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ERA E NÃO ERA


Vejam só! Minha primeira escolinha se chamava ALEMÃ. Na fachada, tinha a bandeira nazista, com suástica e tudo. Era setembro de 1940 e o Brasil ainda era neutro na guerra que corria solta na Europa.

A escola tinha aquele nome porque era a Antártica que a patrocinava, através da Fundação Zerrener e Zerrener era o nome da família dona da Antártica. Eram alemães. A bandeira com a suástica era a bandeira oficial de então.

Tinha eu apenas seis anos e, com essa idade, não podia me matricular, mas tanto insisti que acabei convencendo minha mãe a me levar até Dona Elvira, a professora. A escola tinha apenas primeiro ano primário, como se chamava naquele tempo.

Dona Elvira não fez qualquer objeção e sem nenhuma burocracia falou pra minha mãe: “Deixa o menino vir. Ele vai fazendo cobrinha até se acostumar. Basta trazer caderno, lápis e pronto”. É, de alemã essa escola só tinha o nome.

O que mais me cativou desde o início era o que acontecia na última meia hora. Depois de três horas e meia de aula D. Elvira encerrava as lições e convidava quem quisesse para ir à frente da turma para cantar ou recitar ou fazer qualquer outra representação. Ela nem precisava insistir muito, tinha sempre alguém que se apresentava.

E, agora, o mais interessante: os mais tímidos podiam chamar outro coleguinha mais desinibido e se apresentar com ele lá na frente. Com isso, ninguém ficava de fora e em pouco tempo toda a turma participava sem medo. Quando fui para o Grupo Escolar, aos oito anos, senti muita falta desse tipo de atividade.

Em 1941, completei sete anos, sentia-me um veterano na escolinha. Já não precisava mais escolher colegas para me acompanhar lá na frente e logo mais seria eu o escolhido para essa função.

Para cantar a gente ia em turminha. Para recitar era sozinho.

Foi então que comecei a me interessar em decorar quadrinhas que encontrava em um velho livro de leitura que pertencera à minha mãe, coisa de mil novecentos e abobrinha. Só eu sabia essas “novidades” e fazia o maior sucesso. Mas, sucesso mesmo aconteceu quando decorei um poemeto burlesco que agora lhes apresento:

“ERA E NÃO ERA”

Era e não era
Imaginem vanceis:
Eu andava viajano,
Correno o mundo
Quando, um dia ansim de supresa
Arrecebi uma triste nova:
Meu pai ia pra cova
E eu ia nascê

Mas isso era estúrdio
O que fazê?
Saí na disparada
Mas vortei
Vortei pra trais
Pois perdi uma capa
Uma capa
Que eu não levava.
Mas valeu

Topei cum pé de figo
Carregadin de pesco maduro
Trepei por ele em riba
E toca apanhá as maçã

Aí veio o dono do feijoá
E gritou:
Ô tinhoso, comé questá
A apanhá feijão, mangarito e bucha
No sapesá aeio?
Então agarrô num pé de cove
E me assentô na testa
Ui qui festa!
Mesbandaiô os jueio.

Dos sete anos até, mais ou menos, os treze o “Era e não Era” passou a ser minha “pièce de résistance”. Em qualquer festinha, lá ia eu – a pedidos – declamar o danado poemeto. Nem eu agüentava mais!

Waldir Bíscaro
awbiscaro@uol.com.br



 
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