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O SENTIDO DA PONTE

Pareceu-me oportuno falar de pontes, neste momento em que elas estão sendo vilipendiadas e usadas para fins politicamente incorretos. Projetos inacabados que levam do nada para lugar nenhum e envolvidos em orçamentos extremamente onerosos para os cofres públicos. Creio que haja outras pontes e estradas nas mesmas situações, de outros tempos pouco gloriosos.

Elas, obras arquitetônicas, são necessárias para transpor valados, rios, precipícios, lagos, linhas férreas, represas, alças para viadutos, e o que mais for preciso. Quando as vejo no meio do nada, sinto como se elas e eu fossemos traídas nas nossas expectativas de uma finalidade honesta para um bem maior. Sinto-as como se tivessem “alma” e um desejo de ser útil para alguma coisa. São figuras tristes quando abandonadas e deterioradas.

Há alguns anos, mais precisamente, nos meados dos anos 70 do século passado, tínhamos no quintal de nossa casa de praia, um tanquinho, que gostávamos de chamar de laguinho, para recreação dos patos e marrecos que criávamos. Foi incrível como se reproduziram rapidamente, logo tínhamos mais de 150 patos e marrecos, fora galinhas d’angola, faisões, garnizés, codornas, um viveiro com pássaros vários, mais as gaiolas dos canários belga e curiós.

A criação cresceu e a cidade também. Manter esse esquema, com o nosso espaço disponível, cercado de casas por todos os lados, mais o odor desagradável que exalava no calor do verão com as muitas chuvas da época, tornou-se inviável. Isso sem polimizar um assunto questionável: o caseiro(a).

Com uma grande tristeza no coração para o marido e um grande alívio para mim, resolvemos nos desfazer de tudo. A vizinhança e alguns amigos receberam de presente patos, marrecos, galinhas, codornas... e o que mais houvesse. Até o faisão dourado foi para a panela, acompanhado de um bom vinho e da revolta de grande parte da galera que se recusou a comê-lo, inclusive eu (seu nome era Sting).

É aqui, neste momento, nos idos dos anos 80, que entra a idéia da PONTE, a “minha PONTE”.Quando vi o “laguinho”, vazio, sem finalidade, vislumbrei uma pontezinha sobre ele, curva, bonita, graciosa, que lembrasse, se possível, a de Monet. Era a minha maneira, sempre sonhada, de ver nosso quintal, felizmente agora, repleto de árvores e flores. Mas, quem olha e sente uma “ponte” sabe que é o melhor meio de enfrentar travessias, por mais diversas que elas possam ser, mesmo que, no momento, não saiba o “por que”. Depois de algum tempo e muito trabalho, que incluiu buscar um marceneiro que se propusesse fazê-la, surgiu o problema: colocá-la no lugar. Foram necessários oito homens para carregá-la e fixá-la.

Tenho no coração uma grande gratidão para com meu marido que comprou a idéia e não mediu esforços para concretizá-la.

Não demorou muito para saber o “por que”. Seguiram-se anos de muitas e difíceis “travessias”, um caminhar doloroso para mim, familiares e amigos. Cada vez que tinha oportunidade de estar com a minha “ponte”, eu a atravessava, literal e simbolicamente, ela proporcionou-me momentos de profundas reflexões sobre a vida e a morte, que não deixam de ser jornadas e travessias, e as únicas coisas das quais podemos ter real certeza.

Sempre que possível, continuo a atravessá-la, mesmo à distância, mental e introspectivamente. Sendo pequenina, o significado dela é enorme, profundo, intangível para quem não sente a “alma” e a poesia das pontes.  

Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br


 
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