Selecione abaixo a informação que deseja visualizar.

Página Inicial
Curso da UAM
História do Jornal
Quem Somos
Crônicas
Astrologia
Aspectos Biopsicossociais
Com a Palavra o Professor
Gente Notável
Entrevista
Eventos & Notícias
Palavra Poética
Sabor & Saber
Turismo
Curiosidades
Caça-palavras
Cultura & Lazer
Carta do Leitor
Edições Anteriores
Videoteca
Galeria de Imagens
Fale Conosco
  Cadastre-se

 

 

 
Página inicial
   |   Contato
   


MEU “COLEGA” JACK

De vez em quando, às tardes de domingo, vejo o Faustão e, num dia desses, ele declarou que já fora coroinha. Paulo Betti também foi e muita gente boa por aí já recitou o “confiteor” - em latim mesmo - nas cerimônias da Missa. Eu também fui coroinha. Isso nos idos de quarenta.
Ser coroinha, naquele tempo, era como passar para um status especial. Havia uma seleção entre os melhores freqüentadores do catecismo. Era necessário ter boa memória, para decorar todo aquele latinório. Alguns textos eram até longos para um garoto de sete, oito ou onze anos, ainda mais em língua tão diferente. Exigiam-se, também, desenvoltura, desinibição e até certa habilidade teatral. Só sei que não era moleza, não.
Aos sete anos, estava no primeiro ano da escolinha da Dona Elvira e já sabia ler; em setembro de 1941 fiz a primeira Comunhão. Tinha então os requisitos mínimos para ser coroinha.
O fato de ter um primo mais velho entre os coroinhas facilitou meu ingresso. Não sei quanto tempo durou o treinamento, mas no início de 42 já estava preparado. Quando meu primo partiu para o seminário, herdei dele as indumentárias e lá estava eu ajudando missa, casamento, batizado, extrema-unção e encomendação de defuntos.
Ser coroinha na Paróquia da Vila Tibério incluía outras atribuições, como acompanhar os padres nas visitas domiciliares, na visita aos enfermos, na bênção das casas e, o mais interessante, nas missas em fazendas dos arredores.
Por morar perto da igreja, muitas vezes era escalado para tocar o sino às cinco e meia da manhã, para chamar as velhinhas – aquelas empedernidas no bem – para a missa das seis. Subia as escadas da torre quase no escuro e lá enfrentava morcegos e curiangos. Tudo muito divertido!!
No caso das fazendas, muitas vezes tive oportunidade de ouvir as conversas dos fazendeiros a respeito da crise do café que, mesmo depois de dez ou doze anos da queda da bolsa, ainda se refletia na precariedade da economia local. Dava para se notar a decadência naqueles terreiros imensos - onde se secava o café - quase sempre vazios e nos casarões desbotados.
Em todas as fazendas havia, ao lado da casa principal, uma capela muito bem cuidada. O engraçado era que punham cartazes na entrada da capela com avisos do tipo: “Favor não cuspir no chão”. Acontece que a maioria dos colonos nem sabia ler.
Hoje, fazendo uma retrospectiva dos garotos que foram coroinhas na época, percebo melhor o valor que essa experiência – que exigia disciplina - teve para a maioria. Quase todos se formaram em cursos superiores: advogados, professores e até um engenheiro formado no ITA.
Vejam, estou falando de uma geração que hoje está na faixa dos setenta anos, quando o muito que se conseguia era terminar o ginásio e olhe lá! E mais, eram como eu, filhos da classe operária ou, no máximo, filhos de pequenos comerciantes, em cidade do interior e em bairro operário.
Só para encerrar: Não pensem que a gente tinha só obrigações. Os coroinhas ganhavam gorjeta dos padrinhos de casamento e de batizado e quando ajudavam missa, em dias de semana, ganhavam algo como duzentos réis por missa. Foi meu primeiro salário.
 Mas, o melhor mesmo de ser coroinha era o cartaz que a gente tinha com as meninas da Cruzada, todas lindinhas. Naquele tempo não se “paquerava”, a gente apenas “tirava uma linha”, especialmente, na hora da comunhão. Com todo respeito! 
 E cadê o tal “colega Jack?...” É, quase ia me esquecendo:
Li, há pouco, a biografia de um cara, filho de mãe irlandesa e que foi coroinha na mesma época que eu. Só que, ele lá, nos Estados Unidos e eu cá, na Vila Tibério. Esse filho de irlandeses atribui grande responsabilidade por sua formação e sucesso à insistência com que sua mãe lhe cobrava o cumprimento de obrigações assumidas, aí incluídas as obrigações de coroinha.
Estou falando de JACK WELCH, o maior executivo empresarial do século XX.

 

Prof.  Waldir Biscaro
awbiscaro@uol.com.br  

 
Edições Anteriores
* Os artigos publicados no jornal Maturidades são de inteira responsabilidade dos autores
(que exprimem suas opiniões e assinam seus artigos) devendo ser encaminhada
a estes toda e qualquer sugestão, crítica ou pedido de retratação.
       
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo • PUC-SP - Design DTI•NMD - 2016