirigimos ao Espaço de Exposição da UNIP – Universidade Paulista/Campus Norte, onde nos foram apresentados o M.I.C.A. – Movimento Infanto-Juvenil Crescendo com Arte e o M.O.P.I. – Movimento dos Protetores Independentes da Zona Norte de São Paulo. A nossa conversa aconteceu em meio aos quadros do evento “A Arte de Mãe para Filho... e Neto!”, fruto de uma oficina de pintura com alunos do Projeto Maín – obra social do Instituto Madre Mazzarello, realizado pelo M.I.C.A., com o apoio da UNIP, em homenagem ao Dia das Mães.
Fomos recebidas pela simpática idealizadora, fundadora, diretora e coordenadora do M.I.C.A., Maria José C. Gomes Pereira Soares, 61 anos, bióloga e educadora, e suas voluntárias colaboradoras, as artistas plásticas Maria Nilce Garcia Nicodemos, 55, e Terezinha Tavares Bancher, 68, e, também, a jornalista Fabiana Pino Alves de Souza, 33, que, junto com Maria José e a médica veterinária Dra. Cristina Moreira, , administram o M.O.P.I.. Outros, que integram o quadro dos voluntários destes trabalhos, não nos foi possível conhecer naquela manhã.
“No português temos muitas palavras para dizer a mesma coisa, mas nem sempre elas tem o mesmo significado. É aquela coisa de olhar e ver, porque a maioria das pessoas olha e não percebe. Tem tanto animal na rua, abandonado. Na arte você ensina a pessoa a olhar, ver e perceber”
Maria José Soares
MICA – MOVIMENTO INFANTO-JUVENIL CRESCENDO COM ARTE
O trabalho do M.I.C.A. começou há pouco mais de 15 anos, com o olhar atento de Maria José para as pinturas da artista plástica Célia Álvares que, até aquele momento, estavam escondidas na sua garagem, dentro de sacos plásticos. O entusiasmo de Maria José fez com que a artista, mesmo insegura da qualidade dos seus trabalhos, se dispusesse a expô-los em um restaurante. Foi o começo do movimento que as levaria ao sucesso. Um grupo de trabalho foi criado, outros artistas plásticos se juntaram e as exposições se sucederam.
Outro elemento chave para esse novo caminho foi Juliana – filha de Maria José, na época com 6 anos, ter se entusiasmado com a pintura. Menina esperta e muito ativa encontrou seu caminho nas artes: pintura, piano, violão, teclado, desenho, literatura e o balé, no qual se especializou e se dedica até hoje, com muito sucesso. Ao procurar lugar para expor os trabalhos da filha e de outras crianças, Maria José Soares percebeu que não havia disponibilidade de lugar e interesse nessa faixa etária. Ocorreu-lhe a idéia de procurar bibliotecas. A primeira que lhe abriu as portas foi a Biblioteca do Mandaqui, na qual aconteceu a primeira exposição, de várias que se seguiram. O ponto de partida para a criação do M.I.C.A.
Ao perceber o grande potencial das Artes Plásticas no desenvolvimento emocional das crianças, que permite liberar suas emoções, criatividade, abrir-lhes novos horizontes e capacitá-las a se inserir dinamicamente em outras atividades, Maria José partiu para criar Oficinas de Artes com suas primeiras colaboradoras: Célia e Nilce.
Uma coisa que chama atenção neste projeto, inteiramente gratuito, é que é aberto a todas as crianças que manifestem interesse, vontade de se dedicar a alguma arte e não exclusivamente aos carentes. Há uma visão ampla de educação, não há a preocupação de formar artistas e sim de educar através da arte, ensinar a ter respeito, disciplina, saber olhar o belo, preservar o ambiente e, consequentemente, aumentar a auto-estima e a qualidade de vida. “Se nós melhoramos a qualidade de vida a nossa volta iremos melhorar a nossa própria vida e isso se irradia em uma grande onda, que vai se espalhando...”, afirmou Maria José.
Quando a artista plástica Terezinha Bancher visitou a primeira exposição na Biblioteca do Mandaqui, Pedro da Silva Nava, abriram-se novos horizontes para as propostas de trabalho de Maria José e suas colaboradoras, que sempre estavam a procura de um espaço adequado para seus alunos. Terezinha não só se ofereceu para dar aulas, como também, em seguida, disponibilizou seu ateliê. O M.I.C.A. cresceu e se tornou um realidade na Zona Norte da cidade de São Paulo.
“Depois que a criança começa a fazer arte, principalmente artes plásticas, nunca mais vai ver a natureza e o mundo como antes. Ela passa a ter observação maior em todo meio que vive, a ver o valor da natureza, as cores... Coisas que nem enxergava passa a enxergar”
Terezinha Tavares Bancher
O M.I.C.A. envolve nos seus projetos crianças, jovens e adultos. O Coral “Vozes do Futuro”, que se manteve ativo por dez anos, dirigido pela regente Lydia de Godau, apresentou-se em muitas cidades do Brasil e por suas excelentes performances foi convidado para cantar no Cornegie Hall de New York, o que, sem patrocínio, não pode se realizar. O mesmo ocorreu com o “Grupo Corpo e Dança”, coreografado e ensaiado pela Profa. Cristiane Rabelo, que foi convidada para participar do “Festival Internacional de Dança”, em Joinville. Hoje, a Profa. Cristiane tem o seu próprio curso de dança e dá bolsas de estudos para alunos do M.I.C.A. , bem como, aulas gratuitas para quem não pode pagar. Sem falar no teatro, grande agente de desenvolvimento cultural, que engloba expressão corporal, música, artes plásticas, dança, textos literários etc., e que, infelizmente, depois de muito tempo de excelente atividade foi desativado, por falta de professores e agentes patrocinadores.
É importante frisar: “O Voluntariado é um ato heróico”.
A exposição de pintura “A Arte de Mãe para Filho... e Neto!”, que tivemos o privilégio de conhecer, é uma experiência interessantíssima, que congrega mães e filhos pequenos na arte de pintar e dá às mesmas a oportunidade de melhor avaliar e valorizar os trabalhos do seus filhos, quando elas mesmas se vêem como executantes de uma arte que lhes permite dar vazão às suas próprias emoções.
“A partir do momento que você começa a fazer a criança sentir a arte, ela começa a observar mais, ir melhor na escola,... Além disso, temos muitas que passaram pelas nossas oficinas e que hoje estudam na USP ou fazem Belas artes e voltam pra nos agradecer”
Maria Nilce Garcia Nicodemos
Há muitas dificuldades para levar avante um trabalho como este, árduo, mas, gratificante, que exige grande envolvimento por parte de seus voluntários, pessoas dedicadas e que se ressentem de não ter local adequado, fixo, que dê condições de um melhor aproveitamento de todo seu potencial. O M.I.C.A. não tem sede, não tem patrocinadores e nem está ligado a nenhuma filosofia política ou religiosa.
PARCERIA M.I.C.A. – M.O.P.I. : “Arte pela valorização da Vida Animal”
“...E mesmo que só algumas dessas sementes que plantamos venham a frutificar, estamos seguros de ter contribuído com a nossa parte para um mundo melhor”
Maria José Soares
Maria José, desde adolescente, sempre se preocupou com os maus tratos sofridos pelos animais abandonados, maltratados, muitas vezes, por seus próprios donos por ignorância ou pura maldade. Sempre manteve muito vivo este sentimento de proteção ao cuidar dos mesmos e fazer a sua parte, mas sentia-se muito solitária nas suas propostas de ajudar os que estavam ao seu alcance. Resolveu aliar suas atividades com artes plásticas ao seu desejo enorme de proteger os animais, e realizou um evento do M.I.C.A. que privilegiava a “Arte pela valorização da Vida Animal”.
Por essas cronicidades que nos surpreendem, Fabiana Pino – que já se preocupava e protegia animais, mas, também, estava sozinha nos seus esforços – encontrou-se com Maria José pela indicação de uma amiga. Há sempre uma longa história dos fatos que nos levam a encontrar as pessoas certas para as causas certas; assim chegamos, também, à médica veterinária Dra. Cristina Moreira. Três profissionais que já conheciam e tinham os mesmos objetivos, ideais, sensibilidade e que uniram seus esforços para criar em 2005, o que seria mais tarde o
M.O.P.I.. Há muito de um grande esforço consciente para recolher o animal abandonado, tratar, vacinar, castrar e doar. “Várias palestras são feitas para conscientizar as crianças a respeitar a vida animal e permitir que cresçam com uma visão mais ampla do que é o respeito pela vida, de um modo geral e a preservação do meio ambiente”, esclareceu Fabiana.
Concursos foram feitos, pela parceria M.I.C.A. –
M.O.P.I., para motivar através da pintura e da poesia. Os resultados foram positivos e gratificantes. Agora, outro está sendo idealizado, nos mesmos moldes, com trabalhos em dobraduras.
“O abandono dos animais é uma forma cruel de se livrar de um problema que tem solução: castração e domiciliação... O respeito pela vida dos animais faz parte do respeito pela vida de todos”
Fabiana Pino
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Reportagem e fotos Célia Gennari
Texto Ignez Ribeiro
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