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VERÔNICA RAPP DE ESTON: DEDICAÇÃO AOS INSTANTES DA VIDA

"TERCEIRA IDADE: o domingo da vida". Foi o texto desse título, publicado na revista THOT [nº56/1992], da Associação Palas Athena de Estudos Filosóficos, que nos despertou o interesse em entrevistar sua autora, a Dra. Verônica Rapp de Eston, uma mulher culta, de mente ativa, Profa. Livre-Docente Associada Aposentada, da Faculdade de Medicina da USP [primeira mulher a alcançar este título] e co-fundadora do Centro de Medicina Nuclear também da USP.

Fomos recebidas com classe e simpatia, por uma senhora de 90 anos, [concluídos em fevereiro/2008], fala mansa e semblante sereno, mas desconfiada, a quem nos coube falar sobre sua visão do que é o preparo para a Terceira Idade.

Para Verônica, há três idades na vida: a do aprendiz, a do guerreiro e a do sábio. E, ela questiona: Por que, chegada a hora de abandonar o guerreiro, são tão poucos os sábios?

Na sua fase de aprendiz, foi uma criança viva, curiosa, criativa e muito bem orientada pelos pais, numa época em que as mulheres eram condicionadas, familiar e socialmente, nas suas aspirações.

Quando entrava na idade do guerreiro, depois de ter seu diploma de ensino médio do Mackenzie invalidado, durante a Segunda Guerra Mundial, viajou para a Suíça onde fez um curso que lhe permitiu candidatar-se a uma vaga na Faculdade de Medicina da USP, na qual, em uma turma de 80 alunos, havia apenas quatro mulheres. Casou-se com um colega de classe e, em seguida, viajaram aos EUA onde fizeram curso de Pós-Graduação [1946-1947] no uso dos radioisótopos na medicina [hoje, Medicina Nuclear] e foram pioneiros nessa área na América do Sul, sendo oficialmente reconhecidos nos seus trabalhos pela Agência Internacional de Energia Nuclear. Ela e o marido foram co-fundadores do Centro de Medicina Nuclear da USP, em 1949, pouco tempo depois de terem regressado dos USA.

Verônica teve uma vida acadêmica ativa como professora e pesquisadora. Viajou, lecionou, orientou e pesquisou a respeito de sua especialidade. E, sempre preocupada em se atualizar, fez outros cursos de Pós-Graduação no exterior.

Teve duas filhas, e nunca descuidou de suas funções de mãe ao dedicar todas suas horas vagas a elas, bem como procurava não misturar suas responsabilidades acadêmicas com os afazeres domésticos.

Nunca foi uma mulher de gostar de rotina. Quando percebeu que já tinha feito tudo o que podia pela Medicina Nuclear, decidiu partir para outras atividades. Sob protestos, de quem bem a conhecia, aposentou-se depois de 30 anos de trabalho e enfrentou um novo desafio na vida: a idade do sábio!

UM NOVO CAMINHO

Não foi fácil para esta mulher tão atuante "encontrar um novo caminho", como ela mesma disse.

Neste momento de sua vida, as amigas foram de grande ajuda, pois estiveram presentes, pelo que Verônica lhes é muito grata. Procurou, também, a ajuda de um psicoterapeuta de base Junguiana, o que fez com que se abrissem novos caminhos para superar os momentos difíceis.

Na faixa dos 70 a 85 anos procurou se dedicar às aulas de yoga, que muitos benefícios lhe trouxe, ajudando-a a se reorganizar mentalmente, dando-lhe, sobretudo, equilíbrio, tanto físico como emocional. Ela nos contou sobre a transformação em sua mente e coração no dia em que ouviu sua professora de yoga dizer: "...a felicidade está dentro de nós e não depende de causas externas".

Na década de 60, ouvira falar do Método de Relaxamento Schultz, trazido por ele da Índia. Na época, Verônica em fase de atividades acadêmicas, não tinha tempo para se dedicar, mas mesmo assim entrou em contato com o método através de um amigo [fisioterapeuta], e novos caminhos começaram a se abrir em sua vida. Do relaxamento passou para a meditação.

Grande adepta da meditação até hoje [20 minutos diários], Verônica é muito enfática quando fala da importância da meditação na questão do equilíbrio emocional.

Entre outras coisas, procurou também resgatar a música, voltou a tocar piano, fez vários cursos de História da Arte, e dedicou-se aos trabalhos manuais, que segundo ela, permitem à mente estar livre, enquanto as mãos estão ocupadas.

Mais tarde, como não poderia deixar de ser, encontrou na Associação Palas Athena de Estudos Filosóficos, um ambiente com o qual muito se integrou e onde atuou por mais de 16 anos, contribuindo com artigos de interesse geral para a revista THOT. Entre eles: "O que é Psicologia Transpessoal?" [Thot - nº69 - 1998] e "Física e Psicologia no Século XX: Uma Nova Visão" [Thot - nº66 - 1997]. Hoje, ainda é sócia, mesmo que menos assídua.

Sobre o artigo por nós citado no início desta reportagem: "TERCEIRA IDADE: Domingo da Vida", o título original dado por ela era: "Preparo para a Terceira Idade", porque comenta em seu conteúdo de como nós devemos nos preparar para esta fase, que se alcançada nos leva a grandes mudanças, para as quais, o sábio, que devemos ter cultivado dentro de nós, nos prepara para melhor vivê-la, e dar um descanso ao guerreiro, sem nostalgia, com direito de usufruir de tudo que o nosso sábio nos oferece.

Seu marido, que sofria de insuficiência cardíaca, faleceu há seis anos. Esteve junto dele nos últimos anos de sua vida, acompanhando-o, cuidando para que nada lhe faltasse e preservando-o, a seu pedido, "do ambiente frio e impessoal de uma UTI", lembrou.

HOJE EM DIA

Verônica não gosta de ficar "colada" na televisão. "Sempre procuro alguma coisa para me sentir útil", explicou. Assim, faz parte da Comissão de Convivência e Comunicação do Conselho Administrativo do Condomínio onde mora e dedica-se à companhia de suas filhas e neto.

Sem muita disposição física para sair, sente-se acolhida pelo seu grande grupo de amigos que sempre estão à sua disposição, a qualquer momento do dia ou da noite, tanto na alegria como na tristeza: os livros. "Eles são meus bens mais preciosos", comentou com tranqüilidade.

Como não podia deixar de ser, e para conhecê-la melhor, citou alguns autores e livros de sua preferência. Gosta muito do psicólogo Maslow, que fez experiências de "pico" muito especiais com pessoas e analisou muitos escritos sobre as mesmas. Ela nos contou que a partir daí é que surgiu a psicologia. Outros citados por ela foram: Ken Wilber ["O Olho do Espírito", Cultrix]; Huston Smith ["As Religiões do Mundo"] e Renée Weber ["Diálogos com cientistas e sábios", Cultrix].

Dra. Verônica diz, com simplicidade, que teve muitos momentos de realização e concluiu que o mais importante é se dedicar ao máximo aquilo que se faz, a cada instante, nos vários estágios da vida.

NOTA - Teríamos muito mais para escrever sobre essa nossa Gente Notável, Dra. VERÔNICA RAPP DE ESTON, mas não conseguimos resumir tantas realizações, muitos menos todos os seus sensacionais pensamentos. Mas, fica aqui um pouco de suas sugestões de leituras, trechos do texto mencionado e o nosso respeito pela pessoa que nos passou tantas informações. Aprendemos mais um pouco nessa manhã...

Célia Gennari
celia-gennari@uol.com.br

Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br

 
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