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60 ANOS UNIDOS PELO MESMO OBJETIVO: AMAR E SER AMADO


Por Célia Gennari*

Caminhos que se cruzam pela vida afora. Caminhos que se mantêm. Caminhos que seguem em frente, com direção, sem desvios. Alguns relacionamentos são assim, feitos de construção, de avanço, de união, de amor.

Viver muitos anos juntos, hoje em dia, é motivo de espanto, numa sociedade onde a separação entre os casais ganhou força. Outros tempos, certamente. Outros motivos para começar, para terminar, para manter um relacionamento, foram se criando, provavelmente, lado a lado com as mudanças que a própria sociedade passou, passa e passará. Por conta disso, nesta edição, nosso casal notável é aquele que comemora 60 anos de união: Silas e Ignez Ribeiro. Vamos viajar na história deles.

O que os aproximou? Ignez responde que frequentavam ambientes comuns, inclusive o mesmo colégio – Batista Brasileiro. Silas conta que embora tenham estudado no mesmo local, as amizades e atividades sociais da Ignez estavam restritas à Primeira Igreja Batista da Praça Princesa Isabel e as dele à Igreja Presbiteriana da Lapa. Sendo assim, o “grande encontro” só ocorreu durante uma viagem.

Silas e Ignez: 60 anos de convivência e amor
(clique na foto para ampliar)

A tia da Ignez, por parte de pai, frequentava a mesma Igreja do Silas, de quem era amigo. “Um dia, a tia Nena indicou-me para mostrar à família da Ignez, a minha cidade, Iguape – colonial, seiscentista, fundada em 1534, pitoresca na sua arquitetura, panoramas e praias”, explicou Silas. E, assim, em abril de 1950, durante a Semana Santa, Silas mostrou-lhes a bela Iguape, e sua família mostrou-lhe a bela Ignez, que ele admirou, gostou, desejou, namorou, noivou e com quem casou em maio de 1954. Para Ignez, tudo combinou - praia, luar, encantamento...

A união religiosa aconteceu na Primeira Igreja Batista de São Paulo e Ignez passou a frequentar a Igreja Presbiteriana da Lapa, sem problemas. Silas conta que a Igreja Presbiteriana sempre se deu muito bem com a Igreja Batista: as teologias e governo das Igrejas são mais ou menos similares, diferindo tão somente na forma de batismo, uma por aspersão e a outra por imersão. Assim, Ignez frequentava a Igreja do Silas, e ele a dela. Na Igreja frequentada pelo Silas, Ignez se tornou uma líder, professora e palestrante.

A música também sempre esteve presente na relação do casal. Ele estudava canto e ela piano e órgão. Acompanhado do piano, entre cantos, solos sacros, folclore brasileiro ou cançonetas italianas, espanholas e francesas, o amor crescia.

E, assim, a vida do casal começou, com as dificuldades inerentes ao momento, mas com muita dedicação à família e ao trabalho. A prioridade da vida do casal foi amar e ser amado para poder viverem juntos e resolverem todos os problemas que viessem a surgir. Constituir família com filhos e tudo mais sempre foi prioritário. Até hoje, eles contam que na essência nada mudou. A família continua sendo a prioridade, incluindo, claro, a “grande” família, com todas as pertinentes e necessárias adaptações no decorrer dos anos...

Moraram por quase dois anos em um quarto e banheiro, no fundo da casa dos pais da Ignez, com entrada lateral, e foi com esse apoio inicial imprescindível e muito trabalho de ambos que conseguiram, unindo os ganhos, obter os louros rapidamente. “Com Deus dirigindo duas cabeças, quatro mãos, quatro pernas e um grande ideal, vencemos rápido”, afirmou Silas. Na casa atual estão desde julho de 1967, quando foi construída.

As atividades da semana eram intensas. O recém-formado em Odontologia (1953) pela Universidade de São Paulo (USP) investiu em clínica particular na Lapa. Fazia estágio em cirurgia no Hospital Regional do Sesi e mantinha um contrato de professor-assistente no Departamento de Prótese da Faculdade de Odontologia da USP. E Ignez trabalhava como professora no Externato Rangel Pestana, auxiliando financeiramente o lar durante o desenvolvimento profissional do marido.

“Nem sempre são possíveis os contornos no amor. Há obstáculos reais a serem vencidos, conscientemente. A vida é uma jornada, todo aprendizado está sujeito a erros e acertos. É um constante desafio! Mas, ‘quem não arrisca, não petisca’! Se perguntássemos a uma criança: ‘Onde mora o amor’? Ela diria: ‘No coração’. Nós diríamos: ‘No Santo Espírito de vida que habita em nós. Amém! ”

Ignez Ribeiro


FAMÍLIA

“Planejamos ter filhos e conversamos sobre isso, pois estabelecemos que se houvesse impossibilidade, adotaríamos”, contou Silas. Para eles, filhos fazem do casal uma família, que é a célula-mãe de qualquer sociedade. “Sem filhos e sem família, desaparecem as sociedades humanas, sobrando o ‘eu’ ou o ‘tu’, tão cheios de problemas de autoconhecimento a resolver”.

As referências de família dos dois são ótimas. Ignez é filha de um casal muito amoroso e viu a importância dela e de seu irmão na preservação daquele amor no lar. Silas é o 13º filho de 14, de um casal bem harmonizado.

E, assim, tiveram 4 filhos, 3 meninos e 1 menina. Na questão educação, o casal refletiu sobre três pontos: a educação social, a profissional e a espiritual. Para eles, na educação social, que envolve a sabedoria e a habilidade de se viver em grupo (familiar, escolar, profissional ou religioso), o ensino começa no lar. “Os filhos aprendem com os pais a falar e a se comportar e completam a sua educação social nas escolas primária, secundária, superior e no convívio social diário”, explicou Silas. “A educação profissional fica a cargo dos mestres especialistas, nas áreas almejadas pelos nossos filhos”.  Já a educação espiritual, para eles, é um pouco mais complicada, pois a busca de Deus precisa ser despertada. Qual a noção de Deus na família, e que Deus realmente procuramos.

Família Ribeiro: Silas, Ignez e seus filhos Marcos, Fernando, Sergio e Nicia (eterna nas lembranças dos corações)
(clique na foto para ampliar)

Ignez ressaltou que manter os valores inalienáveis, ser coerente com o que se diz, pensa e faz é essencial, especialmente no processo educacional dos filhos e, também, no dos netos.

Netos. Ah, os netos... “São um presente dos Céus, anjos em nossas vidas, alegrando-nos com os seus desejos, as suas certezas e as suas conquistas, pois, como avós, não temos mais a obrigação de criá-los e sim de usufruí-los”, lembrou o carinhoso avô.

Família Ribeiro: netos e agregados (clique na foto para ampliar)

Legado vem do latim “legatos” e significa a disposição de última vontade pela qual o testador deixa para uma pessoa um valor fixado ou uma ou mais coisas determinadas. Há legados e legados. Uma propriedade ou um bom saldo bancário serão um bom legado, mas que poderão desaparecer nos conflitos econômicos, podendo ficar, porém, um legado maior, filosófico e educativo. É assim que o casal Ribeiro pensa a respeito do que pode ser deixado a todos como “herança familiar”.

“Na relação amorosa, o binômio ‘admiração-e-respeito’ traz a felicidade a qualquer relacionamento humano. Continuo admirando a minha companheira como pessoa humana, como mulher, como esposa, mãe e avó, por isso com respeito e muito desejo gosto dela pertinho de mim.”

Silas Ribeiro

 

RELACIONAMENTOS

Os relacionamentos, de uma maneira geral, para manter uma família unida, acredita Ignez, precisam evoluir, ser mais conscientes, crescer e manter o respeito e a confiança, que em qualquer momento são essenciais. Afinal, “viver é lutar”.

O amor une, o ódio destrói. A admiração aproxima, a inveja separa. O amor desejo, o amor posse, podem separar, mas o amor, o respeito e admiração constroem laços de afeto. Os psicólogos e psiquiatras atestam que a família é um ambiente em conflito, e a Santa Bíblia já registra na primeira família, o primeiro fratricídio, Caim matando o seu irmão Abel, por ciúme.

Mas, para Silas, a comparação é o grande problema nas famílias. Os pais e parentes não querem respeitar a individualidade de cada um e começam a comparar. Assim cria-se na família um ambiente de competição e não de admiração e aceitação de que cada um é cada um, e assim devemos nos amar.

Para eles, as relações nunca foram modernas. São sempre o que sempre foram: consentidas ou não consentidas; naturais ou forçadas; fundamentadas no amor e respeito, ou fundamentadas somente no desejo de posse; carnais ou espirituais. “Tudo isso porque o bicho-homem continua sempre o mesmo, egoísta e egocêntrico”, argumentou Silas.

Há uma tênue e difícil linha de equilíbrio entre as tradicionais relações interpessoais herdadas da primeira metade do século passado, inerentes aos avós e em consequência aos pais, e às voláteis modernidades do terceiro milênio. É preciso levar em conta as muitas exigências sociais e culturais, da época, que, efetivamente, em muitos casos, eram cumpridas ou ignoradas.  “Na ‘modernidade’, caíram muitas máscaras, mas a necessidade de amor, cumplicidade, confiança e respeito continuam em alta, a despeito da fragilidade e fácil descarte das relações”, acredita Ignez.

Para viver bem, diante desse quadro, primeiramente é preciso desenvolver a difícil arte do autoconhecimento, que é um exercício contínuo, para depois aprender a conhecer e respeitar o outro. Cada quadra da vida tem seus ajustes. Ninguém sai incólume desta empreitada. “Se existe uma receita para isso, não sei”, disse Ignez.

“Jamais eu saberei realmente o que sou, nem o que o outro é. Somos um mistério, por isso para se viver bem o respeito e a admiração pelo seu ‘EU’ ou pelo seu ‘TU’ ao lado, são mais importantes do que o conhecimento”, completou Silas.

União que perdura é construída e solidificada em solidariedade, compreensão, respeito, mudanças conscientes e muito, muito amor. Mas, sabe-se que, na realidade, sempre um dos parceiros cede mais. Melhor seria a “flexibilidade” ser administrada por ambos, o que nem sempre acontece.

Os três grandes valores da vida, que permanecem inabaláveis e transcendem as dificuldades e o tempo, são: “Fé, Esperança e Amor”!  E é sumamente importante que a “sabedoria” adquirida, com o passar dos anos, ajude a preservá-los...

“Quem vive mais, assiste as tragédias...”, palavras ditas por um grande amigo do casal. E em 60 anos muitas histórias alegres e tristes aconteceram para serem contadas ou esquecidas entre as palavras passadas de geração em geração.

*As integrantes da equipe participaram da entrevista. Ignez Ribeiro foi aluna da UAM-PUC/SP de 1992 a 2008, entrou na equipe do Jornal Maturidades em 1998 e até o momento é colaboradora fiel.

 

 
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