De servidão em servidão
Encontrei-me um dia
Na Grécia,
E na filosofia
Busquei refúgio.
Aristóteles me descartou
“És mero utensílio
E disso não passarás,
Meu velho!”
Que demônio
Teria embotado
O juízo do mestre?
Hilota sei que era;
Mais um derrotado
Nos campos de batalha.
Os azares da guerra
Me fizeram escravo.
Mero utensílio?
Não, mestre,
Por baixo das aparências
Havia uma essência
Por trás dos acidentes visíveis
Havia uma substância
Tão humana quanto a tua!
Foi tua proximidade
Com os poderosos
Que turvou teu pensar. Tinha já ouvido
De outros sábios
Palavras de consolo:
“És igual aos outros homens
Não há senhores nem servos,”
Me dizia Aristipo.
Epicuro abriu para mim
As portas de seu jardim
E a seu conselho
Busquei dentro de mim
A felicidade
Que me era negada
Pela realidade de fora.
Zenon de Citium,
Um hebreu em Atenas,
Desafiou os preconceitos
Negando legitimidade
À escravidão reinante.
De seu pórtico proclamou:
“Homem algum é escravo
E a nobreza
Não passa de escória “
Mas era a escória
Que me sufocava.
A luz que às vezes
Vinha da filosofia
Era fraca – Era pouca,
Insuficiente para iluminar.
A escuridão
Que me envolvia.
As palavras eram sábias
A igualdade apontada
Não passava de sonho.
E eu ... só percebia
Sujeição.