Meu desabafo é de uma mulher de faixa etária (ou será otária?) já avançada.

Algumas situações que traduzem o que chamo de faixa otária.

Em uma festa, seja lá qual for, lá pelas tantas, resolvo que é hora de ir embora. Deu aflição, “os cinco minutos”. É quando vêm as indefectíveis perguntas: “O que você vai fazer na sua casa sozinha? Os filhos estão esperando a mamadeira?” Ora, até parece que chegando em casa (moro sozinha) vou ficar esperando pelo marido, filhos, netos, irmãos etc. que, involuntariamente, não tenho.

Tem mais. Como não dirijo, vem a oferta da carona: ”Espera só mais um pouquinho que nós a levamos”. Ótimo! Esse pouquinho, depois, fico sabendo, são duas horas, após eu já estar em casa.

Na loja... Entro e pergunto por um modelo da vitrina. A vendedora faz um raio-X do meu corpo e vai logo informando que o modelo é tamanho único, ou seja, estou gorda. Então, oferece outros que hoje nem minha avó usaria.

Quando, enfim, compro a bendita roupa (em outra loja, claro) na hora de pagar, quando a máquina não preenche o cheque, a caixa muito solícita pergunta: “Quer que eu preencha para a senhora?” Vontade de responder: “Obrigada, querida, ainda sei ler e escrever”.

Ah! Já ia me esquecendo. Ao sair a solícita vendedora alerta: ”Cuidado com o degrau!” Só falta alertar, também, que no próximo quarteirão tem um buraco na calçada.

Quando chego em casa, chego com a impressão de que passei a imagem de que tenho pelo menos 120 anos.

Outro exemplo é no consultório médico, independente da especialidade. Depois que expus o problema, exibi os exames, enfim, tendo já feito meu dossiê e devidamente sido examinada, o doutor, sutilmente, me faz entender que tudo é normal na minha faixa otária, digo, etária. Fico muito brava, porque não acho que é normal. Mas, enfim é uma questão de faixa...

Não sei se cabe aqui, no contexto, mas quero abordar o item despesas.

A maioria das pessoas acha que, para quem mora sozinha, as coisas são grátis. Alguém já disse que não existe almoço grátis?

A pergunta é: “Quem mora sozinha não paga imposto, condomínio, luz, gás, telefone, plano de saúde, faxineira, eventuais consertos, não come, não bebe, não compra remédio, roupa, calçado?”

Pois é. E ainda tem gente que me pergunta o que faço com o dinheiro.

Ninguém tem culpa de alguém ser sozinho, mas também não tem o direito de contestar despesas alheias.

Teria muitas outras situações para descrever, contudo paro por aqui.

É isso.