  
                                                                       
                                                                      Laurete Godoy:  de Atleta e Professora a Escritora e Palestrante 
                                                                      Laurete  Godoy, 73 anos, nasceu em Santos, no dia 26 de junho de 1939. Um ano em que a  Humanidade foi marcada, de forma dolorosa, pela eclosão da Segunda Guerra  Mundial. Uma catástrofe que mudou a feição do mundo. “Lembro-me do famoso  blecaute e que, alheios aos horrores do conflito mundial, quando víamos chegar a  luz vermelha do carrinho do pipoqueiro, lá íamos nós, mãos agarradas nas dos  mais velhos, comprar a deliciosa pipoca doce comercializada à luz de pequenas  lanternas”.  
                                                                      Desde  pequena ela sabia que era afilhada de Nossa Senhora da Aparecida. Seu pai,  Luiz, deu às filhas, nomes que começavam com “L”: Luizete, Lucy e Laurete e, por  ser de Pindamonhangaba e muito devoto de Nossa Senhora da Aparecida, deu a  todas, como segundo nome, Aparecida. Já foi chamada de Gorete, Bernardete,  Janete, Eliete... Na família seu apelido é Lelé, seu pai a chamava por Laura e  suas amigas a tratam por Lau. Porém, seu pseudônimo literário é Lauret Godoy,  sem o “e” final. 
                                                                      Sua  irmã mais velha Lucy era atleta e, naturalmente, ela também começou a correr.  Aos dez anos de idade fez a sua estreia em Santos, no “Torneio das Estrelas”.  Venceu a prova e, a partir daí, não parou mais de correr. Com o esporte aprendeu  grandes lições, que foram e são transferidas para todos os setores da sua vida.  Como foi velocista, sempre vê uma fita branca lá na frente, onde pretende  chegar. E tem conseguido rompê-las uma a uma. 
                                                                      Participava  de campeonatos colegiais e, por vencer, passou a defender o Clube de Regatas  Saldanha da Gama. Em 1958 mudou para São Paulo e foi convidada para competir  pelo Clube Atlético Paulistano e defender o Brasil em Lima (Peru), no  Campeonato Sul-Americano de Atletismo. 
                                                                      Houve  três momentos que lhe trazem boas lembranças. O primeiro em 1959, quando era  atleta do Paulistano e foi considerada “Atleta Revelação do Ano” e seu  treinador, Prof. Jarbas Gonçalves decidiu inscrevê-la para correr os 200 metros  rasos no Campeonato Paulista de Atletismo. Estreou na prova com vitória,  superando a tricampeã. No ano seguinte venceu novamente. Adorava correr 200  metros! 
                                                                      O  segundo aconteceu em Lima, em maio de 1961. “Érika Lopes, Wanda dos Santos,  Maria Lúcia Caldeira e eu vencemos as argentinas no revezamento 4x100m. Ouvir o  Hino Nacional Brasileiro, do mais alto lugar do pódio, em um país estrangeiro e  chegar ao Brasil vitoriosa, sentindo a alegria dos amigos, é inesquecível. Nunca  esqueço a frase de meu pai: ‘a façanha de vocês foi noticiada na Voz do Brasil’.  Na época, a Voz do Brasil era o nosso Jornal Nacional...”, recordou.  
                                                                      O  terceiro grande momento foi no Maracanãzinho, no dia 13 de agosto de 1961. Era  domingo, Dia dos Pais. Laurete ligou para seu pai e falou que iria correr em  homenagem a ele. Fez uma corrida sensacional, de ponta a ponta. Venceu a Érika,  do Flamengo, que há vários anos não perdia os 100 metros rasos. “O interessante  é que, em 13 de agosto de 2012, uma segunda-feira, eu estava trabalhando e  comentei com amigas: ‘Vocês nem podem imaginar a alegria que eu vivi, no dia de  hoje, há 51 anos!...”, lembrou. 
                                                                      A  meta que estabeleceu para sua vida de atleta foi ser campeã sul-americana.  Conseguiu atingi-la em 1961. A partir daí abandonou o esporte. 
                                                                      Laurete,  que foi da primeira turma da FEFIS – Faculdade de Educação Física de Santos,  não quis seguir a carreira acadêmica. Em 1978 fez um curso de Administração  Esportiva na USP e depois seguiu outros caminhos profissionais e a Educação  Física passou a alimentar apenas sua alma, por meio das pesquisas e elaboração  de livros.  
                                                                      Laurete  obteve palmo a palmo cada árdua conquista em sua vida. A sua receita foi trabalho,  estudo e fé. Trabalhava o dia inteiro, sábados e domingos, férias e feriados,  Natais e Carnavais, Finados e Semanas Santas. Chegava em casa, tomava banho,  jantava e começava tudo de novo: madrugadas debruçada em livros estudando,  pesquisando, escrevendo, adoecendo, sarando, sem nunca desistir daquilo em que  acreditava. Passou por privações e provações. A vida nunca lhe deu “carona”.  Sempre pagou altos preços em todos os pedágios. Porém, nunca desejou nada além  do que poderia ter e nunca perdeu seus sonhos de vista. Sentia uma grande força  dentro de si, impulsionando-a para onde decidia ir. Todos os degraus que galgou  foram por esforço próprio, sem protecionismo de qualquer espécie. Apenas com a  ajuda de Deus.  
                                                                      Como  observadora e acompanhante das seleções, procurou fazer o possível para tornar  melhor o ambiente, promovendo também maior entrosamento entre atletas dos  diferentes esportes. No retorno ao Brasil, auxiliava na elaboração do relatório  com o Prof. Pedro Barros, que era quem cuidava desses detalhes. Na época, o  presidente do Comitê Olímpico Brasileiro era o Major Sylvio de Magalhães  Padilha. 
                                                                      Quando  criança jamais imaginava percorrer todos esses caminhos. “Quando alguém  perguntava se eu desejava fazer alguma coisa que não era de meu agrado, eu  respondia: - ‘Só farei isso quando eu voltar da Rússia’. Isso, pela certeza de  que eu nunca iria para lá. E não é que acabei indo?”, comentou entre risos. 
                                                                      Em  contrapartida, sempre gostou muito de estudar Português e sempre foi boa aluna  nessa matéria. Ganhava sempre nota alta nas redações e sempre teve muita  facilidade para passar suas ideias para o papel. Quando retornou da Olimpíada  de Montreal decidiu aprofundar sua pesquisa sobre a origem dos Jogos Olímpicos  e foi nessa estrada que surgiu a Lauret escritora. A partir daí não parou mais. 
                                                                      Um  dia mudou de amor e trocou o Movimento Olímpico pela história da Aviação no  Brasil. Começou pesquisando Bartolomeu de Gusmão, santista, o Primeiro  Cientista das Américas e quase desconhecido. Passou a escrever sobre ele no  Jornal da Maioridade da ABCMI, graças à amiga Ivone Cidim Valio, provavelmente  a pessoa que iniciou no Estado de São Paulo, via Secretaria de Esportes e  Turismo, o primeiro movimento de Maioridade do Brasil.  
                                                                      Depois  de Gusmão ampliou a pesquisa e junto com dois amigos filatelistas elaborou a  exposição “AVIAÇÃO NO BRASIL – Voos Pioneiros”. A custo zero para os interessados,  já percorreu mais de 50 cidades de vários Estados do Brasil.  
                                                                        
                                                                      Escreveu  três livros sobre Santos-Dumont. Um deles, em parceria com Guca Domênico,  ganhou em 2006 o título de Livro do Ano, do programa São Paulo de Todos os  Tempos da Rádio Eldorado. Escreveu "O Menino Voador", para a Prefeitura Municipal  de Petrópolis, que virou samba-enredo da escola de Samba Mirim Imperial daquela  cidade. Escreveu também "O Sonho Que Criou Asas" e, mais recentemente, "O Santista  Voador – Bartolomeu de Gusmão". Esses três últimos, infanto-juvenis.  
                                                                      Nunca  deixou de atender os convites para falar sobre a Aviação em diferentes lugares,  indo às suas expensas e divulgando a bonita história com entusiasmo. “Acho que  é esse entusiasmo – Deus em mim, que levou a Tenente Karina Ogo, jornalista do  IV COMAR a mencionar meu trabalho para o Comandante e eu ser agraciada com a  honraria de Membro Honorário da Força Aérea Brasileira”.  
                                                                      Em  1967 fez um Curso de Oratória para “aprender a falar sem ficar nervosa”. À  medida em que se especializava em um assunto, era solicitada a falar sobre ele.  Nada especial, tudo muito natural. “Eu falava, as pessoas gostavam do que  ouviam e fui palestrando”. 
                                                                      Com  uma trajetória cheia de ação, para ela, envelhecer faz parte da vida. Porém, é  preciso envelhecer com cuidado, exames anuais, respeitando as limitações, tendo  bom senso, buscando ocupar-se, atualizar-se, estar sempre em atividade, porque  “Água parada apodrece”. Procurar esquecer as mágoas e viver sempre a alegria do  perdão. 
                                                                      Fundamentalmente  Cristã, para ela os rótulos afastam as pessoas. “Em 1983, conheci a Doutrina  Espírita e passei a estudá-la. Hoje sou muito melhor do que ontem, porque ao  longo do caminho meu horizonte dimensionou-se”, afirmou. Passou 15 anos  pesquisando a comunicação entre o mundo visível e o invisível e ficou fascinada  pelo que descobriu. Pretende fazer sempre o melhor a cada dia, pautando sua vida  com Amor e Alegria, para ajudar principalmente àqueles que estão à sua volta. “Desejo,  com minhas pesquisas e meus escritos levar aos meus leitores as experiências  que tive a felicidade de vivenciar, graças ao beneplácito divino. Se eu puder  tornar melhor a vida de uma pessoa que seja, sentir-me-ei realizada. Rogo a  Deus que continue honrando-me com Suas bênçãos e que eu jamais decepcione as  pessoas que acreditam em mim”. 
                                                                      Lauret  Godoy estará lançando em breve o livro “Os Olímpicos: Deuses e Jogos Gregos”,  pela Editora Meca. 
                                                                        
                                                                      Célia  Gennari e Ignez  Ribeirto  
                                                                      csgennari@gmail.com e ignisignis@uol.com.br                                                                         
                                                                      Fotos: 
                                                                        César  Viégas 
                                                                        cvviegas@terra.com.br  
                                                                       
 
                                                                      
                                                                       
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