PERDA IRREPARÁVEL
Reza um ditado popular que ninguém é insubstituível nesse mundo, pois, segundo o senso comum, a sociedade humana, de um modo geral, tem uma incrível capacidade de renovação e sempre que alguém deixa de existir, por mais importante ou sábia que tenha sido, mais cedo ou mais tarde haverá quem fique em seu lugar para exercer as mesmas funções ou retomar as atividades de quem se foi, fazendo esquecer aquele ou aquela pessoa.
Entretanto, ainda que isso possa se constituir em realidade, no todo ou em parte, o fato é que se a lacuna deixada por qualquer ser humano possa ser preenchida funcionalmente ou como exemplo de repositório de conhecimentos, nessa ou naquela área, nada poderá revezá-lo como ser humano especial nos corações e mentes daqueles que ficaram e privaram da companhia daquele ou daquela que se foram. É o que podemos chamar de perda irreparável. É o caso de Maria Angélica Soler.
Professora extraordinária e ser humano maravilhoso, que de forma tão brutal deixou a convivência de todos nós, colegas e alunos da Universidade Aberta à Maturidade da PUC-SP, a perda de Maria Angélica significou a triste acumulação de tristeza e dor que já eram tantas em nossa comunidade neste ano, quando também nos deixaram Ieda Chaves Pacheco Russo e Paulo Resende, outros docentes de inestimável valor e igualmente tão queridos.
Sobre a mestra que agora se foi pode-se dizer que ao contrário do que sua constituição física delgada aparentava, tratava-se de mulher de alma forte e guerreira, tendo vencido muitas batalhas contra doenças e outras dificuldades. Era de personalidade doce, mas não condescendente. Historiadora competente, tinha postura modesta que escondia sua enorme capacidade intelectual. Cordata e democrática nos seus relacionamentos, entretanto era firme nas suas convicções e ideais.
Fazendo questão de não esconder suas raízes paraguaias, assumia com muito orgulho sua condição de cidadã brasileira e na conjunção dessas duas vertentes, sempre procurou estudar e desenvolver o interesse pela cultura latino americana, procurando envolver seus colegas e alunos na discussão da importância e necessidade de buscar, por meio da história dos países da região, maiores conhecimentos que pudessem contribuir para a integração dos mesmos, levando à defesa dos seus ideais e objetivos comuns no caminho do fortalecimento das relações necessárias para torná-los cada vez mais importantes frente às demais nações da Terra.
Foi essa, entre outras, a grande herança deixada por ela na sua trajetória acadêmica, como docente e pesquisadora, juntando-se à lembrança de uma pessoa extremamente afável nos contatos dentro e fora do espaço universitário, sempre disposta em atender as demandas do nosso curso e nunca se furtando a colaborar, de todas as formas possíveis, com a Coordenação, não só para assumir diferentes classes e lecionar diferentes assuntos dentro do campo histórico, como para ajudar na solução de problemas acadêmicos de última hora.
Por tudo isso e muito mais que é difícil esgotar, é que Maria Angélica embora venha a ter, assim como Ieda e Paulo tiveram, outros competentes professores e especialistas nos respectivos campos como substitutos, sua morte como ser humano é perda irreparável. Fica, de todos eles, as boas recordações e o privilégio do convívio acadêmico, além do orgulho de ter feito parte de suas histórias de vida, como único consolo pelo imenso vazio que deixaram em nossas almas.
ANTÔNIO JORDÃO NETTO
Coordenador Técnico da Universidade Aberta à Maturidade- PUC-SP
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