O lixo nosso de cada dia
Não podemos negar que sem os lixeiros a vida nas cidades se tornaria quase impossível.São Paulo, capital, produz mais de 15 toneladas de lixo por dia, cerca de um quilo por habitante. Para encaminhar uma quantidade tão grande de detritos de todas as espécies, somente um verdadeiro exército, empenhado nessa luta.
Ocorre que nós, fazedores de lixo, sem nenhuma cerimônia, jogamos pelas ruas papéis, cigarros, latinhas de cerveja e refrigerantes, copos e garrafas plásticas, embalagens de todo o tipo, fraldas usadas, absorventes, preservativos, restos de comida mal acondicionados em frágeis sacos, expondo pelas ruas resíduos de todo tipo, que cheiram mal e atraem ratos e insetos.
Alguns pensarão: mas... o que fazer? Resposta: - Recicle! Evite desperdício, ensine como reciclar, exemplifique uma nova filosofia de vida. Recicle! O lixo urbano não pode mais ser catalogado como uma nova questão ambiental.
Até meados do século XIX, algumas das maiores cidades do planeta não possuíam nenhum tipo de estrutura para recolher e encaminhar os seus detritos. Seus habitantes conviviam com o lixo de maneira natural, razão de tantas doenças e epidemias.
Hoje, século XXI, o lixo acumulado nas calçadas, nas margens dos rios, riachos, córregos, nos jardins e praças públicas, nos canteiros das magníficas avenidas, representa um modus-vivendi urbano, muito relacionado com práticas de consumo exagerado, desperdíciodescontrolado e, acima de tudo, falta de educação, desrespeito à urbanidade. Tratase de uma questão cultural, com desdobramentos que precisam ser debatidos.
O lixo é tudo aquilo que a Sociedade despreza por considerá-lo inútil. Por isso há tanta dificuldade em implementar uma nova mentalidade, fazer ver a riqueza contida naquilo que adjetivamos de imundície. Contudo, segundo estudos, R$ 4.600.000.000 seriam economizados anualmente, se adotássemos uma nova política urbana. É inegável que o lixo e a forma como o tratamos espelham valores, escolhas, preconceitos e falta de informação. Uma boa campanha esclarecedora poderia ajudar essa mudança de mentalidade.
A reciclagem procura induzir o cidadão a repensar o lixo como algo valioso, que pode converter-se e produzir bens para a Sociedade. É bem verdade que a reciclagem exige, por parte daqueles que a praticam em sua primeira fase, sobretudo donas de casa, empregadas domésticas, funcionários de restaurantes e cantinas, hotéis, bares, faxineiros em geral, um pouco de trabalho na seleção, higienização e armazenamento do lixo. Mas o resultado final é muito sedutor, por conferir à pessoa que o pratica, o título merecido de cidadão, ou seja, não somente o habitante de uma cidade, mas um indivíduo com direitos e deveres civis e políticos, consciente e responsável.
Se o lixo é tudo aquilo que a Sociedade despreza, nada impede que essa mesma Sociedade o transforme em algo limpo e útil. E quanto aos lixeiros? A esses o nosso mais profundo respeito pelo serviço que prestam às nossas cidades. |
