"Mais importante do que aprender a viver é saber envelhecer”
A Profissional de Educação Física, Érica Verderi, 43 anos, pequena, gentil, carismática, realiza um trabalho voluntário que nos entusiasma e sensibiliza em Sorocaba, cidade com 600 mil habitantes, localizada há 90 km da capital do Estado de São Paulo, onde o melhor marketing é o boca-a-boca.
Durante os 18 anos que trabalha com o Programa de Educação Postural – PEP, idealizado por ela, Érica Verderi percebeu que aumentava o número de clientes com mais de 50 anos, com necessidades e carências especificas, procurando por um atendimento diferenciado. “No começo eu atendia mais jovens e hoje, a região me traz 70% de pessoas acima de 50 anos num grupo de quase 80 e, por isso, eu tive de fazer uma adequação tanto profissional quanto psicológica e financeira, seja na forma de atender, nos protocolos, programas de exercícios e/ou na infra-estrutura”. Acontece que desse percentual, também, sempre tem o amigo que é indicado, mas que não pode pagar.
Então, Érica passou a se questionar: “Como a pessoa vai chegar aqui na minha porta e eu vou falar que não posso atender?” Assim, ela solidarizou-se com o drama dos mais carentes e necessitados da região e se comprometeu como pessoa e como cidadã com a realização do projeto do Centro de Convivência do Idoso de Sorocaba – CCI.
Rapidamente, com a união do trabalho voluntário das profissionais de Educação Física que trabalham no PEP, Sandra de Andrade e Mary Publio, o CCI abriu suas portas em 13 de fevereiro de 2008. O objetivo era simples e depois de um ano continua sendo: receber as pessoas indicadas por clientes ou ex-clientes do PEP, que precisam de um atendimento diferenciado e não têm condições financeiras para tal.
Um projeto que ia começar com apenas 20 inscrições, por conta de uma nota que saiu no jornal, foi ampliado para 40 – distribuídos entre os períodos de manhã e tarde de todas as quartas-feiras. Mas, como 32 pessoas já aguardavam vaga e, pela premência das quase 80 ligações pedindo para se colocar o nome em lista de espera, em agosto de 2008, criou-se mais um horário às sextas-feiras à tarde.
Os idosos recebem uma programação semestral quando iniciam as aulas. Por exemplo, para o primeiro semestre de 2009 está agendada aula de artesanato em madeira [Érica é a professora], caminhada no parque da cidade e palestras [de acordo com a disponibilidade do palestrante, também, voluntário]. Todos passam por uma avaliação funcional anual. O programa de exercícios desenvolvido pela equipe de profissionais envolvidos no projeto atende as necessidades e limitações do grupo e com ele é possível obter resultados emocionais, físicos e sociais. São oferecidas atividades de alongamento, dança, relaxamento, meditação, reflexologia, automassagem, entre outras. “Terminamos 2008 com muitos resultados positivos”, afirma Érica.
Com atitude as coisas acontecem
O trabalho é voluntário, sem remuneração, mas com despesas. Há toda uma história de dedicação e competência desta mulher, que os embates da vida só fizeram mais forte e destemida. Mas, como ela sempre diz “é só começar, tomar atitude, que as coisas acontecem”.
Se no PEP o trabalho é feito com grupos de 5 pessoas e atendimento individual, no CCI a coisa mudou e muito. As despesas são muitas, com material de apoio e tudo o mais para que as coisas aconteçam, como: faixas elásticas, alteres, bolinhas de borracha, energia elétrica... Mas Érica não deixa de dar um lanchinho cheio de amor, com gosto de “quero mais”, para segurar o estômago dos idosos até chegarem nos seus lares...
“O espaço físico que dispomos no PEP é pequeno e tem que ser montado e desmontado para o atendimento dos idosos do CCI, mas o resultado vale todos os esforços e eu tinha mesmo a intenção de retomar um trabalho com idosos”, explica Érica.
Inicialmente, a Associação Fraternidade Acaciana de Sorocaba doou os materiais e um empresário de Sorocaba, seu cliente, as 20 cadeiras necessárias para os trabalhos. Mas para receber doações o CCI precisava realmente existir, não só ser um projeto idealizado pela Érica Verderi.
Legalidade
A destemida não teve dúvida, fez o Estatuto, compôs a Diretoria Executiva, Conselho Deliberativo e Fiscal, convocou uma reunião para aprovação do Estatuto e fez o pedido da Certidão Negativa do nome, que segue os trâmites legais, no Cartório. Com quase tudo pronto para se tornar uma entidade, com o nome já aprovado, o – CCI – Centro de Convivência do Idoso, uma associação beneficente, é uma realidade. “Assim que o CNPJ da empresa estiver em minhas mãos, já poderei pedir doações”.
Com pouco mais de um ano de existência, Érica já tem outros projetos para o CCI: buscar auxílio para conseguir uma nova sede com espaço para atender 40/50 pessoas ou mais, com salas de leitura, artesanato e convivência para passar o dia e jogar conversa fora, se for preciso.
Como membro da Diretoria Executiva do Partido Verde – PV, Érica acredita que é importante ter um braço político, afinal trabalha com e para a comunidade, para o bem-estar e saúde das pessoas [uma das bandeiras do PV]. Como, nas últimas eleições, foram coligados com a administração atual, ela deverá ter em breve um encontro com o atual Prefeito para pleitear uma sede para o CCI que, agora, como entidade filantrópica legal, procura melhor cumprir suas propostas de atendimento à população carente [física e emocional].
Missão
"Tenho o CCI como uma missão, que me chegou por uma intuição e eu estava aberta para ouvir e seguir, que me dizia: ‘você tem que pegar essas pessoas e recolhê-las naquele espaço...’ E, assim, as coisas foram acontecendo... Quando alguém assoprar no seu ouvido, você tem que fazer. Gosto dessas pessoas e elas gostam de mim. Está tudo perfeito!”
Érica Verderi realiza esse trabalho de acolhimento, de coração, no qual também é acolhida. Há uma troca saudável de afeto e energia, onde todos se harmonizam, “até aquele que chega triste sai de lá sorrindo”. As terapias do abraço, do beijo, do riso, do toque são muito valorizadas. A necessidade da interação, do toque, entre o grupo é muito grande e é estimulada pelas atividades desenvolvidas no decorrer dos trabalhos. O CCI é de todos e o grupo tem o compromisso de manter esse ambiente harmonioso.
“A principio o projeto era para quem não podia pagar, mas a vida não é bem assim”, explica Érica. As carências são muitas: perda do cônjuge, dos amigos, solidão, indiferença ou falta dos familiares, coisas que independem da capacidade econômica, que não supre a falta de afeto. “Hoje, todos são bem-vindos!”.
Os idosos assumiram o compromisso de levar um quilo de mantimento por mês, que é doado para uma instituição. Assim, eles contribuem também, de alguma forma, com os mais necessitados. “É um ajudando o outro e várias sementinhas sendo plantadas”.
Entre os alunos, estão os pais da voluntária Sandra, a mãe de Érica e sua avó, Rosa Belmonte Martins, 95, que faz exercícios há 10 anos, coerentes com suas necessidades, mantendo assim sua capacidade funcional, o que lhe permite cuidar de sua casa e manter sua independência. “É uma inspiração para todos e um exemplo a ser seguido”.
Os idosos que praticam exercícios cuidam melhor de sua saúde, buscam informações, têm mais qualidade de vida, aumentam sua auto-estima, são mais conscientes de suas fragilidades e buscam saná-las na medida do possível.
“As pessoas foram ensinadas a viver de uma certa forma, mas não a envelhecer. A crise vem quando acordam e estão velhas, pois umas aceitam e outras não. Nascemos e já estamos envelhecendo, portanto, mais importante do que aprender a viver é saber envelhecer”.
Érica Verderi
CCI - Centro de Convivência do Idoso |
Diretora Mentora, Érica Beatriz Lemes Pimentel Verderi, Graduada em Educação Física e em Pedagogia, Pós-Graduada “Lato Sensu” em Educação do Excepcional, Mestre em Educação Motora, Especialização no Back Institute em Reabilitação Física para Indivíduos Portadores de Hérnia de Disco Lombar - Los Angeles - CA |
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As profissionais de Educação Física Voluntárias Sandra de Andrade e Mary Publio, são pós-graduandas “Stricto Sensu” no curso da FMU – Terceira Idade: Metodologia e Prescrição de Atividades. |
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Maíra Barcelos, estagiária de Educação Física do PEP, é a mais nova integrante da equipe de voluntários do CCI.
O CCI conta ainda com uma equipe de palestrantes voluntários. |
Com a palavra a voluntária Mary Publio: “Desde pequena sempre gostei de pessoas idosas e as achava lindas. Não sei exatamente o porquê... Quando meus avôs morreram eu tinha cinco e sete anos. Minhas avós, uma morava no Paraná e faleceu quando eu estava com 25 anos e a outra morava na mesma cidade que eu, em São Paulo, mas faleceu quando eu tinha 15 anos. Hoje, continuo encantada com essa população, com quem aprendo muito. Trabalhar no CCI foi uma grande oportunidade. Lá tenho o carinho e respeito de todos, sinto que cresço a cada dia, amadureço a cada mês e me desabrocho a cada ano. Tenho, além da família CCI, minha querida sogra de 65 anos e minha linda mãe de 67. É gratificante estar perto e trabalhar com pessoas tão alegres e cheias de vida. No CCI cada um contribui um pouco para o crescimento de todos”.
Com a palavra a voluntária Sandra Andrade: “Falar sobre emoções é muito difícil, ainda mais quando se trata de sensações marcantes, fortes e verdadeiras, pois, trabalhar com idosos é um misto de emoções, perdas, aprendizagem e gratidão. E quando você pensa que tem muito a oferecer, você percebe que eles oferecem muito mais... Eu ainda não sei se é pelo fato de ter poucas pessoas interessadas em querer ouvi-los ou se é sabedoria demais. O fato é que quando o CCI teve início eu acreditava que eu estaria contribuindo com uma população carente de afeto e atenção. Hoje, percebo que quem contribui são eles, que apesar de suas tristezas, angústias, medos e solidão, não desistem nunca de enfrentar com força e alegria mais um dia de suas vidas”.
Para saber mais e participar do projeto como voluntário, palestrante ou doador, acesse: www.programapostural.com.br
Última Notícia: A Panathleta Érica Verderi recebeu, no dia 23 de março de 2009, durante a 27ª Festa do Esporte, o Prêmio Destaque Panathlético 2008, pela criação e direção do CCI – Centro de Convivência do Idoso. Hoje, o projeto conta com o apoio do Panathlon Club de Sorocaba e da Digiall.
Por: Célia Gennari e Ignez Ribeiro
Fotos: Célia Gennari
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