Réquiem para as ilusões perdidas
Fiz luto por meu tio,
por minha tia também.
Minh’avó foi no pacote,
não chorei porém.
Chorei meu país perdido
e os políticos de vintém.
Perdi a fé na fé,
na educação e no trem.
Pranteei o filho
que não tive
e disse amém.
Sob um escudo de algodão,
eu me protejo de ninguém.
Estou só no cemitério,
alma nenhuma vem.
A rima pobre
me perdoem,
acima de tudo,
um desdém.
Sou morto-vivo depenado,
nada disso me entretém.
Sinto um buraco no peito,
só a evolução me mantém.
Que os céus se apiedem,
me ajoelho no milho,
pago castigo ao além.
Chorei quase tudo,
chorei quase todos.
Sequei as lágrimas,
zen.
Não sei,
não sou,
não sinto.
Pelo bem que me tenho,
pego o caminho do meio,
sem canto
nem paciência,
sem crença,
nem amor.
O vento me leva
e eu vou.
|