O meu bichinho de estimação
Nos idos da primeira metade do século passado, eu, menina-estudante do Grupo Escolar Marechal Floriano, tive inúmeras vezes, como lição de casa, a tarefa de descrever o meu bichinho querido, o meu bichinho de estimação.
As primeiras descrições eram formadas de frases pequenas: “O meu cãozinho é peludo. Ele tem orelha grande. O nome dele é Zulu. Eu gosto do meu Zulu”.
Aos poucos as frases foram crescendo, a descrição foi tomando corpo, e no 4o. ano primário eu já me aventurava a não somente apresentar o meu cãozinho, mas também a interpretar as suas atitudes, o seu olhar, os seus desejos.
Quando o meu Zulu morreu, foi um problema. Eu não me conformava e por mais que todos justificassem a sua morte, em razão da sua idade avançada, para mim, ele continuava a ser o “meu cãozinho Zulu”. Aquele amigo alegre e saltitante que me acompanhava, ou melhor, me seguia por todos os lugares. Os anos passaram, outros cãezinhos vieram, mas o Zulu nunca foi esquecido.
Hoje, já idosa, continuo amando e respeitando os animais. Todos são sagrados para mim, e acredito que dividem a Terra conosco para nos dar lições de vida, sobretudo de amor incondicional.
Médicos e psicólogos dizem que os animais exercem um papel terapêutico junto aos seres humanos. E essa é a razão pela qual são cada vez mais utilizados como companhia de idosos, paraplégicos, crianças especiais, crianças enfermas, acamadas ou mesmo para aliviar a tensão das enfermarias nos grandes hospitais.
Para quem nunca teve um animal de estimação, talvez seja surpreendente o apego e o cuidado que se tem para com eles. Contudo, aqueles que os têm ou tiveram, sabem o quanto podem ser amigos fiéis, companheiros, dedicados, amorosos e o porquê de sermos capazes de nos apegar a eles como a um ser humano.
Ocorre que às vezes eles adoecem muito seriamente. A dúvida resultante da decisão de sacrificar um animal é traumatizante, porque é acompanhada de emoções conflitantes, dúvidas e incertezas. Estou agindo corretamente? Não estarei traindo meu querido amigo? Não existirá outro tratamento?
Os veterinários acabam por se tornarem confidentes, conselheiros, cúmplices, embora saibam, por experiência profissional e pessoal, que existe muita dor e muito drama na tomada de decisão. São situações que podem acontecer e para as quais devemos estar convenientemente preparados. Lembrar sempre que um animal vive longos anos, chegam às nossas casas crianças, tornam-se jovens, adultos, maduros, velhos e um dia morrem. É a vida.
Mas, a despeito de toda trabalheira, gastos, sujeira e preocupações, ainda assim, a maravilhosa companhia, o amor sincero de outro ser vivo se manifestando através de um latido ou miado dengoso, do abanar frenético de uma cauda peluda, ou mesmo de um trinado melodioso, tornam a vida infinitamente mais gostosa de ser vivida.
Nilde Tavares Lima
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