Maria Angélica Victoria Miguela Careaga Soler
Maria Angélica
29/09/1936 – 13/08/2011
Sempre dedicada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Maria Angélica transmitia seu saber para nós, alunos da Universidade Aberta à Maturidade da PUC-SP.
Como disse seu filho Carlos Eduardo Chicolli Careaga em entrevista ao G1.Globo.com.br, "ela era uma guerreira, venceu um câncer de mama, resistiu à ditadura do General Alfredo Strossner, mas não sobreviveu ao transito violento de São Paulo", vindo a falecer na noite de sábado (13/08), atropelada por um carro ao atravessar, na faixa de pedestres, na esquina de sua residência. Carlos Eduardo não tem dúvidas de que a mãe foi atropelada quando atravessava na faixa de pedestres. "Era o que ela sempre nos dizia, para atravessar na faixa. Com certeza ela estava na faixa, como sempre fazia" disse ele, emocionado.
Em entrevista ao mesmo G1, uma de suas amigas e vizinha relatou que "usar a faixa de pedestre era o conselho que M. Angélica sempre dava à família, amigos e vizinhos".
Transcrição de parte das homenagens feitas à Maria Angélica por Jaime Ribeiro da Silva, Yvone Dias Avelino, Vera Lucia Vieira, Tatiana Brondi Barros.
Jaime disse ao G1: "Desde 1992, quando foi criado o ponto, ela pegava táxi com a gente. Todo mundo do ponto a conhece. Ela deixou de ser passageira e passamos a compartilhar da vida dela e ela da nossa. Era muito dócil". O taxista Jaime Ribeiro da Silva compareceu ao enterro para se despedir da amiga.
Yvone nos diz: Triste final para uma pessoa que teve uma vida sofrida, mas que soube em todos os momentos superar a dor e transformá-la em um sorriso cativante. Assim era Maria Angélica. Mulher discreta, profissional competente e responsável, mãe dedicada e carinhosa, que se desdobrava entre o lar e o trabalho.
Veio pequena do Paraguai com sua família, por ser o pai um militante político obrigado a sair de seu país, e aqui fincou raízes. Angélica fez seus cursos todos no Brasil, e estudou na Faculdade Sedes Sapientiae, onde se formou em História, e passou a ser professora nesta Faculdade no fim dos anos 60. Foi para a PUC-SP durante a Reforma Nacional Universitária dos anos 70, quando o Sedes se incorporou definitivamente à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Neste momento, nasceram os Departamentos na Universidade, passando ela a integrar o de História como professora de História Ibérica. Sempre atuante, chegou à chefia do referido Departamento logo depois de ter defendido o seu Doutorado na USP, tendo como orientador o professor doutor Eduardo de Oliveira França, que a conduziu como um pai ao altar, por ocasião de seu casamento. Isto nos mostra a relação de carinho e afeto daqueles que com ela conviviam. Pequena e frágil fisicamente, era forte e altiva nas suas atuações, dando força e esperança aos colegas em momentos de tensão. Aos alunos e alunas, ouvia com atenção, e seus orientandos se transformavam em "filhos intelectuais", além de amigos que com ela partilhavam momentos sociais e acadêmicos.
Vera Lucia e Maria Angélica fizeram juntas os cursos obrigatórios de pós-graduação em História no Sedes Sapientiae, foram unidas desde o inicio na condição de "estrangeiras", assim como José Sebe Bom Meyer. Superaram dificuldades e vislumbraram o que significa ser latino americano num país que se vê como europeu e trata com preconceito seus irmãos de continente.
Maria Angélica, nascida em Assunção, chegou ao Brasil com 3 anos de idade, mas nunca esqueceu o Paraguai, tornando-se integrante ativa do Núcleo Cultural Guarani Paraguay Teete e professora de história do Paraguai. Foi uma das fundadoras do Núcleo de Estudos da Mulher, o primeiro Núcleo de Pesquisas do Departamento de Historia , uma das fundadoras do Núcleo de Estudos da Mulher, o primeiro Núcleo de Pesquisa do Departamento de História. Atualmente, também integrava o Núcleo de Estudos de História Social da Cidade - NEHSC - da PUC-SP, assim como o Centro de Estudos de História da América Latina. Participava das aulas do Curso de Lato Sensu do Departamento de História, e ministrava aulas na Faculdade da Terceira Idade.
A ex aluna, Tatiana diz: Hoje me espantei ao pegar o jornal (Folha de S.Paulo) para ler as manchetes da capa, coisa que faço todas as manhãs, e qual foi o meu espanto, choque e tristeza ao ver estampada uma notícia dizendo: "Professora da PUC-SP morre atropelada em Higienópolis" e, ao ler o nome dela, vi que se tratava de Maria Angélica Soler.
Não sei quantos de vocês tiveram o privilégio de conhecê-la ou ainda de ter assistido às suas aulas... Eu tive na graduação e na pós Lato Sensu, tempo suficiente para guardar a lembrança de uma pessoa muito boa, tranquila e inteligente. E ao que pude ler na sinopse profissional, também engajada em projetos voltados para questões latinas e sociais.
Maria Angélica era Ministro da Sagrada Comunhão. Muito religiosa, trabalhava efetivamente na Igreja do Imaculado Coração de Maria, Região Episcopal Sé - Setor Santa Cecília.
Maria Angélica terá sua memória eternizada por todo seu dinamismo, exemplo de retidão, de caráter, disciplina profissional e pessoal, como cidadã, mãe, esposa afetuosa, amiga sincera, mestra competente e modelo de humildade, discrição e alegria.
Não permitiremos que haja impunidade no crime que a tirou de nós. Esta bandeira será erguida por todos que a conheceram e que com ela partilharam a vida acadêmica, familiar e social. E também por aqueles que não a conheceram, mas não aceitam na sociedade tal violência que, acreditamos, tenderá a diminuir, como último legado de Maria Angélica. Que sua alma descanse em paz.
Unidos aos familiares e amigos, todos os alunos da Universidade Aberta a Maturidade PUC-SP, lastimam e se solidarizam com a trágica perda da mestra que muito nos ensinou e incentivou com suas aulas e convivência.
Yvone Dias Avelino, professora do Departamento de História. Conviveu com a amiga e professora Maria Angélica por muitos anos no Departamento de História da PUCSP.
Vera Lucia Vieira, professora do Departamento de História. Colega de estudos na Faculdade Sedes Sapientiae.
Tatiana Brondi Barros, aluna da Maria Angélica.
Jaime Ribeiro da Silva, taxista de um ponto próximo à PUC na Zona Oeste de São Paulo.
Entrevista: Célia Gennari e Ignez Ribeiro
Fotos: Arquivo de Alunas
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