COISAS DE FUTEBOL
Sou palmeirense, desde meus oito anos, por influência de primos mais velhos e por questão de italianidade. Antes disso, o único time para o qual torcia era o Botafogo de Ribeirão por razão de proximidade. Morava ao lado do campo, era amigo dos filhos do zelador, entrava de graça nos jogos e ainda brincava de bola no campo. Lembro-me das bolas de capotão que batiam em meu joelho. Tinha quatro anos.
Diferente da maioria dos palmeirenses, não sou anticorinthiano. Aliás, no fundo, no fundo, sou meio corinthiano. O que sou mesmo é anti-sãopaulino, desde pequeno e isso por conta de um coleguinha sãopaulino, muito convencido pelo fato de o São Paulo ter sido na época tri-campeão – 1943. Ele se julgava o máximo e me azucrinava a paciência por ser eu palmeirense.
O Paulin, nome desse sãopaulino, formou-se pelo ITA e se especializou em engenharia aplicada à medicina e sempre trabalhou na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, onde inventava aparelhos de tudo quanto é tipo, ele e o “seu” Brites, outro vizinho meu.
Bem, voltando ao futebol, encontrei mais tarde outros sãopaulinos que já sabiam de minha ojeriza pelo São Paulo, mas sempre me convidavam para assistir a partidas onde o time deles atuava. Eles sabiam que eu torceria contra e não se importavam.
Foi em uma dessas ocasiões em que o São Paulo jogava contra o Corinthians que eu fui exercer meu papel de anti-sãopaulino e de pseudocorinthiano. Como torcedor, sempre me comportava como o mais entusiasmado, berrando, xingando e outros gerúndios. Nesse jogo, me lembro, o alvo de meus xingamentos foi o Gerson que, alguns jogos antes, havia quebrado a perna de um adversário. O xingamento mais suave que proferi foi: “assassino”!
Saía do estádio completamente rouco e, nesse jogo, não foi diferente, me comportei como autêntico corinthiano. Felizmente, nesse tempo, as pessoas eram mais esportivas e não havia receio de agressões. Só as verbais.
Acontece que, no domingo seguinte, o jogo era: Palmeiras X Santos. O Palmeiras estava em sua fase áurea da Academia e dificilmente eu deixava de assistir a seus jogos. Quantas vezes saía da PUC, depois das aulas e ia com o Dino e o Marcão ao Parque Antártica assistir partidas de meio de semana. E lá estava eu, nesse domingo, torcendo pelo Edu, o ”exorcista”, que atuava como ponta direita. Edu era famoso, ele desembestava pela lateral direita olhando para a bola, o campo acabava, mas ele continuava impávido.
Pois bem, em meio daquele entusiasmo e já quase rouco, alguém me bate no ombro. Olho para trás e vejo um garoto – de seus 11 ou 12 anos – a bronquear comigo: “Olha aqui, afinal pra que time o senhor torce?” Respondo-lhe com toda calma: “Pro Palmeiras, por quê?” E ele: “Não senhor, no domingo passado o senhor era corinthiano e agora como pode ser palmeirense?”
Por essa eu não esperava. Os amigos que estavam por perto caíram na risada e eu fiquei no: “Ah! É, é?”.
Ainda bem que, algumas semanas depois, esse pentelho não compareceu a uma graaaaaaande partida: São Paulo X Saad (de S. Caetano). Claro, lá estava eu, só eu, na geral do Pacaembu, torcendo pro Saad.
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