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À PROCURA DE UM BARQUINHO

Meu marido ocupa-se, há mais de 20 anos, com pesquisa de energias alternativas. Num belo dia, ele se lembrou de um brinquedo de sua infância: um barquinho que tinha uma vela e que navegava na água, com a impulsão do calor da vela acesa... Então, ele começou a questionar os amigos:

- Será que, por acaso, você ainda tem o barquinho toc-toc?

- Não. Quando era criança, eu me diverti muito com ele, mas não o tenho mais...

Meses depois, nós dois partimos para a Europa, para participar de um congresso de carros elétricos, em Sorrento, Itália. Naturalmente, ele fez a mesma pergunta a todos os participantes do congresso e a resposta era sempre a mesma. Mas ele não desanimou.

Percorremos, então, depois do congresso, os museus de transportes da Marinha, na França, Inglaterra, Itália. Fomos de trem a uma cidadezinha da França, só porque alguém sugeriu que ali, num famoso museu de brinquedos, certamente ele o encontraria.

Realmente, encontramos o barquinho, mas ele estava gloriosamente encerrado dentro de uma mesa. Felício, meu marido, só pôde admirá-lo, através de uma tampa de vidro. Implora para a guardiã:

- A senhora poderia, por alguns minutos, retirá-lo para eu poder tocá-lo?

- Absolument pas! Esse brinquedo é uma preciosidade, porque não existe mais. Ele faz parte dos tesouros do nosso museu, o senhor tem o privilégio de poder contemplá-lo e é só!!! Estamos entendidos!

Muito desiludido, ele saiu dali, mas continuou à procura do objeto, apenas vislumbrado.

Voltamos para Milão, na casa de uns primos que também compartilhavam curiosos do estranho capricho daquele primo brasileiro. Nossa volta para o Brasil deveria ser à noite, e decidimos visitar mais um museu famoso, o de Leonardo da Vinci, o inventor dos inventores. Soubemos que, dentro desse museu, havia também uma parte toda dedicada a barcos, desde os mais antigos, até alguns mais recentes. Meu marido esperava que ali encontrasse algo parecido com o seu barquinho toc-toc.

Antes, porém, de nossa visita, entramos no Duomo de Milão, catedral famosa, e rezamos com muito fervor. No caminho, deparei-me com uma pequena loja, em cuja vitrine vi uma linda boneca antiga. Pensei: se nesta loja há bonecas, talvez o barquinho também esteja aí escondido. Não disse nada, mas mandei meus telegramas para cima: Meu bom Deus, o Senhor sabe como é importante para meu marido encontrar esse brinquedo. Se for possível, que ele o encontre hoje.

Visitamos o fantástico museu e não se pode deixar de ficar impressionado com a criatividade desse gênio da humanidade. Como esse homem pôde ter a premonição de tantos aparatos que hoje fazem parte da nossa era: helicóptero, avião, pára-quedas?... E os barcos também estavam lá, mas é claro que o toc-toc, não.

Saímos e eu disse:

- Bem, vamos voltar pela mesma rua por onde viemos, pois eu vi uma boneca linda numa lojinha...

- Não adianta você querer comprar mais nada, eu já lhe disse que não vamos mais trocar o dinheiro que sobrou...

- Mas, eu não vou comprar nada... Só quero olhar a boneca.
Então entramos na tal da loja, que era de um restaurador de móveis antigos. Ele estava muito ocupado, envernizando a perna de uma cadeira e nem levantou a cabeça para responder ao nosso cumprimento.

E lá veio a pergunta crucial:

- Eu vi que o senhor tem brinquedos antigos. Será que, por acaso, o senhor tem um brinquedo toc-toc?

- Sim, eu tenho. É uma relíquia. Tive muita dificuldade em consegui-lo e não o vendo para ninguém!

Felício, todo emocionado:

- O senhor me permite vê-lo?

- Sim. Ele está bem guardado neste armário, eu posso mostrá-lo, já que o senhor está tão interessado nele.

E aí, quando conseguiu finalmente tocar e manipular aquele barquinho todo enferrujado, ele irrompeu num pranto comovedor. O italiano também ficou perturbado com aquela cena inesperada e:

- Madame, um italiano não pode ver um homem chorar. Eu percebo que seu marido é um artista. Eu também sou e acho que esse objeto deve ter um significado muito importante para ele, por isso vou presenteá-lo.
Mais tarde, fiquei sabendo:

As lágrimas de Felício não eram somente por ter encontrado um objeto, que ele tanto procurara, mas por um motivo muito superior! No Duomo, sua prece fora esta:

- Meu bom amigo Hayrton (era um grande amigo nosso, mais do que um irmão, falecido há pouco tempo). Se você está junto de Deus, se este céu existe, se você está feliz, prove-me, fazendo que eu encontre o meu barquinho. E eu o encontrei. 

 

Magda Fenyves Sadalla
mffenyves@superig.com.br


 
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