O papel da mulher no voluntariado
Desde minha infância sempre tive contato com voluntariado e beneficência. Aprendi com minha mãe, mulher maravilhosa, a preocupar-me com os seres humanos menos favorecidos e com as crianças abandonadas.
Tanto é certo que ela teve quatro filhos, adotou mais dois e criou não sei quantos, perdi a conta.
Estudei no Colégio Dante Alighieri e, logo depois de terminar o curso científico, não pude prestar o vestibular e fazer faculdade, pois fiquei noiva e me casei em seguida.
Em 1961, tive meu primeiro filho. Depois de quatro meses, ele sofreu um acidente fortíssimo na Itália, e nesta ocasião fiz uma promessa: trabalharia sempre para ajudar os mais necessitados.
Em primeiro lugar vendi minhas jóias e comecei a ajudar pessoas que não podiam ir ao médico, ou que tivessem qualquer outro problema.
Comecei a trabalhar com 22 anos, entrei como voluntária na sociedade Pestalozzi de São Paulo e lá fiquei durante 25 anos, dividindo meu tempo com minha casa, dois filhos e as necessidades do próximo.
Organizava bazares, jantares, bingos, chás e consegui, com o auxilio de uma grande pessoa que conheci lá, Maria Pasetti de Souza, que continua comigo, nesse caminhar de 40 anos, a construção da nova sede da Sociedade Pestalozzi, na marginal Tietê. Foi um grande progresso, uma grande conquista. Era o nosso desejo, pois a escola antiga era muito feia.
Nesta nova sede, organizamos as oficinas, os refeitórios e angariávamos fundos para comprar materiais para o clube de mães que faziam vassouras e rodos.
Depois de 25 anos de grandes trabalhos que nos proporcionavam muita alegria, deixamos a Pestalozzi e ficamos dois anos paradas. Mas não me sentia bem: sentia um grande vazio e, como já contávamos com mais duas amigas, resolvemos trabalhar como voluntárias suplentes no Hospital São Paulo.
Ajudamos muito o hospital, em troca de atendimento a pacientes carentes que conhecíamos, ou que nos pediam ajuda.
Para colaborar com o hospital, organizávamos bazares no Clube Pinheiros. Eu e a Maria Pasetti corríamos a rua Augusta, de loja em loja, para pedir ajuda, prendas e assim podíamos completar com as ofertas o suficiente para a realização dos eventos programados.
Depois, arrecadado o dinheiro, íamos ao almoxarifado do hospital e nos informávamos da falta de lençóis, cobertores, campos cirúrgicos, cadeiras de aço inox para banho, bancos para o pronto socorro. Consertamos aparelhos como mamógrafos, compramos televisões, etc.
Compramos até um caminhão de material cirúrgico e agulhas, que insistiam em desembarcar no meu endereço, pois nós tínhamos pago à vista, no nosso nome, e eles não quiseram entregar no hospital.
Durante anos, ajudamos o hospital em todas as suas necessidades, até material de escritório.
Há 14 anos tive um pequeno problema e procurei o melhor neurologista. Indicaram–me o neurologista do Hospital São Paulo, o Doutor Acary.
Fui a uma consulta e percebi que todo o trabalho do ambulatório era feito por ele, até chegar a secretária.
Então me ofereci:- Doutor, o senhor precisa de minha ajuda? E ele me pediu para formar um grupo de voluntários, para manter aberta a ABRELA (Associação brasileira de esclerose lateral amiotrófica).
São catorze anos que oriento o grupo de voluntárias, promovendo eventos de todos os tipos, como moda, arte, almoços, bingos e, com muito orgulho, conseguimos um progresso enorme nesta empresa, na qual me coloquei.
A ABRELA conta com uma sede muito bonita na rua Estado de Israel, com nossa ajuda.
A vida de voluntária é muito gratificante. Não é só por dar, mas temos uma troca maravilhosa: aliviar o sofrimento, conhecer pessoas, fazer cursos no Banco Itaú, na Fiesp e na Associação.
Fui homenageada na Assembléia, juntamente com a Maria Pasetti.
Isso nos dá muita importância perante o marido, os filhos e os amigos.
A mulher que não trabalha fora vai ganhar com o 3º setor (Voluntariado).
Voluntária não é para brilhar, é para se doar.
Maria Grazia Paganoni Percussi
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