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99 ANOS DE HISTÓRIAS CHEIAS DE ENERGIA E AMOR PELA VIDA


Por Célia Gennari*


Primeira idade, segunda idade, terceira idade, quarta idade? Será que dá para engatar uma quinta idade? Afinal, depois dos 90 seria qual idade?

Privilégio. Não há outra palavra para definir a oportunidade que tive de entrevistar três seres humanos com 99 anos de idade cada um, nascidos no ano de 1915. Uma criança em momento de aprendizado. Foi assim que me senti perto da Esmeralda, da Eugênia e do Jaime.  Vejamos o que eles têm a contar para vocês.

Todos frequentam a Universidade Aberta à Maturidade – UAM da PUC-SP há mais ou menos o mesmo tempo, entre 17 e 18 anos.

Esmeralda Maria Luiza Mollica Rezende, após a morte do seu amado marido, procurou a PUC como um lenitivo para a sua dor. Hoje nos conta a alegria de ter tantos amigos por lá.

Do seu dia-a-dia faz parte idas à fisioterapia, após cirurgia de reparo de fêmur fraturado e as aulas na PUC. Mas uma de suas atividades preferidas é estar com as crianças do local onde ela mora. “Adoro aquelas crianças”, disse.

Esmeralda dorme pouco e aproveita seu tempo lendo muito e escrevendo. Todos os dias pela manhã lê o jornal Folha de São Paulo e a Revista Veja. E gosta de livros que tragam conhecimento maior, sendo Lia Luft sua escritora preferida. Como projeto, pretende em breve escrever seu livro “Folhas Avulsas”.

Também adora música. “Sou toda música”, disse sorrindo. “É muito agradável e faz bem para o ego”.

Ela garante que, apesar de ter perdido seu marido, tem muita alegria interior. Tem duas filhas e um neto, dos quais tem muito orgulho. O neto, de 21 anos, “é uma prenda”, que ela faz questão de elogiar. “Meu neto é uma preciosidade. Diz sempre que me ama, quando vai se despedir, e quando pode deita ao meu lado para cochilar”, contou emocionada. “Tenho ao lado do meu coração uma sacolinha, onde guardo todas as palavras que ele me diz, e quando ele não está por perto, pego a sacolinha para escutá-las”.

Aos 15 anos Eugênia Fischer pensava que quem tinha 40 anos era uma pessoa de idade e agora que ela já está com 99 anos o que será que ela pensa?

“Atrás de mim é pura história”, comentou Eugênia sorrindo. “Tenho dentro de mim duas formações. Tenho a idade cronológica que é 99 anos, mas a mental é de 50”.
Sempre atualizada, conta ainda com o apoio dos netos. Recentemente ganhou um tablet deles e já vai iniciar aulas para aprender a usá-lo.

Eugênia sempre gostou de estudar, tanto que é formada em turismo e letras e fez outros tantos cursos pequenos, como oratória. E, apaixonada por línguas, até hoje estuda inglês.

Sua leitura preferida é sobre saúde/medicina, gosto compartilhado com seus 3 netos e 1 filho, todos médicos. “Tenho experiência muito grande, mas toda leitura acrescenta mais”, afirmou.

Extremamente conservada, Eugênia acredita que isso se deva por ser uma pessoa otimista, que sempre vê o lado bom das coisas, da paz e que gosta muito de ajudar. Contra brigas e mau humor, ela supera as contrariedades e coloca as coisas ruins de escanteio. “Sou muito estimulada pela minha família e minhas netas me impulsionam para frente. Isso é a minha força.” Para ela, que sempre teve muito cuidado com a saúde dos filhos, agora está recebendo, “porque quem planta colhe”.

Ressalta também a importância da boa alimentação. “Não como nada de frituras e gorduras”, informou já recomendando que todos façam o mesmo. Talvez seja por tudo isso que ela não toma nenhum remédio aos 99 anos.

Quem olha para Chaim Siche Kuperman, o Jaime, pelos corredores da PUC-SP não sabe o quanto ele já sofreu na vida. Mas a vida também lhe foi generosa e com luta e determinação ele oferece a todos francos, fraternos e largos sorrisos.

O pai morreu, ele morou num orfanato até os 13 anos, a mãe casou-se pela segunda vez e com ele, em 1928, mudaram para Belo Horizonte (MG). “Trabalhei de dia e estudei de noite e me formei em contabilidade. Aos 26 anos me casei com uma moça de Niterói”, contou.

Hoje, em casa, ele tem um museu, do qual fazem parte muitos livros de arte, e que é muito visitado, pois todos querem conhecer a sua coleção. Apreciador da leitura, no momento está lendo Jango.

“Me sinto bem. Frequento uma sinagoga há 17 anos, onde também dou palestras quase todos os sábados, sobre problemas circulares”, explicou.

A única reclamação é de ter de usar a bengala, que sua filha e sua nora insistiram no seu uso com medo de que ele viesse a cair.

A sua filosofia de vida é “amar ao próximo como a ti mesmo”. “Gostaria que todo o mundo se desse bem. Amizade é a melhor coisa que tem. Se fosse assim não teríamos roubos e violência”.

Muito ativo, ele orienta a quem puder estudar, que estude. Ele, aos 99 anos ainda escreve muito, é ativo, não para. E acompanhado de filhos e netos, por medo da violência, frequenta cinemas e teatros da cidade.


* Jornalista e coordenadora do Jornal Maturidades
* Fotos: Célia Gennari

 


 
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