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Eu Tive Um Sonho

Para comemorar os 20 anos da UAM, nada melhor do que as boas palavras do Prof. Dr. Jordão:

No dia 28 de agosto de 1963, que reuniu milhares de americanos à sombra do Lincoln Memorial, na chamada Marcha sobre Washington, o Rev. Martin Luther King fez um discurso que ficou conhecido como "I have a dream" — Eu tenho um sonho.

Disse na ocasião o grande mártir, pela causa das igualdades dos direitos civis nos Estados Unidos, que estava muito contente em unir-se aos cidadãos de todas as etnias ali presentes, numa data que para ele entraria para história como a maior demonstração pacífica pela liberdade e igualdade jamais vista naquele País.

Reportando-se aos grandes líderes do passado, que haviam se empenhado e conseguido valer na prática a Proclamação de Emancipação e a Declaração de Independência e, principalmente, elaborado uma Constituição modelar, anunciou que todos estavam ali, naquele momento, de uma forma alegórica, mas enérgica e expressiva, para descontar uma espécie de nota promissória ou cheque sem fundos representados nos citados documentos, já que em termos efetivos os direitos estabelecidos nos mesmos não beneficiavam o povo negro.

Quis dizer com tais palavras que todas as conquistas obtidas por meio daqueles extraordinários papéis tinham, na prática, contemplado apenas a população branca e, assim, todos os presentes como os demais negros espalhados por todos os estados da nação, cobravam do governo e da sociedade que a população em geral, independentemente da cor de sua pele, fossem cobertos pelos mesmos direitos.

E, na parte mais emocionante da explanação, o Pastor falou que apesar de todas as dificuldades, das barreiras, das injustiças, das brutalidades sofridas pelos negros e que não obstante todos os desafios enfrentados até então, ele tinha um sonho de que tudo aquilo seria derrubado, todos os obstáculos seriam vencidos, pois a Nação se levantaria para trocar no banco da justiça aquela nota promissória ou cheque sem fundos por algo real, consistente, representado por valores de vida, liberdade e independência para todas as pessoas, sem privilégios nem distinções.

Lamentavelmente, Luther King não conseguiu viver o suficiente para ver a repercussão daquele acontecimento, pois foi brutalmente assassinado. Mas suas palavras ficaram para sempre marcadas como um dos mais importantes passos dados no rumo da obtenção da paridade de direitos sociais na América do Norte e repercutiram intensamente em outros países.

E por que estou citando essa célebre alocução nesse dia tão marcante em que comemoramos os 20 anos da Universidade Aberta à Maturidade? Porque, guardadas as devidas proporções entre o discurso e a importância daquela extraordinária figura, assim como o caráter grandiloquente do episódio de Washington e da minha pessoa e do evento hoje festejado, eu também tive um sonho relacionado com igualdade e justiça. Não para o segmento da população negra no Brasil, ainda muito discriminada por aqui, mas para uma minoria etária do povo brasileiro representada pelos idosos.

Sonhei, lá pelo fim dos anos 80, que poderia contribuir, usando minha experiência docente acumulada desde 1964 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e amparando-me na proposta original do Prof. Pierre Vellas, na Universidade de Toulouse, na França, abrir um caminho, ainda que modesto e limitado, para que, por meio da educação permanente, homens e mulheres maduros da cidade de São Paulo pudessem romper algumas barreiras, derrubar muitos preconceitos, diminuir a discriminação e acabar com muitos estereótipos a eles impostos pela sociedade brasileira para o pleno exercício dos seus direitos, tirando-lhes a pecha de cidadãos de segunda classe.

Sonhei, assim, tendo em vista a fantástica repercussão da primeira Universidade Aberta para a Terceira Idade criada no mundo, abrir as portas da PUC de São Paulo, Universidade com uma estupenda história de inovação e defesa das liberdades democráticas no Brasil, para, a exemplo do pioneirismo francês, abrigar, de forma aberta, todas aquelas pessoas maiores de 40 anos que desejassem, sem os empecilhos da apresentação de diplomas ou certificados de cursos anteriores e sem a prestação de vestibulares, voltar aos bancos escolares. E voltar de forma a não ter nenhum compromisso com formação profissional e sim para encontrar meios, pela via educacional, de romper com suas condições de isolamento, segregação, solidão, descaso, as quais geralmente estavam submetidas não só pelo conjunto dos demais grupos sociais mais jovens, mas, muitas vezes, pela própria família.

Apresentei, então, à Reitoria, o primeiro projeto paulistano para a criação do curso que inicialmente foi denominado Universidade Aberta à Terceira Idade, cujo currículo, adaptado à realidade brasileira, propunha, usando os princípios de grandes pedagogos, como Jean Piaget, Cari Roger e Pauto Freire, desenvolver um curso composto por matérias que de forma interrelacionada proporcionassem, de forma leve e descontraída, um processo de reciclagem e atualização cultural, colocando os alunos em sintonia com o mundo contemporâneo; paralelamente a um conjunto de orientações de saúde, que os ajudassem a lidar com as limitações ou problemas corporais da idade e por fim, sempre de forma paritária, uma série de atividades sócio-educativas que os incentivassem e ajudassem a resgatar a autoestima possivelmente perdida e construir ou reconstruir uma autoimagem positiva.

Mas um sonho só se realiza quando encontra condições favoráveis para passar de um desejo veemente ou forte aspiração numa ação concreta. E, felizmente, a Reitoria da PUC de São Paulo, na época regida pela Magnífica Reitora Profª Drª Leita Bárbara e com a participação do inesquecível Prof. Dr. Joel Martins, desde o começo da apresentação do Projeto ofereceu apoio e meios para que o mesmo pudesse ser implantado, não obstante a desconfiança e até mesmo a rejeição de uma parte da comunidade acadêmica que não entendeu a proposta ou suspeitava de algo que representasse apenas uma atividade lúdica ou mero passatempo para aposentados ociosos.

Também de forma sempre positiva as Reitorias que se sucederam continuaram a apoiar a Universidade Aberta à Terceira Idade, que em 1997 passou a denominar-se Universidade Aberta à Maturidade. E a importância do Projeto se concretizou nas duas ocasiões em que os Grãos Chanceleres da PUC, respectivamente Dom Cláudio Hummes e Dom Odilo Scherer, vieram ministrar a Aula Magna inaugural, dando a mais alta significação ao curso, como supremas autoridades da instituição.

Todavia, é justo reconhecer que está sendo na gestão da atual Reitoria da Universidade, na figura do Magnífico Reitor Prof. Dr. Dirceu de Mello e da Pró Reitora para Educação Continuada, Profª Drª. Haydée Roveratti, que a Universidade Aberta à Maturidade vem recebendo uma sustentação ímpar, inclusive com a ampliação do curso para outros campi, como na vizinha cidade de Barueri e no bairro do Ipiranga, na Capital, com grande repercussão em ambos os locais. E, ainda, está sendo projetado mais um campus no bairro de Vila Mariana. E, assim, só temos, coordenadores, professores e alunos, que agradecer por todas as medidas e providências que têm possibilitado nosso contínuo progresso e respeito como um curso referência para todo o país.

De outra parte, porém, todo sonho precisa ser compartilhado para que não se torne um ideal isolado, egoísta e sujeito a muitos erros apenas como iniciativa individual. E o sonho se tornou cada vez mais amplo e real quando, em 1992, o então Reitor, Prof. Dr. Antônio Carlos Ronca, designou o Prof. Fauze Saadi, colega extraordinário e amigo fraterno, para que viesse fazer parte também da Coordenação do curso. Era o elemento que faltava para que o sonho se completasse e sem ele afirmo que seria difícil, senão impossível, que isso acontecesse e sou-lhe eternamente grato por isso. Recentemente mais uma colega, a Profª Drª. Terezinha CaIil Padis Campos, veio ampliar o grupo da Coordenação, trazendo sua contribuição para o trabalho e quero agradecê-la nesse sentido.

Não obstante, um sonho para ser grandioso e se transformar cada vez mais num fato real não pode se limitar apenas a poucas pessoas ou a um grupo limitado. Dessa forma, uma proposta educacional não poderia, é obvio, se concretizar sem contar com o indispensável e formidável subsídio representado pelo corpo docente.

Temos aqui um capítulo muito especial, pois desde o começo pudemos dispor de uma esplêndida plêiade de professores e professoras muitos deles aqui presentes, inclusive a Profª Zally Pinto Vasconcellos de Queiróz, que fez parte da primeira equipe de professores do curso em 1991 e a Profª Drª Alda Ribeiro, a mais antiga ainda em atividade.

Deploravelmente, entretanto, estão fisicamente ausentes colegas que deixaram marcas indeléveis de sua capacidade e dedicação, como Joaquim Alfredo da Fonseca, Ruy Affonso, leda Chaves Pacheco Russo, Paulo Edgar Resende e Maria Angélica Soler. A todos, presentes e ausentes, eu peço uma longa salva de palmas.

Todavia, se a importância de um corpo docente altamente qualificado é indispensável para o sucesso de uma proposta inovadora de curso, a presença de um corpo discente interessado e participante é fundamental para definir suas características e seus rumos.

E é aqui que a Universidade Aberta à Maturidade vem alcançando e definindo seu maior e melhor êxito, pois tem recebido, desde o seu início, homens e mulheres que rompendo com qualquer comodismo menosprezo ou descrença de familiares e amigos vieram para o curso para atualizar-se ou reciclar seus conhecimentos, para arejar suas ideias, para se sintonizar com o mundo contemporâneo, para testar ou rever os seus conceitos e valores, para se encontrar com outras pessoas de sua faixa etária, para estabelecer novos relacionamentos, se constituindo hoje, sem dúvida, na pedra basilar do edifício chamado Universidade Aberta à Maturidade.

São os nossos alunos e alunas que com seu apoio, com seu entusiasmo, com sua inteligência e experiência de vida, com sua confiança no nosso trabalho que sempre serão a razão de ser de tudo o que foi construído e mantido ao longo desses 20 anos.

Além do mais eles têm nos dado uma prova maravilhosa do êxito do projeto na medida em que uma maioria significativa deles nos acompanha a muitos anos, comprovando, na realidade, que estamos desenvolvendo um autêntico programa de educação permanente.

Atestado eloquente disso é o fato de ainda estar fazendo parte do corpo discente pessoas que permanecem no curso há 10, 12, 15 anos. Algumas como Naíade Aucester Montenegro Gallo, a Naidinha, que eu chamo de nossa "garota propaganda", Wilma Canovas Pereira e Maria de Lourdes Tieppo de Castro são remanescentes da primeira turma de 1991!

Na verdade, quando falamos dos nossos queridíssimos alunos e alunas é difícil destacar nomes, especialmente quando se trata daqueles que têm dado uma colaboração inestimável à Coordenação do curso como representantes de suas respectivas turmas e a eles e elas queremos expressar nosso enorme agradecimento por seu intenso e importantíssimo trabalho voluntário.

Mas sem minimizar a importância de cada um dos nossos discentes e, em especial dos citados representantes de classe, faríamos uma enorme injustiça se não destacássemos uma aluna especial, não só pela sua longa permanência de 19 anos entre nós, como pelo apoio incrível que presta, incansavelmente, tanto à Coordenação do curso, como aos colegas não só de sua própria turma, como representante de classe, como a todos os demais colegas da Universidade Aberta.

Incansável e prestativa desdobra-se de todas as maneiras para facilitar nosso trabalho, trazer e levar informações importantes, resolver problemas de toda ordem para os demais alunos, estar presente em todas as situações e eventos do curso, com uma eficiência e dedicação tamanha, que às vezes eu chego a pensar que ela tem uma capacidade de ubiquação que transcende o tempo e a distância para uma pessoa só.

É claro, todo mundo já percebeu que estou falando de Satiko Oguri, a nossa super Rosa! E junto com ela, é preciso não esquecer que para que a Festa acontecesse, foi indispensável a participação das alunas Lela Saadi, Olga Bernardo Coutinho, Wanda D'Amato Fumo, Maria Rita Caldeira e da representante da Associação de Ex-alunos da PUC/SP, Regina Oliveira, que trabalharam incansavelmente durante meses no preparo e organização do evento.

Para marcar a questão do sonho que tive para criar a Universidade Aberta à Maturidade, cito as palavras do grande poeta alemão Goethe o qual sentenciou certa vez que

"quando qualquer criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele coloca toda a força de sua alma, todo o Universo conspira a seu favor".

Chamando outra vez o testemunho do Pastor Martin Luther King, desejo mencionar um trecho de mais um de seus candentes discursos, pois são palavras que têm tudo a ver com o nosso trabalho e com as transformações ocorridas com os nossos alunos e alunas e, com certeza, com a nossa própria transformação no papel de educadores. Disse ele e faço minhas as palavras por ele pronunciadas quando disse:

"Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, mas somos o que iremos ser. Mas, graças a Deus, não somos mais o que éramos."

Muito obrigado!

Prof. Dr. Antônio Jordão Netto
Coordenador Executivo da
Universidade Aberta à Maturidade da PUC/SP 


 
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Edição Nº 29

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