Salvador Pugliese, 98 anos
Salvador Pugliese [Turiddu], 98, foi-nos apresentado por Maria Lucia Mazzola, nossa colega da PUC, que é muito amiga de sua filha e de uma nora.
Sr. Salvador é uma figura simpática e altiva, que apesar da necessidade de usar bengala (em conseqüência de uma queda) e como ele diz, “ter a vista nublada” ( que o impede de ler) anda com desembaraço e tem um olhar expressivo e interessado. Ele nos impressionou pela sua capacidade de comunicação, disposição e afetividade. Os poucos momentos que pudemos estar com ele, foram enriquecedores e inesquecíveis.
O primogênito Salvador nasceu no dia 6 de julho de 1911, no Brás, reduto de imigrantes italianos, no qual as famílias de seus avós paternos, os Pugliese, e os maternos, os Minelli, eram vizinhos, o que levou os seus pais – Gregório e Annunziata – para alegria de todos, ao casamento.
Música – Começou a estudar violino aos 10 anos. Foi aluno, entre outros, de Torquato Amore, um dos melhores professores da época. Muito musical, assim como vários componentes de sua família, teve uma formação esmerada e erudita. Tocava, entre outros, Rossini, Verdi, Carlos Gomes, Wagner, Bizet, Mozart, Beethoven... Participou de várias orquestras e teve a oportunidade de tocar em saraus, casamentos, festas, bailes e consertos. Em 1930, com seu grupo de amigos músicos fundou o Centro de Cultura Artística do Brás. Durante o dia trabalho, à noite ensaios e nos finais de semana música, incluindo as populares, de que gosta muito.
Segundo ele, foi uma fase muito boa e alegre, cheia de música e apresentações que começavam às 21 horas e iam até as 4 da madrugada, Mas esse estilo de vida terminou em 1935, quando se casou com Maria Aparecida de Almeida e Mesquita [Santinha]. Viúvo, casou-se com Santina Urbina, que veio a falecer este ano (2009), depois de 47 anos de vida em comum. Tem 4 filhos [Myriam, Gregório Neto, Alice e do segundo casamento, Salvador Júnior], 10 netos e 2 bisnetos.
Como começou a trabalhar muito cedo, aos 14 anos, e se manteve na ativa até os 85, sente falta do trabalho e o que mais lamenta é não poder trabalhar.
Não gosta de política e não é para menos, sempre cumpriu seu dever de cidadão ao votar, mas como ele nos disse, quase sempre errou... Foi contemporâneo das duas grandes guerras do séc. XX e das várias revoluções que convulsionaram nosso país e o Estado de São Paulo no século passado.
Além de ter tido uma vida profícua em trabalho e música, Salvador escreveu dois livros: “Reminiscências” e “Recordar e Viver”, no que teve a colaboração de sua neta Vera Marisa, e que podem ser acessados pela Internet*.
O entrevistamos antes do seu aniversário, 6 de julho, para o qual ele estava animadíssimo. Iria acontecer uma reunião, programada pelos filhos e netos. Para o evento, ele mandou restaurar seu violino, pois queria tocá-lo na ocasião, o que teria de fazer de memória, por não enxergar quase nada neste momento da sua vida.
Salvador é alegre, gosta de viver e de compartilhar experiências. Com uma vida de percalços e perdas, mas sempre com muita fé e esperança, hoje ele mora em uma casa de saúde em Perdizes.
Nota – Turiddu é bem lúcido e tem muita vitalidade. Ele é dono de uma memória extraordinária e muito do material dedicado à família Pugliese, que se encontra na Internet, deve-se a seus relatos. Caso tenha interesse em saber mais sobre a família Pugliese e ler os livros do Salvador, acesse:
www.arvore-genealogica.com/pugliese.htm
Reportagem, Redação e Fotos:
Célia Gennari – celia-gennari@uol.com.br
Ignez Ribeiro – ignisignis@uol.com.br
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